INCIDÊNCIA E COMPLICAÇÕES DE TRAUMA TORÁCICO NO HOSPITAL DE EMERGÊNCIA E TRAUMA SENADOR HUMBERTO LUCENA

Danielle Cristina A. da Silveira; Lílian F. de Souza; Nilzete Alves
RESUMO
OBJETIVO: Verificar a incidência de trauma torácico e suas complicações no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena.
MÉTODOS: A presente pesquisa classifica-se em uma coleta de dados de caráter exploratório e quantitativo. Os dados foram obtidos através de 93 prontuários hospitalares da enfermaria feminina e masculina do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, no período de 16 de outubro à 23 de novembro, em pacientes com diagnostico de trauma torácico, critério utilizado para a seleção da análise.
RESULTADOS: No presente estudo foi observado a prevalência do sexo masculino nos pacientes de trauma torácico os quais se enquadram na faixa etária dos quinze aos vinte e nove anos. Foi verificado ainda uma maior incidência de traumatismo aberto por arma de fogo, onde as maiores complicações foram derrame pleural seguidas de úlceras de pressão e TRM, justificando assim a prevalência dos pacientes que realizaram drenagem pleural assim como a participação de um programa fisioterapêutico.
CONCLUSÃO: Com este estudo pode-se observar que o trauma torácico tem repercussões funcionais importantes. Portanto a fisioterapia tem um relevante papel na recuperação desses pacientes afim de evitar complicações e proporcionar uma maior independência funcional e melhor qualidade de vida.
Palavras-chave: Trauma torácico, Complicações, Fisioterapia.
INTRODUÇÃO
O trauma é uma das principais causas de invalidez e morte no mundo atual, em especial na população mais jovem, sendo que a lesão torácica representa um agravante importante na evolução dos pacientes com trauma multissistêmico, chegando a determinar 20% das mortes de origem traumática (MOREIRA; MELO; MARCHIORI, 2003).
Lara (2005) relata que no Brasil, mais de 600 pessoas morrem ou são feridas diariamente por acidentes de trânsito, sendo que a média de idade destes acidentados é de 30 anos e uma em cada quatro mortes civis resulta diariamente do traumatismo torácico.
De acordo com Fontelles; Mantovani (2000), a incidência de morte nas lesões traumáticas ocupa lugar de destaque nas estatísticas mundiais, grande parte dos pacientes com este tipo de trauma pode ser tratada sem grandes procedimentos cirúrgicos, reservando-se a toracotomia para cerca de 10% a 20% dos casos. Porém, aproximadamente um terço dos pacientes com lesões graves do tórax morrem antes do atendimento hospitalar, e outros 20% apresentam morte tardia, em conseqüência das complicações pleuropulmonares de natureza infecciosa que, direta ou indiretamente, resultam deste tipo de violência.
O trauma torácico pode ser classificado, quanto ao tipo de lesão em aberto onde são, a grosso modo, os ferimentos. Os mais comuns são os causados por arma branca (FAB) e os por arma de fogo (FAF). Fechado que são as contusões, o tipo mais comum dessa categoria de trauma é representado pelos acidentes automobilísticos (BARROSO, 2001).
Para Gabriel et al (2001), o comprometimento da função respiratória pós trauma torácico, ocorre em diferentes graus, de acordo com a causa que o provoque; sendo as mais freqüentes: o hemotórax, o pneumotórax, o enfisema subcutâneo e as secreções brônquicas.
De acordo com o autor supracitado as manifestações clínicas variam conforme o estado clínico do paciente, agente etiológico e patologia primária. Microorganismos anaeróbios comprometem intensamente o estado geral e a evolução. Em geral ocorre aumento da freqüência respiratória, dor pleurítica, hipertermia, tiragem intercostal, alteração dos ruídos adventícios e comprometimento do estado geral.
A fisioterapia respiratória desenvolveu-se muito nos últimos anos, aliado ao avanço da tecnologia e novos recursos, hoje em dia é indispensável para a reabilitação pulmonar dos pacientes que apresentam trauma torácico com objetivo de prevenir e/ou tratar complicações respiratórias. Para isso, geralmente é usada uma combi¬nação dos procedimentos que objetivam a “reexpansão pulmonar” e a “remoção de secreções nas vias aéreas” (JERRE et al, 2007).
