EDUCAÇÃO PSICOMOTORA: DINÂMICA, JOGOS E SIMULAÇÕES

PSYCHOMOTOR EDUCATION: DYNAMICS, GAMES AND SIMULATIONS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7561647


Fabio José Antônio da Silva1
Regina Lucia Napolitano Felício2
Rejane Bonadimann Minuzzi3
Jéssica França Mendonça4
Lidiane Dias Reis5
Adriana de menezes6
Abraão Danziger de Matos7
Vinicius da Silva Freitas8
João Batista Lucena9
Wagner Charles Soares de Barros10
Cristina Brust11
Gislaine Schon12
Thayná Victorio Costa Cavalcanti13
Amanda Barbosa da Silva14
Ismael Jung Sanchotene15
Fabíola Pessoa Figueira de Sa16
Walmyr de Mota Matos Júnior17
Vanessa Santos da Silva18
Edna Maria Silva Oliveira19
Rafael Soares Silva20
Davi Milan21
Renata Alves dos Santos22
Paula Paraguassu Brandão23


RESUMO

A psicomotricidade é uma ciência que engloba as ações realizadas pelo ser humano, salientando a importância dela para o desenvolvimento infantil. Assim, o movimento permite que a criança explore o mundo exterior, pois sem ter esse contato com o concreto ela pode desenvolver um bloqueio e se isolar por toda a vida. Faz-se necessário conscientizar os profissionais da Educação Infantil da importância da psicomotricidade reconhecendo a partir das avaliações as dificuldades psicomotoras. Apresentarei algumas sugestões de exercícios que podem ser trabalhados pelo professor na sala de aula. Este artigo tem como objetivo refletir sobre a importância da psicomotricidade na Educação Infantil, buscando respostas para os problemas motores de crianças com idade de 0 a 6 anos, onde este artigo tem como metodologia revisões bibliográficas, pesquisas em sites e artigos.

Palavras-chave: Desenvolvimento. Educação Infantil. Psicomotricidade

ABSTRACT

Psychomotricity is a science that encompasses actions performed by human beings, emphasizing its importance for child development. Thus, the movement allows the child to explore the outside world, because without having this contact with the concrete, he can develop a block and isolate himself for the rest of his life. It is necessary to make Early Childhood Education professionals aware of the importance of psychomotricity, recognizing psychomotor difficulties from the assessments. I will present some suggestions for exercises that can be worked on by the teacher in the classroom. This article aims to reflect on the importance of psychomotricity in Early Childhood Education, seeking answers to the motor problems of children aged 0 to 6 years, where this article has as methodology bibliographic reviews, research on websites and articles.

Keywords: Development. Child education. Psychomotricity

1. INTRODUÇÃO 

A psicomotricidade é uma ferramenta que permite o desenvolvimento de diferentes capacidades, habilidades e habilidades corporais das pessoas. Atualmente, está inserida nos programas de educação infantil devido à sua importância no desenvolvimento das crianças, mas, mesmo assim, nem sempre lhe é atribuído o papel que merece.

Hoje em dia, é cada vez mais comum encontrar crianças com déficits de habilidades motoras, não apenas em idade precoce, mas também ao longo dos anos do ensino fundamental, principalmente aquelas que nunca participaram de atividade física fora da escola. O resultado de boas ou más habilidades motoras pode ser devido a motivos como falta de interesse das crianças ou mesmo que a escola não dê a devida importância.

Esses problemas não afetam apenas as habilidades motoras, mas também afetam a cognição, prejudicando a capacidade das crianças de processar informações de tudo o que percebem. Dessa forma o presente trabalho tem como objetivo apresentar a educação psicomotora no contexto do ensino e aprendizagem. Sendo assim, utilizando de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo documental, a fim de se chegar ao objetivo proposto.

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996 (Lei nº 9394), art. 29: 

A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, contemplando a família e a comunidade (LDBEN, 1996).

Conforme o artigo mencionado acima, é preciso que tenhamos profissionais capacitados e conscientes do quão importante é a psicomotricidade para que ocorra realmente o desenvolvimento integral de nossas crianças. “É através das relações com os outros que o ser se desenvolve e a personalidade constrói-se pouco a pouco.” (LE BOULCH, p.27, 1986).

Tomando a psicomotricidade como a ciência que engloba todas as ações realizadas pelo ser humano, representando suas necessidades e permitindo suas relações com os demais, está se torna indispensável no período da vida pré-escolar da criança (KRAMER, 1993).

