OCCUPATIONAL THERAPY IMPACT ON COMPLAINTS AND PSYCHIATRIC SYMPTOMS OF SUBSTANCE DEPENDENTS IN HOSPITAL REHABILITATION
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7486554
Giulia Zaki1
Lilian Zaki2
Tainã Rafael Anschau Zan3
Renata Freitas Ferreira4
Michelle Alle Lange5
Taiane Marini Brandelli6
Paola Rafaella Boschetti7
Gabriel Silva de Campos8
RESUMO:
Introdução: A saúde mental é definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, sendo necessária para o desenvolvimento das habilidades individuais e coletivas do indivíduo. A manifestação psicológica associada a algum prejuízo no desempenho global do paciente é, portanto, classificada como um transtorno mental. Sabe-se que os transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias representam 10% da carga global de doenças. Nesse cenário, se insere a Terapia Ocupacional (TO), a qual visa o incremento cognitivo e emocional dos pacientes através de métodos terapêuticos singulares, sendo eficaz para a redução de sintomas psiquiátricos. Objetivo: Esse estudo investigou o impacto da Terapia Ocupacional nas queixas e sintomas psiquiátricos de dependentes químicos em reabilitação hospitalar. Método: Estudo quantitativo observacional analítico do tipo transversal, realizado pela coleta de dados referente às queixas e sintomas psiquiátricos nos livros de registros médicos e nos prontuários de dependentes químicos internados para reabilitação em um hospital psiquiátrico no período de agosto a dezembro de 2018 e 2019. Foram comparados as queixas e sintomas registrados durante o período em que a TO foi realizada, em 2019, com o período em que não foi realizada, em 2018. Os resultados foram apresentados em frequências absolutas (N) e relativas (percentual) e analisados pelo teste de Mann-Whitney. Considerou-se significativo o achado com valor de p ≤ 0,05. Aprovação CEP no 25664719.5.0000.5339/2019. Resultados: De agosto a dezembro de 2018 e 2019, foram registrados, respectivamente, 519 e 356 queixas e sintomas psiquiátricos. Em 2019, ano no qual foi realizada a TO, houve uma redução significativa das queixas e sintomas de insônia durante a ronda médica (p=0,03), ansiedade (p=0,01), fissura (p=0,03) e ideação suicida (p=0,02), em comparação com 2018. Somando-se os dois períodos, os registros mais frequentes foram: insônia durante a ronda (34,7%), insônia fora da ronda (22,1%), ansiedade (22,1%) e agitação (10,5%). Conclusão: Houve redução significativa dos registros de insônia durante a ronda, ansiedade, fissura e ideação suicida após o uso da TO como parte do processo de reabilitação dos pacientes. Somando-se os dois períodos estudados, a insônia, ansiedade e agitação foram as queixas e sintomas mais frequentes. Esses resultados sugerem que a Terapia Ocupacional possa representar um recurso efetivo no tratamento de dependentes químicos.
Palavras-chave: Saúde mental; Insônia; Ansiedade; Fissura; Ideação suicida.
ABSTRACT
Introduction: Mental health is defined as a state of complete physical, mental and social well-being, being necessary for the development of the individual and collective skills. The psychological manifestation associated with some impairment in the patient’s performance is classified as a mental disorder. Mental, neurological and substance use disorders represent 10% of the global disease burden. In this scenario, Occupational Therapy (OT) is inserted, which aims at the cognitive and emotional increase of patients through unique therapeutic methods, being effective for the reduction of psychiatric symptoms. Objective: This study investigated the impact of Occupational Therapy on the psychiatric complaints and symptoms of drug addicts in hospital rehabilitation. Method: Quantitative observational analytical cross-sectional study, carried out by collecting data about psychiatric complaints and symptoms in medical records books and medical records of drug addicts admitted for rehabilitation in a psychiatric hospital from August to December 2018 and 2019. Complaints and symptoms recorded during the period in which OT was performed, in 2019, were compared with the period which it was not performed, in 2018. Results were presented in absolute (N) and relative (percentage) frequencies and analyzed by Mann-Whitney test. Was considered significant the finding with a value of p ≤ 0.05. CEP Approval No. 25664719.5.0000.5339/2019. Results: From August to December 2018 and 2019, 519 and 356 psychiatric complaints and symptoms were recorded, respectively. In 2019, the year which OT was performed, there was a significant reduction in complaints and symptoms of insomnia during the medical round (p = 0.03), anxiety (p = 0.01), craving (p = 0.03) and suicidal ideation (p = 0.02), compared to 2018. Adding the two periods, the most frequent records were: insomnia during the round (34.7%), insomnia outside the round (22.1%), anxiety (22.1%) and agitation (10.5%). Conclusion: There was a significant reduction in insomnia records during the round, anxiety, fissure and suicidal ideation after the use of OT as part of the patients’ rehabilitation process. Adding up the two studied periods, insomnia, anxiety and agitation were the most frequent complaints and symptoms. These results suggest that Occupational Therapy may represent an effective resource in the treatment of drug addicts.
