REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7535874
1Davit Matuchaki Dos Santos;
2Tereza Ramos de Almeida.
RESUMO:
O trauma faz parte de uma das principais causas de morte por fatores externos no Brasil e no mundo, principalmente na população com faixa etária menor que 45 anos de idade podendo se dar de diversas formas, sendo elas: por meios mecânicos, elétricos, químicos e também por irradiação, além de ser classificado quanto ao tipo ou de acordo com o ferimento provocado, sendo ele aberto ou contuso. OBJETIVO: Identificar e conhecer os meios diagnósticos das lesões decorrentes do trauma abdominal contuso, visando a identificação precoce dessas lesões. Além de compreender o papel da enfermagem dentro da equipe multiprofissional no atendimento a esse perfil de pacientes. MÉTODOS: Essa pesquisa tem como proposta metodológica uma revisão integrativa de literatura, que permite a análise de estudos já publicados, principalmente de livros e artigos científicos, favorecendo a discussão e conclusão a cerca de um determinado tema ou área de conhecimento, Para identificação e seleção dos estudos foi realizado um levantamento bibliográfico com publicações das bases de dados: Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde (LILACS); Scientific Eletronic Library Online (SciELO); e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE); Entre os meses outubro e dezembro de 2022, publicados nos últimos cinco anos (2017-2022), como resultados da busca foram selecionados 16 artigos e utilizados para compor a amostra. RESULTADOS: Referente a abordagem dos estudos encontrados para compor esta amostra, 50% dos estudos se concentraram em discutir a avaliação dos meios diagnósticos bem como as demandas e os desafios encontrados durante o manejo de vítimas de trauma fechado e 50% tiveram como alvo a assistência de enfermagem e as medidas de segurança desses pacientes. CONCLUSÃO: O estudo evidenciou que a utilização dos métodos diagnósticos disponíveis no cenário de atendimentos às emergências, se apresentam como eficientes na investigação de lesões abdominais, apresentando na maioria das vezes uma sensibilidade e especificidade adequadas para esses tipos de lesões. Em relação à assistência de enfermagem, percebe-se a influência de vários fatores internos e externos à unidade de emergência que interferem tanto positiva quanto negativamente tanto na comunicação entre a equipe quanto no desenvolvimento da assistência aos pacientes vítimas de trauma.
Palavras-Chaves: Traumatismo Abdominal. Assistência de Enfermagem. Emergência.
INTRODUÇÃO
O trauma faz parte de uma das principais causas de morte por fatores externos no Brasil e no mundo, principalmente na população com faixa etária menor que 45 anos de idade. Nesse contexto, as lesões abdominais, muitas vezes não detectadas precocemente, são uma das principais causas evitáveis de morte em pacientes vítimas de trauma. (MACEDO, 2022).
O trauma abdominal pode ser descrito pela transferência de energia do meio externo para a região do abdome, podendo se dar de diversas formas, sendo elas: por meios mecânicos, elétricos, químicos e também por irradiação. É possível ainda o classificar quanto ao tipo ou de acordo com o ferimento provocado, sendo ele aberto ou contuso (ATLS 2012).
No que diz respeito ao trauma abdominal contuso que é de interesse para a pesquisa, se trata de um impacto direto sobre o abdome, que pode causar compressão ou esmagamento de vísceras abdominais e da pelve. Tais forças deformam os órgãos sólidos e vísceras ocas, podendo causar sua ruptura, provocando hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo intestinal e, consequentemente, peritonite. Pacientes vítimas de acidentes automobilísticos po exemplo, podem sofrer lesões decorrentes das forças relacionadas à desaceleração nas quais as estruturas fixas e não fixas do corpo sofrem movimentos em sentidos opostos. Nessas vítimas, os órgãos frequentemente acometidos são: o baço (40 a 55%), o fígado (35 a 45%) e o intestino delgado (5 a 10%). Além disso, observa-se também uma incidência de 15% de hematoma retroperitoneal nos pacientes submetidos a laparotomia (ATLS 2012).
A vítima de trauma abdominal, deve ser considerada sempre um paciente de alto risco devido o desconhecimento imediato das lesões ocorridas e pela facilidade de, em um curto período de tempo, apresentar funções vitais instáveis. Em razão disso é imprescindível que os profissionais das equipes multiprofissionais na área da saúde unam esforços necessários ao atendimento desses pacientes, para assisti-los de forma efetiva e eficaz, em tempo hábil, de modo a prevenir e ou reduzir as sequelas resultantes (BESERRA et, al. 2008).
