REUSO DOS RESÍDUOS DE ESTRUTURAS METÁLICAS DE UM GALPÃO INDUSTRIAL: ESTUDO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7576620


Matheus Carneiro Freire1
Valdete Santos de Araújo2


Resumo

A construção civil é um dos setores que mais geram resíduos no Brasil, em virtude disso, a fim de garantir a sustentabilidade das obras é necessário que o gerenciamento desse material seja feito de maneira adequada para que os impactos no meio ambiente sejam minimizados. Nesse contexto, o presente trabalho realizou uma análise nos materiais oriundos da demolição de um galpão do tipo industrial e verificou quais perfis metálicos poderiam ser reaproveitados na montagem de um mezanino localizado na cidade de Manaus-AM. O objetivo principal da pesquisa foi realizar um estudo sobre o reaproveitamento do resíduo de construção em outras atividades. Como base científica, foi utilizada a metodologia adaptada de Rodrigues (2021) para auxiliar na análise e definição dos modelos de estrutura metálica a serem reutilizados na obra. Nos resultados, constatou-se que os principais resíduos gerados foram resultantes de alvenaria de construção, material de escavação e de estruturas metálicas. O insumo reciclado na obra do mezanino foram treliças metálicas e isso é equivalente a pouco mais de 3 t de aço reutilizado. Com os resultados obtidos na pesquisa, verificou-se que os benefícios adquiridos foram tanto financeiros quanto ambientais porque com o reaproveitamento de resíduos o custo para a obra do mezanino teve uma redução de 62% em relação às despesas que seriam atribuídas somente para a montagem da parte estrutural do empreendimento.

Palavras-chave: Resíduos de construção. Sustentabilidade. Gerenciamento. Reaproveitamento.

1 INTRODUÇÃO

O homem por meio de suas ações, na procura de matéria-prima para seu sustento e para fabricação de bens, está danificando o meio ambiente e, dessa forma, produzindo um volume demasiado de resíduos. No Brasil, especialmente, na década de 70, o crescimento urbano botou em risco a qualidade de vida da população e do meio ambiente, visto que aconteceu sem a correta estruturação urbana e ecossistêmica, fato que levou a um acréscimo na formação de resíduos de construção civil, sendo assim, um dos assuntos mais debatidos atualmente (FREITAS, 2009).

De acordo com Marinho (2019), esse crescimento vem gerando diversos problemas ambientais, principalmente em relação ao destino dos resíduos gerados pelo setor de obras, situação que instiga o poder público a procurar alternativas para resolução destes problemas com políticas públicas eficientes visando a gestão dos Resíduos da Construção Civil – RCC, com a finalidade de diminuir o prejuízo ao ecossistema.

A sustentabilidade, devido aos inúmeros danos ao meio ambiente, surge como solução mitigadora para esta situação, uma vez que visa preservar o meio ambiente através do uso dos recursos naturais de forma responsável. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio da reciclagem dos resíduos produzidos pela construção civil, o que acarreta, consequentemente, na diminuição dos impactos ambientais por eles gerados (MEZECH e FREITAS, 2021).

Conforme os procedimentos determinados pela Lei n° 12.305 (BRASIL, 2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, constatou-se a relevância da não geração, redução, reutilização, reciclagem, processamento dos resíduos e destinação final correta dos rejeitos.

Diante desse contexto, o presente trabalho busca contribuir mediante um estudo sobre reutilização de estruturas metálicas provenientes de demolição em outras atividades. O objeto da pesquisa consiste principalmente em analisar a viabilidade dessa hipótese ao se propor a construção de um mezanino com o reaproveitamento de resíduos de estruturas metálicas, visando garantir uma obra sustentável e mais barata.

