EFEITOS DO ÓLEO DE PEQUI (CARYOCAR BRASILIENSE) NA PREVENÇÃO DO CÂNCER: UMA REVISÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7708925


Venancius Cássio Lima Oliveira1
Marcos Roberto Furlan2
Danielle Almeida Santos Paes Ferreira3
Caio Vinícius Soares da Silva4


RESUMO

O câncer é uma das doenças que mais crescem no mundo. Mesmo com diversos tratamentos e novos medicamentos, ainda é uma das principais causas de morte. Os tratamentos alternativos estão se tornando cada vez mais estudados, visto que apresentam efeitos colaterais menos danosos ao paciente. Entre os tratamentos utilizados, no presente artigo destaca-se o Caryocar brasiliense, conhecido popularmente como Pequi, que apresenta entre outras substâncias, o óleo de Pequi, que apresenta grande ação antioxidante e propriedades anticancerígenas.

PALAVRAS-CHAVE: Pequi; Câncer; Tratamento.

1 INTRODUÇÃO

A incidência e a mortalidade por câncer estão crescendo rapidamente em todo o mundo. A utilização de novos medicamentos e tratamentos alternativos que atuem contra o câncer por meio de uma modulação do sistema imunológico, que são obtidos principalmente de fontes naturais, como frutas, é interessante pela redução dos efeitos colaterais no tratamento. Para induzir a morte de células tumorais, especificamente, é essencial uma vez que células normais não devem ser afetadas, ou pelo menos esse efeito deve ser minimizado, sendo o sangue periférico uma fonte interessante para avaliar a competência funcional de subgrupos de células imunes (WORMALD et al., 2020).

Compostos bioativos de plantas do cerrado brasileiro e sua atividade antioxidante estão associados à ação antiproliferativa em células de câncer de mama. O Pequi (Caryocar brasiliense Camb.) é uma fruta oleaginosa típica do Cerrado brasileiro, composta por exocarpo (casca externa verde), mesocarpo (parte interna da casca), endocarpo (polpa alaranjada ou amarela), espinho e semente camada, que possui compostos bioativos com propriedades antioxidantes como carotenoides, principalmente β-caroteno e licopeno, e ácido ascórbico. O óleo de amêndoa de Pequi é rico em fitosteróis e tocoferóis. No entanto, as propriedades biológicas do óleo de Pequi podem mudar de acordo com a origem do óleo. Além de suas aplicações cardiovasculares e forte atividade antioxidante, os fitosteróis e tocoferóis, respectivamente, também podem possuir propriedades anticancerígenas, conforme demonstrado por vários estudos (LIMA et al., 2007).

O Pequizeiro é uma espécie arbórea nativa dos Cerrados brasileiros. A região do Cerrado possui aspectos de savana e é uma das mais ricas do ponto de vista de biodiversidade no mundo. Apresenta vegetação rasteira, principalmente por gramíneas. O Caryocar brasiliense, pertencente à família Caryocaraceae, é conhecido pelos nomes: Pequi, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, suari, entre outros. Seu nome é devido ao aspecto de sua casca apresentar espinhos (SANTOS et al., 2013).

Esta planta é comumente utilizada na culinária por ser fonte de vitaminas e também é utilizado na fabricação de cosméticos, com a extração de óleos, mas também é utilizado na medicina popular para problemas respiratórios e no fígado. Já o óleo da polpa possui um efeito associado ao controle de tumores (LIMA et al., 2007).

2 REVISÃO DA LITERATURA

O desenvolvimento de câncer está relacionado com mutações que ocorrem devido a erros naturais de replicação do DNA durante o envelhecimento do indivíduo, ou por algum tipo de injúria mutagênica. O campo que sofreu a mutação é composto de diversas células clonais que são geneticamente distintas, mas com o tempo, os clones com os fenótipos mais aptos dominam o campo cancerizado. Se a injúria é causada por um fator ambiental persistente, como por exemplo, o excesso de uso de tabaco, dieta ou infecções, novos clones serão continuamente gerados, e o campo continuará a aparecer no mosaico genético (CURTIUS; WRIGHT; GRAHAM, 2018).

