REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7492361
Cinthia Nayara1
Felipe da Cruz Dias2
RESUMO
A construção civil apesar da sua importância para a humanidade, é grande gerador de impactos ambientais negativos. Os sistemas de certificação surgiram visando a melhoria das condições ambientais desse setor classificando o nível de desempenho ambiental de edificações construídas ou ainda em processo de construção. O presente estudo tem como objetivo comparar as certificações AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) destacando quais são as vantagens e desvantagens, além de verificar a aplicabilidade das certificações na prática das construções sustentáveis. A metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho consistiu na mescla de informações, através da pesquisa bibliográfica e documental de sites, revistas e artigos científicos.
ABSTRACT
Civil construction, despite its importance to humanity, is a major generator of negative impacts. The certification systems achieved the improvement of the environmental conditions of this sector by classifying the level of environmental performance of buildings already constructed or still under construction. The present study aims to compare the AQUA (High Environmental Quality) and LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) certifications, highlighting the advantages and preservation, in addition to verifying the applicability of the certifications in the practice of sustainable constructions. The methodology adopted for the development of the work consists of merging information, through bibliographic and documentary research on websites, magazines and scientific articles.
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios do mundo, a matéria-prima é usada para suprir a necessidade humana, como abrigo, ferramentas, aproveitando o que o meio ambiente tinha a lhes oferecer, não alterando o meio ambiente. Com o passar dos anos diversas mudanças, como a Revolução Industrial, o consumismo, e a utilização exacerbada das matérias, como carvão mineral, aceleraram a degradação do meio ambiente, acarretando em diversos desastres naturais.
Os problemas ambientais começaram a aparecer em meados do século XVIII, o que não foi considerado importante na época, sendo assim, na década de 70, começou a ter um maior destaque, sendo relatado até em livros, como em 1962 no livro ‘Silent Spring’ de Rachel Carson, onde declarava alguns impactos ambientais e a vulnerabilidade da natureza perante a ação do homem.
Com intuito de dirimir problemas ambientais e todas as eventuais consequências para a humanidade, engenheiros, arquitetos, pesquisadores e empreendedores do mercado imobiliário estão buscando novas maneiras sustentáveis de construir e reformar edifícios com o objetivo mínimo de impacto ambiental a curto e a longo prazo.
Côrtes et al. (2011) realizaram um levantamento bibliográfico analisando as contribuições para a sustentabilidade na construção civil brasileira, destacando que, embora a indústria brasileira esteja atrasada nesta área, muitas empresas têm se adequado a padrões de sustentabilidade internacional como o Dow Jones Sustainability World Index (Índice Dow Jones Global de Sustentabilidade – DJSI), que destaca as melhores práticas de sustentabilidade no mundo). Silva et al. (2018) analisou a viabilidade de utilização de contêineres como casas de interesse social. Os autores analisaram que o elevado déficit habitacional (cerca de 3% da população nacional), a facilidade de adaptação para residências e baixo custo tornam os contêineres uma solução viável para a construção de moradias populares, inovadoras e sustentáveis, custando cerca de 25% a menos do que uma construção em alvenaria.
No cenário internacional, têm surgido uma série de critérios que avaliam a sustentabilidade de construções e equipamentos de uso coletivo, dentre os principais, destacam-se o LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental, do inglês Leadership in Energy and Environmental Design) e AQUA (Alta Qualidade Ambiental, adaptado do francês Haute Qualité Enviromentable, HEQ). O objetivo deste trabalho é definir, compreender a estrutura e metodologia de aplicação e fases das certificações ambientais AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para assim poder realizar um comparativo entre as duas.
CONSTRUÇÃO CIVIL E SUSTENTABILIDADE
Até meados da década de 1970, o Brasil não tinha uma gestão ambiental definida com o propósito de integrar as políticas com o homem e o meio ambiente (LARA, 2021).
