A EFICÁCIA DO TREINAMENTO RESISTIDO COM RESTRIÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO PARA AUMENTO DE FORÇA E HIPERTROFIA MUSCULAR: REVISÃO SISTEMÁTICA

THE EFFECTIVENESS OF RESISTANCE TRAINING WITH BLOOD FLOW RESTRICTION FOR MUSCLE STRENGTHENING AND HYPERTROPHY: SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7708155


Igor Costa da Silva Sales de Oliveira¹
Leandro Moraes-Pinto²
Cristiano Teixeira Mostarda²
Luiz Alexandre de Menezes Nunes¹
Daniela Alves Flexa Ribeiro¹
Emanuel Péricles Salvador²
Ezequias Rodrigues Pestana¹


RESUMO: O treinamento resistido com restrição do fluxo sanguíneo (RFS), também denominado treinamento Kaatsu, é um método de treinamento que tem demonstrado resultados positivos no aumento da força e hipertrofia muscular com cargas menores do que as utilizadas no treinamento resistido tradicional. O objetivo desta revisão sistemática foi investigar por meio de publicações científicas a eficácia do treinamento resistido com RFS para o desenvolvimento de força e hipertrofia muscular, levando em consideração a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos e os resultados em comparação com métodos mais tradicionais de treinamento de força. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados SciELO e PubMed, sendo selecionados artigos recentes que analisaram quantitativamente a relação entre o treinamento resistido com RFS e ganhos hipertróficos e de força e artigos que investigaram efeitos adversos relacionados à aplicação do método. De 305 artigos encontrados, 22 foram utilizados para esta revisão. Foi verificado que treinamento resistido com RFS produz aumento de força e hipertrofia muscular de maneira semelhante ao treinamento de alta intensidade sem RFS, independente da faixa etária, nível de atividade física, do local (membros superiores ou inferiores) e da forma de aplicação da RFS (contínua ou intermitente). Foram encontradas respostas hemodinâmicas e cardiovasculares elevadas em idosos sedentários e/ou hipertensos, apesar de também haverem estudos com essa população que não encontraram estes efeitos adversos.

PALAVRAS-CHAVE: Restrição Fluxo Sanguíneo; Treinamento; Repercussões Hemodinâmicas

ABSTRACT: Resistance training with blood flow restriction (RFS), also called Kaatsu training, is a training method that has demonstrated muscle strength and hypertrophy results with loads lower than those used in traditional resistance training. The objective of this systematic review was to investigate through scientific publications the efficacy of resistance training with RFS for the development of muscle strength and hypertrophy, taking into account the possibility of occurrence of adverse effects and the results in comparison to more traditional methods of strength training. A bibliographic search was carried out in the SciELO and PubMed databases. Recent articles were selected that quantitatively analyzed the relationship between resistance training with RFS and hypertrophic and force gains and articles that investigated adverse effects related to the application of the method. Of 305 articles found, 22 were used for this review. It was verified that resistance training with RFS produces an increase of strength and muscle hypertrophy in a manner similar to the high intensity training without RFS, regardless of age, physical activity level, local (upper or lower limbs) and the form of RFS application (continuous or intermittent). High hemodynamic and cardiovascular responses were found in sedentary and / or hypertensive elderly, although there were also studies with this population that did not find these adverse effects.

KEYWORDS: Blood Flow Restriction; Training; Hemodynamic Repercussions

INTRODUÇÃO

O treinamento de força tem papel de destaque em grande parte dos programas de exercícios físicos, uma vez que faz parte da recomendação de várias organizações de saúde ao redor do mundo no intuito de melhorar a saúde geral e o condicionamento físico. (POLLOCK et al, 2000). Entre os objetivos mais comuns deste tipo de exercício estão o ganho de força e o ganho de massa muscular, seja com fins de saúde, atléticos ou estéticos (YARASHEKI, 2003). 