Keywords: Mental health; Insomnia; Anxiety; Craving; Suicidal ideation.
1. INTRODUÇÃO
A saúde mental é definida como “um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua comunidade” (OMS1, 2019; OMS2, 2018).
Dessa forma, é essencial para o desenvolvimento das habilidades individuais e coletivas do ser humano (Brasil, 2016). A manifestação psicológica associada a algum prejuízo no desempenho global do paciente é, portanto, classificada como um transtorno mental (APA,2013).
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é dividida em 22 capítulos, cada qual agrupa doenças com características semelhantes. O capítulo V se refere aos transtornos mentais e comportamentais, onde consta aqueles devido ao uso de substâncias psicoativas (APA, 2013). Já o Manual de Diagnostico e Estatística (DSM-V) abrange apenas os transtornos mentais, incluindo os por uso de substâncias (APA, 2014). O CID-10 é o modelo adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto o DSM-V tem sua utilização voltada à pesquisa (Brasild, 2016).
Alguns critérios utilizados para o diagnóstico de transtornos por uso de substâncias psicoativas são semelhantes para ambos os modelos, são eles: tolerância à substância, necessitando de doses progressivamente maiores; compulsão confirmada pela fissura ou pelo forte desejo de usar a substância; perda do controle do impulso relacionado ao uso; síndrome de abstinência; abandono progressivo das atividades sociais, ocupacionais ou recreacionais em virtude da adição; aumento do tempo gasto em torno do uso ou durante; uso continuado apesar da consciência do prejuízo causado (APA, 2013; APA, 2014; Brasilc, 2016).
Os transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias psicoativas representam 10% da carga global de doenças (OMS1, 2019; Brasilg, 2019). Dentre as drogas ilícitas, a maconha é a de maior consumo mundial e nacional (Brasila, 2019). No Brasil, os transtornos mentais estão entre os principais problemas de saúde (BONADIMAN et al., 2017). Segundo Andrade et al. (2012), os transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas estão entre os mais prevalentes na cidade de São Paulo e região metropolitana. Nesse sentido, os usuários manifestam disfunções e sentimentos de desgosto como consequência da adição, fazendo-os buscar auxílio nos serviços de saúde (MACRAE, 2001; FIORI, 2013, WHO, 2009).
De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), foram registradas 305.722 internações psiquiátricas no País em 2018 e 2019. A Região Sul foi responsável por aproximadamente 36% destas internações, sendo o Rio Grande do Sul (RS) o segundo estado com o maior registro a nível nacional, cerca de 59.532 (Brasil, 2020). Em 2014, o RS se destacou por apresentar o maior número de leitos destinados a saúde mental em hospitais gerais (BRASIL, 2015). Atualmente, existem cerca de 2.037 leitos para esse fim no estado, somando-se hospitais gerais e psiquiátricos (SES-RS, 2019).
Diversos métodos de psicoterapia, como intervenções cognitivas, comportamentais e a terapêutica interpessoal, têm se mostrado eficientes no tratamento dos transtornos mentais (WHO, 2001). Neste contexto que se insere a Terapia Ocupacional (TO), a qual tem o intuito de cooperar para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos pacientes através de métodos terapêuticos singulares. Esse recurso proporciona um melhor entendimento de si, a transição de atitude e a oportunidade de experienciar o novo e o antigo de uma nova forma (LAGE et al.,2008).
Conforme a Portaria 336/GM, os terapeutas ocupacionais são valorizados como parte da equipe multiprofissional para a reinserção do dependente químico na sociedade. Da mesma forma, Oliveira (2006, p.232) defende que um dos objetivos terapêuticos desses profissionais é favorecer a reinserção social, a reconstrução da cidadania e a compreensão da problemática relacionada ao abuso de substâncias. O Decreto No 9.76 expõe que, um dos objetivos da Política Nacional Sobre Drogas é garantir a assistência interdisciplinar aos usuários com vistas à reinserção social, e reconhece que o desenvolvimento de habilidades para vida é uma forma de proteção ao uso (Brasila, 2019).
