A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NA MÚSICA “SAIBA” DE ARNALDO ANTUNES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7556066


Tathiane Pereira Mendesi
Wellington Vieira Mendesii


Resumo: Este artigo tem como objetivo identificar o ethos construído discursivamente e argumentativamente pelo compositor da música “Saiba” de Arnaldo Antunes. Para fundamentarmos essa investigação. recorremos às teorias da Argumentação no discurso. Para isso aludimos aos estudos de Egss (2005), Amossy (2007), Mosca (2007), Maingueneau (2011), Pires (2012), dentre outros estudiosos. O corpus de investigação é formado pela música “Saiba” de autoria do cantor e compositor brasileiro Arnaldo Antunes, vocalista e guitarrista da banda “Titãs” durante dez anos de sua carreira. A análise nos mostrou que o compositor da música tenta constantemente construir um ethos discursivo em todas as partes da canção, trazendo à tona importantes personalidades históricas, homens que se destacaram em suas vidas, cada um uma época, fazendo uma analogia comparativa com os demais homens simples, com o intuito de (des)construir um ethos discursivo a partir das teorias da Argumentação e da análise do discurso. Por fim, concluímos que o compositor da música revela um ethos discursivo a partir da utilização de grandes personalidades da história mundial, fazendo com que o ouvinte reflita sobre a relação existente entre os grandes homens da história e sua relação com a noção de fragilidade da vida.

Palavras – chave: Argumentação. Discurso. Ethos. Música.

Introdução

A argumentação é uma atividade estruturante do discurso, pois é ela que marca as possibilidades de sua construção e lhe assegura a continuidade. É ela a responsável pelos encadeamentos discursivos, articulando entre si enunciados ou parágrafos, de modo a transformá-los em texto: a progressão do discurso se faz, exatamente, através das articulações da argumentação (KOCH, 2000, p. 159). Nesse sentido, os estudos aristotélicos trouxeram importantes contribuições para os estudos retóricos e a outras áreas do saber, como é o caso da Linguística. Assim, a partir de Aristóteles, a Retórica ganhou um novo impulso passando a ser definida como a arte de persuadir.

Dessa forma, os conectivos, bem como outros mecanismos da língua, “funcionam como operadores no discurso argumentativo, encadeando e determinando o valor dos enunciados, comprovando que a própria língua tem seus mecanismos para operar argumentativamente” (RIBEIRO, 2009, p. 31).

No que concerne ao gênero musical, entendemos que uma canção pode ser constituída por várias formas de discurso, com o objetivo de chamar a atenção dos ouvintes, ou seja, do público alvo, logo, orador de uma melodia utiliza argumentos para sustentar suas ideias e revela (independente de querer criar) um ethos discursivo.

Assim sendo, neste trabalho, buscamos responder a seguinte indagação: qual o ethos revelado na música? A partir da indagação levantada anteriormente, informamos que este artigo tem como objetivo analisar como o ethos é construído discursivamente pelo compositor da música “Saiba” de Arnaldo Antunes.

Para fundamentarmos a investigação, recorremos às teorias da Argumentação no discurso, logo, recorremos aos estudos de Egss (2005), Amossy (2007), Mosca (2007), Maingueneau (2011), Pires (2012) dentre outros autores e estudiosos que se debruçaram em investigar as teorias relacionadas ao tema.

O corpus de investigação é formado pela música “Saiba” de autoria do cantor e compositor brasileiro Arnaldo Antunes, vocalista e guitarrista da banda “Titãs”.

Esta pesquisa é do tipo qualitativa, já que nas palavras de Alves-mazzotti; Gewandsnajder (1999) a pesquisa de cunho qualitativa tem por base as análises e neste caso analisamos a música de Arnaldo Antunes de maneira descritiva, com intuito de revelar as marcas textuais discursivas do compositor na tentativa de construir um ethos discursivo direcionado para os sujeitos ouvintes da melodia.

