FERREIRA, Marcelo Girotto; FLORES, Daniela Marchiori; SANTOS, Débora Carneiro;
RESUMO:
Este artigo de revisão tem como referência artigos originais publicados no período de 1998 a 2006. Tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica da fibromialgia. A fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica de etiopatogenia desconhecida, que acomete preferencialmente mulheres. Caracteriza-se por dores musculares difusas e pontos musculares dolorosos à palpação digital. Dentre toda revisão feita, concluiu-se que mais estudos sobre a fibromialgia devem ser estimulados, assim como os de prevalência de fibromialgia, desde a criança até o idoso, para um melhor conhecimento acerca da doença.
Palavras-chave: fibromialgia, fisioterapia, qualidade de vida.
SUMMARY:
This is a review article as a reference original articles published in the period 1998 to 2006. It has as objective to make a literature review of fibromyalgia. The fibromyalgia is a chronic pain syndrome of unknown etiology, which affects mainly women. It is characterized by diffuse muscle pain and muscle pain on palpation points digital. Among all made review, concluded that more studies on fibromyalgia should be encouraged, as well as the prevalence of fibromyalgia, since the child to the elderly, to a better understanding about the disease.
Keywords: fibromyalgia, physiotherapy, quality of life.
INTRODUÇÃO:
A fibromialgia é uma síndrome caracterizada pela presença de dor músculo-esquelética difusa e de hipersensibilidade à palpação em locais anatômicos definidos, denominados pontos dolorosos (tender points) em tecidos moles, estando geralmente acompanhada de diversos sintomas não relacionados ao aparelho locomotor, entre eles, fadiga, rigidez e distúrbios do sono. (HELFENSTEIN apud Haun, 2002).
De acordo com Martinez et al (1998), os sintomas incluem também sensação de edema e parestesias. A associação com outras síndromes de natureza funcional é uma constante. Entre elas pode-se citar a depressão, ansiedade, cefaléia crônica e a síndrome do cólon irritável. Essa sintomatologia altera-se em intensidade de acordo com algumas condições, ditas fatores moduladores. Entre elas, a literatura cita mais freqüentemente alterações climáticas, grau de atividade física, estresse emocional, entre outras.
O acompanhamento dos pacientes baseia-se na evolução da sua sintomatologia, portanto com alto grau de subjetividade e tornando-se uma das principais dificuldades na abordagem da fibromialgia. (MARTINEZ et al, 2002).
Segundo Martinez e cols.(1998), essa síndrome apresenta-se predominantemente em pacientes do sexo feminino, raça branca e a idade de início varia dos 12 aos 55 anos.
Sua etiopatogenia ainda é desconhecida, sendo motivo de inúmeros estudos, principalmente com o intuito de maior entendimento dos mecanismos de percepção e controle da dor crônica. (PROVENZA et al. 2002).
Esta condição reumática representa, desde a antigüidade, um importante segmento da fenomenologia dolorosa do ser humano, sendo responsável, em todos os países do mundo, por uma quantidade expressiva de consultas médicas envolvendo sintomatologia musculoesquelética crônica, entre outras manifestações clínicas. (HELFENSTEIN, 2002).
O diagnóstico é essencialmente clínico. Para efeitos de classificação, segundo o American College of Rheumatology (ACR), é necessária a presença de dor difusa por um prazo superior a três meses consecutivos e, no mínimo, em 11 dos 18 pontos dolorosos. São observadas ainda alterações do sono, como despertares noturnos freqüentes, agitação noturna e acordar precoce. (MAEDA e cols. apud Yunu, 2006).
METODOLOGIA:
Este artigo trata-se de uma revisão científica onde foram utilizados 10 artigos originais publicados no período de 1998 a 2006, encontrados através das palavras chaves fibromialgia, fisioterapia e qualidade de vida. A busca foi realizada nas bases de dados do Scielo e Lilacs. Como critérios de exclusão, não utilizamos artigos que não fossem originais e que não fossem em português. A partir destes resultados, foram selecionados os artigos referentes ao assunto em questão.