Portanto, podemos afirmar que o movimento permite que a criança explore o mundo exterior, pois sem ter o contato com o concreto, a criança pode desenvolver um bloqueio e se isolar por toda a vida.

O esquema corporal e organização das sensações relativas ao próprio corpo tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Tornou-se necessário conscientizar profissionais da Educação Infantil do valor da psicomotricidade, podendo reconhecer através de pequenas avaliações as dificuldades psicomotoras que não foram trabalhadas, possibilitando o desenvolvimento integral da criança. 

PSICOMOTRICIDADE

Para que possamos compreender a importância da psicomotricidade na vida da criança, necessitamos conhecer exatamente o que essa ciência significa. O termo psicomotricidade, historicamente surgiu a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, no final do século XIX, quando se tornou necessário nomear as zonas do córtex cerebral localizadas além das regiões motoras (OLIVEIRA, 1996).

Na realidade, a história da psicomotricidade começou desde que o homem é humano, portanto, desde que o homem fala, pois a partir desse momento falará do seu corpo. A psicomotricidade se desenvolveu como uma prática independente no século XX, seu surgimento se deu no momento em que o corpo deixa de ser pura carne para transformar-se num corpo que fala (ALVES, 2003).

Podemos então, descrevê-la como integração psiquismo-motricidade, onde pode ser definida como resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura e o psiquismo como o conjunto de sensações, percepções, imagens, pensamentos, afeto, entre outras.

A função psicomotora integra a incitação, a preparação, a organização temporal, a memória, a atenção e a motivação. Sendo que, o movimento é fundamentalmente importante para o desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança, além de estimular a respiração e a circulação (PEREIRA, 2002).

A psicomotricidade está presente nos movimentos mais simples e naturais, e ao conhecer seus mecanismos notamos a importância de usar a psicomotricidade para a motivação dos alunos evitando o fracasso escolar (ALVES, 2003, p.137).

Na escola a psicomotricidade foi introduzida como um recurso psicopedagógico, onde visava solucionar distúrbios no desenvolvimento da criança. Surgiram, nesta abordagem, exercícios conhecidos da maioria dos professores, como: coordenação viso motora, ritmo, orientação espacial, esquema corporal, lateralidade (ALVES, 2003).

Iniciou assim a ideia de criar no ambiente escolar um espaço onde a expressão da criança acontece através de atividades psicomotoras espontâneas. Portanto, a educação psicomotora deixa para trás a postura rígida, de reabilitação, terapia para valorizar a expressão da criança (PEREIRA, 2002).

Essa nova visão da educação psicomotora, fez com que os psicomotricistas repensarem sua prática e elaborassem novas relações com a escola, pois deixaram as salas de aula, partindo assim para um diálogo mais próximo com a equipe pedagógica. A proximidade oportunizou discussões a respeito dos aspectos do desenvolvimento da criança, oferecendo maior espaço para as atividades livres, está se tornando uma intervenção importante para a observação dos alunos (KRAMER, 1993).

No nível institucional, seria importante agir para tornar possível a abertura de um espaço mais livre na escola, permitindo à criança desenvolver-se e elaborar espontaneamente os conflitos do crescimento, um espaço onde ela teria acesso a um encontro consigo mesmo, através de atividades psicomotoras livres, jogos criativos e dramatizações introduzidas numa relação mais inteira e afetiva entre ela e o educador (OLIVEIRA, 1996).

Portanto, ao entrar na escola a criança perde o prazer dos cuidados da maternagem e do contato direto com a mãe, assim ela conquista sua autonomia, cresce e elabora suas angústias de separação. Nesse período pré-escolar, testemunhamos uma reconstrução do mundo da criança, esta passa por mudanças cognitivas, passa do conhecimento prático sensório-motora o pensamento e organização do universo representativo, a linguagem evolui permitindo-lhe elaborar melhor suas aquisições cognitivas e tornar-se capaz de falar sobre sua própria história, expressando ideias e emoções, ou seja, o espaço das relações interpessoais lhe é desvendado (SMOLKA; GÓES, 1995).

Assim, a exploração do mundo e de si mesmo através da ação ligada à representação do vivido, leva a uma atividade incessante, essa movimentação é uma característica desta etapa e vai decrescer a partir dos seis anos de idade. Por isso Oliveira (1996) coloca que:

A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida em que dá condições à criança de se desenvolver melhor em seu ambiente. É vista também como reeducativa, quando trata de indivíduos que apresentam desde o mais leve retardo motor até problemas sérios (OLIVEIRA, p.25, 1996).

