PICADA DE ANIMAIS PEÇONHENTOS E SUAS ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7629790


Bruna Postal Oliveira
Rayane Santos de Seles
Orientadora: Lílian Vilela Mancilha


Resumo

Objetivo: O objetivo deste estudo foi destacar a ocorrência de alterações cardiovasculares associadas a picadas de animais peçonhentos, destacando o que há de registros em relação a esta temática na literatura nacional e internacional. Materiais e métodos: Como metodologia, optou-se pela revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo. Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores em inglês: Venomous;  Animals;  Cardiovascular. Resultados e discussão: Através do cruzamento dos descritores, obteve-se um retorno de 26 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 10 artigos, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos na sequência. Conclusão: Concluiu-se que uma série de impactos no sistema cardiovascular podem ser ocasionados em razão da picada de animais peçonhentos, o que irá depender do tipo de animal causador do evento e da quantidade de veneno inoculado na vítima. Por certo que, de uma forma geral, cada vez mais estudos têm sido realizados buscando conhecer os riscos e impactos causados pelas toxinas presentes no veneno especialmente de cobras, escorpiões e aranhas, e, de uma forma geral, de outras espécies como peixes, águas vivas, arraias, dentre outros que podem trazer riscos à vida humana.

Palavras-chave: Animais Peçonhentos. Veneno. Alterações Cardiovasculares.

 Abstract

Objective: The aim of this study was to highlight the occurrence of cardiovascular alterations associated with bites from venomous animals, highlighting what is recorded in relation to this theme in the national and international literature. Materials and methods: As a methodology, we chose to review the literature through a literature review. The first step was the search for studies, through the database of the Virtual Health Library (VHL) which encompasses the main scientifically renowned journals and databases around the world. To survey the articles, the following descriptors were used in English: Venomous; Animals; Cardiovascular. Results and discussion: By crossing the descriptors, 26 articles that met the inclusion and exclusion criteria were returned. We chose to work with a final sample of 10 articles, whose data were analyzed, extracted and discussed in sequence. Conclusion: It was concluded that a series of impacts on the cardiovascular system can be caused by the bite of venomous animals, which will depend on the type of animal causing the event and the amount of venom inoculated into the victim. Of course, in general, more and more studies have been carried out seeking to know the risks and impacts caused by the toxins present in the venom, especially of snakes, scorpions and spiders, and, in general, of other species such as fish, water live rays, among others that can pose risks to human life.

Keywords: Venomous Animals. Poison. Cardiovascular Alterations.

1. Introdução

Os acidentes com animais peçonhentos são tradicionalmente muito comuns não somente na população brasileira, mas em praticamente todos os países do mundo. Assim, representam um importante fator de morbimortalidade que afeta todas as idades, representando um importante problema de saúde pública.

Conceitualmente, animais peçonhentos são definidos como os que possuem glândulas produtoras de veneno (associados a mecanismos especializados de inoculação do mesmo) ou substâncias tóxicas, como as serpentes, aranhas, escorpiões, lagartas e abelhas. Especificamente dentro deste contexto, os acidentes ofídicos representam importante problema de saúde pública no Brasil, já que a maior parte da atividade econômica do país está relacionada à agropecuária, o que aumenta o contato do homem com diversos animais peçonhentos (CINTRA et al, 2014).

Os impactos causados por tais acidentes são inúmeros, afetando diversos órgãos e tecidos e representando um possível risco de óbito. Ainda, em diversos dos casos, as alterações cardiovasculares são predominantes, podendo resultar em consequências e sequelas severas.

Diante destas considerações iniciais, quais as principais alterações cardiovasculares que podem ocorrem em casos de picada de animais peçonhentos? O que há de registros na literatura nacional e internacional sobre esta temática?

2. Objetivos

2.1 Objetivo Geral

O objetivo deste estudo é destacar a ocorrência de alterações cardiovasculares associadas a picadas de animais peçonhentos, destacando o que há de registros em relação a esta temática na literatura nacional e internacional.