Ao longo dos anos, diversos estudos têm sido elaborados para identificar formas de se conseguir força e massa muscular de maneira eficiente e é bem aceito que certos métodos de treinamento podem ser mais apropriados do que outros dependendo da situação em que são aplicados (MEISTER et al, 2016). Para aprimorar estas características, comumente se adota métodos que utilizam altas cargas (aproximadamente 70-85% de uma repetição máxima), o que é desafiador e muitas vezes contraindicado para certos indivíduos, como idosos, pessoas com alguns tipos de doenças crônicas ou atletas em processo de reabilitação (BAZGIR et al, 2016; WOLINKSI  et al, 2013).

O treinamento resistido com restrição do fluxo sanguíneo (RFS), também denominado treinamento Kaatsu Training, é um método de treinamento que, como muitos outros, tem demonstrado resultados de força e hipertrofia muscular, porém com a particularidade de utilizar cargas menores que 50% de uma repetição máxima (PRESTES et al, 2016), o que é considerado um treinamento de baixa intensidade, sendo portanto, mais indicado para indivíduos que por quaisquer motivos preferem ou necessitam treinar em intensidade mais baixa sem deixar de ter ganhos nas características supracitadas.

Muito se tem discutido sobre a eficácia do treinamento resistido com RFS e alguns autores relatam os benefícios do método, sendo favoráveis à sua utilização; enquanto outros relatam seus efeitos adversos, como hemorragia subcutânea, dormência, anemia cerebral, sensação de frio, trombose venosa, embolia pulmonar, rabdomiólise, hipoglicemia, entre outros; contraindicado, portanto, o método (WOLINSKI et al, 2013; NAKAJIMA et al, 2006). Além disso, é possível constatar a carência de estudos realizados em língua portuguesa sobre o assunto, tornando necessário revisar as publicações científicas em busca dos dados disponíveis acerca da eficácia do treinamento resistido com RFS.

Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar por meio de publicações científicas a eficácia do treinamento resistido com RFS para o desenvolvimento de força e hipertrofia muscular, levando em consideração a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos e os resultados em comparação com métodos mais tradicionais de treinamento resistido.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão sistemática, realizado por meio de um levantamento das publicações científicas disponíveis nas bases de dados indexadas PubMed e SciELO no dia 18 de abril de 2018. 

As buscas foram realizadas utilizando uma combinação dos seguintes descritores: treinamento, Kaatsu, oclusão, restrição, fluxo sanguíneo, repercussões hemodinâmicas; e seus respectivos termos em língua inglesa: training, Kaatsu, occlusion, restriction, blood flow, hemodynamic repercussions. Para avaliar as informações mais recentes sobre treinamento resistido com RFS, a busca foi feita por artigos publicados nos últimos 10 anos.

O processo de seleção dos artigos foi feito da seguinte forma: 1- Análise e exclusão a partir título, ano de publicação e verificação de artigos repetidos; 2- Análise e exclusão a partir da leitura dos resumos dos artigos e 3- Leitura integral dos artigos restantes e utilização dos critérios de inclusão e exclusão por dois revisores independentes, no caso de discordância entre os avaliadores, um terceiro, geralmente o mais experiente para dar o voto definitivo dos artigos incluídos na revisão.

Os critérios de inclusão dos artigos foram os seguintes: idiomas português e inglês, artigos que analisaram quantitativamente a relação entre o treinamento resistido com RFS e ganhos hipertróficos e de força (seja força máxima, força explosiva ou outra característica relacionada à força), artigos que descreveram protocolos de aplicação do treinamento com RFS e artigos que investigaram efeitos adversos relacionados à aplicação do método. Foram excluídos artigos de revisão, estudos de caso, artigos publicados antes do ano de 2013, artigos não publicados em revistas científicas (resumos, dissertações, teses, capítulos de livros, artigos de opinião, entre outros), artigos em que a amostra não fosse composta por humanos adultos (idade maior ou igual a 18 anos), artigos que não mencionaram o nível de atividade física dos indivíduos, artigos que não descreveram o protocolo de treinamento com RFS e artigos em que a RFS não foi aplicada mecanicamente por uma pressão externa (oclusão vascular adaptada e câmara hiperbárica, por exemplo).

