ANÁLISE DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE NOTIFICAÇÕES POR HEPATITE C ENTRE OS ANOS DE 2015 A 2020 NO ESTADO DO TOCANTINS.

ANALYSIS OF THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HEPATITIS C NOTIFICATIONS BETWEEN THE YEARS 2015 TO 2020 IN THE STATE OF TOCANTINS.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7660236


Adriana Mesquita Gonçalves¹
André Grisani²
Isadora Propécio¹
João Victor Vieira Lima¹
Karla Raissa Pires da Silva³
Kayo Vinicius Coelho Ortegal4
Kelly Santos Silva Rabelo¹
Mônica Andrade Lemes²
Reinaldo Bernardino Teixeira Guimarães¹
Sarha Rebeca Peres Roriz¹
Sérgio Augusto Amorim Farias³
Victor Emanuel Fernandes Costa Matias Castro4
Vinicius Furtado Martins de Oliveira¹


RESUMO

A hepatite C, assim como as outras formas clínicas da hepatite, possui diversas formas de contágio e, na maioria das vezes, a prevenção para essa doença é negligenciada pela maioria da população, tanto por conta de desconhecimento como por desleixo dos indivíduos. Sua repercussão no organismo do paciente é de extrema preocupação, pois ela pode acometer o fígado de forma grave em caso de cronificação. O presente estudo objetiva traçar o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hepatite C e sua adesão aos tratamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde no Tocantins, no período de 2015 a 2020. O trabalho apresentará um curso descritivo epidemiológico o qual será realizado um estudo isolado sobre hepatite C, onde para melhor apuração dos resultados serão divididos em variáveis, facilitando assim o cruzamento dos resultados encontrados entre a relação da C e sua incidência no período de 2015 a 2020 com a literatura nacional. Presume-se com essa pesquisa correlacionar os dados obtidos tanto com outras pesquisas como com a literatura atual do estado e a do país. Nota-se que a hepatite C vem sendo motivo de diversos debates e pesquisas atuais o que faz necessária uma maior vigilância sobre o tema para que o perfil dos pacientes acometidos seja evidenciado e possua maior atenção tanto para prevenção como para diminuir a evasão ao tratamento.

Palavras-Chave: Hepatite C, Tocantins, Cronificação.

ABSTRACT

The Hepatitis C, as well as the other clinical forms of hepatitis, has several ways of contagion and, most of the time, prevention for this disease is neglected by most of the population, both because of lack of knowledge and negligence of individuals. Its repercussions on the patient’s body is of extreme concern, as it can seriously affect the liver in case of chronicity. The present study aims to outline the epidemiological profile of patients diagnosed with hepatitis C and their adherence to the treatments available in the Unified Health System in Tocantins, from 2018 to 2020. The work will present an epidemiological descriptive course in which an isolated study on hepatitis C will be carried out, where, for a better calculation of the results, they will be divided into variables, thus facilitating the crossing of the results found between the relationship of C and its incidence in the period from 2018 to 2020 with national literature. It is assumed with this research to correlate the data obtained both with other researches and with the current literature of the state and of the country. It is noted that hepatitis C has been the subject of several debates and current research, which makes greater vigilance on the subject necessary so that the profile of affected patients is highlighted and has greater attention both for prevention and to reduce treatment evasion.

1 INTRODUÇÃO

Constitui-se em um problema de saúde pública significativo a infecção pelo vírus C da Hepatite, a considerar nível mundial. A doença apresenta alta evolução crônica e potencial progressão cirrótica e carcinoma hepatocelular (CHC), sendo estas, as principais consequências que levam o paciente a óbito (LAVANCY,2009) 

A Hepatite C é caracterizada como epidemia a nível mundial. Em território brasileiro, no ano de 2016 foi compilado um modelo estatístico e matemático que estimou que cerca de 657 mil pessoas teriam infecção ativa pelo vírus C da hepatite, logo, indicados para terapêutica. Desde 1999 até 2018, foram notificados cerca de 359.673 casos de Hepatite C no país. Grande parte dos portadores infectados pelo vírus C não são lúcidos no diagnóstico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).