Tomando-se como amostra os indivíduos internados em uma ala psiquiátrica por transtornos mentais gerais, Rivas-Garibay, Olvera-Romero e Ferman-Cruz (2017) observaram que o uso da terapia ocupacional como parte do tratamento gerou melhorias compreendidas pelos pacientes. De acordo com os autores, 96% dos indivíduos avaliados mencionaram avanço nos relacionamentos e no convívio familiar, sensação de bem-estar, aumento da autoestima e obtenção de novas competências.
De acordo com as Diretrizes da Atenção Básica de Saúde de Pelotas (2016), o Hospital Espírita de Pelotas (HEP) é o maior hospital psiquiátrico da região sul do estado, destinando 160 leitos para o tratamento de perturbações mentais e dependência química pelo SUS (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE PELOTAS, 2016). Ademais, o HEP obteve a nota mais alta nos quesitos da abordagem terapêutica e humanização segundo a Avaliação dos Hospitais Psiquiátricos no Âmbito do Sistema Único de Saúde, a qual considerara atividades envolvendo pacientes e familiares, reuniões clínicas multiprofissionais periódicas, atendimentos em grupo, atividade extra-hospitalar, acesso a áreas comuns e entre outros itens (BRASILe, 2011).
2. MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo quantitativo observacional analítico do tipo transversal realizado através da análise dos registros médicos dos pacientes internados no Hospital Espírita de Pelotas (HEP) nos meses de agosto a dezembro de 2018 e 2019. Foram incluídos no estudo indivíduos do sexo masculino, maiores de 18 anos, independente da procedência, internados na Ala Renovação, a qual atende pacientes com diagnóstico principal de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas e é subsidiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Os dados coletados advêm dos livros de registro do plantão médico e dos da ala incluída no estudo, os quais contém informações qualitativas e quantitativas acerca das intercorrências em ordem cronológica de ocorrência, com dados que possibilitam identificar qual paciente que intercorreu. Dessa forma, informações faltantes foram resgatadas diretamente nos prontuários.
As intercorrências se referem às queixas, sintomas ou outra situação que mobilize a equipe a fim de uma conduta, seja ela medicamentosa ou verbal, com vistas à resolução do quadro. Ressalta-se que as queixas registradas são relatadas pelos próprios pacientes e os sintomas registrados são relatados pelos mesmos ou notados pela equipe. A catalogação para a coleta dos dados foi realizada de modo a abranger todas as queixas e sintomas de cunho psiquiátrico, excluindo-se as de caráter clínico.
A Terapia Ocupacional foi implementada na instituição a partir de agosto de 2019, sendo realizada semanalmente, no turno vespertino das segundas-feiras, por cerca de 2 horas, com equipe multidisciplinar liderada por terapeutas ocupacionais. Essa terapia era ofertada para todos os pacientes que pudessem se beneficiar, sendo a participação de caráter voluntário.
A análise dos dados coletados foi realizada por meio do programa IBM SSPS®(Statistical Packet for Social Sciences), versão 20.0, e apresentada em tabelas. As variáveis qualitativas foram ilustradas como frequências absolutas (N) e relativas (percentual). Já as quantitativas foram analisadas pelo teste de Mann-Whitney. Considerou-se significativo o achado com valor de p ≤ 0,05. O estudo foi desenvolvido de acordo com a Resolução CNS 466/12, sendo avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Católica de Pelotas sob o número de protocolo 25664719.5.0000.5339.
3. RESULTADOS
Foram registrados 875 queixas e sintomas psiquiátricos dos 325 pacientes que foram internados na Ala Renovação do Hospital Espírita de Pelotas-RS de agosto a dezembro de 2018 e 2019. Considerou-se que ala permaneceu com a capacidade máxima durante os 12 meses de estudo.
No período de 2018, foram avaliados 152 dias, nos quais houve 519 queixas e sintomas registados. No período de 2019, no qual os pacientes participaram semanalmente da terapia ocupacional, foram avaliados 153 dias, havendo uma redução do número de queixas e sintomas para 356 (Tabela 1).
Somando-se os dois períodos estudados, os episódios de insônia durante a ronda médica (34,7%), ansiedade (22,1%), insônia fora da ronda médica (12,6%) e agitação (10,5%) foram os mais frequentes na população, respectivamente.