RESULTADOS

A primeira fase da busca por artigos nas bases de dados SciELO e PubMed resultou 305 artigos, dos quais 256 foram excluídos por estarem em discordância com os objetivos desta revisão. A fase seguinte consistiu na leitura integral dos 49 artigos restantes, a partir da qual foram excluídos 27 artigos que não estavam em conformidade com os critérios de inclusão estabelecidos e, portanto, 22 artigos atenderam a todos os critérios estabelecidos e foram incluídos nesta revisão sistemática. O processo integral de busca e seleção dos artigos está representado na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma representativo da busca sistemática por artigos nas bases de dados SciELO e PubMed

Apresentação dos 22 artigos incluídos na revisão sistemática, na Tabela 1.

Tabela 1 – Descrição dos estudos revisados

EstudoAmostra (Idade)Protocolo de treinamento com RFSInstrumento utilizado para aplicar RFS e membro utilizadoPressão de RFS (mmhg)Achados
Bazgir et al, 201616 homens ativos (26,18±3,367)1 sessão de 4 séries de baixa intensidade (30% da CVM) de resistência unilateral excêntrica de joelhoManguito Pneumático no membro inferior de forma contínua90 – 100Exercício de baixa intensidade com RFS é seguro do ponto de vista hemodinâmico
Brandner et al, 201412 homens ativos (23±3)1 sessão de 1 série de 30 repetições e 3 séries de 15 repetições a 20% de 1 RM, com 30 segundos de descanso entre as séries  Manguito Pneumático no membro superiorRFS contínua: 80% da pressão de oclusão; RFS intermitente: 130% da pressão de oclusãoExercício com RFS de baixa pressão e contínua é o método de RFS preferencial do ponto de vista hemodinâmico para promover ganhos de força e hipertrofia muscular em populações jovens e saudáveis.
Bunevicius et al, 201624 indivíduos ativos (22,5±1,5)1 sessão de treinamento com 3 exercícios de 3 séries de 8 repetições de flexão plantar a 40% da CVM, com 30 segundos de intervalo entre as sériesManguito pneumático nos membros inferiores, de forma intermitente120Exercício resistido de baixa intensidade com RFS não resulta em sobrecarga significativa na função cardíaca
Cezar et al, 201623 mulheres idosas, sedentárias e hipertensas16 sessões. 3 séries de flexão de punho a 30% de 1RM e com 30 segundos de intervalo entre as sériesEsfigmomanômetro, nos membros superiores, de forma contínua70% da pressão sistólica de repousoO grupo que treinou com RFS apresentou redução da PAS, PAD, PAM e DP; enquanto os outros dois grupos não mostraram alterações hemodinâmicas significativas.
Cook et al, 201420 homens treinados (21,5±1,4)9 sessões, cada qual com 5 séries de 5 repetições nos exercícios agachamento, supino reto e barra fixa com peso, todos com 70% de 1 RM, com 90 segundos de descanso entre as séries e 3 minutos de descanso entre exercícios.Manguito pneumático, nos membros inferiores, de forma intermitente entre séries e exercícios180Atletas ganharam força nos membros superiores com RFS feita nos membros inferiores
Counts et al, 201514 jovens ativos (Grupo 1: 24±3; Grupo 2: 23±3)Experimento 1:3 sessões.1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições de flexão de cotovelo unilateral a 30% de 1 RM a 40%, 50%, 60%, 70%, 80% e 90% da pressão de oclusão.
Experimento 2: 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições de flexão de cotovelo unilateral a 30% de 1 RM, um braço a 40% e o outro a 90% da pressão de oclusão por 22 sessões de treino.
Manguito de nylon, nos membros superiores, de forma contínua40% a 90% da pressão de oclusãoExercício com baixas cargas combinados com 40% ou 90% da pressão de oclusão produzem ganhos similares em tamanho muscular, força e resistência, mas pressões maiores produzem maior desconforto.
Dankel et al, 201715 indivíduos ativos (25±2)1 sessão de 4 séries de flexão de cotovelo unilateral a 30% de 1RM, sendo 1 série de 30 repetições e 3 séries de 15 repetições.Manguito de nylon e manguito elástico, aplicados de forma contínua nos membros superioresUm dos braços teve uma pressão de oclusão vascular de 160 mmhg e o outro a 40% da pressão de oclusão de cada indivíduoAmbos os protocolos produziram respostas agudas similares em relação ao crescimento muscular.
Giles et al, 201779 indivíduos, que não fizeram treinamento resistido para membros inferiores por pelo menos 6 meses (28,5±5,2)6 sessões. 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições a 30% de 1 RM, com 30 segundos de descanso entre as sériesManguito pneumático, aplicado de forma contínua nos membros inferiores60% da pressão de oclusãoO subgrupo com dores durante treinamento resistido na extensão de joelho teve maior ganho de força no quadríceps com o treinamento com RFS.
Jessee et al, 201714 indivíduos ativos (24)3 sessões. 4 séries de flexão de cotovelo unilateral a 10%, 15% e 20% de 1RM, sendo 1 série de 30 repetições e 3 séries de 15 repetições.Manguito de nylon, de forma contínua nos membros superiores40% e 80% da pressão de oclusãoAs respostas cardiovasculares aumentam com um aumento da carga ou da pressão de RFS, quando se treina com cargas muito baixas.