O imobilismo causa diversas complicações, como úlceras de decúbito, perda de força muscular, tromboembolismo, osteoporose e pneumonia. Portanto a fisioterapia motora assume papel importante tanto na assistência aguda do paciente quanto no atendimento de reabilitação, ambulatorial e orientação domiciliar, visando promover a maior independência funcional e qualidade de vida (JERRE et al, 2007; MENDES et al, 2004).
METODOLOGIA
O presente estudo classifica-se em uma pesquisa quantitativa de caráter exploratório e quanto ao procedimento de coleta de dados refere-se a um estudo documental.
A fonte dos dados consiste na análise de prontuários hospitalares, de pacientes com diagnóstico de trauma torácico da enfermaria do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, no período de 16 de outubro à 23 de novembro.
Os dados foram coletados com a ajuda de um roteiro contendo sexo, idade, data de admissão hospitalar e da fisioterapia, tipo de trauma, tipo de lesão, hemitórax atingido, complicações (hemotórax, pneumotórax, hemopneumotórax, empiema, trauma abdominal, TRM, úlcera por pressão), drenagem pleural, fisioterapia respiratória e motora recursos utilizados na mesma.
Foram analisados 93 prontuários sendo 73 da enfermaria masculina e 20 da feminina. Foi utilizado como critério de inclusão pacientes com diagnóstico de trauma torácico.
Após a coleta os dados foram analisados tanto de forma quantitativa, através de medidas descritivas simples e gráficas, como de forma qualitativa através da discussão, confronto e comparação dos dados com a literatura pesquisada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 14 casos de trauma torácico do nosso estudo 93% ocorreram no sexo masculino e apenas 7% no sexo feminino. Os dados encontrados não foram diferentes dos encontrados na pesquisa de Moreira, Melo e Marchiori (2003), onde houve uma maior incidência no sexo masculino com cerca de 76,7%, sendo apenas 23,3% do sexo feminino (GRÁFICO 1).
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Leão (2007) menciona que no Brasil, o risco do homem jovem de 20 a 29 anos morrer vítima de arma de fogo é quatro vezes superior ao restante da população masculina e vinte vezes superior quando comparado à população feminina da mesma faixa etária. Resultado semelhante foi observado na presente pesquisa, onde 71 % dos traumatizados se encontravam na faixa etária dos 15 aos 29 anos, conforme o gráfico 2.
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Atualmente o trauma é a terceira maior causa de morte e a primeira quando considera-se a idade abaixo dos 40 anos nos Estados Unidos. No referido país ocorrem cerca de 100 mil mortes causadas por acidente, a cada ano, com mais de 9 milhões de lesões incapacitantes. Aproximadamente 25% destas mortes são causadas por traumatismo fechado, correspondendo as lesões torácicas a 50% de todas elas (FONTELLES; MONTOVANI, 2000). Porém na presente pesquisa foi verificado uma maior prevalência de trauma aberto em 57% dos casos (GRÁFICO 3).
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De acordo com Leão (2007), o Brasil é o pais onde se tem o maior número de mortes por arma de fogo no mundo, ocupando o quarto lugar em taxas de mortalidade por PAF. O que condiz com a presente pesquisa, onde foi verificado dentre os mecanismos de trauma torácico uma maior incidência por armas de fogo como mostra o gráfico 4.
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Segundo Gabriel (2001), no paciente de trauma torácico o comprometimento respiratório será de diferentes graus de acordo com a causa que o provoque, onde as mais freqüentes são o hemotórax, pneumotórax, e as secreções brônquicas, porém foi constatado em nosso estudo que a complicação de maior incidência pós trauma torácico foi o derrame pleural, conforme o gráfico 5.
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Na pesquisa de Fontalles e Montovani (2000), foi verificado que todos os pacientes que tiveram derrame pleural como complicação foi indicada a drenagem pleural, durante a avaliação inicial, na unidade de emergência. Não diferindo dos resultados encontrados no presente estudo, onde 93% dos pacientes realizaram drenagem pleural, conforme o gráfico 6.
