APLICAÇÃO DE METODOLOGIA PARA QUANTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE LODO NO MUNICÍPIO DE MACAÉ E VERIFICAÇÃO DOS SISTEMA DE DESAGUAMENTO DE LODO EXISTENTES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7626095


Bernardo Henrique Silva Melo1
Isaac Volschan Junior2


Resumo

O resíduo gerado nas estações de tratamento de esgoto, denominado lodo de esgoto, é considerado uma das preocupações para obtenção de melhor eficiência nos mais variados processos. O gerenciamento de lodo por métodos de reciclagem ou destinação final é um dos mais importantes problemas associados aos projetos e operações de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). Andreoli e Von Sperling (2014) afirmam que, embora o lodo representa de 1% a 2% do volume de esgoto tratado, o seu gerenciamento, é bastante complexo, já que engloba diferentes etapas de tratamento (adensamento, estabilização, desaguamento, secagem e a destinação final do lodo) e tem um custo entre 20% – 60% do total gasto com operação de uma estação de tratamento de esgoto. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo além estimar o volume de lodo produzido pelas ETE´s, consolidar o OPEX total do seu gerenciamento, contemplando desde o transporte de lodo úmido de uma ETE para outra, passando pelo OPEX dos equipamentos de deságue, transporte e destinação final. 

Palavras-chave: ETE´s, OPEX Gerenciamento de Lodo, OPEX Centrífugas.

1. INTRODUÇÃO

O resíduo gerado nas estações de tratamento de esgoto, denominado lodo de esgoto, é considerado uma das preocupações para obtenção de melhor eficiência nos mais variados processos. Essa preocupação se estende principalmente na destinação final do subproduto gerado, sendo que atualmente um grande número de estações, tanto do setor público quanto privado, lançam inadequadamente esse material no solo e nos corpos d’água, causando impactos ambientais significativos à saúde pública (ECOSAN, 2014). A gestão desse produto, por métodos de reciclagem ou destinação é um dos mais importantes problemas associados aos projetos e operações de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE).  

Portanto, o manejo adequado dos resíduos passa a ser um aspecto fundamental do planejamento nas companhias de saneamento. Diversos fatores exercem pressão para que uma concepção ambientalmente correta seja adotada no projeto de novas ETE ou para adequação das instalações existentes. Dentre eles, pode-se destacar as exigências dos órgãos ambientais, a legislação cada vez mais restritiva, a necessidade por redução de perdas e de custos no processo de tratamento, e o aumento da consciência ambiental, tanto da sociedade como dos agentes do setor de saneamento (GUIMARÃES, 2007).   

Os problemas relacionados à disposição inadequada dos resíduos sólidos gerados pelas ETE não são recentes, verificando-se significativos prejuízos principalmente pelo lodo gerado nessas estações, que contém concentrações de metais pesados, como alumínio e ferro, considerado como de alta toxicidade aos organismos e ambientes aquáticos. Destaca-se, ainda, concentrações de sólidos, demanda química de oxigênio (DQO) e alta turbidez, com os lodos sendo considerados pela ABNT NBR 10.004:2004 como resíduo sólido, não sendo permitido seu lançamento em águas superficiais (HALL; HALL, 1989; BARBOSA, 2000; PEREIRA, 2011; WASSERMAN et al., 2019).   

O efeito da disposição incorreta dos resíduos sólidos gerados pelas ETE nos mananciais é considerado crime ambiental pela Lei 9.605/98 e tem se mostrado prejudicial, principalmente em grandes cidades por conta das concentrações de metais pesados, como alumínio e ferro, que ao serem lançados sem nenhum tipo de tratamento em cursos d’água podem provocar toxicidade aos organismos e ambientes aquáticos (BARBOSA, 2000).    

Cordeiro (2001) afirma que um dos principais desafios no tratamento de resíduos sólidos em ETE é a redução do volume de lodo produzido e diminuição da quantidade de resíduos para disposição final de forma a promover seu manuseio com facilidade. Nesse mesmo sentido, Wasserman et al. (2019), essa dificuldade pode ser explicada pelo fato de a composição do lodo ser formada por partículas pequenas, com um arranjo que dificulta a remoção da água.   