O tema sustentabilidade dentro do ramo da construção civil tem ganhado maior destaque nas últimas décadas. Em 1998, aconteceu na Suécia um importante evento denominado Congresso Mundial da Construção Civil, organizado pela International Council in Buildingand Construction (CIB), com grande destaque no assunto, culminou o lançamento do texto Agenda 21 on Sustainable Construction, em 1999, que foi traduzido para o português no ano seguinte como “Agenda 21 para a construção sustentável” (DUARTE, 2016).
Para se construir sustentavelmente é preciso aplicar os conceitos e técnicas mais sustentáveis e por consequência reduzir o impacto ambiental, diminuir o retrabalho e desperdício, garantir a qualidade do produto com conforto para o usuário final, favorecer a redução do consumo consciente de energia e água, contratação de mão de obra e uso de materiais produzidos formalmente reduzir, reciclar e reutilizar os materiais (ROSBACK, 2018).
Para Do Nascimento et al. (2022) por ser uma atividade de transformação, a construção civil se caracteriza como um dos setores que mais consomem recursos naturais e geram grandes quantidades de resíduos, desde a produção dos insumos utilizados, até a execução da obra e a sua utilização. Por essa razão, possui grande potencial de redução de impactos com a adoção de práticas de conservação e uso racional.
Com a necessidade de mudanças no setor da construção civil, para adequação às agendas de sustentabilidade, foram desenvolvidos métodos avaliativos dos impactos ambientais das edificações (GRÜNBERG, 2014).
Os dois sistemas mais utilizados no Brasil são o LEED realizado pelo Green Concil do Brasil e o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) que é baseada no HQE e realizado pela fundação (ROSBACK, 2018).
CERTIFICAÇÃO LEED E AQUA
Certificação LEED
O LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) foi desenvolvido pelo USGBC (U.S. Green Building Council) […]. Em 2007 foi criado no Brasil o GBCB (Green Building Council Brasil), órgão não governamental vinculado ao USGBC que visa auxiliar o desenvolvimento da indústria da construção sustentável no país (ROSBACK, 2018).
O sistema LEED é baseado num programa de adesão voluntaria e visa avaliar o desempenho ambiental de um empreendimento. Leva em consideração o ciclo de vida e pode ser aplicado em qualquer tipo de empreendimento. O selo é uma confirmação de que os critérios de desempenho em termos de energia, água, redução de emissão de CO2, qualidade do interior dos ambientes, uso de recursos naturais e impactos ambientais foram atendidos satisfatoriamente (LEITE, 2011).
A aplicação da certificação LEED avalia as categorias através de critérios constituídos por indicadores desempenho, cada uma com sua pontuação, que ao final de cada analise o edifício recebe a certificação de acordo com o total de pontos obtidos (DE SOUZA, BARBOSA, 2022).
Para o empreendimento atingir um dos níveis, é necessário alcançar a pontuação por meio do cumprimento de pré-requisitos obrigatórios que são divididos em nove categorias, e quanto mais pontos, melhor será a certificação e, por consequência, mais práticas sustentáveis foram adotadas e menos impacto o projeto causará ao meio ambiente (GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL, 2020).
O LEED apresenta quatro níveis de certificação: (1) Certificado – 40 a 49pontos; (2) Prata – 50 a 59 pontos; (3) Ouro – 60 a 79 pontos e (4) Platina – 80 a 110 (LARA, 2021).
Figura 1- Níveis de certificação LEED.
Fonte: Green Building Council Brasil (2020)
Segundo a GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL (2020), o LEED possui 4 tipologias, que consideram as diferentes necessidades para cada tipo de empreendimento.
Figura 2- As 4 (quatro) tipologias do LEED.