A prática educativa é preventiva, pois é uma ajuda à maturação psicológica pela via da ação e do jogo, tal prática está concebida como um itinerário de maturação, facilitando a passagem do prazer de agir para o prazer de pensar. A prática psicomotora educativa tem um caráter relativo, pois facilita a maturação psicomotora, estimulando a comunicação, expressão e simbolização, que são aspectos fundamentais para o acesso da criança ao pensamento operatório (MEYER, 2003).

O objetivo fundamental da prática psicomotora é facilitar a maturação das representações e dos afetos do grupo de crianças. O psicomotricista educador mantém-se como dinamizador da comunicação, permanece sempre atento para a resolução dos conflitos no grupo, pelo diálogo e pela firmeza, podendo garantir uma autoridade estruturante ao grupo de crianças (KRAMER, 1993).

A atitude constante é de favorecer com suavidade o prazer de agir, de transformar e de criar junto, como base da comunicação e do desenvolvimento, do sentimento de solicitude de uma para os outros, lembra regra de funcionamento, se ajusta às ações e aos jogos, mas propõe favorecer jogos de reasseguramento e os jogos de identificação, propondo torres para destruição, lugar para se desequilibrar, para cair, mas também um lugar para ser cuidado após jogos de acidente (hospital) ajuda a construir, fantasiar-se, envolver-se, ele regulamenta o material para evitar confusão e pode reduzir sua utilização, este estimula a instabilidade ou a agressividade (MEYER, 2003).

2. CONSTRUINDO O ESQUEMA CORPORAL: DESENVOLVIMENTO MOTOR

A expressão esquema corporal é muito importante para quem trabalha na área da psicomotricidade. Para J. Le Boulch (1982), o esquema corporal pode ser considerado uma intuição ou conhecimento imediato que temos no nosso corpo, seja em posição estática ou em movimento, em relação às diversas partes entre si, sobretudo nas relações com o espaço e os objetos que nos rodeiam.

Em 1911, surgiu a expressão esquema corporal, tendo um cunho essencialmente neurológico, portanto o córtex cerebral recebe informações das sensações e percepções táteis, térmicas, visuais, auditivas e de imagens motrizes, sendo que esta facilita a obtenção de uma noção e um esquema de seu corpo e de suas posturas, o esquema corporal armazena não apenas impressões presentes como as que já passaram (ALVES, 2003).

Reconhecendo tais esquemas como ações complexas, compostas de dados biológicos, interacionais, inter-relacionais e sociais. O conceito de corpo envolve conhecimentos intelectuais e conscientes e a função de seus órgãos. Portanto, nomear partes do corpo, afirma o que se percebe, reafirmando e permitindo verbalizar aquilo que é vivenciando, por isso que para uma criança agir através de seus aspectos psicológicos, psicomotoras, emocionais, cognitivos e sociais, ela precisa ter um corpo organizado (LE BOULCH, 1982).

Assim, é necessário, que o educador ajude seus alunos no sentido de fazer com que centrem sua atenção sobre si para maior interiorização do corpo, esse é um fator importante para que a criança possa tomar consciência de seu esquema corporal. Pela interiorização, a criança possibilita as primeiras aquisições motoras, sendo que a criança, que não interioriza seu corpo apresentará problemas no plano psicológico, como no prático (SMOLKA; GÓES, 1995).

Le Boulch (1982), afirmava que tal interiorização, tornava possível uma separação de movimentos que permitia um maior controle das práticas. O plano psicológico é o que garante a representação mental do corpo, dos objetos e do mundo em que vive.

A organização de um esquema corporal permite à criança sentir-se bem na medida em que seu corpo cresce, ela passa a dominá-lo, conhece-o melhor e pode utilizá-lo para alcançar seu maior poder cognitivo. Portanto, a criança deve possuir o domínio dos gestos, sendo que este é um instrumento que implica em equilíbrio entre as forças musculares, domínio de coordenação global e manual (ALVES, 2003).

Com a interiorização das sensações, as crianças aprendem a conhecer e diferenciar seu corpo como um todo, podendo sentir suas possibilidades como um todo, sendo que ela necessita possuir equilíbrio econômico e postural, sua lateralidade definida, independência dos segmentos corporais e domínio das pulsões e inibições (LE BOULCH, 1982).