Muitas vezes portadores de mutações na região TP53, são observados no pulmão e nas vias aéreas, e essas mutações estão associadas à exposição ao fumo. No colo do útero, as cepas de alto risco do papilomavírus humano prejudicam a função normal do p53, uma condição que provavelmente é permissiva para o desenvolvimento de um campo de neoplasia intraepitelial cervical pré-invasiva. Já no esôfago, a doença do refluxo gastroesofágico aumenta o risco de adenocarcinoma esofágico, e uma assinatura mutacional considerada característica da exposição ácida. O envelhecimento acelerado, é implicado na tumorigênese em muitos tecidos, e acredita-se que a maioria das mutações de alta frequência encontradas em um câncer se acumulam antes do início do crescimento do tumor. Além disso, assim como a idade cronológica é reconhecida como um dos maiores preditores de risco de câncer, a idade biológica do tecido também contribui para a cancerização do campo (SUFFREDINI et al., 2007).

A principal questão clínica apresentada pela cancerização de campo é a de determinar com precisão o risco de desenvolvimento de câncer a partir de uma lesão cancerizada, já que campos supostamente cancerizados são muito comuns, mas poucos realmente progridem para câncer. Assim, simplesmente assumir que a detecção de um campo cancerizado é evidência de provável desenvolvimento de câncer traz o risco de diagnóstico excessivo de risco de câncer e, além disso, intervenções subsequentes para melhorar o risco na maioria dos casos constituem tratamento excessivo (com riscos associados de morbidades desnecessárias) (BRITO et al., 2022).

Parte do mecanismo de ação das terapias quimiopreventivas provavelmente ocorre por meio de sua modulação da dinâmica do campo pré-tumoral. Embora geralmente faltem evidências diretas disso – devido à dificuldade inerente ao estudo de clones pré-tumorais – os estudos em BE fornecem um exemplo raro, mas elegante. Nesse sentido, os efeitos redutores do câncer dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) podem ocorrer porque eles podem reduzir a taxa de mutação e alterar o microambiente de forma que certos clones já estabelecidos no tecido não serão mais selecionados. Compreender os mecanismos pelos quais os drivers de cancerização de campo são selecionados é um caminho promissor para o desenvolvimento de novos medicamentos quimiopreventivos (PALMEIRA et al., 2016).

Caryocar brasiliense C. (Pequi) é uma planta nativa do bioma Cerrado, bem distribuída nas regiões norte e centro-oeste do país. A fruta possui carotenoides com atividade antioxidante e é precursora da vitamina A. Demonstra forte potencial de exploração sustentável, pois a fruta é bastante rica do ponto de vista nutricional e funcional, apresentando propriedades sensoriais como cor, aroma e sabor diferenciado em relação a outras frutas, além de sabor agradável. Alguns estudos clínicos e pré-clínicos tentaram demonstrar o efeito antioxidante e antimicrobiano de compostos vegetais e seus derivados (OMBREDANE et al., 2022).

No entanto, essa hipótese nem sempre pode ser confirmada principalmente devido às amplas variações metodológicas envolvendo a obtenção dos compostos, os esquemas terapêuticos e os mecanismos de ação. Caryocar brasiliense é uma planta nativa do Brasil cujo óleo extraído do fruto é composto por moléculas antioxidantes (por exemplo, carotenoides, vitamina C e compostos fenólicos) e principalmente por ácidos graxos. Aplicações biomédicas do óleo de Pequi após suplementação oral têm sido investigadas tanto para a prevenção quanto para o tratamento do câncer (DO NASCIMENTO et al., 2005).