2.2 Objetivos Específicos

  • Destacar a importância em termos de saúde pública dos acidentes relacionados a picadas de animais peçonhentos;
  • Apresentar dados na literatura sobre os sinais e sintomas mais comuns associados a tais casos;
  • Ressaltar os principais registros de alterações cardiovasculares comuns a tais acidentes.

3. Materiais e métodos

Como metodologia, optou-se pela revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo.

Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores em inglês:

  1. Venomous; 
  2. Animals; 
  3. Cardiovascular.

A estratégia de busca utilizou a combinação das palavras-chave, conforme se segue: (venomous) AND (animals) AND (cardiovascular).

Os critérios de inclusão adotados foram:

  1. Relação direta com a temática;
  2. Utilização somente de artigos publicados em português e/ou inglês;
  3. Somente artigos publicados entre 2011 e 2021, ou seja, nos últimos 10 anos;
  4. Artigos disponibilizados na íntegra.

Como critérios de exclusão, foram excluídos da amostra todos os artigos que:

  1. Fuga ao tema principal é objetivo deste estudo;
  2. Apresentaram-se em idioma diferente do português e/ou inglês;
  3. Disponibilizados em ano anterior a 2011;
  4. Artigos disponibilizados apenas com seus resumos;
  5. Artigos duplicados nas diferentes bases de dados.

4. Resultados e discussão

Através do cruzamento dos descritores, obteve-se um retorno de 26 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão.

Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 10 artigos, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos na sequência a seguir. 

Kodama et al (2015) citaram que as cobras do gênero Bitis são algumas das cobras venenosas mais importantes do ponto de vista médico na África, no entanto, pouco se sabe sobre a composição e os efeitos desses peptídeos de seu veneno. Considerando que as vítimas com cobras do gênero Bitis apresentam hipotensão e distúrbios cardiovasculares exacerbados, os autores investigaram a presença de moduladores da enzima conversora de angiotensina em 4 espécies diferentes de venenos. As frações peptídicas de Bitis gabonica gabonica, Bitis nasicornis, Bitis gabonica rhinoceros e Bitis arietans que mostraram atividade inibitória sobre a enzima conversora de angiotensina foram submetidas a análise de espectrometria de massa. Oito peptídeos ricos em prolina foram sintetizados e suas potências avaliadas in vitro e in vivo. Para alguns peptídeos, os ensaios de inibição mostraram potenciais inibitórios de clivagem da angiotensina I 10 vezes maiores quando comparados à bradicinina. Testes in vivo mostraram que todos os peptídeos diminuíram a pressão arterial média, seguida de taquicardia em 6 dos 8 dos testes. Concluiu-se que, assim, foram descritos alguns peptídeos novos e já conhecidos ricos em prolina, também conhecidos como peptídeos potenciadores de bradicinina. Quatro péptidos sintéticos indicaram uma inibição preferencial do domínio C da enzima de conversão da angiotensina.  Estes compostos causam hipotensão grave nas vítimas de tais animais.

Horta et al (2016) citaram que os venenos animais são uma mistura de compostos bioativos produzidos como armas e usados principalmente para imobilizar e matar presas. Como resultado da alta potência e especificidade para vários alvos fisiológicos, muitas toxinas de venenos animais surgiram como possíveis drogas para a medicação de diversos distúrbios, incluindo doenças cardiovasculares. O captopril, que inibe a enzima conversora de angiotensina (ECA), foi a primeira droga à base de veneno de sucesso e um exemplo notável de design racional de drogas. Desde que o captopril foi desenvolvido, muitos estudos descobriram novos peptídeos potenciadores de bradicinina (BPPs) com ações no sistema cardiovascular. Peptídeos natriuréticos (NPs) também foram encontrados em venenos de animais e usados como modelo para desenvolver novos medicamentos com aplicações em doenças cardiovasculares. Entre os peptídeos antiarrítmicos, descobriu-se que o GsMTx-4 é uma toxina que inibe seletivamente os canais catiônicos ativados por estiramento (SACs), que estão envolvidos na fibrilação atrial.