2.1. Etapas do esquema corporal

Segundo Le Boulch (1982), o esquema corporal está dividido em três etapas fundamentais, na primeira etapa, chamada de corpo vivido que vai até os três anos de idade, esta corresponde à fase da inteligência sensório motora, onde um bebe pode sentir o meio como parte dele mesmo, à medida que cresce e com maior maturidade de seu sistema nervoso, amplia suas experiências, passando a diferenciar-se de seu meio ambiente. Torna-se visível, que nesse período a criança necessita movimentar-se, pois através desta, enriquece sua experiência subjetiva de seu corpo, amplia a experiência motora, as atividades são espontâneas, isso significa que elas não são pensadas.

A criança corre, brinca, trabalha seu corpo, passa então da chamada atividade espontânea para a atividade integrada, está dominada pela experiência vivida, pela exploração do meio, por sua atividade investigadora e incessante, a criança necessita ter suas próprias experiências, para que ela mesma sem a interferência da reflexão para que ajuste suas ações às situações novas. Assim, a criança adquire uma verdadeira memória do corpo, ao final desta fase pode-se falar em imagem do corpo, pois o “eu” torna-se unificado e individualizado. A segunda etapa, corpo percebido ou “descoberto” (três aos sete anos), corresponde à organização do esquema corporal mediante a maturação da função de interiorização, permitindo a passagem do ajustamento espontâneo, citado na primeira etapa, este controlado o qual propicia um maior domínio do corpo, alcançando uma dissociação dos movimentos voluntários, passando a aperfeiçoar e refinar os movimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de um espaço e tempo determinado (PEREIRA, 2002).

É através do espaço e das relações espaciais que nos situamos no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações, entre as coisas, em que fazemos observações, comparando-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas (Oliveira, 2000, p.74).

A própria criança descobre a sua dominância e com ela seu eixo corporal, passa a vê-lo como um ponto de referência para se situar e localizar os objetos em seu espaço e tempo, orientado a partir de seu próprio corpo, assimilando conceitos como embaixo, acima, direita, esquerda, adquirindo noções temporais como a duração dos intervalos de tempo, de ordem e sucessão, isto é, o que vem antes, depois, primeiro, último. Então ao final desta fase, o comportamento motor e nível intelectual podem ser caracterizados como pré-operatório, pois é submetido à percepção num espaço representado, mas centralizado sobre o próprio corpo (SMOLKA; GÓES, 1995).

Na terceira etapa, corpo representado (sete aos 12 anos), onde observamos a estruturação do esquema corporal, onde a criança amplia e organiza seu esquema corporal. No início, a representação da imagem do corpo consiste numa simples imagem reprodutora, esta é uma imagem de corpo estática e é feita da associação entre os dados visuais e sinestésicos, onde a criança cria uma imagem mental do corpo em movimento a partir dos dez anos, quando sua imagem de corpo passa ser antecipatória e não mais reprodutora (OLIVEIRA, 1996).

A criança de doze anos dispõe de uma imagem de corpo operatório, que se torna um suporte que permite efetuar e programar mentalmente suas ações de pensamento, tornando-se capaz de organizar e combinar diversas orientações, isto significa que os pontos de referência não estão mais centrados no próprio corpo, mas são exteriores ao sujeito, sendo que ele mesmo cria os pontos de referência que irão orientá-lo (OLIVEIRA, 1996).

2.2. Educação Psicomotora na escola

Quando refletimos sobre a educação psicomotora, logo pensamos na prevenção do desenvolvimento integral do indivíduo, nas várias etapas do seu desenvolvimento.

Visa desenvolver corretamente a aprendizagem de caráter preventivo do desenvolvimento integral do indivíduo das várias etapas do crescimento. Ajuda a criança adquirir o estágio de perfeição motora até o final da infância (sete a onze anos), nos aspectos neurológicos de maturação, nos planos rítmico e espacial, no plano da palavra e no plano corporal (Alves, 2003, p 133).

Através da psicomotricidade e dos órgãos dos sentidos a criança descobre o mundo e se auto descobre, pois a educação psicomotora deve ser analisada, como uma educação de base, nos primeiros anos da vida escolar do indivíduo, condicionando todos os aprendizados pré-escolares. A partir do momento que a criança passa tomar consciência de seu corpo, adquire habilmente à coordenação de seus gestos e movimentos, pois educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade, permitindo a prevenção das inadaptações difíceis de corrigir, quando já estruturadas (ALVES, 2003).