Kim et al, 201714 homens destreinados (21±4 no grupo com RFS)24 sessões de flexão de cotovelo. Um braço em alta intensidade (3 séries de 10 repetições a 75% de 1 RM) e outro em baixa intensidade com RFS (1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições a 30% de 1 RM)Manguito de nylon nos membros superiores de forma contínua50% da pressão de oclusãoGanho de massa muscular e força similar entre treino de baixa intensidade com RFS e de alta intensidade.
Laurentino et al, 201611 homens ativos(25,2±6,1)24 sessões. 3 séries de 15 repetições de flexão unilateral de cotovelo a 20% de 1 RM com 60 segundos de descanso entre as séries.Manguito de nylon nos membros superiores (em um braço foi utilizado um manguito largo e no outro um manguito curto) de forma contínua80% da pressão de oclusãoIndependente da largura do manguito, houve acréscimo no valor de 1 RM e na AST dos flexores do cotovelo
Libardi et al, 201612 homens sedentários (20±3)3 sessões. 4 séries de 15 repetições de “leg press 45º” a 30% de 1 RMEsfigmomanômetro nos membros inferiores de forma contínua50% da pressão de oclusãoTreinamento de baixa intensidade com RFS produz menores respostas hemodinâmicas quando o exercício é feito até a falha concêntrica
Maior et al, 201515 homens ativos (23,4±3,4)2 sessões. 3 séries de flexão de cotovelo em pé com barra a 40% de 1 RM (protocolo de baixa intensidade com RFS)Manguito pneumático nos membros superiores de forma contínua20 mmhg abaixo da pressão sistólica de repousoProtocolo de baixa intensidade com RFS e de alta intensidade promovem efeitos hipotensivos pós exercício.
Neto et al, 201524 homens ativos (23,79±3,21)1 sessão com RFS. 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições a 20% de 1 RM na flexão e extensão bilateral do cotovelo e na flexão e extensão bilateral do joelho.Manguito pneumático nos membros superiores e inferiores de forma intermitente80% da pressão de oclusãoDentre os protocolos aplicados, o treinamento de baixa intensidade com RFS produziu maior efeito hipotensivo
Neto et al, 201610 homens ativos (19±0,8)2 sessões. Uma com RFS contínua e outra com RFS intermitente, ambos com 20% de 1 RM no exercícios supino, puxador aberto, extensão e flexão do cotoveloEsfigmomanômetro nos membros superiores1,3 vezes a pressão sistólica de repousoTodos os protocolos analisados induziram efeitos hipotensivos pós exercício, sendo este efeito mais prolongado após RIFS e RCFS.
Pinto et al, 201512 mulheres hipertensas e sedentárias (57±7)3 séries de 15 repetições “leg press” a 20% de 1 RM, com 30s de descanso entre as séries Esfigmomanômetro nos membros inferiores de forma contínua100% da pressão de oclusãoExercício de baixa intensidade com RFS pode desencadear valores mais altos nas respostas cardiovasculares e hemodinâmicas do que o exercício tradicional de alta intensidade em mulheres hipertensas
Pinto et al, 201618 mulheres sedentárias (67±1,7)01 sessão com RFS, com 03 séries de 10 repetições de extensão de joelhos bilateral a 20% de 1 RMManguito pneumático nos membros inferiores de forma contínua80% da pressão de oclusãoProtocolo de baixa intensidade com RFS produziu mesmos valores hemodinâmicos que o protocolo de alta intensidade, mas a demanda hemodinâmica foi maior durante os intervalos de descanso.
Sardeli et al, 201721 indivíduos sedentários (64,3±5,04)1 sessão com RFS, sendo 1 série de 30 repetições, seguida de 3 séries de 15 repetições de “leg press 45º” a 30% de 1 RM, com 1 minuto de descanso entre as séries.Esfigmomanômetro nos membros inferiores de forma contínua50% da pressão de oclusãoExercício de alta intensidade é mais seguro em idosos sedentários
Sousa et al, 201737 indivíduos sedentários (18-30)12 sessões. 4 séries de extensão de joelho unilateral a 30% de 1 RM até a falha concêntrica, com 30 segundos de intervalo entre as séries.Esfigmomanômetro nos membros inferiores de forma contínua80% da pressão de oclusãoOs grupos com RFS produziram resultados similares ao grupo de alta intensidade em relação a ativação muscular, torque e RML
Vechin et al, 201523 idosos sedentários (59-71)24 sessões de 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições de “leg press 45º” a 20% de 1 RM (primeiras 12 sessões) e 30% de 1 RM (últimas 12 sessões), com 1 minuto de descanso entre as séries.Manguito pneumático nos membros inferiores de forma contínua50% da pressão de oclusãoAmbos os protocolos foram efetivos em aumentar a força e a AST
Yasuda et al, 201417 idosos sedentários (Grupo com RFS: 71,8±6,2)24 sessões de 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições de flexão e extensão de cotovelo, com 90 segundos de descanso entre as sériesManguito pneumático nos membros superiores de forma contínua120-270O treinamento com bandas elásticas de baixa intensidade com RFS em idosos aumentou o AST, bem como a força muscular máxima, sem afetar negativamente a rigidez arterial.
Yasuda et al, 201630 mulheres idosas ativas (61-86)24 sessões. 1 série de 30 repetições seguida de 3 séries de 15 repetições de agachamento bilateral e extensão de joelhoManguito pneumático nos membros inferiores de forma contínua160-200Banda elástica com RFS aumentou a AST dos músculos da coxa, bem como a força máxima, sem diminuir a função vascular em mulheres idosas