Fonte: Green Building Council Brasil (2020)
Nestas tipologias são analisadas nove categorias distintas ou critérios:
- Projeto Integrado – Incentiva que o projeto seja desenvolvido por uma equipe multidisciplinar de profissionais, desde a concepção da ideia do projeto;
- Localização e Transporte – Incentiva a escolha de terrenos localizados em áreas urbanas já bem desenvolvidas e adensadas, que oferecem variedade de comércio e transporte alternativos aos carros, como ônibus e ciclovias;
- Espaço Sustentável – Encoraja estratégias que minimizam o impacto no ecossistema durante a implantação da edificação, abordando questões de grandes centros urbanos, como permeabilidade do solo e
das ilhas de calor; - Eficiência do uso da água – Promove inovações para o uso racional da água, com foco na redução do consumo de água potável e alternativas de tratamento e reuso dos recursos;
- Energia e atmosfera – Promove eficiência energética por meio de estratégias simples e inovadoras, como por exemplo: simulações energéticas, medições, comissionamento de sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes;
- Materiais e Recursos – Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental e a redução na geração de resíduos, além de promover o descarte consciente, desviando o volume de resíduos gerados dos aterros sanitários;
- Qualidade Ambiental Interna – Promove a qualidade ambiental interna do ar, com foco na escolha de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, controlabilidade de sistemas, conforto térmico e priorização de espaços com vista externa e luz natural;
- Inovação e Processos – Incentiva a busca de conhecimento sobre Green Buildings, assim como, a criação de medidas projetuais não descritas nas categorias do LEED;
- Créditos de Prioridade Regional – Incentiva os créditos definidos como prioridade regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada local. Quatro pontos estão disponíveis para esta categoria (LARA, 2021).
Estas áreas chaves dão origem a subdivisões em áreas especificas pontuáveis, sendo que alguns critérios devem ter comprimento obrigatório (LEITE, 2011).
Certificação AQUA
A certificação AQUA no Brasil é aplicada pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini. A fundação foi estabelecida pelo departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) em 1967 (DUARTE, 2016).
Seu processo de certificação é totalmente independente dos órgãos franceses, passando por auditorias presenciais que transcorrem exclusivamente no Brasil (ROSBACK, 2018).
Entretanto, o processo AQUA-HQE é uma certificação que visa a sustentabilidade nas construções brasileiras sendo adaptada para a realidade brasileira, considerando as diversidades como o clima, a cultura, as normas técnicas e a legislação de cada local, buscando um avanço constante de seus desempenhos (DE SOUZA, BARBOSA, 2022).
A Certificação é realizada pela própria Fundação Vanzolini, a qual executa 3 auditorias presenciais ao longo do desenvolvimento do projeto e da obra, com o objetivo de analisar o atendimento dos critérios de sustentabilidade (CTE – CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕES, 2019).
Atendidos os critérios de cada fase, programa, concepção e realização, os certificados são emitidos em até 30 dias (RODRIGUES, 2020).
Na fase de pré-projeto, o empreendedor deve definir o programa de necessidades e o perfil de desempenho (RODRIGUES, 2020).
Segundo Duarte (2016), para se obter a certificação AQUA, são hierarquizadas 14 categorias (Tabela 1) e 4 temas, conforme segue: para edifícios comerciais, administrativos ou de serviços (energia, meio ambiente, saúde e conforto); para edifícios habitacionais (energia e economias, meio ambiente, saúde, segurança e conforto). O empreendedor deve se apoiar nas 14 categorias de QAE (Figura 3) e em preocupações ambientais a elas relacionadas, levando em conta: sua estratégia ambiental global de: proteção do meio ambiente (preservar os recursos, reduzir a poluição, reduzir os resíduos); gestão patrimonial (durabilidade, adaptabilidade, conservação, manutenção, custos de uso e operação); conforto (dos usuários, da vizinhança, do pessoal de obra), e; saúde (dos usuários, da vizinhança, do pessoal de obra).