Como vimos, o movimento é um suporte que auxilia na aquisição do conhecimento do mundo, suas percepções e sensações, compreende-se então, que a educação psicomotora pode ser vista como preventiva, oferecendo condições à criança de se desenvolver melhor em seu ambiente, é vista também como reeducativa quando trata de seres que apresentam desde o mais retardo motor até problemas mais sérios, sendo que se tornou um meio de imprevisíveis recursos para combater a inadaptação escolar (HRAMER, 1993).

Compreendendo que o indivíduo não é feito de uma só vez, mas ele constrói-se a partir da interação com o meio e de suas próprias realizações e a psicomotricidade desempenha papel fundamental, sendo está o caminho, onde o desejo de fazer e de querer fazer depende do saber fazer e poder fazer. Le Boulch (1982), afirma que a educação psicomotora deve ser uma formação de base indispensável a toda criança, tanto dentro da ação educativa, afirmando que devemos unir o aspecto funcional ao afetivo, pois ambos devem caminhar lado a lado.

A relação da criança com o adulto, com o ambiente físico e com outras crianças se dá pelo aspecto afetivo ou relacional, por isso a maneira como o educador adentra no universo da criança, esse assume um aspecto primordial, pois é importante que o professor demonstre carinho e aceitação integral do aluno para que este passe a confiar mais em si mesmo, conseguindo então expandir-se e equilibrar-se (MEYER, 2003).

No entanto, a evolução adequada da afetividade é expressa através da postura, das atividades e do comportamento, pois uma criança fechada em si mesma possui falta de espontaneidade e tende a “fechar” seu corpo, isto é, tende a encolher-se e a trabalhar com tônus muito tenso (OLIVEIRA, 1996).

Assim, o bom educador psicomotor com disponibilidade e competência, pode ajudar em muitos seus alunos, podendo induzir situações que exijam eles ajam de maneira correta no ambiente, esperando alcançar um maior desenvolvimento funcional, este auxilia o aluno a tomar consciência dos próprios bloqueios e buscar suas origens e realizar exercícios adequados para um bom desempenho de seu esquema corporal.

Desenvolvimento é um processo ordenado, regular e contínuo que envolve todas as áreas do organismo e da personalidade. (…). A evolução psicomotora vai ser dirigida pela sucessiva integração dos seguintes fatores: precisão, rapidez e força muscular (ALVES, 2003, p.87). 

A partir do conhecimento do desenvolvimento do aluno, o educador poderá estimulá-lo de maneira que todas as áreas como psicomotricidade, cognição, afetividade e linguagem estejam interligadas. Então, o aluno sentir-se-á bem na medida em que se desenvolve integralmente, através de suas próprias experiências, da manipulação correta e constante de descobrir-se, isto será mais fácil a partir do momento que consiga satisfazer suas necessidades afetivas, sem bloqueios e sem desequilíbrios emocionais.

Várias são as dificuldades que surgem com uma aprendizagem falha na escola, algumas habilidades motoras começam a ser desenvolvidas dentro do ambiente familiar, mas não podemos negar o quão importante são os primeiros anos de escolaridade, também há alunos que chegam à escola com problemas motores, prejudicando seu aprendizado e que muitas vezes não são sanados em momento algum, ocasionado uma desadaptação escolar. A escola tem por objetivo a integração da criança na sociedade facilitando seu acesso ao mundo dos adultos (OLIVEIRA, 1996).

Do ponto de vista psicomotor, a criança tem uma aprendizagem significativa em sala de aula, pois se torna necessário uma condição mínima para que ela possa ter o domínio do gesto e do instrumento, significando que precisará usar as mãos para escrever e deverá possuir uma boa coordenação fina, habilidades para manipular objetos como lápis, borracha, régua, pois estando consciente de que as mãos são parte de seu corpo e ter desenvolvido padrões de movimentos, deve aprender a controlar sua musculatura de forma, a saber, dominar seus gestos (ALVES, 2003).

É importante para a criança possuir uma boa coordenação global, podendo se deslocar, transportar objetos e se movimentar em sala de aula e no recreio, sendo que muitos dos jogos e brincadeiras, realizados nos pátios das escolas, são uma preparação para a aprendizagem posterior, com eles a criança pode adquirir noções de localização, lateralidade, dominância e orientação espaço temporal. Um fator importante para a educação escolar é o desenvolvimento do sentido de espaço e tempo, isto significa que a criança se movimenta em um determinado espaço e tempo, uma adequada orientação espacial poderá capacitá-la a orientar-se no meio com desenvoltura (KRAMER, 1993).