Simões et al (2021) afirmaram que o envenenamento, resultante de picadas de cobra, é um problema de saúde pública global. Os autores investigaram a influência do veneno de Crotalus durissus cascavella (Cdcas) na atividade cardíaca e os mecanismos de ação subjacentes ao seu efeito. Para isto, estudos foram realizados nos átrios esquerdo e direito.  O veneno de Cdcas (0,1-30 μg / mL) provocou um efeito inotrópico negativo significativo. A adição de veneno bruto de Cdcas (7,5, 15 e 30 μg / mL) não induziu alterações significativas na proliferação celular, nem na atividade enzimática de CK total e CKMB. A avaliação ultraestrutural demonstrou que as células cardíacas dos grupos isoproterenol e Cdcas revelaram inchaço discreto e mitocôndrias inter miofibrilares deslocadas com desorganização das cristas. Nenhuma mudança foi observada na atividade elétrica cardíaca em corações de rato isolados perfundidos com Cdcas. Além disso, o Cdcas reduziu a contratilidade em cardiomiócitos isolados do ventrículo esquerdo de rato. O efeito inotrópico negativo do Cdcas foi reduzido por l-NAME (100 μM), PTIO (100 μM), ODQ (10 μM) e KT5823 (1 μM), sugerindo a participação da via NO / cGMP / PKG devido ao Cdcas. Para os autores estes resultados sugerem que o efeito inotrópico negativo induzido pelo veneno de Cdcas não está relacionado à toxicidade cardíaca, pelo menos, nas concentrações testadas; e ocorre através da via NO / cGMP / PKG, provavelmente levando a hipotensão e bradicardia quando administrado in vivo.

Chaisakul et al (2013) destacaram que o gênero Pseudonaja (cobras marrons) é amplamente distribuído pela Austrália e as mordidas são responsáveis por mortalidade significativa. Coagulopatia por consumo induzida por veneno (VICC) e, com menos frequência, colapso cardiovascular precoce ocorre após o envenenamento por essas cobras. O veneno de P. textilis (5-10mug / kg, iv) induziu o colapso cardiovascular em ratos anestesiados, caracterizado por uma rápida diminuição da pressão arterial sistólica até não ser registrada. A administração anterior de doses primárias de veneno de P. textilis (2 e 3mug / kg) ou, pelo menos, 4-5 doses de O. scutellatus (2mug / kg, iv) ou Daboia russelii limitis (20mug / kg, iv) venenos evitados colapso cardiovascular induzido pelo veneno de P. textilis. Além disso, o colapso precoce também foi inibido pela administração prévia de 2 doses discretas de veneno de Acanthophis rugosus. A administração anterior de antiveneno de cobra polivalente comercial (500-3000 unidades / kg, iv) ou heparina (300 unidades / kg, iv) também inibiu o colapso cardiovascular induzido pelo veneno de P. textilis. Para os autores estes resultados indicam que o colapso cardiovascular induzido pelo veneno de P. textilis pode ser prevenido pela administração prévia de doses sub letais de veneno de P. textilis, O. scutellatus, A. rugosus e D. russelii limitis.