O método de pesquisa se configura como dedutivo, pois partimos do geral para o particular, uma vez que fragmentamos a música em partes para verificarmos as marcas deixadas pelo autor na composição semântica deixadas nas palavras que formam a canção

O artigo se organiza em cinco partes, a primeira delas é esta introdução em que ora se apresenta o objetivo e a natureza do trabalho. Em seguida, a fundamentação teórica, composta pelas teorias que utilizamos para esta investigação, mais adiante uma simples, porém concisa metodologia para situarmos o nosso corpus e os critérios selecionados para a análise. Na seção seguinte, apresentamos as análises música que compõe o corpus do artigo, e por fim, a conclusão que encerra o artigo apresentando os resultados da investigação.

Fundamentação teórica

A linguagem é repleta de signos e símbolos linguísticos, comunicativos, semânticos e pragmático discursivos que atuam na construção dos sentidos do texto. Dentre os vários ramos da linguística podemos destacar as teorias da Argumentação, ambas caminham juntas na/para a construção social, discursiva e comunicativa da linguagem, através de técnicas de persuasão e convencimento e outra através de análises de discursos que permeiam pelo meio social. A Ruth Amossy apresentou a união entre a argumentação e a análise do discurso. Recorra à autora para fundamentar o artigo.

No que concerne a argumentação, entendemos que essa é uma teoria de base aristotélica, pois, como se sabe, surgiu na Grécia antiga, por meio dos estudos dos filósofos com destaque para Platão e Aristóteles que se debruçaram aos estudos da “Retórica”, o que culminou com o aprofundamento dos conhecimentos sobre o tema, principalmente, sobre a oratória, ou seja, para o discurso oral.

Mosca (2007, p. 297) aponta que “o terreno da argumentação parte dos lugares-comuns, das idéias partilhadas, enfim, mas o seu campo específico não é o das certezas, e sim do que é suscetível de discordância, visto abarcar a diversidade de opinião e o dissenso, em torno do objeto de discussão”.

Assim sendo, percebemos que a argumentação faz parte das coisas simples, dos momentos de diálogos. Estas situações comunicativas são permeadas por dúvidas que suscitam uma variedade de opiniões que envolvem sujeitos com ideologias e discursos diferentes, mas que compartilham convicções, pontos de vistas entre si.

Para Oléron, a argumentação é a maneira pela qual uma pessoa – ou um grupo – esforça-se para levar um auditório a adotar uma posição por meio de apresentações ou asserções – argumentos – que visam a demonstrar sua validade ou pertinência (OLÉRON, 1987, p. 4). Segundo Breton, “a argumentação pertence à família das ações humanas que têm como objetivo convencer. […] [Sua especificidade é] pôr em ação um raciocínio em uma situação de comunicação” (BRETON, 1996, p. 3 [1999, p. 7]).

Para Van Eemeren e o grupo de Amsterdam fundador da pragma-dialética, a argumentação se define como: uma atividade verbal e social da razão que visa a aumentar (ou a diminuir) aos olhos do auditório ou do leitor a aceitabilidade de uma posição controversa ao apresentar uma constelação de proposições destinadas a justificar (ou refutar) essa posição diante de um júri racional (VAN EEMEREN et al, 1984, p. 53).

Pode-se, entretanto, considerar, nos termos de Grize, que a argumentação considera o interlocutor não como um objeto a manipular, mas como um alter ego com quem compartilhará sua visão. Agir sobre ele é buscar modificar as diversas representações que se lhe atribuem, colocando em evidência certos aspectos de coisas, ocultando outros, propondo novos (GRIZE, 1990, p. 41).

Nesta pesquisa, deter-nos-emos à noção de ethos, embora, concordamos com Aristóteles (1998), quando este afirma, em sua obra, sobre a retórica, que não podemos dissociar a noção de ethos da de phatos. Assim, ressaltamos que concordamos com o autor e sabemos da importância de cada um deles na/para a formação argumentativa dos sujeitos a partir das manifestações através do discurso.