A psicomotricidade é uma ferramenta para todas as áreas de estudos voltadas para organização afetiva motora, social e intelectual do indivíduo, afirmando que o homem é um ser ativo capaz de se identificar cada vez mais e de adaptar-se às diversas situações e ambientes (LE BOULCH, 1982). A criança conseguirá todas as possibilidades para movimentar-se e descobrir o mundo, tornando-se feliz, adaptada, livre e socialmente independente.

O trabalho do pedagogo é guiar o professor, motivando-o através de uma conscientização da validade de aplicação da mesma e despertando o seu interesse. Na Educação Infantil, o importante deve ser ajudar a criança a adquirir uma percepção adequada de si mesma, compreender suas possibilidades e limitações, auxiliá-la a se expressar corporalmente com maior liberdade para conquistar e aperfeiçoar as competências motoras (MEYER, 2003).

O movimento e a aprendizagem abrem um espaço para desenvolver habilidades motoras, que levam a criança a aprender e a conhecer seu corpo e a movimentar-se expressivamente. Portanto um saber corporal deve incluir as dimensões do movimento, indicando estados afetivos até representações de movimentos elaborados de sentidos e ideias, oportunizando um caminho para trocar afetividade (OLIVEIRA, 1996).

Facilitando a comunicação e a expressão das ideias pela criança, pode-se possibilitar a exploração do mundo físico e conhecimento do espaço, onde ela poderá apropriar-se da imagem corporal, da percepção rítmica, através de jogos corporais e danças, além de habilidades motoras finas, essas variadas atividades que facilitam à escrita.

3. EXERCÍCIOS PSICOMOTORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

O período de 3 a 7 anos corresponde a uma etapa intermediária que se deve a dois objetivos, onde o primeiro é permitir à criança alcançar seu desabrochamento no plano da vivência corporal alcançando com bem-estar o exercício da motricidade espontânea, prolongada pela expressão verbal e gráfica, no segundo, garante a passagem pela escola elementar tendo o papel de prevenir e evitar que a criança se depare com dificuldades na aquisição das primeiras tarefas escolares (ALVES, 2003).

Por isso, o aspecto do jogo é de fundamental importância, pois faz com que a criança se envolva, colocando seu sentimento e emoção através da ação. O jogo integra os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, existem também os jogos de imaginação e os simbólicos que possuem valor de expressão, já os jogos funcionais permitem à criança adquirir diversas práticas, por isso à pedagogia trabalha estes dois aspectos, a fim de permitir à criança executar sua motricidade global (KRAMER, 1993).

Torna-se importante que o educador respeite a atividade da criança, não interferindo em seus jogos, oferecendo-lhe seus próprios modelos, sendo que o aprimoramento e o enriquecimento da atividade prática diante ao trabalho de coordenação dinâmica geral.

A coordenação viso-manual e o conhecimento da motricidade fina das mãos e dos dedos possibilitam a organização das reações combinadas dos olhos e da mão dominante que começa no primeiro ano e só se completa no final da escolaridade primária.

Seus deslocamentos não são mais problemas, o seu equilíbrio está assegurado, a coordenação braços-pernas têm se adquirido e a motricidade é perfeitamente rítmica. Sobe e desce escadas rapidamente e tem adquirido muita “habilidade” no plano da coordenação óculo-manual. Beber sem derramar sem derramar o líquido, agarrar a colher e o garfo entre o polegar e o indicador. Deve ter adquirido um bom controle esfincteriano e começa a se vestir só. (Le Boulch, 1992, p.88).

Podemos realizar diversas atividades com nossos alunos que favoreceram o desenvolvimento do esquema corporal, segundo Fátima Alves (2003), a mímica, a exploração do próprio corpo, adivinhações, nomear partes do corpo, do corpo dos colegas, do corpo de bonecos, favorece a compreensão do esquema corporal, além de outras ações como juntar partes do corpo de um boneco, um quebra cabeça e desenhar uma figura humana parte por parte, contribuem para tal compreensão por parte das crianças.

Estes exercícios oferecem a oportunidade às crianças de assimilarem o que significa a lateralidade, pois colocar as mãos sobre o contorno de mãos e pés desenha na parede ou no chão, realizar gestos em frente ao espelho, colocar um fio esticado verticalmente entre o teto e o chão, de frente encostar o nariz e o umbigo no fio e perceber as partes do corpo que ficaram para fora, entre tantos outros, que podem auxiliar a criança no descobrimento da lateralidade (ALVES, 2003).

