REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7685929
Regina de Melo Albarado1
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal2
Priscila Pinto Brandão de Araújo3
Renato da Silva Repilla4
RESUMO
A atresia maxilar é uma deformidade que assume uma forma triangular, a qual acarreta modificações funcionais e oclusais que podem ser esqueléticas e dentárias, uni ou bilaterais e, raramente, tem resolução espontânea. Essa deformidade apresenta origem multifatorial, podendo ter causas genéticas ou ambientais, uma vez que muitos arcos dentários atrésicos são fruto de hábitos bucais deletérios e respiração bucal, a paciente procurou a clínica apresentando uma mordida cruzada posterior, os pais relataram que a paciente dormia de boca aberta com dificuldades na respiração, foi planejado uma expansão rápida da maxila com o aparelho expansor encapsulado de McNamara para tratar o problema transversal.
Palavras-chave: Atresia maxilar, Mordida cruzada, Hábitos bucais deletérios.
ABSTRACT
Maxillary atresia is a deformity that assumes a triangular shape, which causes functional and occlusal changes that can be skeletal or dental, unilateral or bilateral and, rarely, has spontaneous resolution. This deformity has a multifactorial origin, and may have genetic or environmental causes, since many atretic dental arches are the result of deleterious oral habits and mouth breathing, the patient came to the clinic with a posterior crossbite, the parents reported that the patient slept with her mouth open with breathing difficulties, rapid maxillary expansion with McNamara encapsulated expander was planned to treat the transverse problem.
Keywords: Maxillary atresia, Crossbite, Deleterious oral habits.
INTRODUÇÃO
A atresia maxilar é uma alteração do crescimento facial que ocasiona estreitamento da arcada superior no sentido transversal. Esta assume uma forma triangular, a qual acarreta modificações funcionais e oclusais que podem ser esqueléticas e dentárias, uni ou bilaterais e, raramente, tem resolução espontânea¹.
Essa deformidade apresenta origem multifatorial, podendo ter causas genéticas ou ambientais, uma vez que muitos arcos dentários atrésicos são fruto de hábitos bucais deletérios e respiração bucal².
Para a correção da atresia maxilar, um dos métodos utilizados é a Expansão Rápida da Maxila, que busca a expansão maxilar com o auxílio de aparelhos expansores fixos. Tais aparelhos exercem pressão nos ossos maxilares com força suficiente para o rompimento da sutura palatina mediana e consequente aumento do perímetro do arco³.
Conhecer o fator da má-oclusão é essencial para o sucesso do tratamento ortodôntico uma vez que eliminar a causa é pré-requisito para a correção do problema e para a estabilidade do tratamento4. Os fatores etiológicos da mordida cruzada posterior, incluem fatores genéticos e ambientais, como hereditariedade, hábitos de sucção não nutritivos, respiração bucal, perda precoce ou retenção prolongada de dentes decíduos, deglutição atípicas, migração do germe do permanente, interferências oclusais, anomalias ósseas congênitas e fissuras palatinas5.
A expansão rápida da maxila pode alargar a abertura nasal, promovendo a separação dos ossos maxilares em forma piramidal com a máxima expansão a nível dos incisivos, aumentando o volume total da cavidade nasal6. Conforme vimos na literatura, a correção da mordida cruzada posterior unilateral é obtida com maior êxito, sem depender da colaboração do paciente, usando-se aparelhos expansores fixos, o que nos incentivou a usar o aparelho expansor de McNamara, por ser de fácil confecção, de baixo custo e de maior aceitação pelo paciente.
RELATO DE CASO
Paciente L.A.C.B 13/09/2012 10 anos 8 meses gênero feminino, compareceu a clínica odontológica do curso de especialização da instituição de ensino Proeducar-Faserra, para avaliação ortodôntica.
Ao exame clínico constatou-se boa higiene bucal, ausências de restaurações, dentição mista com presença dos seguintes dentes permanentes 11,12,16,21,22,26,31,32,36,41,42,46 paciente dolicofacial, respirador bucal, ausência de selamento labial, mordida cruzada posterior unilateral lado direito do 53 ao 16, mordida aberta anterior.
Solicitei os seguintes exames: Radiografia panorâmica, tele radiografia em norma lateral de cabeça, com traçados de McNamara e USP, radiografia carpal, fotos extra oral frente (Figura 1 A), perfil direito (Figura 1 B) e frente sorrindo (Figura 1C), fotos intraorais frente(Figura 2A), lado direito(Figura 2B), lado esquerdo(Figura 2C), oclusal de maxila(Figura 2D) e mandíbula(Figura 2E).