Andreoli e Von Sperling (2014) afirmam que, embora o lodo representa de 1% a 2% do volume de esgoto tratado, o seu gerenciamento, é bastante complexo, já que engloba diferentes etapas de tratamento (adensamento, estabilização, desaguamento, secagem e a destinação final do lodo) e tem um custo entre 20% – 60% do total gasto com operação de uma estação de tratamento de esgoto.  

No entanto, embora a disposição final desse material seja bastante complexa e cara, geralmente é negligenciada na concepção dos sistemas de tratamento de esgoto. Por esta razão, é muito comum que os operadores sejam obrigados a gerenciar o problema de disposição final de lodo de forma emergencial, envolvendo altos custos operacionais e muitas vezes gerando impactos ambientais significativos (ANDREOLI, VON SPERLING, 2014). 

O presente estudo tem como objetivo avaliar a produção e os custos incorridos atualmente no gerenciamento do do produzido no município de Macaé 

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. METODOLOGIA

Inicialmente, para quantificação da produção de lodo das ETE´s em operação no município de Macaé/RJ, serão utilizados dados provenientes do Plano de Saneamento do Município de Macaé (MACAÉ, 2021). Os demais dados faltantes foram complementados através de referências bibliográficas.

Na tabela abaixo, é possível verificar os principais parâmetros e dados e referências utilizadas no presente estudo.

Já para a quantificação do lodo gerado pelas ETE´s foram aplicadas as seguintes fórmulas, indicadas por (von SPERLING; GONÇALVES, 2014);

  • Produção de Lodo 

Onde:

PLodo = Produção diária de lodo – massa seca (KgSST/dia)

CDQO = Carga de DQO diária

Y = Coeficiente de produção de lodo (KgSST/kgDQOAplicada)

  • Vazão volumétrica de lodo produzido 

Onde:

QLodo = Vazão diária de lodo produzido (m³/dia)

PLodo = Produção diária de lodo (kgSST/dia)

CLodo = Concentração de lodo (kgSST/kgLodo)

= Massa específica do lodo (kgLodo/m³)

  • Massa úmida de lodo produzido 

MLodo= QLodo* ρ

Onde:

MLodo = Massa úmida de lodo diário (kg/dia)

QLodo = Vazão diária de lodo produzido (m³/dia)

= Massa específica do lodo (kgLodo/m³)

Para consolidação dos valores atuais destinados ao desaguamento de lodo, foram considerados as informações disponibilizadas no Plano Saneamento Municipal, em relação à logística de transporte de lodo úmido entre as unidades. Segue abaixo o fluxograma geral do gerenciamento de lodo que será analisado. 

Figura 1 -Fluxograma atual de gerenciamento de lodo

Na tabela abaixo, são apresentadas as referências utilizadas para definição dos custos incorridos, bem como as fórmulas aplicadas para definição dos valores de custo mensal.

Custo com transporte de lodo:

Custo com mão de obra:

Consumo de energia elétrica:

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.2.1. Caracterização do Lodo

Para caracterização e quantificação da produção de lodo chegou-se a seguinte vazão diária de lodo:

Percebe-se, através da análise dos resultados tabulados que além do porte da ETE, a tecnologia também é determinante para a quantificação das taxas de produção de lodo de cada ETE. 

2.2.2. Custos referentes à operação do sistema de gestão de lodo

Já em relação aos custos inerentes à Operação, chegou-se aos seguintes valores consolidados:

Percebe-se que grande parte do custo operacional do sistema de gerenciamento de lodo refere-se principalmente aos valores de destinação de lodo úmido entre as Estações, seguido dos valores com destinação final do lodo seco, 20%.

3. CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo estimar o volume de lodo produzido pelas ETE´s, consolidar o OPEX total do seu gerenciamento, contemplando desde o transporte de lodo úmido de uma ETE para outra, passando pelo OPEX dos equipamentos de deságue, transporte e destinação final. Abaixo as principais conclusões acerca do trabalho realizado:

No contexto geral do gerenciamento do lodo produzido em Macaé, cerca de XX deste custo é proveniente dos valores de transporte e destinação de lodo úmido entre as plantas operacionais;

O custo com transporte e destinação de lodo também representa um valor significativo indicando a possibilidade de estudos de novos cenários para a otimização destes processos, visando a redução do custo mensal.

REFERÊNCIAS

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1Considerado o índice aplicado para ETE´s com a tecnologia de lodos ativados, aeração prolongada