Os exercícios de coordenação são de extrema importância, desde que as crianças nascem, pois, esses estímulos favorecem o desenvolvimento físico-motor, sendo muitos os exercícios que contribuem para que isso aconteça, visando à coordenação dinâmica global, entre tais exercícios estão: rolar pelo chão, engatinhar para frente e para trás, andar, correr, pular, dançar, subir, relaxar e tencionar partes do corpo, chutar bolas (PEREIRA, 2002).

A coordenação viso-manual ou fina, também devem receber atenção especial, pois ao ser estimulado, tal coordenação favorecerá a criança, quando essa aprender a escrever, portanto escolher arroz, montar quebra-cabeças, modelar com argila, rasgar e amassar papéis de diferentes texturas, tocar instrumentos com teclados, recortar com os dedos, colar, pintar, perfurar, dobrar, modelar, bordar, traçar e contornar, são exercícios que o professor de educação infantil pode realizar com seus alunos (MEYER, 2003).

Temos exercícios específicos para a coordenação visual, como: seguir com os olhos e a cabeça os movimentos realizados pelo educador, andar ao redor de um objeto, sem desviar os olhos dele, seguir apenas com os olhos movimentos, etc.

Ao reproduzirmos ritmos variados com o próprio corpo e com objetos, ouvir histórias, ordenar cartões com figuras, favorecem a compreensão do tempo. Na orientação espacial, esta permite a aquisição de conhecimentos referentes a lançar, pular, em cima, embaixo, arremessar, entre outros, no qual o professor pode utilizar de exercícios simples como pedir que andassem pelo ambiente, explorando-o, pular amarelinha, montar quebra-cabeças, obedecer a ordens, arremessar bolas em espaços determinados, traçar uma linha entre contornos de linhas paralelas sem tocá-las, entre tantos outros exercícios que aprimoram tais habilidades nos alunos (ALVES, 2003).

Esse tipo de atividades estimula o corpo da criança para que possa se expressar e se comunicar de maneira adequada, entre os mais praticados estão fazer caretas, assoprar, mastigar, imitar sons, fazer bolhas de ar, jogar beijos, inspirar pelo nariz e expirar pela boca, contar a história de seus próprios desenhos, realizar passeios a pé, contar o que vê em fotos, lembrar palavras que comecem ou terminem com um som pedido.

A percepção possui cinco divisões, denominados como sentidos, que são eles: tato, olfato, visão e audição, podendo ser realizados exercícios que estimulem cada um desses sentidos. Portanto, no tato pode-se ficar de olhos abertos e depois fechados sentindo o próprio corpo e objetos, reconhecer colegas pelo toque, entre muitas outras. No que se refere ao paladar para estimulá-lo, pode-se experimentar coisas que tem e não tem sabor, provar alimentos com diferentes sabores, temperaturas e teores (LE BOULCH, 1982).

O olfato pode ser estimulado através de experimentações de odores como: perfumes, sabonetes, café, álcool, vinagre, chás e flores, reconhecendo objetos através do cheiro. A audição pode ser estimulada por brincadeiras como cabra-cega, ou imitação de sons e ruídos. Já a percepção visual recebe estímulos por atividades de identificação de cores, separar ou agrupar objetos altos e baixos, curtos e compridos, finos e grossos, largos e estreitos, cheios e vazios.

Nessas atividades propostas por Alves (2003), vemos a intenção de fornecer ao profissional de educação infantil um instrumento que facilite e enriqueça suas intervenções junto aos indivíduos, fazendo com que cada profissional crie e aja com seus próprios recursos e características, experimentando novas abordagens.

A prática de tais habilidades permite desenvolver uma consciência ampla do corpo, a qual ajuda a construir progressivamente o esquema corporal, importantíssimo para a construção da própria identidade (ALVES, p.70, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criança na idade pré-escolar necessita de profissionais que ofereçam a elas um clima de segurança e de confiança no decorrer desse período tão importante para o desenvolvimento da criança. 

Tal experiência deve ser vivenciada pela criança de maneira positiva, com o objetivo de oferecer a ela situações onde possa desenvolver a confiança em seu corpo e em seu desempenho motor e não fazer com que elas vivenciem situações desvalorizantes.