Para isto a Portaria nº 1.366, de 8 de julho de 2013, que estabelece a organização dos Centros de Trauma, estabelecimentos de saúde integrantes da Linha de Cuidado ao Trauma da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), traz em seu artigo n°4, em seus incisos II e III como diretrizes, a disponibilização e acesso aos recursos diagnósticos e terapêuticos necessários ao atendimento ao paciente vítima de trauma o mais rápido possível (BRASIL,2013).
Durante o atendimento pré-hospitalar na abordagem ao trauma abdominal a anamnese e o exame físico deve ser realizado de forma minuciosa e sistemática sendo este último, em uma sequência padrão: inspeção, ausculta, percussão e palpação a fim de identificar ou descartar as possíveis lesões (JARVIS, 2016).
O alto grau de morbimortalidade e sequelas apresentadas pelos pacientes, bem como a complexidade e abrangência que envolve o cuidado a este tipo de paciente, exigem da equipe multiprofissional ações articuladas, integradas e contínuas às vítimas. O profissional enfermeiro desempenha papel fundamental na assistência a esses pacientes, devendo programar e priorizar a assistência a ser prestada, considerando as diferenças que se apresentam nessas vítimas e estabelecer medidas preventivas e reparadoras, visando à assistência integral e humanizada que atenda às necessidades humanas básicas. (CAVALCANTI 2013).
Apesar do conhecimento já construído ao decorrer dos anos acerca do tema, o estudo é relevante pois é necessário identificar e conhecer os meios diagnósticos das lesões decorrentes do trauma abdominal contuso, visando a identificação precoce dessas lesões. Além de compreender o papel da enfermagem dentro da equipe multiprofissional no atendimento a esse perfil de pacientes. Desta forma elenca-se como questionamentos: Qual a relevância do diagnóstico precoce e a assistência de enfermagem no trauma abdominal contuso.
METODOLOGIA
Essa pesquisa tem como proposta metodológica uma revisão integrativa de literatura, que permite a análise de estudos já publicados, principalmente de livros e artigos científicos, favorecendo a discussão e conclusão a cerca de um determinado tema ou área de conhecimento.
Para identificação e seleção dos estudos foi realizado um levantamento bibliográfico com publicações das bases de dados: Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde (LILACS); Scientific Eletronic Library Online (SciELO); e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE); Entre os meses outubro e dezembro de 2022, publicados nos últimos cinco anos (2017-2022). Para a pesquisa desses artigos foram utilizados os seguintes descritores: “traumatismo abdominal”, “assistência de enfermagem” e “emergência”, validados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da BVS.
Como critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados artigos que retratem o diagnóstico de lesões abdominais decorrente do trauma contuso e a assistência de enfermagem frente a esses pacientes, tais artigos em textos completos disponíveis para análise; publicados nos últimos 05 anos (2017-2022), nos idiomas português, e artigos encontrados a partir dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da BVS.
RESULTADOS
Ao concluir a busca nos bancos de dados obteve-se um e após a aplicação dos filtros obteve-se a amostra de 299 artigos, então procedeu-se uma leitura com ênfase no título de todo material selecionado com o objetivo de verificar se os artigos consultados eram de interesse para a pesquisa, obtendo-se o total de 20 artigos.
Após a aplicação dos critérios de exclusão, análise dos resumos, resultados e conclusões, selecionaram-se 16 artigos, sendo 07 da LILACS, 06 SciELO, e 03 da MEDLINE. Procedeu-se à leitura interpretativa, baseada nas ideias centrais de cada artigo identificadas através de perguntas norteadoras como: Qual a relevância do diagnóstico precoce no trauma abdominal contuso? Qual é o papel da enfermagem diante do trauma abdominal contuso? E Quais são as dificuldades identificadas no manejo de pacientes com esse tipo de trauma?
Como resultados da busca foram selecionados 16 artigos e utilizados para compor a amostra. De acordo com a localização geográfica os estudos foram realizados nos seguintes estados brasileiros: São Paulo (06), Paraná (04), Minas Gerais (02), Rio Grande do Norte (01), Bahia (01), Santa Catarina (01) e Rio Grande do Sul (01). Quanto ao cenário onde foram realizados os estudos estão assim descritos respectivamente: Unidade de Emergência de Hospital Público (10), Unidades de Pronto Atendimento (02), Santas Casas de Misericórdia (02) e Hospitais Universitários (02).