A redução no dano ao DNA e na peroxidação lipídica foi observada em um modelo in vivo de carcinogênese pulmonar induzida quimicamente. Também foram relatados efeitos em modelos animais de câncer de mama, incluindo inibição do crescimento tumoral, aumento dos efeitos anticancerígenos da terapia de hipertermia magnética e redução dos efeitos colaterais da doxorrubicina. A natureza hidrofóbica do óleo de Pequi impede sua administração por vias que permitem melhor absorção e biodistribuição, como as vias parenterais (por exemplo, intravascular, intramuscular, subcutânea) (OMBREDANE et al., 2022).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar o presente resumo científico, utilizou-se uma metodologia descritiva baseada em levantamento bibliográfico executado nas seguintes bases de dados: SCIELO, PUBMED e Google Acadêmico. Essa revisão foi desenvolvida a partir do estudo de artigos, dissertações e teses, onde utilizou-se como palavras-chave de busca: Pequi; estrutura; Caryocar brasiliense e câncer. Buscou-se realizar o levantamento de pesquisas que relacionam os principais aspectos da relação do Pequi na supressão do câncer.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho publicado por Suffredini e colaboradores em 2007, observaram a citotoxicidade de extratos obtidos de plantas da Amazônia e da Mata Atlântica contra as linhagens de células cancerígenas NCI-H460, KM-12, SF-268 e RPMI-8226. A atividade expressiva foi observada nos extratos de Toulicia pulvinata, Ampirrhox sp., Macoubea sprucei, Calophyllum brasiliense, Vismia guianensis, Caryocar brasiliense, Xylopia aromatica e Distictella magnoliifolia, sendo então compostos potencialmente importantes para conter a progressão de câncer de pulmão.

Brito et al. (2022), descreveram que a Caryocar brasiliense é uma importante fruta do Cerrado brasileiro, em que apresenta muitos compostos bioativos, que podem modular a morte de células cancerígenas. Os autores realizaram a identificação dos principais compostos bioativos dos extratos hidrofílicos e lipofílicos do óleo e da polpa de Pequi e verificado se eles exercem efeitos moduladores sobre o estresse oxidativo de células mono-nucleares co-cultivadas com células de câncer de mama MCF-7. Como resultado, no o extrato hidrofílico, a polpa de Pequi apresentou o maior teor de fenólicos, enquanto no extrato oleoso lipofílico, apresentou o maior teor de carotenoides. O principal fitosterol no óleo de Pequi foi o β-sitosterol (10,22 mg/g), e o principal tocoferol foi o γ-tocoferol (26,24 μg/g por amostra). Os autores relataram que extratos que apresentaram maior teor de compostos bioativos estimularam as células mono-nucleares do sangue e também melhoraram a atividade da SOD. Ao avaliar os extratos contra células MCF-7 e co-cultura, eles mostraram atividade citotóxica. Por fim, os autores concluíram que os resultados corroboram a atividade anticarcinogênica dos extratos de Pequi, sendo que os extratos hidrofílicos da polpa de Pequi apresentaram melhor potencial imunomodulador.

Em 2016, Palmeira e colaboradores, avaliaram o efeito quimiopreventivo em lesões hepáticas pré-neoplásicas induzidas pelo carcinógeno dietilnitrosamina (DEN) em camundongos. Camundongos BALB/c, com 14 dias de idade, receberam injeção intraperitoneal de 10 µg/g de DEN. Os camundongos receberam uma das duas doses de óleo de Pequi (100 ou 400 mg/kg) diariamente a partir dos 30 dias de idade e foram sacrificados aos 189 dias de idade. Parâmetros estereológicos, incluindo a densidade de volume (Vv) e o volume total (Vtot) das lesões (pré-neoplásicas e adenomas), foram medidos e a expressão de citoqueratinas CK8/18 foi avaliada. O volume total de lesões e adenomas foi reduzido em 51% no grupo tratado com o carcinógeno e 400 mg/kg de óleo de Pequi administrado diariamente por via oral por gavagem por 25 semanas consecutivas. Entre as lesões pré-neoplásicas remanescentes neste grupo, o número de perfis remodelados aumentou 2,4 vezes nos camundongos tratados com 400 mg de óleo de Pequi em relação aos camundongos tratados com 100 mg. Os autores discutiram que seus resultados mostram que o óleo de Pequi exerce um efeito hepatoprotetor contra o desenvolvimento induzido por DEN de lesões pré-neoplásicas e adenomas em camundongos e o potencial para seu uso na prevenção do câncer de fígado.

