EXERCÍCIOS EM IDOSOS X REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES DIÁRIAS

Autor:
Fabio Marcon Alfieri – Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – UNASP
Endereço para contato:
* Fábio Marcon Alfieri, rua Candal, n.01, apto.31 cep: 05890-030 – Jardim Amália- São Paulo – SP, telefone: 11- 9172 8161, fabiomarcon@bol.com.br // fabio.alfieri@unasp.edu.br
Resumo
O envelhecimento traz consigo limitações funcionais aos idosos prejudicando-os na realização de atividades de vida diária. O objetivo deste estudo foi o de verificar a influência de um programa regular de exercícios com ênfase na estimulação proprioceptiva sobre as condições de realização de atividades de vida diária. Participaram da pesquisa, 30 indivíduos saudáveis e sedentários (21 mulheres e 9 homens), com idade média de 63,09 ± 2,83 anos. Estes realizaram programa regular de exercícios físicos com ênfase na estimulação proprioceptiva durante 12 semanas, realizando 3 sessões semanais de 1 hora. O programa de intervenção envolveu: exercícios de aquecimento, flexibilidade, fortalecimento, alongamento, estimulação proprioceptiva e relaxamento. Os voluntários foram avaliados por meio de um questionário com perguntas objetivas sobre a condição de realização de algumas atividades cotidianas. Apenas um voluntário respondeu que uma atividade (andar em terreno irregular) não havia melhorado, outro respondeu que havia melhorado muito pouco quanto ao subir e descer escadas, os demais, responderam que havia melhorado muito ao realizarem as atividades, demonstrando que a prática regular deste tipo de exercício pode interferir positivamente na capacidade de realização de algumas atividades cotidianas o que pode contribuir para a diminuição de quedas entre os idosos.
Palavras-chaves: exercício, controle postural, atividades de vida diária.
Introdução
Com a senescência, diversas modificações acontecem na vida dos idosos, dentre elas: diminuição da acuidade visual, diminuição de força muscular, que de acordo com Nied e Franklin (2002), declina em 15% por década depois dos 50 anos e 30% após os 70 anos; diminuição da amplitude de movimento, diminuição na condução nervosa (aproximadamente 10% na velocidade de condução nervosa (VANDEVOORT, 1998), e redução das aferências vestibulares, Carter (2001) cita que indivíduos acima de 70 anos tem 40% menos de células sensoriais do que indivíduos jovens no ouvido interno.
Com estas e outras modificações, algumas atividades cotidianas como andar, equilibrar-se quando necessário, abaixar, subir e descer escadas, ficam afetadas, podendo culminar em quedas; sendo isto, algo muito comum entre os idosos. Alguns autores afirmam que aproximadamente 30% da população com mais de 65 anos cai uma ou mais vezes a cada ano (HERBERT et al, 2001; LAJOIE et al, 2002; ROGERS et al (2003). Lajoie et al (2002), acrescentam que 8-17% dos idosos caem várias vezes ao ano.
Cerca de 70% das quedas culminam com fraturas, sendo mais comuns as de quadril (KANNUS, 1999; KANNUS & KHAN, 2001). Somando-se às fraturas, existem as lesões musculares, sub-luxações, luxações, medo de novo episódio de queda, que pode levar o idoso a restringir suas atividades, ficando menos ativo, tornando-se depressivo, inseguro, etc.
Dentre as diversas formas de intervenção na melhoria de condição de vida dos idosos, a prática regular de exercício físico, é bastante difundida na literatura científica, pois além de promover alterações nos aspectos sociais, emocionais, também desempenha papel fundamental no aspecto físico dos idosos. O exercício físico pode interferir positivamente na vida do idoso fazendo com que as habilidades, capacidades físicas, intelectuais e emocionais possam ser aprimoradas alterando a dinâmica de vida dos idosos.
Focalizando estes efeitos, o presente estudo teve como objetivo verificar a influência de um programa regular de exercícios com ênfase na estimulação proprioceptiva sobre as condições de realização de atividades de vida diária.
Metodologia:
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Metodista de Piracicaba e todos os voluntários assinaram termo de consentimento para participação.
Participaram da pesquisa, 30 indivíduos (21 mulheres e 9 homens), com idade média de 63,09 ± 2,83 anos.
Os critérios de inclusão dos voluntários foram: ter idade entre 60 a 70 anos; ter índice de massa corporal entre 20–30 e realizar avaliação médica prévia. Indivíduos com antecedentes de patologias incapacitantes e cardiopatias, portadores de osteossíntese em membro inferior ou próteses articulares, ou aqueles que estiveram ausentes em 3 ou mais sessões de intervenção não foram incluídos no estudo. Também não foram incluídos indivíduos que realizavam atividade física regularmente (2 ou mais vezes por semana) ou apresentavam restrições para execução das atividades propostas.
Os voluntários foram submetidos a programa de exercícios com ênfase na estimulação proprioceptiva durante 12 semanas, realizando 3 sessões semanais de 1 hora.
O programa de intervenção envolveu: exercícios de aquecimento (5 minutos) no qual os voluntários realizavam caminhadas rápidas, jogavam bola uns para os outros, etc; exercícios de flexibilidade (10 minutos), no qual realizavam exercícios de alongamento da musculatura dos membros inferiores e tronco; exercícios de fortalecimento muscular de membros inferiores (10 minutos), realizavam exercícios com faixas elásticas de resistência progressiva para os grupos musculares: flexores e extensores do quadril e joelho, dorsiflexores e flexores plantares; e exercícios proprioceptivos (30 minutos), no qual realizavam exercícios em superfícies instáveis como bola terapêutica, balancim, disco de propriocepção, tábua de equilíbrio, cama elástica e caminhadas em diferentes superfícies como colchonetes, almofadas, isopor, etc; e exercícios de relaxamento (5 minutos). Foi dada ênfase nos exercícios de estimulação proprioceptiva e treinamento de equilíbrio estático e dinâmico.
