INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS RELEVANTES DO APARELHO CARDIOVASCULAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7600240


Bruna Postal Oliveira¹
Rayane Santos de Seles¹
Orientadora: Lilian Vilela Mancilha²


RESUMO

Objetivo: O objetivo deste estudo foi destacar as interações medicamentosas mais importantes em relação ao aparelho cardiovascular, destacando os consenso na literatura atualizada sobre esta temática. Materiais e métodos: Como metodologia, optou-se pela revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo. Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores em inglês: Drug;  Interaction;  Cardiovascular. Resultados e discussão: Através do cruzamento dos descritores, obteve-se um retorno de 2.229 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 20 artigos, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos.  Conclusão: Com o presente estudo foi possível concluir que não somente no Brasil, mas em todo o mundo a ocorrência de interações medicamentosas e seus riscos, entre idosos, alcança índices alarmantes, que fazem desta um problema de saúde pública, com graves efeitos sobre a saúde da população geriátrica.  Caracterizado como um problema complexo, observa-se na realidade que a responsabilidade por este processo pode ser aplicada tanto a profissionais quanto pacientes.   Na sociedade atual, mostra-se eminente a necessidade de serem adotadas medidas e critérios que favoreçam uma prescrição mais racional de fármacos especialmente entre pacientes idosos, que fazem deste quadro um verdadeiro problema de saúde pública nos dias atuais.

Palavras-chave: Interações Medicamentosas. Riscos Cardiovasculares. Poli farmácia.

ABSTRACT

Objective: The aim of this study was to highlight the most important drug interactions in relation to the cardiovascular system, highlighting the consensus in the updated literature on this topic. Materials and methods: As a methodology, we chose to review the literature through a literature review. The first step was the search for studies, through the database of the Virtual Health Library (VHL) and which encompasses the main scientifically renowned journals and databases around the world. To survey the articles, the following descriptors were used in English: Drug; Interaction; Cardiovascular. Results and discussion: By crossing the descriptors, 2,229 articles that met the inclusion and exclusion criteria were returned. We chose to work with a final sample of 20 articles, whose data were analyzed, extracted and discussed. Conclusion: With this study, it was possible to conclude that not only in Brazil, but throughout the world, the occurrence of drug interactions and their risks, among the elderly, reaches alarming rates, making this a public health problem, with serious effects on the health of the geriatric population. Characterized as a complex problem, it is actually observed that the responsibility for this process can be applied to both professionals and patients. In today’s society, there is an eminent need to adopt measures and criteria that favor a more rational prescription of drugs, especially among elderly patients, who make this situation a real public health problem today.

Keywords: Drug Interactions. Cardiovascular Risks. Polypharmacy.

1 INTRODUÇÃO

As interações medicamentosas são uma preocupação constante em termos de saúde pública. Estes casos caracterizam-se como sendo uma reação entre duas ou mais drogas administradas simultaneamente a um paciente, no qual o modo de ação de uma droga influencia a outra. Pode ocorrer de forma programada, quando prescrita com consciência do efeito esperado e pode também ser involuntária ou acidental (DINIZ et al, 2009).

Os riscos e impactos das interações medicamentosas são inúmeros, atingindo os mais variados órgãos e sistemas. De uma forma geral, os riscos cardiovasculares associados a estes eventos apresentam uma gravidade adicional, tendo em vista a importância deste sistema para a saúde física e geral do indivíduo.

Os idosos são os principais usuários de medicamentos, podendo estar associado a um elevado número de medicamentos potencialmente inadequados e de prescrição potencialmente inadequada, resultando em graves impactos à saúde  (FERREIRA et al, 2021).

Assim, a poli farmácia continua a ser um tema de preocupação tendo em vista os riscos à saúde pública (SHEIKH-TAHA; ASMAR, 2021).

Diante destas considerações iniciais, um questionamento é importante: quais as interações medicamentosas de maior relevância na atualidade, afetando especificamente o sistema cardiovascular?

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O objetivo deste estudo é destacar as interações medicamentosas mais importantes em relação ao aparelho cardiovascular, destacando os consenso na literatura atualizada sobre esta temática.