Assim, a função do adulto é favorecer o bom andamento das atividades, sendo necessário observar as reações das diferentes crianças, com a intenção de ajudá-las, de acordo com suas necessidades, não podendo oferecer ao aluno respostas prontas.

Através do afeto e da segurança que a criança pode ser ajudada, por isso o contato manual pode assegurar a ela o apoio que necessita. A expressão da experiência vivida do corpo é a prolongação natural do trabalho psicomotor.

Devemos então, incentivar uma relação saudável com o próprio corpo e o seu uso para a aprendizagem, estas práticas devem ser cultivadas por toda a vida escolar da criança.

Portanto podemos afirmar que a psicomotricidade é um elemento pedagógico que favorece o desenvolvimento infantil, colaborando para o reconhecimento de desajustes motores, fazendo com que a criança passe a identificar o seu próprio corpo e interagir com o mundo que a rodeia.

Com esse trabalho pretendemos compreender como a psicomotricidade pode estar relacionada ao desenvolvimento da criança, podendo agir sobre ela, evidenciando como o esquema corporal torna-se um elemento importante para a formação da personalidade da criança.

Então podemos deixar claro que essa discussão não se encerra de maneira tão fácil, é importante termos a consciência de que a questão da psicomotricidade merece muita reflexão, estudo e comprometimento de nós profissionais da educação.

REFERÊNCIAS

ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003.

KRAMER, Sonia. Com a pré-escola nas mãos. Uma alternativa curricular para a educação infantil. Editora Ática, Rio de Janeiro, 1993.

LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor (do nascimento até os 6 anos). Trad. Por Ana Guardrola Brizolara. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

OLIVEIRA, Gislene Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

MEYER, Ivanise Corrêa Resende. Brincar e viver: projetos em educação infantil. Rio de Janeiro, Wak, 2003.

PEREIRA, Mary Sue. A descoberta da criança. Rio Janeiro, Wak, 2002.

SMOLKA, Ana Luiza, GÓES, Maria Cecilia Rafael de (org.). A Linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas, SP. Papirus, 1995.


1Doutorado em Educação Física Instituição: Universidade Norte do Paraná
2Mestre em Educação, Neuropsicopedagogia, Psicopedagogia, Neuro Psicomotricista, Psicomotricista, Neurocienc Cientista, graduada em Tecnologia, Matemática e Pedagogia
3Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão social – FEEVALE – Novo Hamburgo
4Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba
5Doutora em Neurociência da Educação- FIOCRUZ. Mestre e Graduação em Enfermagem – EEAN-UFRJ
6Especialização em Psicopedagogia – Universidade Federal Fluminense – Niterói – RJ
7Formado em Gestão de Negócios pela Fatec/BS e Gestão Pública pela Univesp, com especializações na área da Educação, Administração e Informática, bem como Doutorando em Ciências Empresariais e Sociais pela UCES
8Doutorando em Ciências da Reabilitação – Centro Universitário Augusto Motta/RJ
9Mestrando em Educação – Instituto Federal do Rio Grande do Norte/RN
10Mestrado em Filosofia- Universidade Federal de Tocantis – (UFT)
11Mestrado em Ciências do Movimento Humano – Universidade de santa Catarina-UDESC e doutoranda – Universidade de santa Catarina-UDESC
12Mestrado em Ciências da Educação Especialista em Alfabetização e Letramento
13Especialista em gerontologia pela UERJ
14Doutoranda em Ciências do Movimento Humano – UDESC – Universidade do estado de Santa Catarina
15Doutorando em Ensino em Ciências pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) Instituição: Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
16Mestre em Ciências Ensino de Ciências Professora Auxiliar IIUniversidade Estácio de Sá (UNESA) Campus Centro I – Presidente Vargas
17Fisioterapia – UNESA
18Doutoranda em enfermagem e Biotecnologia pela UNIRIO
19Doutoranda em avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco (USF) – Especialista em Avaliação Psicológica Instituição: Universidade Federal do Amapá
20Pós-Doutor em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (UFRRJ); Pós-Doutor em Química pelo IQSC-USP;
21Professor mediador da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo); professor de educação básica na rede de ensino em Quintana-SP; pesquisador na Unesp – Campus – Marília – SP.
22Formada em Geografia na Universidade Regional do Cariri – Urca; Curso de especialização Lato Sensu
Pós -graduação em educação infantil; Especialização em educação especial com ênfase no atendimento educacional no AEE.
23Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Biociências – PPGEnfBio pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Instituição: Universidade Estácio de Sá (UNESA)