O aço para construção é totalmente reutilizável e, por conta de suas características e propriedades, acaba garantindo a mesma qualidade para as finalidades estruturais do projeto. Estudos que possam contribuir com a gestão dos detritos produzidos nos canteiros de obra são de suma importância, visto que a quantidade gerada é extremamente alta. Portanto, pesquisas relacionadas ao assunto podem contribuir na divulgação e conscientização sobre o reaproveitamento de resíduos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A construção civil no Brasil

Na construção civil, o grande volume de resíduos gerados e matéria-prima utilizada acaba levando ao desperdício e grande impacto ambiental. O exercício da reutilização desses detritos é essencial para uma sociedade sustentável, uma vez que está diretamente associada a redução de problemas ambientais provocados pelo setor e diminuição de despesas de gestão. Calcula-se que o ramo é responsável por consumir cerca de 20% a 50% do total de recursos naturais utilizados pela sociedade (MARINHO, 2019). No entanto, conforme Freitas (2009), a construção civil afeta o ecossistema não só como consumidora de recursos naturais, mas também porque é a principal produtora de entulho do sistema econômico brasileiro.

O setor de obras de fato é causador de impactos ambientais, seja pelo consumo de recursos naturais, de origem não renovável, ou pela produção de grande variedade de resíduos, impermeabilização do solo e rebaixamento do lençol freático. A condição de progresso econômico, social e cultural de uma cidade é um aspecto muito importante na geração de detritos de construção e demolição, pois caso seja mal idealizado acarreta o desenvolvimento na categoria de construção, promovendo elevação da demanda de matéria-prima e energia, que pode levar, também, ao aumento da geração deste tipo de resíduo (FREITAS, 2009).

De acordo com Rodrigues (2021), o setor da construção civil tem relevância significativa na sociedade, principalmente pelo aspecto de desenvolvimento da economia. Por esses motivos, esse ramo recebe grande demanda de recursos naturais, fato que ocasiona impacto considerável no meio ambiente.

A Resolução n° 307/2002 do Conama, tendo em conta a necessidade de implantação de instruções para a efetiva diminuição dos impactos ambientais causados pelo entulho gerado na construção civil, estabeleceu diretrizes, parâmetros e metodologia para a gestão e faz obrigatória a utilização de estratégias de gerenciamento nos municípios, assim como projetos de gestão dos resíduos produzidos nos canteiros de obra.

2.2 Resíduos da construção civil

A Resolução n° 307/2002 do Conama define que os resíduos da construção civil são:

[...] os procedentes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (CONAMA, Resolução 307/2002).

De acordo com a Resolução n° 307/2002 do Conama, os resíduos de construção civil e de demolição são classificados como:

Classe A: reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
Classe B: resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e gesso;
Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;
Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde (CONAMA, Resolução 307/2002).

2.3 Reaproveitamento de resíduos

De acordo com a Resolução no 307/2002 do Conama, reutilização “é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo” e, a reciclagem “é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação” (BRASIL, 2002,p.95-96).

Rodrigues (2021, p. 11) fez uma análise da relevância desta temática:

Assim, não se pode negar a importância do bom direcionamento do material de reformas, construções e demolições, seja sob aspectos legais, ambientais ou econômicos. Uma seleção de materiais construtivos que leve em conta sua possibilidade de reciclagem e reaproveitamento torna-se necessária e muito positiva (RODRIGUES, 2021, p. 11).

Ainda sobre reaproveitamento de resíduos, para Roque et al. (2020, p. 742):

Práticas como essa podem, da mesma maneira, trazer diversos benefícios socioambientais, culturais e econômicos, seja por processos de inclusão social, educação ambiental, ou pela diminuição de custos com a produção, extração de recursos naturais, energia, minimização de impactos ambientais, etc (ROQUE et al.,2020, p. 742).

2.4 Gestão de resíduos da construção civil – Normas e Legislações

De acordo com Sousa (2016), os rejeitos da construção civil estão sujeitos à legislação federal relacionada aos resíduos sólidos, às legislações estaduais e municipais, bem como às normas técnicas brasileiras. Em âmbito nacional destacam-se:

• Decreto no 7.404/2010 que regulamenta a Lei no 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras determinações;

• Resolução no 307/2002 que institui diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil;

• Lei Federal no 12.305/2010 que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605/1998 além de outras deliberações.

2.5 Desenvolvimento sustentável

Alterações na maneira como exploramos os recursos naturais, tal qual o uso de inovações tecnológicas para a melhor aplicação dos resíduos produzidos são essenciais para conquistar o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em que atendem às aspirações e demandas da população no presente e no futuro (MARINHO, 2019).