Na fase de Realização (obra), o empreendedor, observando o SGE, realiza a obra, avalia o perfil QAE e corrige eventuais desvios. É agendada uma auditoria e enviada, na entrada da obra, a avaliação da QAE à Fundação Vanzolini. É papel do auditor verificar os critérios de desempenho exigidos no referencial técnico adotado, em cada uma das fases a implementação do SGE, comparando-os com aqueles requeridos pela avaliação da QAE. Ao final de cada etapa concluída com sucesso, um certificado é emitido (RODRIGUES, 2020).
Tabela 1- Categorias do QAE – Qualidade Ambiental do Edifício.
ECO-CONSTRUÇÃO | |
Relação do edifício com o seu entorno | Visa à coerência no uso e operação do empreendimento no terreno em relação às políticas |
locais de desenvolvimento urbano sustentável. Garantir espaços exteriores saudáveis e garantir o direito à saúde dos ocupantes. | |
Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos | Promove assegurar a facilidade de acesso para a conservação do edifício e o inventário das informações conhecidas a respeito dos produtos de construção presentes no empreendimento |
Canteiro de obras com baixo impacto ambiental | Visa à gestão de resíduos de conservação e manutenção produzidos durante as intervenções, otimizar as condições de retirada e eliminação dos resíduos de conservação e manutenção e limitar os incômodos causados pelas intervenções de conservação e manutenção |
ECO-GESTÃO | |
Gestão de energia | Objetiva melhorar a aptidão da envoltória para limitar desperdícios e do edifício para reduzir suas necessidades energéticas. Reduzir o consumo de energia primária devido ao aquecimento, resfriamento, à iluminação, ao aquecimento de água, à ventilação e aos equipamentos auxiliares. |
Gestão da água | Promove a manutenção/melhoria da qualidade ambiental relativa à gestão da água, visando à economia de água potável nos sanitários, na irrigação, limpeza das áreas ou outros usos. Gestão das águas pluviais, de escoamento das poluídas e das águas servidas. |
Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício | Visa à qualidade da zona ou dos locais destinados aos resíduos, otimização dos circuitos de resíduos de uso e operação do edifício e a triagem de resíduos na fonte geradora. |
Manutenção – permanência do desempenho ambiental | Propõe facilitar as intervenções de conservação/manutenção. Disponibilizar os meios necessários para o acompanhamento dos consumos de energia e água durante a operação e uso do edifício |
CONFORTO | |
Conforto higrotérmico | Garantir um nível adequado de temperatura resultante nos espaços, tanto no verão quanto no inverno. Otimizar e assegurar uma velocidade de ar que não prejudique o conforto o conforto higrotérmico tanto no inverno quanto no verão. |
Fonte: Duarte (2016)
Os níveis que uma edificação pode obter pelo Processo AQUA são relacionados à Qualidade Ambiental do Edifício. O desempenho associado pode ser Bom, Superior ou Excelente (GRÜNBERG, 2014).
Figura 3 – Perfil de desempenho para certificação AQUA
Fonte: Fundação Vanzoli (2011)
Figura 4 – Processo de certificação AQUA.
Fonte: Rodrigues (2020)
Comparação entre as certificações LEED e AQUA
Tabela 2 – Comparação das características básicas das certificações LEED e AQUA.