2.2 Objetivos Específicos

  • Apresentar os conceitos de interações medicamentosas;
  • Destacar a importância da temática das interações medicamentosas em termos de saúde publica na atualidade;
  •  Trazer dados atualizados sobre a ocorrência de interações medicamentosas que afetam o aparelho cardiovascular.

3 MATERIAIS E MÉTODO

Como metodologia, optou-se pela revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)[1] e que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo.

Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores em inglês:

  1. Drug;
  2. Interaction;
  3. Cardiovascular.

A estratégia de busca utilizou a combinação das palavras-chave, conforme se segue: (drug) AND (interaction) AND (cardiovascular).

Os critérios de inclusão adotados foram:

  1. Relação direta com a temática;
  2. Utilização somente de artigos publicados em português e/ou inglês
  3. Somente artigos publicados entre 2016 e 2021, ou seja, nos últimos 5 ano
  4. Artigos disponibilizados na íntregra

Como critérios de exclusão, foram excluídos da amostra todos os artigos que:

  1. Fuga ao tema principal e objetivo deste estudo
  2. Apresentaram-se em idioma diferente do português e/ou inglês;
  3. Disponibilizados em ano anterior a 2016;
  4. Artigos disponibilizados apenas com seus resumos;
  5. Artigos duplicados nas diferentes bases de dados

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do cruzamento dos descritores, obteve-se um retorno de 2.229 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão.

Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 20 artigos, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos na sequência a seguir.

No estudo de Ramirez-Jimenez et al (2021) os autores afirmaram que as  terapias farmacológicas e não farmacológicas são prescritas simultaneamente no tratamento de indivíduos hipertensos com risco cardiovascular elevado (ou seja, indivíduos com síndrome metabólica ). No entanto, não se sabe se as interações entre medicação anti-hipertensiva (AHM) e intervenções no estilo de vida (ou seja, treinamento físico) podem resultar em um melhor controle da pressão arterial ambulatorial. 

Ferreira et al (2021) afirmaram que não foi encontrado nenhum estudo brasileiro que avaliasse a prescrição potencialmente inadequada em pacientes idosos com doença de Alzheimer (DA). Diante disto os autores analisaram a prevalência em uma amostra de 234 pacientes idosos com DA. A prevalência de PIP prescrita foi de 66,7%. Dos 1.073 medicamentos prescritos, 30,5% eram inadequados com a maioria afetando o sistema nervoso central ou cardiovascular, principalmente quetiapina (12,8%) e ácido acetilsalicílico (11,6%), respectivamente. Em torno de 45,2% dos PIMs devem ser evitados em idosos, principalmente a sertralina (14,2%) e o clonazepam (7,4%). Houve um alto número de interações medicamentosas entre os idosos, a número substancial dos quais deveria ter sido evitado nesta população. Os profissionais de saúde podem aplicar essas descobertas para melhorar a segurança no uso de medicamentos para o tratamento de pacientes com DA.

Sheikh-Taha e Asmar (2021) avaliaram a prevalência de poli farmácia entre os mais velhos adultos com doença cardiovascular (DCV) e também buscaram identificar interações medicamentosas graves potenciais. Foi realizado um estudo de revisão retrospectiva de prontuários  em um centro de atendimento terciário durante um período de três meses. Foram incluídos 404 pacientes com idade média de 76,6 anos. Os pacientes estavam tomando em média 11,6 medicamentos em casa e 385 (95%) receberam poli farmácia, 278 (69%) receberam hiperpolifarmácia e 313 (77,5%) tinham pelo menos um potencial grave de interações medicamentosas indesejáveis. Na categoria D, as reações adversas mais comuns foram medicamentos com efeito depressor aditivo do sistema nervoso central (SNC) e medicamentos que aumentam o risco de prolongamento do intervalo QT. Na categoria X, os riscos mais comuns eram ß-bloqueadores não seletivos que podem diminuir o efeito broncodilatador dos ß2 agonistase drogas com propriedades anticolinérgicas que aumentam o efeito ulcerogênico do potássio sólido oral. Os autores concluíram que a poli farmácia, hiper poli farmácia e as interações medicamentosas potenciais graves são muito comuns em idosos adultos com DCV. Os médicos devem revisar vigilantemente os registros de medicamentos dos pacientes e ajustar a terapia de acordo para evitar reações adversas aos medicamentos e resultados negativos para a saúde.