Em 2019, o Ministério da Saúde (MS) publicou o Plano para Eliminação da Hepatite C no Brasil, que visa ampliar o acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento da hepatite C, com a participação das três esferas de governo, para a redução de novas infecções e de mortalidade. Foram ainda definidos: o desenvolvimento de ações de comunicação e educação em saúde que promovam o diagnóstico na população acima de 40 anos de idade e grupos prioritários; a construção de linha de cuidado para as hepatites virais e o fortalecimento da vigilância epidemiológica. (GOMIDE et al., 2021).

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Fisiopatologia

O HCV pertence ao gênero Hepacivirus, família Flaviviridae. Sua estrutura genômica é composta por uma fita simples de ácido ribonucleico (RNA), de polaridade positiva, com aproximadamente 9.400 nucleotídeos. Existem, pelo menos, 7 genótipos e 67 subtipos do vírus. (FOCACCIA, 2015).

A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é uma das principais causas de doença hepática crônica em âmbito mundial. A lesão hepática pode variar de alterações histológicas mínimas a fibrose extensa e cirrose com ou sem carcinoma hepatocelular. (VICENTIM; BERETTA, 2019).

Em geral, a hepatite C aguda apresenta evolução subclínica. A maioria dos casos tem apresentação assintomática e anictérica, o que dificulta o diagnóstico. Habitualmente, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica e, como o sintoma é muitas vezes escassos e inespecíficos, a doença pode evoluir durante décadas sem suspeição clínica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010)

2.2 Epidemiologia

É estimado no entorno de 71 milhões de pessoas sejam infectadas pelo vírus da hepatite C (HCV) em termos mundiais e que cerca de 400 mil vão a óbito por ano, por consequência das complicações associadas à doença, sendo as principais por cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC). (WESTBROOK; DUSHEIKO, 2014; WHO, 2018).

Até 20% dos pacientes com doença hepática alcoólica são portadores de HCV. As razões para essa alta taxa de associação são incertas, uma vez que o uso concomitante de álcool e drogas injetáveis acontece em apenas uma parte dos casos. Nesses pacientes, há uma ação sinérgica do álcool com o HCV, o que piora a inflamação e fibrose hepática.

Evolui para hepatite crônica em 55 a 85% dos casos, dos quais 30% desenvolvem cirrose hepática em cerca de 20 anos, e 2 a 4% ao ano destes evoluem para carcinoma hepatocelular. Globalmente, apenas 15 a 20% dos indivíduos com infecção crônica por HCV são atualmente considerados conscientes de seu diagnóstico, e menos ainda recebem tratamento. (REFACS, 2021).

Segundo o Ministério da Saúde, a hepatite C é um problema de saúde pública no Brasil e por isso faz-se necessário à notificação compulsória desde a década de 90. Com isso, torna-se possível a monitorização do comportamento da doença e dos seus principais fatores de risco, o que auxilia no desenvolvimento de ações que poderão ajudar na prevenção e no controle da doença.

A prevalência é maior em comunidades de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, chegando a aproximadamente 4 a 6% em alguns grupos populacionais de regiões da África e Oriente Médio. Segundo o estudo de prevalência de base populacional das infecções pelos vírus A, B e C nas capitais do Brasil, patrocinado pelo Ministério da Saúde, uma estimativa posterior verificou índice de prevalência de 1,38% para VHC. (FOCACCIA, 2015).

2.3 Transmissão

Segundo o MSD, a infecção pelo HCV pode se dar de diversas formas, sendo elas:

●Compartilhamento de agulhas;

●Transfusão sanguínea;

●Relação sexual;

●Vertical.

Ou seja, o maior fator de risco para a infecção é o sangue infectado, sendo os dois últimos fatores citados acima os mais raros.