*Idade apresentada no formato na forma Média ± Desvio Padrão ou por faixa etária.
AST – área da secção transversal; CVM – Contração Voluntária Máxima; DP – Duplo produto; PAD – Pressão Arterial Diastólica; PAM – Pressão Arterial Média; PAS – Pressão Arterial Sistólica; PSE – Percepção subjetiva de esforço; RCFS – Restrição contínua do fluxo sanguíneo; RFS – Restrição do fluxo sanguíneo; RIFS – Restrição intermitente do fluxo sanguíneo; RM – repetição máxima; RML  –  resistência muscular localizada

O tamanho das amostras analisadas nos estudos revisados variou entre 12 e 79, englobando diferentes públicos, como somente homens (n=9; 40,91%), somente mulheres (n=4; 18,18%), homens e mulheres (n=9; 40,91%), indivíduos ativos fisicamente ou treinados (n=12; 54,55%), indivíduos sedentários ou destreinados (n=10; 45,45%) e abrangendo uma ampla faixa etária, englobando desde jovens até idosos (18 a 86 anos).

Os protocolos de treinamento foram diversos, havendo desde protocolos que exigiam apenas uma sessão de treinamento, que buscavam avaliar efeitos agudos do exercício; até protocolos que chegaram a 24 sessões de treinamento, que visam analisar adaptações de médio a longo prazo ao treinamento resistido com RFS. 