Conforme Marinho (2019), a coordenação do desenvolvimento sustentável demanda, não só disseminação de conhecimento ético ambiental centrado na relevância do comportamento individual quanto ao meio ambiente, mas também interdisciplinaridade, planejamento e novas posições decorrentes das ações do governo e da sociedade como um todo e, o mais importante, que esse novo modelo seja definido por princípios humanitários, enfatizando a cidadania, a cooperação, a parceria e a inclusão social.

Sousa (2016, p. 23) abordou o seguinte:

Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, conforme determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos (SOUSA, 2016, p. 23).

2.6 Caracterização do material de estrutura metálica

Conforme Morais (2017), os metais já eram manuseados pela humanidade, desde os povos antigos, na fabricação de utensílios domésticos, armas e joias. Nos dias atuais, o uso de metais seguiu o aumento da população e o crescimento econômico da sociedade, e são aplicados em muitos ramos, como na construção civil, na indústria de transporte, como utensílios domésticos, joias, próteses, roupas etc.

O uso de perfis metálicos é muito comum em grandes construções como rodovias, portos, e aeroportos porque esse tipo de construção exige rapidez na execução, além disso os componentes possuem excelente resistência à tração, compressão e flexão, também têm um peso menor do que as vigas de concreto armado e são mais fáceis de montar e desmontar (JUNIOR, 2021).

Segundo Pfeil e Pfeil (2009), os perfis estruturais metálicos são classificados conforme seu processo de produção: dobrado a frio, laminado ou soldado. Os dobrados a frio são fabricados por meio da dobra a frio de chapas maleáveis. Os laminados são produzidos com o aço pré-aquecido e adquirem formato após passar pela etapa de laminação. Os perfis soldados são criados por intermédio da união de chapas com a aplicação de solda.

Os produtos siderúrgicos podem ser classificados de forma genérica em perfis, barras e chapas. As siderúrgicas são responsáveis por produzirem inúmeros produtos, sendo os mais usados, cantoneiras em abas iguais e desiguais, perfil H, perfil I ou duplo Tê, perfil Tê, perfil U ou canal. Barras redondas, barra chata, tubo circular, tubo retangular ou quadrado, chapas em bobinas (medidas variáveis em comprimento e largura), chapas finas ou grossas (em formatos específicos). As metalúrgicas por sua vez são responsáveis por processarem os produtos siderúrgicos e transformarem em perfis compostos por chapas dobradas ou chapas soldadas.
Têm-se como exemplo, perfil U, UE perfil U enrijecido, cantoneiras, 21 perfil cartola, perfil Z, Perfil Tê soldados, perfil duplo Tê soldado (PINHEIRO, 2005).

2.7 Técnicas de tratamento de estruturas metálicas

De acordo com Pannoni (2017), quando o metal é exposto à atmosfera, em um clima seco, cria uma película muito fina de óxidos sólidos e caso eles sejam constantes, a aceleração do desenvolvimento para depois de certo tempo. O oxigênio é crucial na formação da corrosão graças à sua presença na reação catódica e sua ligação nas alterações que acontecem na química da atmosfera. Além do mais, a água e o dióxido de carbono também interferem no processo corrosivo das estruturas metálicas. Os principais itens que influenciam no índice de corrosão são: umidade relativa do ar; frequência e duração das chuvas, neblina e orvalho; temperatura do ar e da superfície metálica; velocidade dos ventos e tempo de insolação.

Medidas preventivas devem ser tomadas através de inspeções de rotina e limpeza, mas devem ser consideradas desde o início do projeto uma vez que certas conexões, suportes e inércias de perfis não permitirão acúmulo excessivo de água da chuva ou impurezas por um longo período de tempo (REZENDE, 2018).

A forma de preservação das estruturas metálicas mais relevante, para Pannoni (2017), é a pintura, sendo empregada há décadas e tem se desenvolvido significativamente. Para essa técnica ser duradoura necessita da qualidade na preparação da superfície e da correta seleção das tintas, além da aplicação adequada das espessuras. São dois os objetivos principais do preparo da superfície:

a) Limpeza superficial: remover materiais como pós (diversos), gorduras, óleos, dentre outros que impedem o contato direto da tinta com o aço. O grau mínimo de limpeza de uma superfície metálica varia de acordo com o tipo de tinta a ser aplicada e com as condições a que ficará exposta;

b) Ancoragem mecânica: proporcionar maior aderência aumentando a superfície de contato entre o metal e a tinta através da rugosidade superficial.