Nesse sentido, Eggs (2005, p.30) mostra que: “[há] dois campos semânticos opostos ligados ao termo ethos: um, de sentido moral […], engloba atitudes e virtudes como honestidade, benevolência ou equidade; outro, de sentido neutro ou ‘objetivo’ da héxis, reúne termos como hábitos, modos e costumes ou caráter”.

Entendemos conforme Maingueneau (1997) que quando se trata do ethos, temos dois campos um ligado ao lado moral dos sujeitos envolvidos, e um outro mais relacionado as todos os sentimentos e ideologias que constituem a formação de caráter desses mesmos sujeitos.

Sobre a concepção do ethos, Maingueneau (1997, p. 45) define como um ethos retórico. Nas palavras do autor, isto se dá, por meio de um duplo deslocamento. Para ele, o ethos

1) Distancia-se de qualquer preocupação “psicologizante”, para entender que os efeitos produzidos sobre o auditório “são impostos, não pelo sujeito, mas pela formação discursiva. 2) Recorre a uma concepção de ethos transversal à oposição entre o oral e o escrito, pois se concebe que mesmo os corpora escritos possuem uma voz e um corpo.

Desse modo, entendemos que ao falar de ethos o autor o divide em dois blocos: no primeiro, trata-se da noção relacionando-a aos efeitos de sentidos produzidos pelo auditório a partir da formação discursiva que cada sujeito carrega consigo, já o segundo, refere-se a questões de oralidade e escrita, uma vez que, o ethos é concebido pelo sujeito que possui a capacidade tanto oral como escrita para alimentar e conceber o seu discurso.

Maigueneau (2011), para falar sobre o tema aponta que “[…] quando o analista do discurso se volta para a argumentação, não é com a intenção de estabelecer o modelo dos processos de validação, mas de relacioná-los a um gênero do discurso histórica e socialmente situado”. (MAIGUENEAU, 2011, p.71).

Amossy (2007), aponta para uma questão em que a língua é cheia de possibilidades e que o discurso argumentativo depende das condições de produção que estão imbricadas no sujeito. Este, por sua vez nem sempre apreende o discurso com um certo grau de discernimento, pois muitas vezes as condições sociais e institucionais regem a formar a construção do ethos discursivo. Amossy (2007, p. 128), afirma que o sujeito: “depende das possibilidades da língua e das condições sociais e institucionais que determinam parcialmente o sujeito, fora dos quais a orientação ou a dimensão argumentativa do discurso não pode ser apreendida com discernimento”.

Logo, elencamos que o autor orienta o leitor para as várias possibilidades (de quê? De uso?) que existem na língua, desde os elementos textuais como também os sociais e discursivos, já que, a comunicação se materializa por meio do sujeito que ora fala, ora escreve, mas sempre com um objetivo, no caso do orador, esse objetivo se destina a convencer e/ou persuadir o auditório, revelando assim ethos discursivo a se vincula em nos discursos.

Incluímos ainda, que há uma heterogeneidade (defina) que perpassa pelo discurso, dessa forma há uma polifonia de vozes que se entrelaçam impulsionadas pela vontade e sentimentos do sujeito no momento do ato discursivo. Brandão (2004, p.83) afirma que:

[…] há uma heterogeneidade que é constitutiva do próprio discurso e que é produzida pela dispersão do sujeito. Essa heterogeneidade, entretanto, é trabalhada pelo locutor de tal forma que, impulsionado por uma “vontade totalizante” faz com que o texto adquira, na forma de um concerto polifônico, uma unidade, uma coerência, quer harmonizando as diferentes vozes, quer “apagando” as vozes discordantes.

Compreendemos que as diferentes vozes dão ao discurso uma unidade de coerência que resulta por apagar as vozes que são contrárias à posição enunciativa do orador, no momento do discurso, em que o sujeito faz uso da argumentação, organizando os argumentos de acordo com a vontade e necessidades.

Por fim, apreendemos que há uma correção de vozes discursivas, na/para a construção do ethos dos sujeitos, a partir das relações dialógicas e das técnicas argumentativas.