Ao examinarmos a documentação solicitada constatou-se ser portador de maloclusão classe II subdivisão direita,
Proposta de tratamento: Aparelho de McNamara encapsulado para expansão e ao mesmo tempo intrusão dos elementos 16,26 para diminuição do vertical anterior por ser dolicofacial.
Exames solicitados:
Radiografia Panorâmica (figura 3)
Tele radiografia de perfil (figura 4)
Figura 3 – Radiografia panorâmica
Dentição mista
Ausência de 3 molares
Presença dos germes dentários de alguns elementos
Paciente apresenta dentição mista com os elemen:17,16,15,14,13,23,24,25,26,27,37,35,34,33,43,44,45,46,47
Elementos dentários decíduos: 55,54,53,63,64,65,75,74,83,84,85
Figura 4 – Tele radiografia lateral
Medidas Cefalométricas:
Plano de Tratamento:
Instalação do aparelho McNamara (figura 5 A e 5 B)
Iniciou-se o tratamento com ERM, utilizando o disjuntor de McNamara. O protocolo de ativação foi um quarto de volta e 2 ativações por dia.
A abertura aconteceu em 10 dias e avaliado 30 dias após a instalação obtendo o resultado esperado (figura 6 A, 6 B e 6 C).
Após a realização da disjunção o dispositivo foi inativado com resina composta fechando o espaço de ativação e o aparelho foi usado por 4 meses como contenção e aguardando a neoformação óssea (figura 7)
Após 4 meses de uso como contenção o aparelho foi removido para dar início a segunda etapa do tratamento (figuras 8 A, 8 B, 8 C)
Tele radiografia Final
Traçado Cefalométrico Inicial e Final
Medidas antes e após expansão
DISCUSSÃO
A deficiência transversal da maxila aparece como elemento comum à maioria das maloclusões, acompanhada ou não de sinais clínicos evidentes, como mordida cruzada ou desvio lateral funcional da mandíbula. Resolver o déficit transversal esquelético, parece ser um dos objetivos terapêuticos comuns a serem alcançados, em vários protocolos, esta técnica consiste na aplicação de forças de alta magnitude, com o objetivo de separação da sutura palatina7, Neste relato de caso clínico iniciou-se o tratamento da paciente na fase de dentição mista, período de escolha, concordando com o preconizado na literatura8 que relata esta fase da dentição mista como idade de eleição para se realizar uma disjunção palatina, tendo em conta que as discrepâncias transversais não se corrige espontaneamente uma vez que se trata de uma deformidade dento-esquelética.
No caso relatado neste trabalho, optamos pela expansão rápida da maxila com o aparelho de McNamara, as principais vantagens desse aparelho, segundo os autores, são de dispensar a confecção de bandas, facilidade de instalação, tendo a melhor indicação para pacientes com tendência de crescimento vertical da face. Posteriormente9, propuseram modificações no desenho do disjuntor preconizado por 10, tornando-se o modelo de disjuntor palatino colado mais utilizado, atualmente, em virtude da simplicidade de confecção e bom desempenho clínico. Que possui um parafuso expansor e acrílico encapsulado nos dentes.
De acordo com a literatura11, ocorre uma melhora significativa da respiração do paciente devido ao aumento da largura das fossas nasais após o tratamento com expansão rápida palatina. É amplamente demonstrado que a expansão rápida do palato faz com que as obstruções nasais sejam corrigidas, obtendo-se um fluxo de ar com valores completamente normais, de modo a normalizar a respiração nasal que, antes da expansão, fato esse observado neste paciente, ao qual no início do tratamento apresentava uma deficiência respiratória relatada pelos pais11. O travamento do aparelho ao final da ERM, é utilizado como uma contenção necessária, concordando com o relato de diversos autores da literatura12,13,14,15,16,17,18,19,20 que recomendam o uso do próprio aparelho expansor, por no mínimo 3 meses e após uso de um aparelho de contenção móvel por aproximadamente seis meses para haver ossificação total da sutura palatina mediana e diminuir os riscos de uma recidiva, procedimento este usado neste tratamento.
CONCLUSÃO
A intervenção da deficiência transversal na fase de dentição mista com a expansão rápida da maxila através do uso do aparelho de McNamara foi alcançada com sucesso, o aparelho se mostrou eficaz na expansão evitando alguns efeitos colaterais que os outros aparelhos causam como a inclinação dos dentes posteriores, paciente ainda realizará a segunda fase do tratamento.
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1Especialização em Ortodontia.
2Especialização em Ortodontia.
3Mestrado e Doutorado em Ortodontia.
4Doutorado em Ortodontia.
Trabalho desenvolvido na Clínica de Especialização em Ortodontia da Instituição CEPROEDUCAR/FaSerra Manaus -AM