Além dos processos de pintura das superfícies, outros métodos como a metalização e a galvanização também são habituais, os quais consistem na aplicação de uma densa camada de zinco na superfície do metal. A galvanização por imersão a quente é o processo mais completo e popularizado para proteção de estruturas em ambientes agressivos, pois a estrutura fica completamente envolvida pela camada de zinco inclusive interiormente no caso de perfis tubulares (DE MELO, 2021).

2.8 Disposição final de resíduos de estruturas metálicas

Os projetos de gerenciamento dos resíduos oriundos da construção devem conter etapas de caracterização, em que o gerador deve identificar e quantificar os resíduos Conforme o Art.3 da resolução n° 307/2002 do CONAMA:

a) A separação deve ser realizada respeitando as classes estabelecidas;
b) O acondicionamento deve assegurar que seja possível a reciclagem ou reutilização;
c) O transporte deve ocorrer de acordo com as normas vigentes;
d) A destinação final deve ser em aterros da construção civil, centros de reciclagem ou armazéns temporários, dependendo do tipo de resíduos.

Uma alternativa efetiva para a destinação deste tipo de resíduo é o direcionamento para empresas que trabalham com a reutilização deste material. Em estudo realizado por Rodrigues et al.(2020), foi apresentado uma estratégia de regularização ambiental por intermédio de um sistema de produção sustentável para uma empresa trabalha diretamente com estruturas metálicas. Os rejeitos produzidos pela companhia eram descartados em lixo comum, sendo armazenados em caçambas e encaminhados para o aterro. Com a implantação do projeto de Produção Mais Limpa, eles começaram a ser coletados por uma instituição terceirizada que os destina a outra organização para reaproveitamento e fabricação de novas chapas de aço. Partindo deste princípio, o benefício foi tanto ambiental quanto técnico, visto que o entulho que não tinha mais utilidade servirá de matéria prima para a confecção de novas peças metálicas. Além de reduzir a quantidade de resíduo rejeitado, a empresa ainda contribui na redução da retirada de minério de ferro da natureza.

Dados da Federação Internacional da Indústria da Reciclagem – BIR (Bureau of International Reciclying) apontam que o reaproveitamento de uma tonelada de aço poupa 1.100 kg de minério de ferro, 630 kg de carvão, 55 kg de calcário, 1,8 barris de petróleo e 2,3 m3 de aterro sanitário. Além do mais, a fabricação de aço com base no resíduo metálico consome 24% menos energia do que a produção baseada em minério de ferro, 40% menos água e 90% menos materiais de origem natural. Da mesma forma produz 76% menos poluentes da água, 86% menos poluentes do ar, 97% menos resíduos de mineração e reduz a emissão de CO2 em 58%(PRIZIBISCZKI, 2019).

3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

O presente trabalho terá como área de estudo a obra de demolição e construção do galpão do tipo industrial de uma empresa privada localizada na Rua Tucunaré, no Distrito Industrial I, na cidade de Manaus – AM. A companhia é referência no segmento de locação de equipamentos na cidade.

O local supracitado apresenta uma área de 28.575,68 m2, o suficiente para a construção do mezanino que possui uma área aproximada de 168 m2.

3.2 Material

Por meio do setor de engenharia da construtora responsável pela obra, foi realizado um levantamento para identificação dos documentos técnicos existentes, sendo, preferencialmente, obtidas cópias do projeto arquitetônico e estrutural em meio digital. A seguir segue o material disponibilizado pela empresa de engenharia.

Figura 1 – Planta arquitetônica do mezanino.

Fonte: Amazon Engenharia, 2022.

Figura 2 – Planta estrutural do mezanino.

Fonte: Amazon Engenharia, 2022.