Análise da construção do ethos na música “Saiba”

Nesta seção, analisamos a música “Saiba” de Arnaldo Antunes, para tanto, basearemos nossa análise nas teorias da Argumentação e Análise do discurso com foco na noção de ethos. Dividimos a música em 6 fragmentos que serão posteriormente apresentados e analisados de maneira qualitativa e descritiva, com o intuito de mostrar ao leitor como o orador organiza as ideias e proporcionar os efeitos de sentido e a construção de ethos discursivo revelado no texto.

Vejamos o fragmento 1:

“Saiba,
Todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem”

Este excerto da música revela a construção metafórica entre grandes personalidades da história, fazendo uma analogia comparativa com o fato de que todos eles já foram bebês um dia, ou seja, orador revela o ethos de que todos os homens, por mais importantes que sejam ou tenham sido, um dia já foram crianças indefesas e frágeis. O argumento reforça ainda a ideia de que independentemente da classe social, da situação financeira, todo e qualquer homem rico ou pobre, um dia já foi apenas um neném e que precisou de um alicerce fraterno, ou seja, de um pai e de uma mãe que o orientasse e cuidasse dele.

Vejamos o fragmento 2:

“Saiba:
Todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu”

Nesta passagem da canção, identificamos o ethos se relaciona novamente ao período de infância, em que todos nós seres humanos temos inevitavelmente de viver. O orador recorre a três grandes homens que fizeram história pelo mundo, são eles o filósofo Arquimedes, o visionário Buda e o astrônomo Galileu. O orador recorre a imagem das três personalidades para mostrar ao auditório que assim como todos os demais seres humanos, os três homens citados também tiveram uma infância.

Vejamos o fragmento 3:

“Saiba,
Todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar”

No fragmento 3, ressaltamos que há uma analogia ao medo, sentimento que pertence à natureza humana, assim sendo, o orador apresenta três personalidades consideradas pela história como símbolos de fortaleza. Notamos a presença do ethos, através do qualo orador demonstra que essas pessoas também sentem medos, angústias e frustações assim como nós, e que eles não estão imunes aos sentimentos que assolam os seres humanos de modo geral, ou seja, todos apresentam dúvidas, receios e paranoias que fazem parte da psique humana.

Vejamos o fragmento 4:

“Saiba,
Todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano”

Nesta passagem, o orador nos remete a algo inevitável na vida humana, ou seja, a noção de morte. Percebe-se que a expressão do ethos é que todos estão predestinados ao mesmo fim. Mostra que ninguém está livre do destino final a que todo ser humano que é a morte.

Estes recursos utilizados pelo orador poderia ser uma forma de mostrar discursivamente que independentemente da posição social, cultural e/ou religiosa, todos os seres humanos morrerão e que, embora possa ser de maneiras diferentes, todos terão o mesmo destino. Deste modo, há uma tentativa de expressar o Ethos de vítima a partir do argumento de valor inquestionável em que o leitor é convencido de que não importa o tamanho do poder que o outro ou ele próprio possa ter, no final tudo se acaba e a morte chega para todos.

Vejamos o fragmento 5:

“Saiba,
Todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé”

No fragmento 5, no penúltimo excerto, o orador expressa o ethos de uma figura paterna, demonstrando para cada uma das importantes personalidades apresentadas no texto. O orador reforça ainda a ideia de quem não fora ainda será pai um dia, para em seguida mostrar ao auditório que figurantes importantes do mundo tiveram naturalmente um pai.

O orador recorre também à personagens bíblicos, revolucionários e esportistas tais como as figuras religiosas presentes na bíblia como: Moisés, Ramsés e Salomé, além de líderes revolucionários Lao Tsé e Ghandi, e ainda o lutador Mike Tyson e o ainda rei do futebol Pelé. Assim, a ideia de o orador em retomar estes nomes nos levam a noção de que estas personalidades de alguma forma figuram a paternidade. Uma vez que a figura paterna siginifca algo que passa segurança, apoio e confiança para os seus.