Alrwisan et al (2019) examinaram se o uso concomitante de quinolonas e estimulantes aumentaria o risco de eventos cardíacos em adultos. Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo de adultos usando dados de sinistros MarketScan® de 2008 a 2015. Os pacientes estudados foram usuários de estimulantes (metilfenidato ou sais de anfetamina mistos) (18-65 anos de idade) com inscrição contínua em planos de saúde por 6 meses (linha de base) antes do primeira dispensação (data índice) de quinolonas orais ou comparadores (amoxicilina  e  clavulanato ou azitromicina). Foram analisados sintomas cardíacos (palpitações, taquicardia ou síncope ); arritmias cardíacas(arritmias ventriculares, taquicardia ventricular paroxística ou parada cardíaca).  Foram incluídos no estudo 390.490 usuários de estimulantes que iniciaram quinolona ou amoxicilina e 387.574 pacientes que receberam estimulantes que iniciaram quinolona ou azitromicina. Concluiu-se que o uso concomitante de estimulantes e quinolona foi associado a um risco aumentado de sintomas cardíacos em comparação ao uso concomitante de estimulantes e amoxicilina ou azitromicina , mas não houve diferença aparente nas arritmias cardíacas.

Suriyapakorn et al (2019) afirmaram que as interações medicamentosas representam um dos problemas mais comuns relacionados aos medicamentos. Recentemente, bancos de dados eletrônicos têm ferramentas de interação de medicamentos para pesquisar interações medicamentosas em potencial. A partir disto, os autores buscaram comparar a capacidade de, usando estas ferramentas, detectar interações medicamentosas potenciais com medicamentos para a síndrome metabólica usando a lista de medicamentos do banco de dados U-central, King Chulalongkorn Memorial Hospital em abril de 2019. Havia 90 medicamentos disponíveis para o tratamento da síndrome metabólica e suas complicações associadas, mas 6 não foram encontrados nos bancos de dados; portanto, apenas 84 itens foram usados no presente estudo. Havia 1.285 pares de interações medicamentosas potenciais encontrados pelos dois bancos de dados. Na conclusão dos autores, o uso destas ferramentas são fundamentais para que se possa avaliar potenciais riscos de interações medicamentosas, bem como determinar os regimes de medicamentos apropriados para comunicações médicas e consultas com pacientes.

Moulder et al (2020) afirmaram que a poli farmácia em adultos mais velhos leva a maiores riscos de efeitos colaterais e interações medicamentosas afetando seus resultados de saúde e qualidade de vida. A depressão, o ato de simplificar os regimes de medicação, é um desafio devido à falta de diretrizes consensuais. Os autores então buscaram oferecer algumas orientações sobre o gerenciamento de regimes de medicação para pacientes cardiovasculares mais velhos. Foi realizada uma revisão de literatura na qual foram revisadas as diretrizes e literatura pertinentes mais recentes. Como resultados os autores afirmaram que este estudo contribuiu com considerações práticas para a prescrição apropriada na população idosa com doença cardiovascular, a fim de encontrar um equilíbrio entre medicamentos desnecessários ou prejudiciais e terapias com benefícios comprovados a longo prazo. O diálogo contínuo entre os profissionais de saúde e os pacientes permite o monitoramento próximo da eficácia da medicação e a prevenção de efeitos colaterais. Os regimes de medicação requerem individualização, uma vez que as metas de cuidados dos pacientes mudam com o avançar da idade.

Damiani et al (2020) também destacaram que pessoas com mais de 65 anos podem ser mais propensas a sofrer de doenças crônicas e comorbidades, sendo portanto tratadas com vários medicamentos concomitantes. Isso pode resultar em interações medicamentosas que costumam ser esquecidas na prática clínica. Pacientes idosos são mais afetados por comorbidades, aumentando o risco de interações medicamentosas e reações adversas a medicamentos (RAMs). As estatinas são eficazes em pacientes idosos com ou em risco de doença cardiovascular (CVD) e são prescritos em uma base de longo prazo e podem sofrer DDIs, particularmente em bases farmacocinéticas. O risco de interações medicamentosas varia entre as estatinas, e a segurança e RAMs de estatinas são de preocupação especial em pacientes afetados por várias condições crônicas que requerem terapias concomitantes com risco de interações medicamentosas, como os idosos. Para os autores uma maior atenção deve ser dada acerca dos riscos potenciais de interações medicamentosas de estatinas e outras terapêuticas opções, o que também irá ajudar os médicos a selecionar o mais eficaz e menos prejudicial tratamento para os seus pacientes, especialmente em pacientes mais velhos.