Em Relação ao delineamento dos estudos encontraram-se organizados da seguinte forma: Descritivo Exploratório por meio de entrevistas com Profissionais (07), Análise Retrospectiva (08) e Estudo Longitudinal Observacional (01). No que diz respeito às distribuições dos anos de publicação das pesquisas maioria dos artigos foram publicados no ano de 2017 com seis publicações, seguido de 2018 com três, 2019, 2020 e 2021 ambos com dois artigos abordando a temática em estudo.
No que se refere a abordagem dos estudos encontrados para compor esta amostra, 50% dos estudos se concentraram em discutir a avaliação dos meios diagnósticos bem como as demandas e os desafios encontrados durante o manejo de vítimas de trauma fechado e 50% tiveram como alvo a assistência de enfermagem e as medidas de segurança desses pacientes.
DISCUSSÃO
Diante do intuito de investigar a avaliação dos meios diagnósticos e a assistência da equipe de enfermagem, foram estabelecidas duas categorias que permitem melhor compreensão da temática abordada: 1) Formas diagnósticas abordadas 2) Assistência de enfermagem.
O que os autores abordaram em relação aos métodos diagnósticos?
No atendimento a uma vítima de trauma contuso, a investigação do mecanismo deste, possibilita o levantamento de possíveis lesões a serem investigadas, permitindo o julgamento profissional de quais as chances de as diferentes lesões ocorrerem em determinado cenário. Estas informações podem ser adotadas na priorização de atendimento intra-hospitalar bem como na realização de exames complementares para chegar à conclusão do diagnóstico (PARREIRA, J. G. et al. 2017).
A Tomografia computadorizada (TC) um dos exames complementares, é definida como um método de diagnóstico por imagem que se utiliza de radiação e permite produzir uma secção do corpo humano em qualquer plano, possibilitando a identificação de alterações e lesões as estruturas do corpo (CARREIRA, DGG, 2011). De acordo com PIMENTEL, S. K. et al. (2019), mesmo com algumas limitações estatísticas, a Tomografia abdominal computadorizada se mostra como um método eficiente para a busca de lesões de vísceras e de líquido livre na cavidade, apresentando uma sensibilidade e especificidade adequadas para lesões abdominais.
Ainda de acordo com o mesmo autor a tomografia para avaliação de trauma abdominal apresenta uma sensibilidade de 92% a 97% e especificidade de 98,7%11 tendo a capacidade não apenas de definir a presença da lesão e a sua extensão, mas também de excluir outras lesões, evitando intervenções cirúrgicas desnecessárias (PIMENTEL, S. K. et al. 2019).
Em contrapartida Moura (2019), aponta algumas desvantagens relacionadas ao uso da tomografia, mesmo que seja considerada “padrão ouro” para identificar lesões abdominais. Trazem maior custo e tempo de permanência hospitalar das vítimas de trauma além da exposição à radiação ionizante, bem como a riscos pela utilização do contraste endovenoso quando aplicado.
Este mesmo autor aponta que a ultrassonografia abdominal tem uma sensibilidade de até 90% quando realizada por radiologista experiente. Tal método quando associado com variáveis clínicas, tem sua sensibilidade equiparada à da Tomografia computadorizada conforme demonstrado em seu estudo. (MOURA, F. H. B. et al, 2019).
Corroborando com essa mesma ideia Oliveira, et al. (2019) concluiu em seu estudo que abordou a realização de ultrassonografia na triagem inicial do trauma abdominal (FAST), a utilização dessa ferramenta como um exame rápido, de baixo custo e que gera informações prognósticas importantes, em pacientes estáveis hemodinamicamente ou não e é potencialmente útil visto que, assim, em pacientes estáveis hemodinamicamente, reduz-se a quantidade de TC de abdome solicitada e, potencialmente, evitando transferências hospitalares para avaliação de especialistas.
Assistência de Enfermagem nas emergências traumáticas:
A Enfermagem é regulamentada pela Lei 7.498/1986, que dispõe em parágrafo único que sua equipe é composta pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitando os níveis de habilidades (BRASIL, 1986).
Diante da equipe multidisciplinar a atuação do enfermeiro vem sendo palco de diversas discussões envolvendo seu perfil de liderança, visando a melhor atuação de toda a equipe envolvida no cuidado, articulando as ações entre diferentes profissionais, estabelecendo relações de cooperação, construção e manutenção de vínculos, além da mediar possíveis conflitos (SILVA B.F.F et al, 2021).
E embora a colaboração interprofissional encontre-se atrelada às situações de emergência e embora reconhecida a interdependência de ações como um dos fatores essenciais para realização do cuidado, de modo geral, a colaboração entre as equipes muitas vezes condicionam-se a cuidados realizados de forma mais isoladas ou pouco articuladas (GENERATOR, M.2022).