ITENS | LEED/Brasil | AQUA |
Modelo base/criação | Ferramenta norte-americana LEED | Ferramenta francesa HQE |
Ano de implantação no Brasil | 2008 | 2009 |
Subdivisões | Referencias direcionadas às diferentes tipologias do empreendimento | 2 etapas direcionadas a 5 fases do empreendimento |
Método de avaliação | Pontuação | Conceito |
Expressão dos resultados | Resultado global do empreendimento | Resultado de cada fase do empreendimento |
Pré-requisitos e Critérios avaliados | Espaço sustentável, eficiência do uso da água, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, inovação e processos, créditos regionais | Eco construção, gestão, saúde, conforto |
Categorias | 69 | 14 |
Tipologias avaliadas | Novas construções e grandes reformas, interiores de edificações comerciais, envoltória e estrutura principal, escolas, lojas de varejo, hospitais, desenvolvimento de bairros, manutenção de edifícios existentes. | Edifício habitacional, escritórios e edifícios escolares, operação/uso, comércio, hospedagem, lazer, bem estar, eventos e cultura, bairros e loteamentos, Indústria e logística, reforma e reabilitação |
Complexidade de aplicação | Aplicação simples através do preenchimento de um checklist | Aplicação em forma de questionário, feito pela equipe |
Sistema de classificação | Certificado; Prata; Ouro; Platina | Atendeu; Não atendeu |
Edifícios registrados e certificados no Brasil | 903 | 164 |
Fonte: Rosback (2018)
Segundo Rosbak (2018) o panorama da certificação ambiental de edifícios no Brasil, permite apresentar as seguintes considerações:
i) Os empreendimentos avaliados pelo Processo LEED/Brasil e AQUA somam 1067 unidades em todo o Brasil;
ii) O sistema LEED/Brasil avaliou, até o momento, 903 empreendimentos no setor da construção civil, dos quais 185 já foram certificados e 718 estão registrados em processo de certificação;
iii) O sistema AQUA certificou, por enquanto, 164 empreendimentos, consequentemente todos já foram avaliados pelo Sistema de Gestão do Empreendimento, sendo 18 pela Qualidade Ambiental do Empreendimento;
iv) Deve-se considerar ainda, conforme o levantamento dos dados, que a Região Sudeste, é responsável por 79,1% das certificações dos sistemas LEED e AQUA; as regiões Sul e Nordeste apresentam 10,1% e 6% respectivamente, enquanto o Centro-Oeste soma 3% e o Norte apenas 1,8%;
v) Com base na pesquisa realizada, constata-se que a produção de edificações comerciais e institucionais é a que mais tem se destacado no processo LEED (com o LEED CS) acredita-se que incorporadores procuram essa certificação com o intuito de agregar valor ao preço de comercialização das salas comerciais;
vi) A certificação AQUA é mais presente nas Edificações Habitacionais, já que o sistema LEED não possui, por enquanto, um referencial técnico específico para edificações residenciais no Brasil;
vii) O sistema AQUA destaca-se no que se refere a fase do Projeto, ou seja, a concepção inicial, está suprimindo as demais fases que garantem a efetiva aplicação do conceito de “Construção Sustentável”;
viii) A tática de divulgar os empreendimentos certificados funciona como uma plataforma de estímulo, visando novos empreendedores, uma vez que o selo ambiental pode ser interessante meio de promoção e comercialização dos mesmos;
ix) A certificação AQUA apresenta maior potencial para atender às necessidades brasileiras, principalmente se for considerado seu sistema baseado em desempenho, em que todos os critérios devem ser atendidos, pelo menos nos padrões mínimos exigidos;
x) A certificação LEED é baseada em pontos, de forma que o resultado final pode mascarar o desempenho do edifício;
xi) Apesar da demanda crescente, o número de certificações ainda é muito pequeno em um país com as dimensões do Brasil, permitindo concluir que o setor ainda não aderiu de forma consistente a certificação ambiental, possivelmente devido ao seu custo operacional ou à dificuldade em enquadrar o empreendimento em determinado referencial técnico ou, até mesmo, por acreditar que um projeto certificado não terá valor superior no mercado;
xii) A recente norma de desempenho, em vigor no país desde 2013, NBR 15575, com certeza resultará na ampliação e divulgação dos sistemas de certificação existentes mundialmente, ampliando o campo para adequações desses à extensa diversidade brasileira;
xiii) Finalmente, cabe acrescentar que provavelmente essa é uma grande tendência do mercado imobiliário, uma vez que, segundo o Anuário da Construção (2010) “o tema da sustentabilidade na construção civil deixou de ser não prioritário para virar regra no setor por diferenciar o produto e, também, por integrar demanda aos consumidores”.