A transmissão parenteral ainda é a principal, como nas seguintes situações: materiais cortantes de uso coletivo não esterilizado convenientemente (manicures, acupuntura, tatuagem, aplicação de piercing, etc.); agulhas e seringas compartilhadas em usuários de drogas parenterais; contato com sangue por ocasião de solução de continuidade da pele de crianças em folguedos; serviços de hemodiálise. (TAVARES; MARINHO, 2015).

2.4 Diagnóstico

Em termos gerais, a hepatite C apresenta manifestações clínicas menos patentes que as hepatites A e B. Tendo um período de incubação situado entre 40 e 120 dias, apenas uma minoria (média de 15%) exibe uma forma aguda com icterícia, colúria, náuseas, vômitos e dor abdominal, cuja evolução pode durar de 3 a 6 semanas. O enorme contingente de infectantes – 75% a 85% – tornar-se-á portador crônico do vírus; e isto, muitas vezes, silenciosamente ou com sintomatologia discreta e pouco incomodativa, representada por fadiga e adinamia. (TAVARES; MARINHO, 2015).

Segundo GOMIDE et al (2021), existem alguns exames inespecíficos que auxiliam dentro de um quadro compatível com o de hepatite C:

●Leucograma – na fase aguda pode apresentar-se normal ou evidenciar leucopenia;

●ALT/AST – elevam-se;

●Atividade pró trombótica – diminuída;

●Albumina – diminuída quando há comprometimento da função hepática.

Já para o diagnóstico mais específico, existem dois tipos de exames que dão o diagnóstico de hepatite C, sendo eles:

●Sorológico – detectam anticorpos ou antígeno e anticorpo;

●Moleculares – detectam e amplificam ácidos nucleicos.

2.5 Tratamento

As atuais alternativas terapêuticas para o tratamento da hepatite C, com registro no Brasil e incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), apresentam alta efetividade terapêutica. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010)

Os medicamentos utilizados para o tratamento da hepatite C apresentam eventos adversos que podem dificultar a adesão ao tratamento, tornando-se imprescindível a organização da equipe e serviços para o adequado acompanhamento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010)

Embora seja importante instituir o tratamento da hepatite C de forma precoce, nem sempre é possível identificar os quadros agudos, visto que a maioria deles é assintomática. De forma geral, recomenda-se que a instituição do tratamento ocorra para todos os pacientes que, por volta de doze semanas após a infecção aguda, ainda mantenham RNA-VHC detectável. (FOCACCIA, 2015).

Durante as 2 últimas décadas, houve um avanço considerável na assistência dos pacientes com doença hepática pelo HCV. Além da melhor compreensão da fisiopatogenia da doença e do conhecimento, pelo menos em parte, do ciclo de vida do HCV, foi possível o desenvolvimento de uma nova estratégia de diagnóstico, tratamento e a possibilidade de essa terapia ter, como objetivo primário, a cura do HCV. As terapias dupla e tripla (com IP de primeira onda) compõem as diretrizes terapêuticas atualmente utilizadas no Brasil, e todos os instrumentos necessários para a compreensão e administração de ambas se encontram a seguir. (TAVARES; MARINHO, 2015).

3 METADOLOGIA

O Estudo epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hepatite C no Tocantins entre os anos de 2018 a 2020, é caracterizado com natureza retrospectiva, descritiva e bibliográfica. A Plataforma DATASUS/SINAN e Ministério da Saúde se constituíram como instrumento base para coletar os dados estatísticos contidos no presente estudo. Outras bases de dados como MEDLINE, PUBMED, LILCAS e SCIELO, foram bases de dados acessórias para rastreio de artigos direcionados ao eixo temático presente, com intuito de construir um embasamento bibliográfico. Foram selecionados 10 artigos, selecionados a partir de critérios de inclusão e exclusão. Os artigos foram minuciosamente seletivos, com intuito primeiro de construir um estudo bibliográfico denso, específico e direcionado A primeiro modo, foram separados 29 artigos, onde 19 sofreram exclusão por não enquadrar-se como modelo base para construção do presente estudo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Observa-se uma manutenção da notificação entre os anos de 2015 e 2016, com 41 casos confirmados. Um aumento percentual de aproximadamente 17% entre 2016 e 2017. Entre os anos de 2017 e 2018 houve uma queda considerável dos casos que gira em torno de 33% a menos de casos notificados. Um novo aumento ocorre entre os anos de 2018 e 2019 com aumento percentual de 12,5%. Uma nova queda de notificações é observada entre nos anos de 2019 e 2020 com margem de 55% a menos de notificações em relação ao ano anterior.