Para avaliação dos indivíduos, foi aplicado um questionário que foi composto de questões objetivas que buscavam verificar a influência do programa de exercícios físicos sobre a condição de realização de algumas atividades cotidianas.
Resultados:
Quando indagados sobre a interferência provocada pelo programa de exercícios físico sobre algumas questões, dos 30 indivíduos (21 mulheres e 9 homens), com idade média de 63,09 ± 2,83 anos, apenas um reportou que uma atividade (andar em terreno irregular) não havia melhorado, outro respondeu que havia melhorado muito pouco quanto ao subir e descer escadas, os demais, na sua maioria responderam que haviam melhorado muito, no que se refere às outras atividades, conforme é demonstrado na tabela 1.
Tabela 1- Distribuição do número de voluntários (n=30) que responderam sobre como o programa de exercícios interferiu em algumas atividades cotidianas.
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Discussão:
A prática regular de exercício físico, de acordo com Kannus e Khan (2001) pode melhorar a deambulação, o equilíbrio, a coordenação, a propriocepção, o tempo de reação e a força muscular até mesmo em indivíduos com mais de 70 anos. Desta forma, os resultados do presente estudo confirmam tais afirmações destes pesquisadores, ou seja, a atividade regular permite a melhora no desempenho de realização de certas tarefas cotidianas que envolve tais capacidades físicas citadas pelos autores.
Algumas tarefas como levantar-se de uma cama ou de uma cadeira, são tarefas importantes na vida dos idosos, pois segundo Shumay-Cook & Woollacott (2003), tarefas como a de erguer-se a partir da posição sentada, são freqüentemente associadas às quedas de idosos, os autores relatam que pesquisas indicam que 8% dos idosos com mais de 65 anos residentes em comunidades, apresentam problemas ao se levantar da cadeira ou cama. Desta forma, os resultados obtidos pelo programa de exercícios são benéficos e podem interferir positivamente a fim de evitar as quedas, pois mais da metade dos idosos reportou que havia melhorado muito em relação a atividade de abaixar-se, e mais de 65% afirmou que a tarefa de levantar-se da cama havia melhorado muito após a participação no programa de exercícios.
Shumay-Cook & Woollacott (2003) relatam que programas de exercícios em idosos melhoram a mobilidade, interferindo na capacidade de andar. Este fato pode ser constatado pelas respostas dos voluntários sobre andar normalmente, neste item, 80% dos idosos afirmaram que a tarefa de andar normalmente melhorou muito após a intervenção e cerca de 60% reportou que esta melhora também foi percebida ao andar em terrenos irregulares.
Outra questão abordada neste estudo foi a questão de subir e descer escadas que melhorou muito para 70% dos voluntários. Esta melhora pode também estar associada à diminuição da propensão de quedas nestes idosos, pois segundo Shumay-Cook & Woollacott (2003), subir e descer escadas está associada à mais alta proporção de quedas entre os idosos nos locais públicos.
Estes fatores analisados neste estudo foram melhorados devido à intervenção proposta, pois a prática de exercícios físicos traz benefícios sobre as atividades cotidianas como levantar, abaixar, andar, contornar obstáculos, pois estas atividades dependem de força, velocidade, agilidade e equilíbrio.
A prática regular de exercícios físicos pode melhorar tais capacidades físicas nos idosos. Alfieri et al (2004) mostraram que idosos que participaram de grupo de intervenção por meio de exercícios de controle postural tem a questão da mobilidade funcional aprimorada, os autores verificaram tal melhora pelos resultados do teste Timed Up & Go que demonstrou que indivíduos que participaram de programa de intervenção foram mais rápidos na realização do teste do que indivíduos de grupo controle, mostrando que a intervenção pôde melhor a agilidade, a capacidade de levantar e abaixar e contornar obstáculos, situações estas, encontradas no teste citado. Alves et al (2004) também exemplificam os benefícios obtidos referentes às capacidades de levantar, andar e equilibrar em indivíduos submetidos a programa regular de exercícios físicos, porém os autores realizaram hidroginástica com seus voluntários.
Lord & Castell (1994), realizando intervenção através de um programa de exercícios gerais que envolvia aquecimento, resistência cardio-respiratória, flexibilidade e força muscular e períodos de desaceleração durante 10 semanas com 40 indivíduos com média de idade de 62,4 anos, verificaram que após a intervenção, os sujeitos mostraram melhora na força muscular de extensores de joelho, melhora do tempo de reação e melhora da estabilidade postural
Outros autores como Kronhed et al. (2001), Rogers et al. (2001), Hue et al. (2001) que realizaram programas de intervenção por meio de exercícios proprioceptivos em indivíduos idosos, também encontraram melhora na estabilidade e no equilíbrio corporal nos seus voluntários, mostrando que a prática regular de exercício físico pode contribuir para a melhora desta capacidade física, o que certamente pode influenciar positivamente na questão da realização das mais diversificadas tarefas do dia-a-dia, tais como levantar, sentar, vestir, andar, entre outras.
Conclusões:
O programa proposto foi capaz de influenciar positivamente na realização de tarefas do dia-a-dia dos indivíduos idosos, mostrando desta forma, os benefícios que a prática regular de exercícios com ênfase na estimulação proprioceptiva pode trazer.
Referências Bibliográficas:
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