3.3 Métodos

Para a realização da pesquisa, optou-se pela metodologia do estudo de caso, levando-se em consideração uma demolição cujos materiais metálicos foram reciclados pela empresa responsável pela construção do galpão demolido. Para a composição de base de dados para a pesquisa, foi realizada uma busca inicial em repositórios institucionais de algumas universidades renomadas no país. Durante o levantamento das referências, optou-se por estudos relacionados ao desenvolvimento sustentável, gerenciamento e reaproveitamento de resíduos da construção civil. Dessa forma, foi possível filtrar os trabalhos e definir com base nesses critérios os que mais se encaixavam de acordo com o tema proposto.

A base científica para a pesquisa será o que foi proposto por Rodrigues (2021) que realizou estudo de caso sobre o reaproveitamento de perfis metálicos oriundos da demolição de um edifício e que foram utilizados na construção de outra edificação.

A análise foi feita a partir de registros fotográficos, dados de materiais utilizados e visitas técnicas à obra. Com a primeira visita in loco foi possível constatar que a grande maioria dos rejeitos são de natureza metálica, visto que o empreendimento anterior se tratava de um galpão industrial, mas também havia presença de entulho de alvenaria de construção e escavação. A Figura 3 mostra parte do material metálico resultante da atividade de demolição.

Figura 3 – Parte dos resíduos da demolição.

Fonte: Autor (2022).

Conforme abordado acima, a maior parte dos resíduos são perfis metálicos que constituíam a estrutura do galpão antigo. Para fins de reaproveitamento, os materiais que após uma análise visual prévia se encaixavam ao que exigia o projeto estrutural estão apresentados na imagem abaixo.

Figura 4 – Perfis metálicos oriundos da demolição.

Fonte: Autor (2022).

Esse material apresentado na Figura 4 trata-se de perfis metálicos do tipo treliça com banzos paralelos. Para definir sua possível reutilização na construção do mezanino ou não, foi feita uma série de aferições de medidas (Figura 5) visando fazer um levantamento de quantos perfis haviam disponíveis para reaproveitamento.

Figura 5 – Aferição de medidas das treliças.

Fonte: Autor (2022).

Conforme é possível verificar na imagem acima, o resíduo apresenta corrosão em algumas partes de sua estrutura, dessa forma, antes de serem reaproveitados, esses materiais precisam passar por um processo de revitalização. O procedimento mais usual indicado para tratamento dessas patologias é a pintura. Primeiro devem ser realizados alguns ajustes necessários na superfície metálica, tais como lixamento e limpeza, buscando remover qualquer obstáculo ou impureza que possa impedir a aderência total do revestimento à base do metal.
Com a superfície metálica limpa, a próxima etapa é a pintura. De acordo com a NBR 8800 (ABNT, 2008) os componentes estruturais de aço devem ser protegidos contra corrosão que possa afetar sua resiliência ou desempenho estrutural, ou precisam ser dimensionados com formato mais espesso para suportar a corrosão. A norma também aborda que a proteção contra a corrosão atmosférica em materiais não resistentes aos efeitos corrosivos pode ser feita através de revestimentos protetores ou de outras medidas eficazes, de maneira isolada ou combinada.
Nessa etapa de aplicação de revestimento, aplicou-se primeiramente um fundo preparador produzido a partir de tetróxido de chumbo, denominado zarcão, que apresenta finalidade anticorrosiva (OBRAMAX, 2022). Após 24h, iniciou-se a aplicação do esmalte sintético que, segundo Glasu (2021), é uma tinta de resina à base de óleo vegetal e, assim sendo, não se dilui em contato com a água. Ainda conforme a fonte, ao ser sobreposta, além de atribuir cor à superfície pintada, produz uma base de proteção, deixando o objeto mais resistente às intempéries do tempo e à degradação devido ao uso no cotidiano. A Figura 6 mostra como foi realizada essa atividade de pintura.

Figura 6 – Aplicação de pintura na treliça metálica.