Os protocolos utilizados para aplicar a RFS, assim como os protocolos de treinamento, foram diversos, implicando em diversos valores de pressão para RFS aplicados em cada estudo. Quanto à aplicação da RFS propriamente dita, todos os estudos utilizaram materiais de baixo custo, como esfigmomanômetros, manguitos pneumáticos e de nylon, sendo este um ponto positivo a favor do método. Além disso, foram analisados os membros em que a RFS foi aplicada, que está diretamente ligada ao protocolo utilizado, podendo ser nos membros superiores (n=10; 45,45%), membros inferiores (n=11; 50%) ou nos membros inferiores e superiores (n=1; 4,55%); e também se a RFS foi feita de forma contínua, que consiste em aplicar a pressão nos membros no início da sessão de treino e só retirar ao final da mesma (n=17; 77,27%); intermitente, em que o manguito só permanece inflado nos momentos em que o exercício está sendo executado (n=3; 13,64%); ou se o estudo testou tanto o protocolo intermitente quanto contínuo (n=2; 9,09%).

Apenas três estudos mostraram possíveis preocupações a respeito do treinamento resistido com RFS, que produziu respostas cardiovasculares e hemodinâmicas mais elevadas que o treinamento tradicional de alta intensidade em mulheres hipertensas e sedentárias (PINTO et al, 2015), maior demanda hemodinâmica nos intervalos de descanso em mulheres idosas, hipertensas e sedentárias (PINTO et al, 2016) e maiores valores de pressão arterial sistólica e, principalmente, diastólica em idosos sedentários, indicando que o treinamento de alta intensidade é mais seguro para esta população do ponto de vista hemodinâmico (SARDELI et al, 2017).

Os demais estudos comprovaram a eficácia do treinamento resistido com RFS, aumentando força e hipertrofia musculares de maneira similar a métodos tradicionais de alta intensidade. 

DISCUSSÃO

Os achados desta revisão sistemática permitem fazer interpretações positivas sobre a eficácia do método de treinamento resistido com RFS em relação ao aumento de força, hipertrofia muscular e danos à saúde do ponto de vista hemodinâmico.

Alguns estudos investigaram o efeito de diferentes valores de pressão de RFS para um mesmo protocolo de treinamento visando aumento de força e hipertrofia muscular (BRANDNER et al, 2014; COUNTS et al, 2015; DANKEL et al, 2017; JESSEE et al, 2017), mostrando que os ganhos podem ocorrer a partir de pressões correspondentes a 40% da pressão de oclusão e sem diferença para protocolos que utilizam pressões maiores, que podem levar a maior percepção subjetiva de esforço, maior desconforto e maiores respostas hemodinâmicas. Assim, pressões maiores que 40% da pressão de oclusão podem não ser necessárias. (COUNTS et al, 2015)

É possível que o treinamento resistido com RFS não tenha um efeito apenas local, mas também sistêmico, uma vez que foi percebido aumento significativo de força nos membros superiores quando foi feito um protocolo de RFS nos membros inferiores (COOK et al, 2014). No entanto, mais estudos são necessários para comprovar esta hipótese.

O método também se mostrou efetivo no tratamento da dor patelofemoral, reduzindo o quadro de dor ao final do protocolo (GILES et al, 2017), o que provavelmente ocorreu pelo fato dos indivíduos conseguirem executar treinamento resistido para membros inferiores com flexão de joelho devido às baixas cargas (30% de 1 RM), o que não era possível com o treinamento de alta intensidade. Deste modo, houve um fortalecimento do quadríceps, que está associado à melhora do quadro de dor patelofemoral.