Coifman (2021), aponta a necessidade de mudança no paradigma assistencial do biomédico para o interprofissional, sendo necessário que os profissionais reconheçam a importância do trabalho em equipe, estabeleçam relações de trabalho centradas no diálogo com ações de cuidado integradas, além da mudança de comportamento relacionados à prática comunicativa interprofissional e, em parceria com a gestão organizacional, planejem e implementem ações que contribuam para a comunicação efetiva, melhorando ferramentas já utilizadas.
Referente à comunicação efetiva entre a equipe, a OMS criou o projeto Aliança Mundial para a Segurança do Paciente com participação da Comissão Conjunta Internacional Joint Commission International (JCI) onde estabeleceu as seis metas internacionais de segurança do paciente, e dentre essas metas destaca-se a melhoria na eficácia da comunicação. Tal meta concentra-se em melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde principalmente na área hospitalar, por se tratar de um ambiente com um grande fluxo de informações e com equipe multiprofissional com grande demanda de atividades que necessitam de constante troca de informações (JCI, 2011; BRASIL, 2014).
De acordo com Ferro D et al (2018), a comunicação efetiva ainda foi apontada em seu estudo, como essencial para o desenvolvimento do trabalho em equipe, além de contribuir para o cuidar, possibilitando a criação de vínculo entre o usuário e o serviço, visto que a ausência da mesma leva os profissionais ao absenteísmo, devido à desmotivação relacionada ao processo de trabalho.
Amaral EMS (2017), em sua pesquisa mostrou que a articulação entre as ações do processo de trabalho é refletida, principalmente, no sincronismo entre os membros no que diz respeito ao comprometimento do cuidado ao paciente crítico com o objetivo de produzir o melhor resultado das intervenções de forma coordenada, crucial para uma assistência eficaz. Em relação à interação, enfatizou-se a complexidade das relações humanas, com reconhecimento das situações de conflito.
O conflito muitas vezes advém da interação entre pessoas diferentes no ambiente de trabalho, mostrando a necessidade do empenho de ambas as partes para que esse convívio seja o mais equilibrado possível. Referente aos aspectos físicos e psicológicos da equipe, destacou-se que a estrutura física, falta de equipamentos, é fonte geradora de ansiedade, estresse e frustração, que podem prejudicar as relações no trabalho e na assistência. Nesse aspecto, observa-se a necessidade de atenção dos gestores a fim de desenvolver estratégias que possam reorganizar o processo de trabalho dos serviços hospitalares de emergência (2017).
CONCLUSÃO:
O estudo evidenciou que a utilização dos métodos diagnósticos disponíveis no cenário de atendimentos às emergências, se apresentam como eficientes na investigação de lesões abdominais, apresentando na maioria das vezes uma sensibilidade e especificidade adequadas para esses tipos de lesões. Quando, desde que aplicado com infraestrutura adequada e profissionais devidamente habilitados, pode ser realizado de maneira rápida em pacientes com instabilidade hemodinâmica sem influenciar de forma significativa na mortalidade e no prognóstico, facilitando a formulação de um plano terapêutico mais seguro para cada um e evitando o uso de abordagens cirúrgicas desnecessárias;
Em relação à assistência de enfermagem, percebe-se a influência de vários fatores internos e externos à unidade de emergência que interferem tanto positiva quanto negativamente tanto na comunicação entre a equipe quanto no desenvolvimento da assistência aos pacientes vítimas de trauma. Tais fatores dizem respeito à falta de padronização de condutas assistenciais, profissionais inexperientes, déficit no relacionamento interpessoal além do paradigma assistencial biomédico ainda implantado no cenário onde é desenvolvido a assistência da equipe multiprofissional.
Portanto faz-se necessário a educação continuada incentivando o melhor envolvimento dos profissionais das diferentes categorias, bem como adição de metodologias para avaliar a qualidade da assistência prestada, além de instituir melhorias quanto a estrutura física e capacitação de profissionais para realização de exames diagnósticos, tais medidas poderão contribuir para identificação de lesões de forma precoce, redução da realização de exames invasivos desnecessários e melhor qualidade na assistência.
REFERÊNCIAS:
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1Enfermeiro, Residente Multiprofissional em Urgência e Trauma. Vilhena/RO.
Email: davitmatuchakisantos@gmail.com.
2Enfermeira, tutora da Residência Multiprofissional em Urgência e Trauma/Enfermagem. Vilhena/RO.