Fonte: Autor (2022).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Resíduos produzidos na demolição e seu gerenciamento

Durante o processo de demolição do antigo galpão, inúmeros Resíduos de Construção e Demolição (RCD) foram produzidos nessa atividade. Na situação do estudo de caso presente neste trabalho, constatou-se que os principais rejeitos gerados foram restos de alvenaria de construção, material de escavação e, principalmente, resíduos de estruturas metálicas. Seguindo o que consta na Resolução n° 307/2002 do Conama os resíduos produzidos pela obra desta pesquisa podem ser classificados como de Classe A, que é a classificação dos materiais considerados recicláveis ou reutilizáveis, produzidos por serviços de construção, demolição, reformas e reparos de edificações.

Para cada tipo de RCD foram determinadas diferentes alternativas de gerenciamento. Para os oriundos de alvenaria de construção, eles foram dispostos em caçambas coletoras e posteriormente a empresa contratada para esta atividade destinou esse entulho a uma finalidade correta.

O resíduo proveniente de atividades de escavação, era coletado por caminhões basculante e destinado a locais denominados de bota-fora que são áreas onde são descartados os materiais gerados em obras de terraplenagem, onde envolvem escavação, remoção de terra ou demolições e reformas que necessitem de retirada de entulhos. Conforme dados fornecidos pela construtora que está atuando na obra, foram retirados aproximadamente 7.500 m3 de entulho de escavação.

Alguns dos resíduos metálicos oriundos da estrutura do antigo galpão demolido foram destinados para uma empresa local atuante há mais de 5 décadas no Amazonas e que atua exclusivamente na coleta e reciclagem deste tipo de material. A instituição disponibilizava caçambas coletoras para a obra e após o seu preenchimento elas eram coletadas e trocadas pela companhia. Segundo informações fornecidas pela construtora, foram retirados aproximadamente 21 t de resíduo metálico da obra pela organização que recicla este tipo de material.

Desse modo, observa-se que a destinação final dos resíduos foi realizada de forma correta e com responsabilidade porque a construtora acionou empresas especializadas no tratamento deste tipo de material, contribuindo assim na redução dos impactos ambientais que poderiam ser causados pelo gerenciamento incorreto dos rejeitos.

4.2 Reaproveitamento de resíduos de demolição

Após a seleção e tratamento dos materiais selecionados para reutilização, tem-se início a construção do mezanino que irá abrigar o quadro administrativo da companhia a qual pertence o galpão em construção. O local escolhido para construir o mezanino está situado na lateral do galpão novo que também está em obras. A Figura 7 mostra com mais precisão onde fica o espaço determinado pela empresa para sua nova sede administrativa.

Figura 7 – Local destinado a construção do mezanino.

Fonte: Autor (2022).

O local supracitado apresenta uma área aproximada de 200 m2, o suficiente para a construção do mezanino que conforme a sua planta arquitetônica apresentada na Figura 1, possui uma área aproximada de 168 m2 (≈21,00 m X 8,00 m).

O início da construção do mezanino ocorreu em outubro de 2022 e ao todo foram reutilizadas 15 treliças (Figura 4), oriundas da demolição do galpão antigo, na estrutura dessa obra. Desse montante, 11 treliças foram utilizadas na estrutura do piso e as outras 4 unidades foram destinadas para a montagem da armação para receber o telhado.

A Figura 8 apresenta parte da obra do mezanino.

Fonte: Autor (2022).

A imagem anterior exibe parte da montagem da estrutura do mezanino. Na figura é possível identificar que naquele momento estavam sendo realizadas as atividades de fixação das vigas treliçadas nas laterais do novo galpão e em uma viga de concreto armado, para servirem de base de apoio para o piso do mezanino. Na parte superior estava ocorrendo o início da instalação do telhado.

Figura 9 – Instalação do piso parcialmente finalizada.

Fonte: Autor (2022).

A Figura 9 mostra a instalação do telhado já concluída e o andamento da montagem do piso em painel wall. Após a conclusão do piso iniciou-se a divisão interna do mezanino em áreas conforme exposto na Figura 1. Toda essa etapa foi realizada aplicando-se o sistema construtivo a seco denominado drywall.

Conforme foi relatado anteriormente, após visitas à obra, análises visuais e aferições de medidas das peças e comparando com o estipulado pelo projeto, o único resíduo da demolição do galpão antigo que constatou-se ser possível de reaproveitamento na construção do mezanino eram as treliças metálicas com banzos paralelos apresentadas na Figura 4. No total, foram reutilizadas 15 treliças, com dimensões variando entre 6,00 e 8,00 em média, na obra do mezanino. Para efeitos de comparativo, abaixo temos as Tabelas 1 e 2 para análise.