Stolberger et al (2021) buscaram uma atualização sobre as interações medicamentosas dos anticoagulantes não- vitamínicos orais -K-antagonista em pacientes acima de 75 anos. Os resultados apontaram que o conhecimento sobre interações medicamentosas em pacientes que usam anticoagulantes não- vitamínicos orais -K-antagonista e idosos é muito limitado. Diante destes resultados, os autores afirmaram que ao estudar as interações medicamentosas em pacientes com anticoagulantes não- vitamínicos orais -K-antagonista, deve-se ter cuidado para incluir pacientes idosos com função renal prejudicada e pacientes em polimedicação.

Uddin et al (2016) analisaram as interações medicamentosas de drogas cardiovasculares com drogas não cardiovasculares e também levou em consideração o padrão de prescrições feitas por médicos, especialmente cardiologistas. Foi realizado em pacientes cardíacos internos do Instituto Nacional de Doenças Cardiovasculares de Bangladesh. Essas prescrições foram coletadas em um período de 3 meses e analisadas nos softwares Microsoft® Office e Microsoft® Excel 2007. A análise revelou que a incidência de potencial interações medicamentosas com pelo menos uma combinação de drogas inter-agentes (56%) foi a mais frequente. Um total de 14 interações medicamentosas potencialmente prejudiciais foram identificadas. Clopidogrel-Omeprazol (33,47%), Clopidogrel-Esomeprazol (27,75%), Frusemida-Cefalosporina (10,62%), Atorvastatina-Vitamina B (7,76%) foram os pares de interação mais frequentes. Os autores concluíram que ouso concomitante de um inibidor da bomba de prótons (omeprazol, esomeprazol) e clopidogrel aumenta o risco de infarto do miocárdio (IM). O tratamento combinado com gliclazida e aspirina não se mostrou eficaz no controle da glicemia. A co-administração de frusemida e cefalosporina pode aumentar o risco de nefrotoxicidade. 

Cantudo-Cuenca et al (2021) avaliaram a prevalência e gravidade dos potenciais e reais de interações medicamentosas entre terapias para COVID-19 e medicações concomitantes em hospitalizados pacientes com infecção confirmada de SARS-CoV-2. Os autores analisaram os fatores associados as interações medicamentosas em um estudo de coorte observacional realizado em um hospital terciário na Espanha. Um total de 174 pacientes foram analisados, sendo que as interações medicamentosas foram detectadas em 152 pacientes (87,4%) com um total de 417 interações medicamentosas entre medicamentos relacionados a COVID19 e medicamentos concomitantes hospitalares envolvidos (60 medicamentos diferentes), enquanto interações medicamentosas foram detectados em 105 pacientes (72,9%) com um total de 553 interações medicamentosas. De todos os 417 interações medicamentosas, 43,2% (n=180) foram associados ao lopinavir / ritonavir e 52,9% (n=221) à hidroxicloroquina , ambos os mais prescritos (106 e 165 pacientes, respectivamente).  As interações medicamentosas clinicamente relevantes foram identificados entre 81,1% (n=338) (‘potenciais interações’) e 14,6% (n=61) (contra-indicados) dos pacientes. A prevalência de pacientes com interações medicamentosas reais foi considerada elevada, especialmente aqueles clinicamente relevantes. As comorbidades e a polifarmácia foram consideradas fatores de risco independentemente associados ao desenvolvimento de interações medicamentosas.

