GRANDE PLACA ULCERADA NA COXA: UM CASO DE TUBERCULOSE VERRUCOSA CUTIS EM PACIENTE IMUNO COMPETENTE DA REGIÃO AMAZÔNICA.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7669767


Larissa Negrão Quaresma
Maraya de Jesus Semblano Bittencourt
Gabriela Athayde Amin
Heliana Freitas de Oliveira Góes
Livia Eloi Castro Santos
Pedro Carneiro Marinho
Ana Carolina Batista Pamplona de Freitas


INTRODUÇÃO

A Tuberculose Cutânea (TBC) é uma entidade pouco frequente, apenas 1% a 2% de todos os casos de TB extrapulmonar apresentaram envolvimento cutâneo, sendo a forma verrucosa de ocorrência ainda mais rara¹. Possui maior prevalência em áreas tropicais de clima quente e úmido, apresentando sua incidência de modo paralelo à da tuberculose pulmonar 2,3. Relata-se um caso de Tuberculose Cutânea Verrucosa (TBCV) em paciente imunocompetente, procedente de Curralinho, município brasileiro do estado do Pará. O quadro se manifestou através de extensa placa hiperemiada e verrucosa ao diagnóstico com três meses do surgimento, sua evolução, e após três anos de acompanhamento.

RELATO DE CASO

Mulher, 34 anos, evoluiu em 3 meses com placa apresentando ulceração de fundo granuloso, bordas violáceas, infiltradas e áreas de necrose, medindo 20 x 10 cm, na face posterior da coxa direita (Fig. 1). Lesão iniciada após pequeno traumatismo local, com formação de múltiplas pápulas dolorosas à palpação. Esta apresentou crescimento rápido, passando a acometer região infra-glútea de coxa posterior em faixa, com extensão para suas faces lateral e medial, com ausência de adenopatias. Não havia história pessoal ou domiciliar de Tuberculose (TB). Não houveram alterações ao Raio-x de tórax e nem aos exames laboratoriais, incluindo sorologias. O PPD não é reator. Realizou-se biópsia, que evidenciou derme expandida apresentando múltiplas áreas de necrose caseosa, envolvidas por infiltrado inflamatório granulomatoso composto por histiócitos epitelioides, linfócitos, plasmócitos e células multinucleadas do tipo Langhans, associado a abundantes neutrófilos, focos de supuração e áreas de fibrose. Ao Fite-Faraco, ausência de BAAR e ao PAS, ausência de fungos. Procedeu-se a cultura para TB com resultado positivo (+++) e detecção do Complexo Mycobacterium tuberculosis (MBT). Após o diagnóstico, foi implementada terapia farmacológica com o esquema RIPE (Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida e Etambutol) por 6 meses, associado a medidas gerais, com melhora progressiva da lesão (Fig. 3 e Fig. 4). A paciente mantém acompanhamento há mais de 3 anos, sem sinais de recidiva clínica. 

Fig 1: Ao diagnóstico, com 3 meses de evolução.

Fig 2: Necrose caseosa ao histopatológico

Fig 3: Lesão após 9 meses de evolução e após 12 meses

Fig 4: Após 3 anos de acompanhamento

DISCUSSÃO

            A TBCV resulta da inoculação direta, trivial ou acidental – a partir de fonte exógena ou de escarro do próprio paciente – do organismo causador através de feridas abertas ou abrasões na pele em indivíduo previamente infectado ou sensibilizado, com grau de imunidade moderada a alta contra o bacilo 2,4.

            Os locais de predileção relatados são aqueles propensos a traumas para inoculação do MTB, com destaque para extremidades inferiores  em crianças,  enquanto que nos adultos são mais envolvidas extremidades distais, como as mãos e em menor ocorrência a região glútea 1,4.    

            Após a confirmação da TB cutânea, é imprescindível a busca de focos extra cutâneos de TB por meio de amostras de urina, sangue e escarro, radiografia de tórax ou tomografia computadorizada (TC) de tórax e cintilografia óssea.

             O diagnóstico de TB cutânea tende a representar um desafio clínico-patológico, devido às possíveis apresentações multifacetadas da tuberculose cutânea e frente aos  diferenciais6.

CONCLUSÃO

Ressalta-se a importância do alto índice de suspeição sobretudo em regiões endêmicas, com objetivo de reduzir atrasos diagnósticos e subtratamentos na prática médica, seja este generalista ou especialista.

REFERÊNCIAS 

1. Asmarani Y, Mulia RC, Adriani A. A large verrucous plaque on the buttocks: a case report of an atypical presentation of tuberculosis verrucosa cutis. Pan Afr Med J. 2020;37:131.

2. Dias MF, Bernardes Filho F, Quaresma MV, Nascimento LV, Nery JA, Azulay DR. Update on cutaneous tuberculosis. An Bras Dermatol. 2014 Nov-Dec;89(6):925-38.

3. Chen Q, Chen W, Hao F. Cutaneous tuberculosis: a great imitator. Clin Dermatol. 2019;37(3):192–9.

4. Chowdhry S, Khanna U, D´Souza P, Dhali TK. Keloidal plaque in a patient with pulmonary tuberculosis: a rare morphological variant of tuberculosis verrucosa cutis. Int J Mycobacteriol. 2014.

5. Frankel A, Penrose C, Emer J. Cutaneous tuberculosis: a practical case report and review for the dermatologist. J Clin Aesthet Dermatol. 2009;2(10):19–27. 

6. Khadka P, Koirala S, Thapaliya J. Cutaneous Tuberculosis: Clinicopathologic Arrays and Diagnostic Challenges. Dermatol Res Pract. 2018 Jul 9;2018.