Quanto aos protocolos de treinamento, é interessante ressaltar que nove estudos (BRANDNER et al, 2014; COUNTS et al, 2015; DANKEL et al, 2017; GILES et al, 2017; KIM et al, 2017; NETO et al, 2015; SARDELLI et al, 2017; YASUDA et al, 2014; YASUDA et al, 2016) utilizaram modelo similar de séries e repetições (1 série de 30 repetições, seguida 3 séries de 15 repetições, com pequenas variações de intensidade e de intervalo de descanso), produzindo respostas positivas para força, hipertrofia muscular e respostas hemodinâmicas, independente da faixa etária, do nível de atividade física (ativos, sedentários, etc.), do membro em que a RFS foi aplicada e de sua forma de aplicação (contínua ou intermitente); exceto por um destes estudos (SARDELLI et al,  2017) que concluiu que o treinamento resistido com RFS é menos seguro que o treinamento de alta intensidade sem RFS em idosos sedentários. Assim, esse modelo parece ser um padrão para analisar cientificamente este tipo de treinamento.

Outro protocolo realizou apenas um treinamento excêntrico de membro inferiores com RFS (BAZGIR et al, 2016), detectando aumento significativo na frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, duplo produto e na percepção subjetiva de esforço em relação aos níveis de repouso, mas de mesma magnitude que o protocolo sem RFS, o que indica que o treinamento excêntrico com RFS pode alterar estes parâmetros dentro de padrões considerados normais para um treinamento resistido. 

Os estudos que apresentaram resultados adversos para a população idosa sedentária e/ou hipertensa (PINTO et al, 2015; PINTO et al, 2016; SARDELI et al, 2017) mostram resultados conflitantes com um dos estudos revisados que também investigou idosos sedentários, obtendo hipertrofia muscular e ganho de força sem afetar negativamente as características hemodinâmicas (YASUDA et al, 2014), mas este estudo teve a particularidade de, em vez de usar máquinas tradicionais e halteres, utilizar bandas elásticas como sobrecarga, que têm como característica o fato da resistência variar de acordo com a amplitude do exercício, não imprimindo assim uma tensão constante aos músculos. No entanto, sugere-se atentar para as condições de idade e do sistema circulatório antes de prescrever exercícios com RFS.

Os demais estudos não mostraram alterações significativas nos parâmetros hemodinâmicos (CEZAR et al, 2016; YASUDA et al, 2016) e nas funções cardíacas (BUNEVICIUS et al, 2016), independente da faixa etária, do nível de atividade física, do membro em que a RFS foi aplicada, de sua forma de aplicação e do protocolo de treinamento. Foram verificados, inclusive, efeitos hipotensivos pós exercício, similares a protocolos de treinamento resistido de alta intensidade. (LIBARDI et al, 2016; MAIOR et al, 2015; NETO et al, 2015; NETO et al, 2016).

A maioria dos trabalhos que avaliam fatores hemodinâmicos só analisam respostas agudas, sendo, portanto, necessária a realização de estudos que analisem a evolução destes fatores como resultado do treinamento com RFS por tempos prolongados, dando maior confiabilidade aos resultados.

Os resultados desta revisão indicam que o método é realmente eficaz para induzir ganhos de força e hipertrofia muscular com baixas cargas de forma similar ao treinamento tradicional de baixa intensidade, seja para indivíduos treinados, destreinados, jovens e, com algumas ressalvas, idosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O treinamento resistido com RFS em baixa intensidade tem eficácia semelhante ao treinamento de força tradicional de alta intensidade em relação ao aumento de força e hipertrofia muscular, independente da faixa etária, nível de atividade física, do local (membros superiores ou inferiores) e da forma de aplicação da RFS (contínua ou intermitente).

Foram encontradas respostas hemodinâmicas e cardiovasculares elevadas em idosos sedentários e/ou hipertensos, apesar de também haver estudos com essa população que não encontraram estes efeitos adversos.

O treinamento resistido de baixa intensidade com RFS, portanto, pode se tornar uma ferramenta adicional para o profissional de Educação Física aplicar em sua vida profissional, uma vez que pode ser aplicado usando instrumental de custo relativamente baixo e é um ótimo método para trabalhar, por exemplo, com indivíduos em processo de reabilitação ou com comprometimento articular que impeçam a execução de atividades com cargas elevadas.

REFERÊNCIAS

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1Universidade CEUMA, São Luís, MA – Departamento de Educação Física
2Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA – Departamento de Educação Física