DISCUSSÃO:
O SONO:
As queixas de sono não restaurador e de fadiga são expressivas em pacientes com fibromialgia. Segundo Roizenblatt et al (2002), o sono não repousante está presente em 76–90% dos pacientes com essa condição, em comparação com 10-30% dos indivíduos normais. Os estudos mostram que uma noite mal dormida pode acarretar dor e rigidez, particularmente em indivíduos acometidos por alguma disfunção musculoesquelética. Apesar de não estar clara uma relação causa-efeito entre a intensidade da dor e os distúrbios do sono em pacientes com dor crônica e fibromialgia, um componente psicogênico parece influenciar a qualidade do sono nessas condições. Por outro lado, o sono precário ocorre em várias condições musculosqueléticas crônicas. Na fibromialgia, particularmente, existem evidências de aumento da latência do sono, baixa eficiência de sono e aumento na quantidade de estágio 1 do sono não REM.
Qualidade precária do sono e dor musculoesquelética matinal são queixas comuns de pacientes com fibromialgia. No estudo realizado por Roizenblatt et al. (2002), que teve por finalidade avaliar objetivamente esses sintomas, foi possível documentar piora da dor após o sono precário em pacientes com fibromialgia.
As manifestações de dor e as queixas relacionadas ao sono foram estudadas antes e após o registro noturno do sono em 40 pacientes com fibromialgia e 43 controles saudáveis.
Conclui-se, com o estudo, que pacientes com fibromialgia apresentam distintos padrões de intrusão de ondas alfa no sono não REM. O padrão alfa fásico do sono foi encontrado em pacientes com sintomas mais acentuados e de maior duração. Esse achado pode ser útil na seleção da modalidade terapêutica a ser empregada e na avaliação de seus efeitos sobre as manifestações da fibromialgia.
QUALIDADE DE VIDA:
Martinez e cols (1998) realizaram um trabalho, em que o objetivo foi determinar se há correlação entre medidas da qualidade de vida e alguns dos instrumentos de mensuração dos principais componentes da fibromialgia habitualmente utilizados para o acompanhamento clínico.
Estudaram-se 26 pacientes do sexo feminino com fibromialgia. A idade média das pacientes foi de 38,7 anos. A maioria das pacientes era casada e apresentava baixa escolaridade. A maioria delas apresentou como características clínicas o início da dor difusa, alta intensidade de dor e fadiga. Predominava ainda a presença de sedentarismo. Observou-se inicialmente correlação entre a intensidade da dor e fadiga medidas por escalas analógicas numéricas. Em resumo, concluiu-se que a fibromialgia afeta de forma significativa a qualidade de vida das pacientes.
A deterioração na qualidade de vida é expressa em várias áreas, como por exemplo capacidade funcional, qualidade do sono, sexualidade e vida profissional. As pacientes com fibromialgia devem receber abordagem global e não somente em relação às queixas e função músculo-esquelética.
No estudo, conclui-se que os parâmetros de intensidade da dor e fadiga, medidos pela escala analógica numérica, e a capacidade funcional, medida pelo HAQ (Health Assessment Questionnaire), correlacionam-se fortemente com o impacto da fibromialgia na qualidade de vida global, medida pelo FIQ (Fibromyalgia Impact Questionnaire).
A incapacidade funcional dos doentes de fibromialgia reflete-se adversamente no desempenho ocupacional, dificultando a realização de uma série de tarefas motoras e cognitivas. Os sintomas da fibromialgia causam grande impacto no cotidiano e promovem a ruptura da rotina, cuja conseqüência tende a se manter ao longo do tempo, em razão da cronicidade da doença. Os impactos sociais desestabilizam as relações familiares, restringem o contato social e interferem nos hábitos e rotinas dos doentes, obrigando-os a esforços contínuos de adaptação à nova realidade. Pacientes com fibromialgia apresentam pior qualidade de vida que pacientes com outras doenças crônicas, como artrite reumatóide, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica e lúpus eritematoso sistêmico. (BERBER et al., 2005).
Em um estudo, proposto por Berber et al. (2005), foram selecionados 70 pacientes diagnosticados como portadores de fibromialgia. 98% dos destes eram do sexo feminino e 2% do sexo masculino. Mais de 60% deles tinham entre 40 e 55 anos. Verificou-se que 40% dos pacientes da amostra sofriam de dor corporal há mais de dez anos, 48,6% receberam o diagnóstico de fibromialgia há menos de dois anos, mais de 80% tomavam antidepressivos e mais de 60% já haviam feito fisioterapia. Verificou-se que aproximadamente dois terços da amostra apresentaram algum grau de depressão. Notou-se que, comparada à da população sadia, a qualidade de vida dos pacientes da amostra está prejudicada, principalmente nas escalas de funcionalidade física, ausência de dor e de funcionalidade emocional
O estudo buscou descrever a relação entre a prevalência de depressão e sua relação com a qualidade de vida nos pacientes com fibromialgia. A prevalência de depressão encontrada foi alta, aproximadamente em dois terços da amostra. Esta se mostrou associada à queda na qualidade de vida nos seguintes aspectos: condicionamento físico, funcionalidade física, percepção da dor, funcionalidade social, saúde mental, funcionalidade emocional e percepção da saúde em geral.