Floriano et al (2020) destacaram em seu estudo que o envenenamento por cobras corais (Micrurus spp.) é caracterizado pelo bloqueio da neurotransmissão periférica mediado pela presença de neurotoxinas α e β. No entanto, pouco se sabe sobre sua atividade cardiovascular. Micrurus lemniscatus lemniscatus é uma cobra-coral encontrada na bacia amazônica e ocasionalmente causa envenenamento em humanos. Os autores analisaram as respostas hemodinâmicas, vasculares e atriais ao M. l. veneno de lemniscatus. Ratos anestesiados foram usados para registros hemodinâmicos e eletrocardiográficos (ECG); experimentos in vitro foram realizados em preparações de átrio e aorta torácica isoladas de ratos. In vivo, o veneno (0,1 e 0,3 mg / kg) causou hipotensão imediata e persistente que foi máxima no primeiro minuto com ambas as doses sendo letais após 40 e 20 min, respectivamente. ECG, as frequências cardíaca e respiratória não foram alteradas durante a fase de hipotensão transitória induzida pelo veneno, mas todas alteradas antes da morte. Não houve evidência de mionecrose no tecido muscular cardíaco, hemorragia pulmonar ou trombose em ratos anestesiados e expostos ao veneno. In vitro, o veneno (10 μg / ml) não contraiu as tiras aórticas nem afetou as respostas máximas à pré-contração com fenilefrina (PE, 0,0001–30 μM) em tiras com e sem endotélio. No entanto, o veneno (10 μg / ml) relaxou as tiras aórticas com endotélio pré-contraído com EP. Em tiras aórticas pré-contraídas com PE, o veneno evitou o relaxamento induzido por acetilcolina (0,0001–30 μM) em tiras com endotélio sem afetar o relaxamento induzido por nitroprussiato de sódio (0,1–100 nM) em tiras sem endotélio. Venom (30 μg / ml) produziu um aumento transitório da força contrátil atrial sem afetar a frequência atrial. Tomados em conjunto, esses achados indicam uma ação predominantemente vascular do veneno, provavelmente envolvendo toxinas interagindo com receptores muscarínicos.

Han et al (2017) citaram que os venenos de peixes costumam ser pouco estudados, em parte devido à dificuldade de obtenção, extração e armazenamento. Os autores buscaram caracterizar os efeitos cardiovasculares e neurotóxicos dos venenos das seguintes seis espécies de peixes, as arraias cartilaginosas Neotrygon kuhlii e Himantura toshi, e os peixes ósseos Platycephalus fucus, Girella tricuspidata, Mugil cephalus e Dentex tumifrons. Todos os venenos (10-100 µg / kg, iv), exceto G. tricuspidata e P. fuscus, induziram uma resposta bifásica na pressão arterial média (PAM) no rato anestesiado. O veneno de P. fucus exibiu uma resposta hipotensiva, enquanto o veneno de G. tricuspidata exibiu uma única resposta depressora. Todos os venenos induziram colapso cardiovascular a 200 µg / kg, iv Os efeitos neurotóxicos in vitro do veneno foram examinados usando a preparação do músculo nervo cervicis (CBCNM) de galinha. Os venenos de N. kuhlii, H. toshi e P. fucus causaram inibição dependente da concentração de contratações indiretas na preparação CBCNM. Esses três venenos também inibiram as respostas à acetilcolina exógena (ACh) e ao carbacol (CCh), mas não ao cloreto de potássio (KCl), indicando um modo de ação pós-sináptica. Veneno de G. tricuspidata, M. cephalus e D. tumifrons não teve efeito significativo sobre contratações indiretas ou respostas agonistas no CBCNM. Esses resultados demonstram que o envenenamento por essas espécies de peixes pode resultar em efeitos cardiovasculares e / ou neurotóxicos moderados. Estudos futuros com o objetivo de identificar as moléculas responsáveis por esses efeitos podem revelar compostos líderes em potencial para futuros fármacos, além de gerar novos conhecimentos sobre as relações evolutivas entre animais peçonhentos.

Little et al (2021) citaram que a Carukia barnesi foi a primeira em uma lista em expansão de água-viva cubozoário cuja picada foi identificada como causadora da síndrome de Irukandji. Nematocistos presentes tanto no sino quanto nos tentáculos são conhecidos por produzir picadas localizadas, embora seus papéis individuais na síndrome de Irukandji tenham permanecido especulativos. Esta pesquisa examina as diferenças por meio de perfis de veneno e Doppler de onda de pulso em um modelo murino.  O veneno dos tentáculos (CBVt) resultou em descompensação cardíaca e morte em todos os camundongos em uma média de 40 min (95% CL: ± 11 min), enquanto o veneno do sino (CBVb) não produziu nenhuma disfunção cardíaca nem morte em camundongos 60 min após a exposição. Essa diferença é pronunciada, e propomos que a exposição ao sino provavelmente não seja causadora da síndrome de Irukandji grave.  