Em 2019, ano de implementação da TO na instituição, houve uma redução significativa das queixas e sintomas de insônia durante a ronda (p=0,03), ansiedade (p=0,01), fissura (p=0,03) e ideação suicida (p=0,02) em relação ao mesmo período do ano anterior.
Respectivamente, as médias diárias de insônia durante a ronda, ansiedade, fissura e ideação suicida foram de 1,15 (DP= 1,35) em 2018 para 0,84 (DP=1,15) em 2019, de 0,79 (DP=1,15) para 0,48 (DP=0,87), de 0,28 (DP=0,63) para 0,12 (DP=0,32) e de 0,03 (DP=0,17) para zero (Tabela 2).
Não apresentou diferenças estatísticas os episódios de insônia fora da ronda médica (p=0,49), delírios (p=0,31), depressão (p=0,31), negativismo (p=0,31), agitação (p=0,29) e solicitante (p=0,80).
Ao analisar as queixas e sintomas numa frequência de duas ou mais vezes por dia, verificou-se que os referentes à insônia durante a ronda, ansiedade e fissura, reduziram.
Respectivamente, passaram de 36,8%, em 2018, para 26,1%, em 2019; de 26,7% para 11,8%; de 7,2%, para zero. Não houve episódios de ideação suicida no período de 2019 (Tabela 3).
4. DISCUSSÃO
A insônia está entre os episódios mais comumente registrados em ambos os períodos estudados. Segundo Conroy e Arnedt (2014), os distúrbios do sono são uma das consequências mais frequentes frente ao uso ou retirada de substâncias. Em um estudo publicado pela SLEEP SCIENCE, foi observada uma má qualidade subjetiva do sono entre os pacientes internados por uso de álcool ou drogas em um hospital psiquiátrico (MÜLLER et al., 2016). Conforme Lucchese et al. (2017), em uma amostra constituída por indivíduos em reabilitação por dependência química, cerca de 42% referiram má qualidade do sono.
Morgan et al. (2006) avaliou a qualidade do sono de usuários crônicos de cocaína durante um período de abstinência sustentada. A mesma foi mensurada através de auto relatos e de medidas eletrofisiológicas durante a abstinência, mostrando um padrão diferente entre as duas avaliações: o sono auto relatado foi o melhor entre décimo quarto e décimo sétimo dia de abstinência, entretanto foi o pior quando mensurado objetivamente. Logo, em abstinência, esses pacientes podem não ter conhecimento da qualidade ruim do sono, fenômeno denominado pelos autores de “insônia oculta”. Diferente dos auto relatos avaliados no estudo de Morgan, o presente estudo mostra que a insônia durante a ronda médica foi a queixa-sintoma mais frequentemente registrada.
Ademais, a ansiedade é o segundo episódio mais registrado ao avaliarmos os períodos de 2018 e 2019 juntos. Johnson, Brems e Burke (2002) investigaram as manifestações psiquiátricas mais comuns em uma amostra de pacientes usuários de drogas. Os autores apontaram três sintomas mais prevalentes: ansiedade, depressão e impulsividade. Da mesma forma, Hess, Almeida e Moraes (2012) observaram uma frequência maior de indicadores de transtornos de ansiedade em pacientes com histórico de consumo de múltiplas drogas. Staiger et al. (2011) evidenciaram que 71% (n=67) dos pacientes com transtorno por uso de substâncias psicoativas apresentavam transtorno de ansiedade. Kedzior e Laeber (2014), em uma metanálise, também demonstrou associação positiva entre ansiedade e uso de maconha na população geral.
O estudo de Lucchese et al. (2017) teve como objetivo determinar a probabilidade de Transtorno Mental Comum (TMC) associado ao uso de substâncias psicoativas. Nesse sentido, têm-se como TMC àqueles caracterizados pela presença de diferentes sintomas, como irritação, ansiedade e humor depressivo. Para tal, foi aplicado o instrumento Self-Report Questionnaire 20 (SRQ-20), que conta com 20 questões. As perguntas “Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a)?” e “Tem se sentido triste ultimamente?” foram as com maior número de respostas “sim” (69,2% e 66,6%). Enfim, o autor afirma que a probabilidade de TMC em dependentes químicos foi superior em comparação à população geral.