O potencial anticâncer foi observado por Ombredane e colaboradores em 2022, utilizando o óleo de Pequi. Os autores discutiram durante o trabalho que devido à sua propriedade hidrofóbica, a administração de óleo de Pequi associado a sistemas de nanoemulsão representa uma estratégia bem-sucedida para melhorar a biodisponibilidade do óleo. Os autores discorrem sobre o câncer de mama, sendo o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres e as terapias convencionais utilizadas estão frequentemente associadas a diversos efeitos colaterais, sendo assim, o objetivo do grupo foi investigar os efeitos da nanoemulsão à base de óleo de Pequi (PeNE) sobre células triplo negativas de câncer de mama (4T1), in vitro. Os autores discutiram que a PeNE apresentou efeito citotóxico dependente da dose e do tempo com menor IC50 do que o óleo de Pequi livre após 48 h de exposição (p < 0,001). A 180 µg/mL, o PeNE demonstrou inúmeras alterações celulares, quando comparado ao óleo de Pequi livre, como alterações morfológicas, redução da proliferação celular e do número total de células, danos à membrana plasmática, indução da permeabilidade da membrana lisossômica e despolarização da membrana mitocondrial, alteração da produção intracelular de ROS e do nível de cálcio, e aumento da exposição à fosfatidilserina. Tomados em conjunto, os resultados sugerem uma interessante indução de mecanismos de morte celular envolvendo uma ação combinada de fatores que prejudicam o núcleo, as mitocôndrias, os lisossomos e a função do RE. Por fim, os autores concluem que os resultados promissores destacam o uso do PeNE como uma potencial abordagem terapêutica complementar a ser empregada em conjunto com os tratamentos convencionais contra o câncer de mama no futuro.

REFERÊNCIAS

BRITO, R. M. et al. Bioactive Compounds of Pequi Pulp and Oil Extracts Modulate Antioxidant Activity  and Antiproliferative Activity in Cocultured Blood Mononuclear Cells and Breast Cancer Cells. Food & nutrition research, v. 66, 2022.

CURTIUS, K.; WRIGHT, N. A.; GRAHAM, T. A. An Evolutionary Perspective on Field Cancerization. Nature reviews. Cancer, v. 18, n. 1, p. 19–32, jan. 2018.

DO NASCIMENTO, J. L. et al. Caracterização física de frutos do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) no Estado de Goiás. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 35, n. 2, p. 71–79, 2005.

LIMA, A. de et al. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense, Camb.). Revista Brasileira de Fruticultura, v. 29, p. 695–698, 2007.

OMBREDANE, A. S. et al. Pequi Oil (Caryocar Brasilense Cambess.) Nanoemulsion Alters Cell Proliferation  and Damages Key Organelles in Triple-Negative Breast Cancer Cells in Vitro. Biomedicine & pharmacotherapy = Biomedecine & pharmacotherapie, v. 153, p. 113348, set. 2022.

PALMEIRA, S. M. et al. Chemopreventive Effects of Pequi Oil (Caryocar Brasiliense Camb.) on  Preneoplastic Lesions in a Mouse Model of Hepatocarcinogenesis. European journal of cancer prevention : the official journal of the European  Cancer Prevention Organisation (ECP), v. 25, n. 4, p. 299–305, jul. 2016.

SANTOS, F. S. et al. A cultura do Pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Acta Iguazu, v. 2, n. 3, p. 46–57, 2013.

SUFFREDINI, I. B. et al. In Vitro Cytotoxic Activity of Brazilian Plant Extracts against Human Lung, Colon  and CNS Solid Cancers and Leukemia. Fitoterapia, v. 78, n. 3, p. 223–226, abr. 2007.

WORMALD, J. S. et al. Design and Establishment of a Cancer Registry: A Literature Review. ANZ journal of surgery, v. 90, n. 7–8, p. 1277–1282, jul. 2020.


1Orcid: 0000-0001-9187-0084
Universidade de Taubaté (UNITAU).
2Orcid: 0000-0002-8853-6736
Universidade de Taubaté (UNITAU).
3Orcid: 0000-0001-6357-531X
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
4Orcid: 00000-0001-6223-7511
Universidade Federal do Pará.