Vejamos o fragmento 6:


“Saiba,
Todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você”.

O último fragmento da música trata da figura materna, que, a nosso ver, reforça a ideia de origem genealógica de todo ser humano. Pois como sabemos todos têm ou tiveram uma mãe e está é de grande importância para a formação intelectual do sujeito. Logo, o autor da canção traz pessoas naturais de diferentes países para mostrar que não importa onde você nasce e vive, todos têm uma mãe.

Para reforçar ainda mais esta ideia percebemos a expressão do ethos de filho mesmo que em diferentes nações. Esse trecho traz três importantes personalidades mundiais que fizeram e ficaram na história, tais como: Nero, Che Guevara e Pinochet. Uma vez que Nero, faz parte da história da Roma antiga, foi um imperador que ficou conhecido por atear fogo na cidade de Roma. Che Guevara foi um revolucionário marxista, médico, autor, guerrilheiro, diplomata e teórico militar argentino. E por fim, Pinochet que foi um general do exército chileno e ditador do seu país. Isso nos leva a concordar com Meyer (1998) que afirma que o ethos desempenha, assim, uma função mais determinante: a credibilidade daquele que fala e propõe a sua autoridade. Ou seja, por sua autoridade as personalidades citadas desempenham uma credibilidade maior, porém mesmo assim ainda desempenham a função de ethos de filho. Dessa forma, segundo Aristóteles (2012), quase se poderia dizer que o caráter [ethos] constitui o principal meio de persuasão.

Por fim, percebemos que nos casos acima, o ethos adquire uma função argumentativa. Acerca disso, Meyer (2007, p. 35) afirma que “o éthos é o orador como princípio (e também como argumento) de autoridade”. Dessa forma, ressaltamos que a música em si, traz uma gama de possibilidades e tentativas para a construção do ethos discursivo, através das teorias da Argumentação em conjunto com a análise do discurso. Logo, elencamos que o compositor da música analisada revela traços argumentativos e discursivos que podem contribuir para a construção de um possível ethos discursivo por parte do ouvinte.

Conclusão

Este artigo teve como objetivo analisar, de forma descritiva, a construção ethos revelado na canção, tomando por base os estudos da argumentação.

A análise nos mostrou que o compositor da música tenta constantemente construir um ethos discursivo argumentativo algumas vezes de filho, vítima.

Assim sendo, de acordo com as teorias da Argumentação e Análise do discurso constatamos em nossa análise que o compositor da música tenta construir vários ethos discursivos com efeito vitimizado, todos eles relacionados a analogia comparativa entre personagens importantes da história mundial, porem que de alguma forma já foram indefesos. Construindo uma imagem de superioridade desmistificada pela contraposição de ideias em que o autor da canção mostra as fragilidades de cada um deles independentemente de quem foram.

A construção do ethos se dá do o início ao fim da música, constatamos a questão do nascimento, da infância, do sentimento de medo que pode estar associado a adolescência e juventude, a morte que é inevitável e natural para todos, pois tudo aquilo que vive, um dia morre. E finaliza com as questões genealógicas de parentesco (pai e mãe) figuras insubstituíveis e presentes na vida de qualquer ser humano independente da sua condição social, ou seu status alcançado durante a consolidação da personalidade na fase adulta.

Dessa forma concluímos que o compositor da música constrói um ethos discursivo a partir da utilização de grandes personalidades da história mundial, fazendo com que o ouvinte reflita sobre a relação existente entre os grandes homens da história e sua relação com a fragilidade da vida.

O ethos é (des)construído pelo fato da contraposição de ideias e argumentos que o autor traz nos versos da melodia, ao mencionar que os grandes homens que fizeram história, também tiveram uma infância, além de medos possivelmente relacionados ao período da adolescência e da juventude, e por fim, também viveram como os outros homens, independentemente da posição social e do status que tenham alcançado na vida adulta, tiveram o mesmo destino fatal e inevitável comum a todos os outros homens, ou seja, a morte que um dia chega para todos.

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i Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Pau dos Ferros.

ii Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN