A ESCOLA QUE NÃO SE VÊ: INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO INCLUSIVA COMO POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO DA INDISCIPLINA ESCOLAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7520391


Gabriel Donato Ramos Couto1
Luciane dos Santos Aquino1
Gustavo de Brito Siqueira Campos1
Lindalva Neto da Silva Lourenço1
Ana Patrícia de Menezes Lima1
Maria do Socorro de Brito Siqueira Campos1
Sandra Cristina Oliveira1
Elisangela Matos de Brito1
Francisco de Assis de Siqueira Campos1
Lucineia Barros Castilho1
Lídia dos Santos Araújo1
Marcela Nunes Santo1
Pablo Kristian Trindade Campos1


RESUMO: As discussões em torno dos eixos educativos da interdisciplinaridade e educação inclusiva frente à problemática da indisciplina escolar têm se expandido nos últimos anos. Assim, este artigo tem como principal intuito identificar como a interferência de comportamento indisciplinar compromete o processo de ensino e aprendizagem bem como, apontar soluções possíveis para uma intervenção visando uma educação inclusiva. Como percurso metodológico, foi realizada uma revisão de literatura por meio de livros, revistas científicas e na legislação vigente. Ao analisar o lado da escola que é ignorada por muitos, aquela escola que não se vê, é possível notar que os problemas gerados por indisciplina vêm se tornando cada vez mais comuns na escola, porém não se pode afirmar que a causa está no ambiente escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade. Indisciplina Escolar. Educação Inclusiva.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As discussões sobre interdisciplinaridade e educação inclusiva vêm se expandindo nos últimos anos, esse desenvolvimento se justifica no sentido de que por meio da educação inclusiva e da interdisciplinaridade, a educação em geral é capaz de responder às mudanças ocorridas na sociedade atual, em que as questões da diversidade estão cada vez mais pauta. Nesse sentido, a escola torna-se um espaço privilegiado, para que haja um respeito e aceitação essenciais dessa heterogeneidade de sujeitos e da imensidão de suas necessidades básicas. Ou seja, a educação inclusiva acolhe as diferenças e, por sua vez, a interdisciplinaridade é necessária para dialogar com elas e suas diversidades sociais.

Neste cenário, temos um lado da escola que é ignorado e invisibilizado pela gestão escolar e, ainda mais, pelas esferas educacionais superiores, o lado que apresenta uma escola indisciplinada. Assim, a indisciplina, tema muito discutido por professores e pedagogos, devido a problemas enfrentados por eles nas escolas do Brasil, não era tão comum nas escolas do passado, onde essas seguiam um sistema tradicional, exigindo dos alunos um comportamento quase militar. 

Quando ocorriam atitudes de indisciplina, os castigos, muitos deles físicos, eram aplicados às crianças como repreensão dos seus atos. Os professores eram vistos como autoridades, aos quais os alunos deviam obediência. Porém, muita dessa realidade mudou. Hoje, a escola não adota mais uma postura repressiva e violenta. Busca-se a valorização da democracia e o respeito aos cidadãos. A escola é o lugar onde o aluno aprende que, para se socializar, é preciso obedecer às regras impostas pela sociedade.

Viver em sociedade requer o cumprimento de regras para possibilitar uma boa convivência, diálogo e cooperação entre os membros. A escola por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras para o seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam, ou seja, a disciplina na escola é um fator determinante para o bom desenvolvimento do educando também do professor.

Segundo Magalhães Jr (2002), “a disciplina no espaço escolar constitui-se em uma ferramenta que auxilia no estabelecimento da “ordem” e representa os interesses de um grupo”.

Assim sendo, as normas e regras são de suma importância para o bom convívio no ambiente escolar, e cabe ao professor a difícil e árdua tarefa de manter a ordem dentro da sala de aula, assim como dos diretores e pedagogos nos espaços escolares.

O relato de pessoas que vivem no ambiente escolar, principalmente professores, revelam que a indisciplina é um dos obstáculos que a sociedade moderna enfrenta, levando professores a buscarem novas formas de ensinar e uma melhor maneira de desenvolverem o seu trabalho sem confrontar com os novos alunos que ocupam o cenário escolar. Segundo Aquino (1996, p.40) a indisciplina é traduzida como: “bagunça, tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade, etc.” Esse conceito de indisciplina traduz a realidade das salas de aula frequentadas por alunos de diversas comunidades do Brasil.

A realidade é que trabalhar por meio da interdisciplinaridade objetivando a superação de situações de indisciplina é munir-se da utilização das múltiplas áreas do conhecimento, com proposição de aulas que sejam mais atrativas e dinâmicas. Da mesma forma, as ações interdisciplinares permitem que os alunos relacionem os conteúdos à sua realidade, além de auxiliar na adaptação e modificação das melhores metodologias.

Este artigo tem como principal intuito identificar como a interferência de comportamento indisciplinar compromete o processo de ensino e aprendizagem bem como, apontar soluções possíveis para uma intervenção visando uma educação inclusiva.

2. A INDISCIPLINA EM FACE AO MEIO ESCOLAR

Nos encontros de professores, durante as reuniões pedagógicas, é comum comentários entre eles em relação à indisciplina. Em geral, concordam que ela atrapalha o ensino-aprendizagem e interfere no desempenho dos professores durante suas aulas. Sendo assim, é necessário um estudo que aponte as causas da indisciplina, pois identificar a causa de um problema é o primeiro passo em busca de uma possível solução.

Um dos fatores a considerar é a transformação social, de valores e cultural que a sociedade vive hoje. Aquino (1999, p.25) afirma que “embora o século XX tenha dado saltos impressionantes na área do conhecimento, tem-se a impressão de que o saber perdeu muito de seu prestígio”. O conhecimento perdeu espaço para a informação rápida adquirida por meios de comunicação de fácil acesso. A interferência direta dos meios de comunicação de massa no país contribui muito para essa mudança e atinge diretamente o dia a dia da família e consequentemente da escola.

A sociedade impõe seus valores, usando meios de comunicação, que passam a ser respeitados por jovens e crianças, onde o consumismo, a violência, o alcoolismo, a falta de limites imperam entre eles gerando novas condutas na geração atual. 

É possível observar a mudança de valores, assistindo aos programas de televisão mais comentados pela comunidade, entre eles, novelas, noticiários, onde a vitória é sempre do desonesto, o bandido se tornou o mocinho dos filmes, as maiores audiências estão voltadas para traição entre amigos e familiares, a corrupção se tornou tão corriqueira que não causa mais constrangimento. Na prática são verdadeiras aulas de mau comportamento, servindo assim, de modelo para crianças e jovens, onde estes passam a reproduzir o que aprendem com a “escola da vida”, tornando incentivo para eles, um convite à indisciplina e acabam levando esse aprendizado também às salas de aula.

Porém, a escola não está preparada para atender esses alunos, os professores estão sentindo dificuldades em atender esse público que vem carregado de informações, problemas familiares e sentimentos variados.

Aquino (1999) coloca que muitos professores explicam o declínio de sua autoridade pelo fato de que os alunos têm acesso aos saberes em fontes externas à escola. Ele concorda, dizendo que, se a escola apenas se limitar a passar informações como se fosse uma enciclopédia, a internet será um concorrente do professor e muito mais interessante que ele; mas se ela se preocupar em dar sentido a essas informações, a instituição escolar nunca será substituída.

Um dos fatores a ser considerado de grande relevância para o aprendizado é que, para os alunos de hoje, os bancos escolares não despertam interesse. Hoje em dia há, fora da escola, várias fontes de informações, consideradas mais atraentes, o que dificulta ainda mais o trabalho do professor que, durante a sua formação, não recebeu instruções de como lidar com a questão da falta de educação, com o desrespeito, com a violência que ocorrem nas salas de aula. Nas Universidades, em que se prepara para o exercício dessa profissão, o enfoque é para o plano de aula e para os conteúdos a serem trabalhados durante o ano letivo.

Os docentes, durante o curso de formação, deveriam adquirir conhecimentos das principais tendências teóricas sobre educação, que em tese, fundamentam a prática pedagógica e a postura do profissional diante do comportamento disciplinar de seus pares e demais envolvidos no processo pedagógico (ABOU, 2004, p.82).

A atuação docente inadequada em sala é outra causa da indisciplina. Aulas atrativas se fazem necessárias nos dias de hoje. Afinal, internet, celulares modernos estão ao alcance de todos e isso sim é um atrativo para o aluno. O professor bem preparado, que domina seu conteúdo, tem muito mais chances de lançar mão de estratégias eficientes para ensiná-las. Caso contrário, a aula se tornará um sacrifício e o aluno buscará algo mais interessante para fazer, o que poderá levar à indisciplina.

A estrutura escolar e o sistema que rege o trabalho do professor são partes fundamentais no processo ensino-aprendizagem. O professor, além de estar preparado com seu conteúdo e um ótimo plano de aula, precisa ter suporte didático para desenvolver com eficiência o seu trabalho. O apoio pedagógico, materiais didáticos e estrutura escolar adequada são condições mínimas que se esperam de uma instituição escolar, ou seja, as condições de trabalho oferecidas aos professores deverão proporcionar a eles uma facilidade para que consigam envolver o aluno de maneira que ele goste de estar no ambiente escolar e assim construir o seu conhecimento com prazer.

3. A MUDANÇA DA ESTRUTURAÇÃO FAMILIAR NA SOCIEDADE ATUAL 

Nos últimos tempos os perfis das famílias brasileiras vêm sofrendo consideráveis mudanças em seu aspecto estrutural e comportamental. A divisão de tarefas com relação a homens e mulheres deixou de ser definida e imutáveis para obrigações igualitárias, em tempos remotos, apenas a figura do pai era responsável por sair de casa para trabalhar e manter todas as despesas quitadas, bem como ser responsável pela segurança e bem-estar de todos os familiares, enquanto as mães incumbiam a função de cuidar do lar e da educação dos seus filhos. 

Na sociedade atual, a mulher desenvolve múltiplas funções, ocupando em muitos casos maior espaço que os homens no mercado de trabalho. As mulheres ganharam mais espaço e os mesmos direitos que os homens, podendo assim além de desenvolver a rotina de trabalho, desempenhar a função de chefe de família, homens e mulheres disputam de igual modo. As mães que antes apenas cuidavam das atividades mencionadas anteriormente, hoje trabalham e deixam seus filhos aos cuidados de alguma funcionária ou pessoa de confiança.  Ao retornarem para casa, depois de um dia de trabalho, na maioria das vezes encontram mais atividade para ser feita, assim sentem-se culpadas pela desorganização, ou talvez pela organização que não condiz com a preferência da família. Situação, consequência das próprias escolhas e do próprio ritmo que a sociedade impõe. 

Içami Tiba (1996, p73) justifica esta situação da seguinte forma: “a culpa nasce porque ela não cumpriu o que aprendeu sobre como deve ser uma boa dona-de-casa: não se ausentar dela nem ficar longe dos filhos”.  As mães não percebem que é nobre o motivo pelo qual saiu de casa para trabalhar e que trabalhar para ajudar nas despesas e na educação dos filhos possui grande valor, em muitos casos estas mulheres são as únicas que proporcionam algo sendo a mantenedora de toda a família. 

A sociedade atual trouxe consigo mudanças relacionadas à composição estrutural das famílias. Há diversas famílias que não possuem seus pais convivendo no mesmo ambiente, outras que são administradas apenas pelo pai, ou apenas a mãe, famílias com dois pais, com duas mães.

Nos dias de hoje, é muito comum encontrar famílias desestruturadas, onde o pai e mãe vivem em constantes brigas e o filho fica no meio deste bombardeio.  Por falta de maturidade, ora fica a favor da mãe, ora condizente com o pai, situação esta que causa sérios problemas no comportamento desta criança estabelecendo uma terrível confusão de valores e condutas a serem seguidas.

Deste modo ao adentrar o ambiente escolar, este aluno traz consigo diversos problemas, não conhece limites, e acaba por descarregar em todos os colegas e professores que estão ali. O professor, mesmo sabendo do comportamento irregular do aluno, tenta continuar suas aulas dando o seu melhor, para os demais. Este aluno, devido aos inúmeros problemas que carrega em sua mente, não consegue concentrar no que o educador transmite, tudo não passa de ideias desconexas. A sala de aula automaticamente se transforma em um ambiente hostil, onde a qualquer instante pode haver por parte de ambos um ataque de nervos. O professor se vê impedido de passar para os alunos os conteúdos que havia preparado, e o aluno impedido de aprender. O comportamento das crianças nada mais é, que, o reflexo da vivência adquirida no vínculo familiar.                                 

O comportamento das crianças no ambiente escolar e em casa é, na verdade, uma reação às atitudes de seus pais. Foi constatado que a maioria dos problemas de comportamento, como ausência de atenção e agressividade, é reflexo da conduta dos pais. Uma criança, por exemplo, que não consegue, em sala de aula, ficar parada em momento nenhum, mostrando-se sempre nervosa, brigona, agressiva com os colegas, sempre mal arrumada, cadernos rasgados, pode ser que uma das causas para tudo isso seja uma relação conflituosa com a família ou a relação, também conflituosa, entre os pais, os quais brigam o tempo todo na frente dos filhos e acabam descontando na criança, com desprezo ou indiferença, com agressões físicas ou verbais. Este fenômeno, tão comum, leva a criança a pedir ajuda, demonstrando isso de várias maneiras, inclusive chamando a atenção para si, no ambiente escolar. (WEIL, 1984, p. 47).

Se em casa a criança vivencia problemas, indubitavelmente esta situação será diretamente espelhada no seu comportamento escolar. Esta, irá demonstrar na escola, toda sua inquietação, tristeza, desconforto, insegurança, agressividade. Adotará um comportamento irregular, onde fará de todas as formas algo para chamar a atenção do professor e dos colegas, este é um mecanismo de defesa, que serve para ele pedir ajuda para conseguir acabar com esta situação que lhe incomoda. Estas atitudes desencadeiam diversos problemas de indisciplina na sala de aula, neste momento, o professor deverá buscar uma maneira de intervir, para que este comportamento não comprometa o desempenho dos demais alunos e manter a ordem plena e dar seguimento a aula programada.

Diante desta instabilidade causada por alunos indisciplinados e também por professores desmotivados em cumprir sua função de educador, não restará momentos bons para serem recordados entre os membros da turma.

Embora a sociedade moderna tenha englobado diversas mudanças, tanto na estrutura familiar, o respeito não deve ser perdido pelos indivíduos. Esta realidade assustadora, não isenta os pais de manterem sua autoridade sobre seus filhos, professores e pais devem manter sempre um vínculo de parceria, onde os pais também exercem a função de educador, deste modo garantindo um desempenho escolar satisfatório.  

4. INTERDISCIPLINARIDADE NA FORMAÇÃO DO ALUNO 

Especificamente na década de 1970, deu-se início a diversos estudos e pesquisas especificamente acerca da interdisciplinaridade no Brasil. Na Europa, a interdisciplinaridade como termo surgiu por volta de 1960. A partir disso, estudos envolvendo este assunto foram cada vez mais aprofundados. O sentido utilizado para interdisciplinaridade a princípio era a unidade e relação das múltiplas disciplinas, bem como sua associação para reflexão dos problemas encontrados na sociedade (FAZENDA, 1994).

De acordo Fazenda (1994), os estudiosos se preocupavam com o uso exagerado de expressões de modismo, além de seu uso em diversas situações, sem se atentar a clareza de seu real significado. A importância da interdisciplinaridade está ligada à proposta de novas perspectivas para a educação. A mesma autora, defende que o conceito chegou ao Brasil com um entendimento distorcido e exagerado do seu real. Desde 1990, os projetos interdisciplinares têm aumentado no Brasil. No entanto, surgiram intuitivamente ou ditadas pelo modismo, sem regras ou concepção crítica. Por isso, Fazenda (1994) se preocupou em definir e explicar o que é a interdisciplinaridade e como ela efetivamente funciona.

A formação de professores não pode oferecer soluções para problemas complexos, pois a interdisciplinaridade não faz parte da prática pedagógica de muitos cursos de graduação. Da mesma forma, o ensino das diversas disciplinas na escola e os conteúdos vistos nas disciplinas não estão vinculados entre si e com a realidade (LÜCK, 2009). Assim, a interdisciplinaridade pode ser definida como o elo entre diferentes disciplinas escolares. Essa conexão é necessária, pois o isolamento não dá respostas aos problemas da sociedade contemporânea. É a alternativa de organizar o conhecimento que não está interligado.

Para Lück (2009) a interdisciplinaridade permite a união dos professores, estimula a interação das disciplinas com o cotidiano do aluno, facilitando o enfrentamento dos problemas vivenciados no cotidiano escolar. Para realizar um trabalho interdisciplinar não há receita a seguir. Há necessidade de comunicação entre professores, reuniões e debates que permitam dar passos para a adoção da interdisciplinaridade.

A criação da interdisciplinaridade na escola ainda não superou as dificuldades. Várias atitudes docentes são necessárias para que esse processo ocorra. O educador precisa planejar, organizar o tempo para se reunir com outros professores e aprender a trabalhar em equipe. Lück (2009) refere que os educadores precisam estar atentos aos problemas que cercam a contemporaneidade, refletir sobre suas ações e buscar soluções para resolvê-los. A interdisciplinaridade contribui para a resolução de situações conflituosas de ensino-aprendizagem, mas deve-se ter cuidado para que não se torne uma simples moda passageira.

Para Zidan (2012) a interdisciplinaridade contribui para a aprendizagem significativa, pois aproxima o conhecimento disciplinar da realidade vivenciada pelos alunos. O conhecimento não é fragmentado, o que facilita a compreensão dos problemas que envolvem o cotidiano dos alunos. A interdisciplinaridade pode mudar as práticas pedagógicas. Atualmente, as chamadas práticas interdisciplinares apenas promovem mudanças na denominação das disciplinas curriculares, mas mantém-se a fragmentação do conhecimento.

Santos e Machado (2013) afirmam que a proposta interdisciplinar surge como uma necessidade de propor novas metodologias que possam auxiliar nos problemas relacionados à realidade global e à fragmentação do conhecimento. Augusto e Caldeira (2007), em pesquisa realizada com professores, revelam que estes discentes afirmaram que a prática interdisciplinar não teria bons resultados devido ao desinteresse dos alunos indisciplinados que não dão a devida valoração da aprendizagem, além de que somando este fato a falta de acesso à pesquisa bem como a ausência da família na escola torna-se ainda mais difícil uma solução. Se o objetivo da escola é que os alunos se interessem pelos temas abordados, motivados e ampliem seu aprendizado, uma das opções é justamente a interdisciplinaridade pois esta potencializa a transformação da sociedade, tornando-a mais justa e digna. A escola pode responder aos problemas sociais, vinculando o ensino dos conteúdos com os problemas da vida cotidiana. 

A atitude interdisciplinar não deve ser a salvação de todos os problemas escolares, mas sim uma das formas de superar a indisciplina escolar e minimizar os efeitos deste desinteresse coletivo que é assustador.

5. A INTERDISCIPLINARIDADE E O TRABALHO DOCENTE PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 

A Educação Especial é considerada como uma modalidade de ensino escolar preferencialmente ofertada na rede regular de ensino para alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades (BRASIL, 2008). Assim, com o processo de educação inclusiva, surgem sérias implicações para o professor, que é chamado a construir novos saberes e articular práticas pedagógicas, para responder às particularidades dos alunos com deficiência que passam a integrar a sala de aula comum.

Nesse contexto, os professores se deparam com uma nova realidade, na qual devem reformular sua prática, adaptando novas situações de ensino capazes de atender a todos os alunos. Para tanto, deve basear-se em uma proposta interdisciplinar, valendo-se de uma didática que a aproxime e permita modificar, enriquecer e construir novos métodos de interpretação do conhecimento, pois o aluno sempre será o agente da aprendizagem.

Para que essa aprendizagem seja significativa para o aluno especial, o professor deve partir de uma prática interdisciplinar, elaborar propostas pedagógicas que levem em consideração seu estilo de vida, cultura, conhecimentos e experiências, utilizando metodologias adequadas.

Uma vez que sua prática baseada nesses pressupostos poderá superar as dificuldades que o aluno tem na realização do enquadramento, na integração entre conteúdo e realidade, entre muitos dos múltiplos fatores do processo ensino-aprendizagem que serão superados, por meio da interação de disciplinas.

6. A INFLUÊNCIA DA INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Em uma turma, onde os alunos são indisciplinados, ou seja, atrapalham o rendimento dos demais com conversas paralelas, atitudes desrespeitosas tanto para com o professor como os demais colegas de classe o professor precisa adotar uma postura mais enérgica para que estes alunos em questão não venham a prejudicar o restante da turma.

Na preparação das aulas que serão ministradas na turma, de uma forma geral é analisado o conteúdo que será abordado para que assim possa com êxito atingir a maioria dos alunos. A metodologia escolhida pelo professor é a ferramenta que terá o poder de auxiliá-lo na condução da aula, sobretudo na educação inclusiva.

Aquino (1999, p.45) pontua que “Esses objetivos podem ser atingidos incorporando metodologias mais dinâmicas para as aulas, promovendo discussões em grupos e solicitando reflexões críticas sobre os conteúdos abordados”. No entanto, o comportamento desrespeitoso dos alunos indisciplinados, reflete diretamente na elaboração da aula planejada pelo professor, que por sua vez, precisa direcionar a aula pensando na forma que o aluno irá reagir diante da atividade proposta.

A direção da unidade escolar é requisitada para dar suporte ao professor, oferecendo a ele todo suporte e estrutura necessária em seus projetos pedagógicos. Este amparo da direção pedagógica escolar é indispensável para que o professor desempenhe o seu trabalho e seja bem-sucedido no desenrolar de sua principal função, que nada mais é do que a de facilitar o conhecimento do educando, que já possui em sua mente um conhecimento prévio, onde o professor como mediador deverá explorá-lo de modo a instigar sua curiosidade e motivá-lo a experimentação confrontando diretamente com a sua realidade diária. Aquino (1999, p.45) explica que “A escola necessita trabalhar de maneira mais interessante os novos conteúdos”.

O aluno deverá ser constantemente motivado a desenvolver seu aprendizado por meio de técnicas e métodos que remetem a sua realidade, esse aprendizado terá a função de mostrar ao alunado a grande relevância do conhecimento para seu próprio proveito e benefício, mostrando que o conhecimento é capaz de lhes proporcionar uma verdadeira mudança de realidade, e abrindo portas para diversas possibilidades de um futuro promissor.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indisciplina escolar hoje é um tema que vem sendo discutido na sociedade de forma cotidiana, seja nos meios acadêmicos, familiares e pela mídia. Considerando que a indisciplina se tornou a causa de tantos problemas encontrados na escola ou fora dela, pode-se dizer que é um problema social, pois abrange toda a comunidade.

Assim, é possível notar que os problemas gerados por indisciplina vêm se tornando cada vez mais comuns na escola, porém não se pode afirmar que a causa está no ambiente escolar. Diante disso, observa-se que as causas dos problemas gerados por indisciplina na escola estão vinculadas a fatores variados entre eles: as transformações sociais e culturais pelas quais a sociedade vem passando e a ausência da família na vida escolar dos filhos são alguns dos fatores que se destacam provocando grande mudança no comportamento dos adolescentes na escola.

Constatou-se que a relação professor-aluno está desgastada. O professor tem encontrado dificuldade em realizar o seu trabalho por conta do comportamento dos alunos. Dentre outras consequências, pode-se destacar o baixo aproveitamento do aluno em relação à aquisição de conhecimento, a exclusão social gerada a partir de descontentamento com os colegas, desordem em sala de aula, alunos desmotivados, o desestímulo do professor e problemas familiares sendo refletidos na escola.

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1Graduados e Pós-Graduados na área educacional. Email: uniavanze@gmail.com