Tabela 1 – Material metálico para a estrutura do mezanino.

Fonte: Autor (2022).

Tabela 2 – Materiais que foram reaproveitados na obra do mezanino.

Fonte: Autor (2022).

Ao se analisar as tabelas acima, verifica-se o tamanho do impacto não só pelo lado econômico mas principalmente do ponto de vista ambiental, pois para a construção da parte estrutural do mezanino seriam necessários, segundo a Tabela 1, 5.406,80 kg de aço, no entanto, como optou-se pelo reaproveitamento de resíduos foi possível reciclar, conforme a Tabela 2, o equivalente a 3.343,44 kg de aço.

De acordo com Rodrigues (2021), o estágio crucial na fabricação de aço é a diminuição do minério de ferro para ferro metálico, e o combustível utilizado neste procedimento é o carvão coque que atua como um agente redutor nessa atividade, no entanto, o carvão existente aqui no Brasil não apresenta alta qualidade para esta finalidade e, além disso, a indústria siderúrgica é a maior consumidora de carvão coqueificado. Assim sendo, faz-se necessária a importação desse insumo para a produção de aço no país, fato que contribui no alto custo da produção de aço para construção civil.

Por fim, ao se analisar o custo que seria construir o mezanino sem reaproveitamento de resíduos, fica evidente que seria bem mais elevado do que com a reciclagem de insumos. Com a decisão de se reutilizar alguns materiais oriundos de demolição, o preço para a construção mencionada anteriormente teve uma redução de aproximadamente 62% no orçamento em relação às despesas destinadas a parte estrutural da edificação.

5 CONCLUSÃO
A construção civil faz parte da constituição da sociedade de qualquer país, pois ela é considerada um instrumento de desenvolvimento, seja pelo lado econômico, social ou ambiental. As atividades referentes a esse setor são as que mais geram resíduos no Brasil. Dessa forma, o gerenciamento desse material é de suma importância para o meio ambiente. Uma alternativa viável é o reaproveitamento dos detritos em outros processos construtivos. Por meio de soluções como essa é possível tornar as obras cada vez mais sustentáveis visto que o impacto ambiental será reduzido pelo fato de que não será retirada matéria-prima da natureza para a
produção de novos insumos para suprir a grande demanda da construção civil.

Pelo fato de ser um material totalmente reutilizável, os resíduos metálicos podem ser reaproveitados em outras atividades. Partindo deste princípio, o trabalho foi elaborado buscando realizar um estudo a respeito da reciclagem de estruturas metálicas resultantes de demolição em outras áreas dentro de uma mesma obra do tipo galpão industrial. Com os resultados obtidos na pesquisa, verifica-se que os objetivos traçados foram alcançados uma vez que o material selecionado, após passar por análise e revitalização, foi reaproveitado e cumpriu com a função ao qual inicialmente foi designado, mantendo a estrutura do mezanino de forma
estável e segura, sem apresentar qualquer instabilidade estrutural.

Diante do que foi abordado e, em especial, com o desenvolvimento da pesquisa, pode- se afirmar que os dados obtidos corroboram para o aprendizado relacionado à sustentabilidade, reaproveitamento e gestão de resíduos da construção civil. Assim sendo, apesar do conhecimento conquistado com este estudo, faz-se necessário a realização de outras pesquisas na mesma área com o intuito de ampliar as informações relacionadas ao tema tendo em vista a sua relevância não só para a construção civil como também para a sociedade.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8800: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de Janeiro, 2008. 237 p.

BRASIL. Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF: Palácio do Planalto. 2010b. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm >. Acesso em: 20 de agosto de 2022.

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1Discente do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Estado do Amazonas – Escola Superior de Tecnologia. e-mail: mcf.eng16@uea.edu.br
2Docente do Curso de Engenharia Civil da Universidade do Estado do Amazonas – Escola Superior de Tecnologia.
Doutora em Engenharia de Transportes (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia). e-mail: vsaraujo@uea.edu.br