Um estudo semelhante, que também avaliou a depressão e a qualidade de vida em pacientes com fibromialgia, através do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ) constatou que o grupo de pacientes portadores de fibromialgia tem pior qualidade de vida quando comparado com o grupo controle (pessoas saudáveis). (Santos et al., 2006)
(Kiyomoto et al., 2007). Atualmente propõe-se o exercício como tratamento global mais indicado para pacientes com fibromialgia. Num estudo realizado com 13 mulheres, avaliadas pré e pós tratamento pela escala visual analogia e pelo Teste de Conconi, concluiu-se que o protocolo de exercícios aeróbios reduziu o quadro álgico e proporcionou uma adaptação benéfica do sistema cardiovascular comprovada pelo TC.
Um outro estudo também baseado na realização de exercícios físicos supervisionados, concluiu que as pacientes com fibromialgia submetidas ao programa de condicionamento físico apresentaram melhora da capacidade funcional, da dor e da qualidade de vida. (Sabbag et al., 2007).
PERCEPÇÃO DOS PACIENTES:
O planejamento terapêutico tem sido um desafio constante. A falha completa, ou ainda resposta parcial, ao tratamento em protocolos envolvendo medicamentos de longa duração, tem gerado propostas para que se estabeleça plano de tratamentos individualizados. Passa-se então a levar em conta os aspectos biológicos, psicológicos e mesmo sociais da síndrome. Propõe-se a utilização de métodos terapêuticos não medicamentosos, isolados ou em associação, como, por exemplo, participação em grupos de auto-ajuda, exercícios físicos orientados, acupuntura, psicoterapia, biofeedback, entre outros. (Martinez et al apud Masi, 2002).
No estudo proposto por Martinez et al (2002), estudaram-se 15 mulheres que preenchem os Critérios de Classificação para Fibromialgia do Colégio Americano de Reumatologia. Neste estudo, observou-se uma uniformidade em relação às descrições da sintomatologia. Dor músculo-esquelética generalizada e fadiga compõem o núcleo central de sintomas. Observa-se, porém, que há uma ênfase quanto a um predomínio em alguma região do corpo: cintura escapular, membros inferiores e região da coluna vertebral.
Apesar do pequeno número de pacientes, as informações referidas espontaneamente pelas pacientes motivadas por questões abertas, indicam que os principais sintomas segundo as pacientes são: dor e fadiga; A ansiedade é uma característica que deve ser valorizada e melhor estudada na fibromialgia, embora a literatura dê ênfase à depressão; A incerteza quanto ao prognóstico e o medo de incapacidade definitiva é uma constante; A sensação de desamparo é grande e reforçada pela sensação de desconhecimento da síndrome pelos profissionais de saúde, em especial, médicos.
CONCLUSÃO:
A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica, apresentando uma série de outros sintomas, como fadiga, perturbações do sono e síndrome do cólon irritável. Os sintomas e a cronicidade dessa enfermidade causam prejuízo à qualidade de vida do indivíduo. Freqüentemente a fibromialgia está associada à depressão e esta é responsável por uma queda ainda maior na qualidade de vida do paciente. As características da depressão, como fadiga, sentimentos de culpa, baixa auto-estima e vitimização, provocam a exacerbação dos sintomas e prejudicam as estratégias de enfrentamento do paciente diante da doença. (BERBER ET AL., 2005).
Verificou-se também que a doença atinge na grande maioria dos casos o sexo feminino. Como proposta de tratamento não medicamentoso, Martinez sugere a participação em grupos de auto-ajuda, exercícios físicos orientados, acupuntura, psicoterapia, biofeedback, entre outros. (Martinez et al apud Masi, 2002).
Mais estudos sobre a fibromialgia devem ser estimulados, assim como os de prevalência de fibromialgia, desde a criança até o idoso.
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Olá, gostaria de saber como posso baixar o artigo, para usar em minha monografia?
obrigado.