Sciaccaluga et al (2021) em seu estudo focaram nas interações medicamentosas mais relevantes envolvendo os medicamentos COVID-19 atualmente usados ​​e sua possível associação com distúrbios do ritmo cardíaco, levando em consideração também a condição preexistente e os fatores precipitantes que podem aumentar esse risco adicionalmente. Em seus resultados, observaram que 2 dos medicamentos realmente usados ​​contra o SARS-CoV2, como a cloroquina e a combinação lopinavir / ritonavir, podem determinar um prolongamento do intervalo QT (o tempo desde o início da onda Q até o final da onda T) e eles mostram várias interações com medicamentos antiarrítmicos e medicamentos antipsicóticos, tornando-os sujeitos a um risco aumentado de desenvolver arritmias.

Aykan e Aykan (2021) citaram os riscos do uso da testosterona e a ocorrência de interações cardiovasculares. Os autores citaram que a testosterona é usada no tratamento de hipogonadismo primário ou adquirido, retardo de crescimento constitucional e puberdade retardada em pacientes do sexo masculino. Atualmente, as doenças cardiovasculares apresentam alta frequência no sexo masculino, com tendência marcante de aumento em breve. Portanto, o número de homens que usam medicamentos para tratar doenças cardiovasculares está aumentando rapidamente. Os medicamentos cardiovasculares, de uso frequente e / ou introduzidos recentemente, podem causar efeitos indesejáveis ​​sob o título de interação medicamentosa com a terapia com testosterona. Doenças cardiovasculares são vistos com frequência hoje em dia e, portanto, o uso de drogas relacionadas ao sistema cardiovascular é comum. Diante destas evidências, antes de iniciar o tratamento com testosterona, o uso concomitante de medicamentos devem ser questionados e o possível status de interação deve ser verificado. Caso contrário, o lado negativo indesejado podem ser encontrados efeitos que perturbam os sistemas do corpo e aumentar a morbidade.

Brouillette et al (2017) afirmaram que aqueles medicamentos que atuam no estado mental, geralmente chamados de “agentes psicoativos”, estão entre os medicamentos mais usados ​​na medicina. Os agentes psicoativos podem afetar o sistema cardiovascular e devem ser usados ​​com cuidado para evitar consequências cardiovasculares negativas. Os autores analisaram as potenciais consequências cardiovasculares adversas de medicamentos psicoativos e fornecemos sugestões de abordagens práticas para evitá-las. Foram avaliados os riscos de reações adversas em termos de: (1) arritmias (particularmente síndrome do QT longo adquirido); (2) pressão arterial; (3) função ventricular; (4) efeito sobre os fatores de risco; (5) teratogenicidade; e (6) interações medicamentosas. Observou-se nos resultados que a minimização da responsabilidade do QT requer uma consideração dos fatores de risco específicos do paciente e o perfil de risco dos medicamentos disponíveis para tratar a condição psiquiátrica. Os medicamentos com propriedades de prolongamento do intervalo QT podem ser usados ​​com segurança, desde que sejam tomadas as devidas precauções. O medo do prolongamento do intervalo QT não deve privar os pacientes da terapia psiquiátrica necessária. Em geral, é necessária atenção aos riscos de efeitos adversos cardíacos específicos aos medicamentos, junto com a seleção e acompanhamento adequados dos medicamentos relacionados ao paciente, para detectar as reações adversas precocemente e fazer os ajustes necessários. O tratamento deve começar com doses baixas, seguido por titulação cuidadosa da dose e ajuste do regime de drogas de acordo com as respostas clínicas. Também, mostra-se necessário cuidado especial para minimizar as consequências negativas no perfil de risco cardiovascular / metabólico, que podem ter efeitos muito prejudiciais a longo prazo na saúde cardiovascular. Por outro lado, também é crucial que o medo dos efeitos adversos cardiovasculares não prive os pacientes da terapia com drogas psicoativas apropriada.