O ano de 2017 a considerar o intervalo de do presente estudo epidemiológico, se consagra como ano de maior número de confirmações e notificações no Estado do Tocantins, representando cerca de 22,6% do total de notificações no intervalo considerado.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Torna-se válido realizar uma comparação das notificações de Hepatite C entre o Tocantins e a Região a qual pertence. Observa-se que as notificações do Tocantins giram em torno de aproximadamente 4% dos casos totais notificados entre os anos de 2015 e 2020 a considerar os 7 Estados pertencentes à Região Norte.

Apesar de não se constituir o Estado com maior número de notificações nos últimos anos pertencente a Região Norte, o Tocantins carece de medidas provinda dos Órgãos de Saúde Pública no intuito final de evitar a progressão da doença para níveis alarmantes e de alto impacto social ao Estado,

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se que a hepatite C vem sendo motivo de diversos debates e pesquisas atuais o que faz necessária uma maior vigilância sobre o tema para que o perfil dos pacientes acometidos seja evidenciado e possua maior atenção tanto para prevenção como para diminuir a evasão ao tratamento.

A temática em abordagem se torna, portanto, motivo de foco para construção de mais estudos a ponto de elucidar de forma mais clara, diagnósticos, tratamento, adesão ao tratamento, fatores de risco para evolução crônica e desenvolvimento cirrótico ou carcinoma hepatocelular (CHC). Logo, existe uma intensa relevância que deve ser levada em consideração, com finalidade magna de diminuir a incidência desta patologia.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico – Aids e DST. 2022

FOCACCIA, Roberto. Tratado de infectologia. 5ª ed. São Paulo-SP: Atheneu Ed, 2015.

GOMIDE, Geisa Perez Medina et al. Diagnóstico precoce da hepatite C pela atenção primária à saúde. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social, v. 9, p. 271-280, 2021.

LAVANCY, Daniel. A carga global da hepatite C. Liver international , v. 29, p. 74-81, 2009.

PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS PARA HEPATITE VIRAL C E COINFECÇÕES / MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, DEPARTAMENTO DE DST, AIDS E HEPATITES VIRAIS. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

REFACS, Uberaba, MG, v. 9, p. 271-280, 2021. 

TAVARES, Walter; MARINHO, Luiz Alberto Carneiro. Rotinas e tratamento das doenças infecciosas e parasitárias. 4ª ed. São Paulo-SP: Atheneu Ed, 2015.

VICENTIM, Johnny Marcelo; BERETTA, A. L. R. Z. Hepatite C e as novas estratégias de tratamento: revisão de literatura. Rev. bras. anal. clin, v. 51, n. 3, p. 185-190, 2019. 

WESTBROOK, R.  H; DUSHEIKO, G.  Natural history of hepatitis C.  Journal of Hepatology, Geneva – Switzerland, 2014.

WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION).  Hepatitis C [On-line]. Atualizado 18 jul. 2018. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/factsheets/detail/hepatitisc>. Acesso em: 12 – Fevereiro de 2022.


1Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil.
2Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC, Palmas/TO, Brasil.
3Faculdade de Ciências Médicas do Pará – FACIMPA, Marabá/PA, Brasil.
4Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – ITPAC, Porto Nacional/TO, Brasil.