Waitayangkoon et al (2019) afirmaram que as picadas de cobra estão relacionadas a uma alta taxa de mortalidade em todo o mundo. As complicações cardíacas após o veneno da cobra são raras e a patogênese não é clara.  

Gomes et al (2018) ressaltaram que os eventos cardíacos raramente estão associados a acidentes ofídicos, especialmente aqueles envolvendo cobras da família Elapidae família. Os autores relataram um caso clínico de uma vítima de picada de cobra que, dentro de algumas horas após o acidente, desenvolveu infarto do miocárdio na parede inferior com boa evolução clínica.  

De acordo com Waitayangkoon et al (2019), as complicações cardíacas após o envenenamento por cobras ocorrem raramente. Miocardite, como consequência do efeito tóxico do veneno de cobra, é rara e apenas alguns casos foram relatados. Os autores relataram o caso de um homem de 84 anos envenenado por uma cobra. Além de insuficiência respiratória devido à neurotoxicidade do veneno, foram encontradas anormalidades cardíacas, incluindo marcadores cardíacos elevados e eletrocardiograma anormal. Os achados na ressonância magnética cardíaca confirmaram o diagnóstico de miocardite aguda. O paciente recuperou-se espontaneamente, sem eventos importantes. Até onde sabemos, este é o primeiro caso relatado de miocardite associada ao envenenamento da cobra. Os médicos devem estar familiarizados com os potenciais efeitos cardíacos dessas toxinas com risco de vida.

Dias et al (2012) afirmaram que as respostas cardiovasculares ao veneno da cobra Bothrops alternatus em cães anestesiados foram investigadas. Não havia alterações histológicas cardíacas, mas microaneurismas e descamação epitelial dos túbulos renais. As concentrações circulantes de veneno (determinadas por ELISA) diminuíram rapidamente após a administração, mas o veneno ainda era detectável após 4 h. Esses resultados mostram que, em cães, o veneno de B. alternatus produz hipotensão acentuada e ação cardíaca direta, com poucas alterações metabólicas. As concentrações circulantes de veneno (determinadas por ELISA) diminuíram rapidamente após a administração, mas o veneno ainda era detectável após 4 h. Esses resultados mostram que, em cães, o veneno de B. alternatus produz hipotensão acentuada e ação cardíaca direta, com poucas alterações metabólicas. As concentrações circulantes de veneno (determinadas por ELISA) diminuíram rapidamente após a administração, mas o veneno ainda era detectável após 4 h. Esses resultados mostram que, em cães, o veneno de B. alternatus produz hipotensão acentuada e ação cardíaca direta, com poucas alterações metabólicas.

Diante dos resultados encontrados, foi possível observar que a picada de animais peçonhentos, independente do tipo, representa um importante risco em termos de alterações cardiovasculares, promovendo uma série de alterações que podem vir a causar o óbito do paciente ou ainda, em muitos casos, o paciente vir a desenvolver um quadro de comprometimento cardiovascular temporário ou permanente. 

Assim, diante dos riscos, é fundamental que se possa divulgar mais informações a respeito das lesões causadas não somente no sistema cardiovascular, mas nos mais variados órgãos e tecidos, de modo que os profissionais também possam estar aptos e capacitados a intervir nestes casos, e também que mais produtos e medicamentos possam ser desenvolvidos visando não somente a prevenção mas o tratamento destes casos.

5. Conclusão

Conclui-se que uma série de impactos no sistema cardiovascular podem ser ocasionados em razão da picada de animais peçonhentos, o que irá depender do tipo de animal causador do evento e da quantidade de veneno inoculado na vítima. Por certo que, de uma forma geral, cada vez mais estudos têm sido realizados buscando conhecer os riscos e impactos causados pelas toxinas presentes no veneno especialmente de cobras, escorpiões e aranhas, e, de uma forma geral, de outras espécies como peixes, águas vivas, arraias, dentre outros que podem trazer riscos à vida humana.

6. Referências

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