Akbar et al (2021) afirmaram que os pacientes com doenças cardiovasculares apresentam alto risco de apresentar interações medicamentosas. Estes autores avaliaram a frequência, o nível e os fatores de risco associados a potenciais interações medicamentosas em pacientes com doença cardiovascular hospitalizados em departamentos de cardiologia de 2 hospitais terciários em Quetta, Paquistão. Um total de 300 pacientes com doenças cardiovasculares elegíveis foram avaliados para interações medicamentosas usando o Lexicomp Interact®. Como resultados, com uma mediana de 8,50 interações medicamentosas por paciente, todos os pacientes (100%) tinham pelo menos 1 ou mais interações medicamentosas. Do total de 2.787 interações medicamentosas observadas, 74,06% (n =2064) foram de  gravidade moderada e (n=483) 17,33% de gravidade maior. Fatores como sofrer de outras doenças cardiovasculares além do infarto do miocárdio e receber mais de 12 medicamentos foram os fatores que tiveram associação estatisticamente significativa com a presença de interações medicamentosas mais graves. Os autores concluíram que as interações medicamentosas foram, de fato, altamente prevalentes. Diante disto, a inclusão de ferramentas de triagem, disponibilidade de farmacêuticos clínicos e atenção especial aos pacientes de alto risco podem reduzir a frequência de interações medicamentosas graves.

Teply et al (2016) resumiram os efeitos cardiovasculares e o perfil de interação medicamentosa dos antidepressivos, bem como buscaram discutir o uso de antidepressivos em pacientes com doenças cardiovasculares. Foram pesquisadas as bases de dados MEDLINE, PubMed, CINAHL, Web of Science, PsycINFO e The Cochrane Library desde o início até junho de 2014 para identificar estudos relevantes para o uso de antidepressivos em pacientes com doenças cardiovasculares. Os resultados indicaram que a hipotensão ortostática foi mais comum com antidepressivos tricíclicos (TCAs), trazodona e inibidores da monoamina oxidase (IMAO). A hipertensão pode ser significativa com inibidores da recaptação da serotonina norepinefrina (SNRIs) e IMAO. O potencial de prolongamento do intervalo QT está presente com TCAs, certos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs), certos SNRIs e mirtazapina. Devido ao seu baixo risco de interações medicamentosas, perfil de efeitos adversos e potencial para atividade antiplaquetária benéfica, a sertralina pode ser considerada o antidepressivo de escolha para pacientes com cardiopatia isquêmica. SSRIs e potencialmente SNRIs são opções relativamente seguras e eficazes para pacientes com insuficiência cardíaca. Em pacientes com alto risco de arritmias ventriculares, a bupropiona tem o risco geral mais baixo de prolongamento do intervalo QT. Os autores concluíram que os antidepressivos triciclicos e os inibidores da monoamina oxidase devem ser evitados em pacientes com doença cardiovascular concomitante. Ainda, em razão do aumento da morbidade e mortalidade associada à comorbidade doença cardiovascular e depressão, os médicos devem avaliar prontamente e iniciar o tratamento da depressão em tais pacientes. A escolha do antidepressivo deve levar em consideração o potencial impacto cardiovascular dos vários agentes no equilíbrio entre segurança e eficácia.

Kovacevic et al (2019) ressaltaram que os pacientes com doenças cardiovasculares são altamente expostos a interações medicamentosas adversas. Ainda, destacaram que cerca de 1 em cada 10 pacientes hospitalizados com doença cardiovascular pode ter um tipo de interação medicamentosa no mínimo,  contribuindo para a hospitalização. Dada a alta prevalência de doenças cardiovasculares, os danos relacionados as interações medicamentosas podem ser um fardo significativo em todo o mundo. A identificação de pacientes com alto risco de eventos adversos de interações medicamentosas pode facilitar o reconhecimento de danos relacionados a estes casos e melhorar o uso de bancos de dados eletrônicos na prática clínica.

Kovacevic et al (2017) também destacaram em outro estudo que a prevalência de interações medicamentosas potencialmente relevantes em pacientes internados com doenças cardiovasculares foi maior do que o esperado (cerca de 84%), com resultado clínico previsto no sistema cardiovascular, função renal e / ou potássio, sangramento, controle da glicose e toxicidade da digoxina. Ainda, neste estudos observou-se que cerca de 13% das exposições a interações medicamentosas foram acompanhadas por doença renal ou hepática concomitante, como um risco adicional para manifestação de interações medicamentosas. Diante disto, é essencial que sejam adotadas estratégias de gestão para evitar interações medicamentosas de alto risco ou ainda monitorar as consequências potenciais de interações medicamentosas em pacientes com doença cardiovascular especialmente.