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Segundo Abatepietro (2004), a fisioterapia no paciente com trauma torácico tem como objetivo prevenir e tratar as complicações e alterações funcionais a fim de melhorar as capacidades e volumes pulmonares para obter uma adequada oxigenação e ventilação”.
No que diz respeito à fisioterapia, constatou-se que 79% dos pacientes realizaram a fisioterapia respiratória e motora e os 21% restante não realizaram. Mediante estes dados podemos constatar que a fisioterapia é de elevada importância para os pacientes pós trauma torácico, pois a mesma irá atuar através de condutas especificas a cada caso, visando melhorar a função respiratória e motora assim como melhorar a capacidade funcional do paciente promovendo a sua reabilitação e a sua volta as atividades de vida diária de acordo com o gráfico 7.
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No estudo de caso feito por Simon et al (2004), paciente com história de trauma torácico, sendo submetido a fisioterapia. Foi realizado recursos de expansão pulmonar como padrões ventilatórios seletivos, ressucitador manual, incentivadores inspiratórios à volume, posicionamento e manobra de compressão-descompressão, com objetivo de proporcionar melhora da mobilidade torácica e ventilação pulmonar.
Na presente pesquisa apenas 7% dos pacientes utilizaram recurso fisioterapêutico como mostra o gráfico 8.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trauma é uma das principais causas de invalidez e morte no mundo atual, em especial na população mais jovem, sendo que a lesão torácica representa um agravante importante na evolução dos pacientes com trauma multissistêmico, chegando a determinar 20% das mortes de origem traumática.
Com este estudo pode-se observar que o trauma torácico tem repercussões funcionais importantes, necessitando de um completo atendimento dos profissionais da área da saúde afim de estabilizar o quadro clínico do paciente. Portanto a fisioterapia tem um importante papel na recuperação desses pacientes afim de evitar complicações e proporcionar uma maior independência funcional e melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
ABATEPIETRO, C. T. Tratamento pneumo-funcional no tórax flácido agudo em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva – São Paulo – 2004. Disponível em: http://www.sobrati.com.br/trabalho22.htm, Acesso em: 21/11/2007.
BARROSO, J.C. Trauma de Tórax, 2001. Disponível em: < http://estudmed.com.sapo.pt/traumatologia/trauma_torax_1.htm> Acesso em: 15/11/2007.
FONTELLES, M.J.P; MANTOVANI, M. Trauma Torácico: Fatores de risco de complicações pleuropulmonares pós-Drenagem pleural fechada. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Vol. 27, n 6, 2000.
GABRIEL, M. R. S; PETIT, J. D.; CARRIL, M. L. S. Fisioterapia em traumatologia, ortopedia e reumatologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
JERRE, G. et al Fisioterapia no paciente sob ventilação mecânica. J Bras Pneumol. 2007;33(Supl 2):S 142-S 150.
LARA, S. Assistência fisioterapêutica á pacientes politraumatizados, internados na Unidade de Terapia Intensiva (Uti), do Hospital Nossa Senhora da Conceição (Hnsc) em Tubarão – Sc, no ano de 2004, decorrentes de acidentes de trânsito. Monografia de conclusão de curso Universidade do sul de Santa Catarina. Tubarão, 2005.
LEÃO L. E. V. Pneumotórax Espontâneo. Disponível em: Acesso em: 8/11/2007.
MENDES, F. et al. Alterações fisiológicas durante a manobra de compressão e descompressão torácica. Revista Brasileira de Fisioterapia suplemento, São Carlos, p. 103, set. 2004.
MOREIRA, L. B. M.; MELO, A. S. A.; MARCHIORI, E. Lesões traumáticas do parênquima pulmonar: aspectos na tomografia computadorizada. Radiol Bras 2003; 36 (3): 141-146.
SIMON, K. M. et al. Abordagem fisioterapêutica em um paciente imunodeprimido com história de derrame pleural tuberculoso: relato de caso. Fisioter. mov. v. 17, n. 1, p. 45-50, jan./mar. 2004.