Um exemplo de construção com o uso de certificações
O Centro Cultural Max Feffer é uma iniciativa desenvolvida no município de Pardinho – SP, que visa implantar um modelo de desenvolvimento sustentável no município. Ele foi construído em uma área de seis mil metros quadrados abrigando uma biblioteca, centro de inclusão digital, palco com auditório aberto com capacidade de 500 pessoas, museu do bambu, sala de exposições com mostra permanente em Memória a Max Feffer e sala de reuniões com completa infra-estrutura (LEITE, 2021).
Com uma área de 7.130 m2, o Centro de Cultura foi planejado com a finalidade de promover a cultura e os princípios de sustentabilidade na região, através da utilização de sistemas e materiais com o menor impacto ambiental (SOUZA, 2011).
O projeto e a obra foram pautados para empregar o máximo de soluções sustentáveis e obter a certificação LEED NC. Entre os recursos adotados estão soluções de baixo consumo de água e de energia elétrica, tratamento de esgoto e aproveitamento de materiais reciclados.
Figura 5 – Centro Cultural Max Feffer.
Fonte: Leite (2011)
Nesta obra diversos materiais foram cuidadosamente selecionados de outras construções e reutilizados para a construção do centro, como tijolos de demolição e caixilhos de madeira de demolição, tudo planejado a partir dos princípios de baixo impacto ecológico, e devido a isso o edifício obteve”25,6%” de redução no consumo energético se comparado com construções convencionais (SOUZA, 2022).
Figura 6 – Parede de Tijolo solo cimento e Estrutura em bambu e eucalipto do telhado.
Fonte: LEITE (2011)
CONCLUSÃO
As duas certificações possuem característica distintas, pois visam o mesmo objetivo que é trazer benefício ambiental com construções sustentáveis, mas, deve-se levar em conta que a Certificação AQUA é adaptada para a realidade brasileira (DUARTE, 2016).
O resultado da comparação entre os selos verdes analisados neste artigo confirma a hipótese na qual, o sistema desenvolvido para uma realidade e localidade específicas tem melhor desempenho (GRÜNBERG, 2014).
Do Nascimento et al., (2022) relata que a AQUA, além de visar melhorias relacionadas ao meio ambiente, objetiva também a qualidade de vida e saúde das pessoas que usufruem do que foi planejado e construído. Já a LEED, visa somente a melhoria das condições relacionadas ao meio ambiente.
Segundo Leite (2011), a certificação LEED é baseada num sistema de pontos, onde não é necessário atender a todos os requisitos para se obter pontuação suficiente, um critério pode ser bem pontuado e outro não, mas a média é a que conta como pontuação. A certificação AQUA é baseada em desempenho, onde é necessário atender a todos os requisitos nos níveis determinados para se atingir a certificação, tendo o empreendimento que apresentar real desempenho.
Para Duarte (2016), as duas certificações possuem característica distintas, pois visam o mesmo objetivo que é trazer benefício ambiental com construções sustentáveis, mas, deve-se levar em conta que a Certificação AQUA é adaptada para a realidade brasileira. A escolha do melhor método de avaliação deve levar em consideração o empreendimento, bem como o local de implantação deste.
Constatou-se que a preocupação ambiental dos selos LEED e AQUA se reflete no âmbito social. Nesses selos há, por exemplo, uma priorização do uso de materiais regionais, o que impulsiona o desenvolvimento das comunidades locais, com geração de empregos e melhoria econômica (ROSBACK, 2018).
Conclui-se que os sistemas de certificação apresentados, possuem características e exigências específicas. Sabe-se que os dois sistemas possuem características diversas em sua metodologia, sendo a identificação destas diferenças importante para a escolha de qual sistema utilizar (RODRIGUES, 2020).
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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