Costache et al (2019) consideram que o crescente uso de produtos vegetais entre pacientes com farmacoterapia cardiovascular levanta a preocupação sobre suas potenciais interações com medicamentos cardiovasculares convencionais. Por outro lado, é sabido também que os produtos vegetais podem influenciar a farmacocinética e / e a atividade farmacológica de medicamentos coadministrados e algumas dessas interações podem levar a resultados clínicos inesperados. Diante desta constatação, numerosos estudos e relatos de caso já comprovaram várias interações farmacocinéticas que são caracterizadas por um alto grau de imprevisibilidade. 

Zorn et al (2018) ressaltaram também que a cardioproteção frequentemente envolve o início de medicamentos cardíacos, incluindo certos betabloqueadores, inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor de angiotensina (BRAs) e estatinas. Da mesma forma, os pacientes com doenças cardíacas preexistentes costumam receber diversos medicamentos, como anticoagulantes e antiarrítmicos, que têm interações reais e potenciais com uma variedade de quimioterapias. Como a janela terapêutica para a maioria das quimioterapias é estreita, atenção especial deve ser dada a essas interações medicamentosas que podem aumentar ou diminuir a eficácia quimioterápica ou predispor os pacientes a efeitos colaterais indesejados graves. Essas interações medicamentosas são bastante prevalentes na população com câncer. Assim sendo, os profissionais de saúde devem estar cientes das potenciais interações medicamentosas e mitigar os riscos ao gerenciar a saúde cardiovascular no contexto do tratamento do câncer. Após esta breve introdução, os autores também analisaram as principais interações medicamentosas envolvendo medicamentos quimioterápicos e cardíacos comuns, as áreas de foco incluem interações farmacocinéticas (PK) e farmacodinâmicas (PD) típicas, antitrombóticos e prolongamento do intervalo QT. Na visão dos autores, os riscos devem ser mitigados por meio de maior conscientização sobre os potenciais de interação medicamentosa, usando agentes alternativos quando possível e monitorando de perto os eventos adversos. De igual forma, ao avaliar as interações medicamentosas, o foco principal do cárdio-oncologista deve ser reduzir a interrupção das terapias contra o câncer que salvam vidas e, ao mesmo tempo, administrar as terapias cardíacas conforme necessário. Em alguns casos, o uso concomitante de drogas que interagem é inevitável, mas nestas situações, especialmente, o monitoramento e precauções adequadas devem ser praticadas visando uma maior segurança ao paciente.

Também na visão de Ivanov et al (2019) para a prevenção destes casos, especialmente dos mais graves, o uso de ferramentas computacionais para previsão de interações medicamentosas e reações adversas pode ser usada. Estas ferramentas são baseadas em cálculos de semelhanças entre os perfis de várias características químicas e biológicas dos medicamentos, contribuindo assim para a prevenção dos riscos mais graves.

Diante de todos os resultados encontrados, observa-se que as interações medicamentosas entre idosos estão entre as intercorrências mais importantes dentro da saúde pública de uma forma em geral. Na realidade, tendo em vista o alto consumo de drogas comuns a estes pacientes, a preocupação toma escalas de problemática de saúde pública para autoridades no segmento.

A prevenção destes casos é fundamental e, para isto, devem ser implantados métodos métodos e ações que visam o acompanhamento dos pacientes e o estudo minucioso dos riscos envolvidos nas interações medicamentosas das quais tais pacientes podem estar suscetíveis.

5 CONCLUSÃO

Com o presente estudo é possível concluir que não somente no Brasil, mas em todo o mundo a ocorrência de interações medicamentosas e seus riscos, entre idosos, alcança índices alarmantes, que fazem desta um problema de saúde pública, com graves efeitos sobre a saúde da população geriátrica.

Caracterizado como um problema complexo, observa-se na realidade que a responsabilidade por este processo pode ser aplicada tanto a profissionais quanto pacientes. 

Na sociedade atual, mostra-se eminente a necessidade de serem adotadas medidas e critérios que favoreçam uma prescrição mais racional de fármacos especialmente entre pacientes idosos, que fazem deste quadro um verdadeiro problema de saúde pública nos dias atuais.

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[1] Disponibilizada no endereço eletrônico: https://bvsalud.org/