Além disso, Bartholomeu et al. (2014) analisou a ansiedade de dependentes químicos em internação hospitalar. Os participantes demonstraram níveis de ansiedade de moderado a grave durante toda a internação, sugerindo que, nesta população, a ansiedade se trata de um traço de personalidade que independe do ambiente. Uma associação semelhante foi descrita por Hofmann et al. (2009) em seu estudo, o qual identificou maiores chances de indivíduos ansiosos desenvolverem transtornos por uso de substâncias.
Somando os dois períodos do presente estudo, a agitação foi o terceiro registro mais frequente. Scolari (2019) mostrou que o tempo de internação de usuários de cocaína é mais baixo em relação ao dos pacientes que fazem uso de álcool. Nesta narrativa, o estudo sugere que usuários de cocaína apresentam mais agitação psicomotora e ansiedade durante a internação para reabilitação em ambiente hospitalar em comparação com os pacientes que fazem uso de álcool. Por esse motivo, àqueles interrompem a internação por conta própria com mais frequência que estes. Ademais, sabe-se que a agitação está entre os sinais e sintomas comumente apresentados pelos indivíduos com transtornos mentais ou comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas (APA, 2013; APA, 2014).
Dentre as queixas e sintomas da população deste estudo, estão registrados: ideação suicida, humor depressivo e fissura. Segundo Moreira et al. (2020), usuários de substâncias psicoativas tem maior probabilidade de desenvolverem transtornos mentais, o que aumenta o risco de suicídio em até 5,7 vezes. Um estudo realizado em 2012 evidenciou maior risco de suicídio atual e passado entre os pacientes dependentes de múltiplas substâncias psicoativas durante o período de abstinência (HESS, ALMEIDA E MORAES, 2012). Segundo Lucchese et al. (2017), cerca de 18% dos pacientes em tratamento e reabilitação por dependência química apresentaram ideação suicida.
Conforme Scolari (2019), aproximadamente metade dos pacientes internados por dependência química tinham registro de comorbidades psiquiátricas. Staiger et al. (2011) mostrou que 76% dos indivíduos que buscaram tratamento em um serviço de reabilitação para dependência química possuíam um transtorno depressivo. Além disso, Hess, Almeida e Moraes (2012) observaram frequência de comorbidades psiquiátricas envolvendo sintomas depressivos em dependentes químicos durante a abstinência. Em estudo, 66,6% dos dependentes químicos referiram tristeza (Lucchese et al., 2017).
Sabe-se que a fissura está entre os sinais e sintomas comumente apresentados pelos dependentes de drogas (APA, 2013; APA 2014). Em um estudo com usuários e ex-usuários de crack, todos os entrevistados afirmaram ter sentido fissura em diferentes situações, como logo após a retirada ou para o alívio de um sentimento negativo (Chaves et al., 2011). Nesse sentido, Bartholomeu et al. (2014) demonstrou que, em situações de solidão, a vontade de consumir drogas aumenta. De maneira semelhante, Costa e Valério (2008) referenciaram a solidão como um dos fatores de risco para o uso de drogas.
Neste contexto que se insere a TO como método terapêutico na instituição. Segundo a Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais, um dos objetivos da terapia é promover a saúde e bem-estar dos pacientes, utilizando instrumentos para reinserção social por meio do estímulo voltado à emancipação e à autonomia (WFOT, 2017). O método também contribui para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos pacientes, o que proporciona um melhor entendimento de si (LAGE, 2008).
Segundo a World Federation of Occupational Therapists (2017), essa terapia pode ser aplicada para indivíduos de diferentes idades, individualmente ou em grupos. Segundo Shimada et al. (2019), a terapia ocupacional individualizada mostrou ser benéfica quanto à redução do risco de reintegração de pacientes esquizofrênicos. Segundo o estudo, esta redução pode estar relacionada à melhora da cognição destes pacientes no momento da alta hospitalar e à melhora na adesão do tratamento ambulatorial, os quais são fatores associados a nova hospitalização. Estudo anterior apontou que a terapia individualizada trouxe melhorias, não só no funcionamento cognitivo e na adesão às medicações, mas também na motivação intrínseca e satisfação com o tratamento (SHIMADA et al., 2018).
De acordo com uma meta-análise publicada no The American Journal of Occupational Therapy, as atividades ocupacionais indicaram um efeito médio na melhora do desempenho dos pacientes psiquiátricos (IKIUGU et al., 2017). Segundo Rivas-Garibay, Olvera-Romero e Ferman-Cruz (2017), os pacientes que participaram da terapia ocupacional como parte de um tratamento durante a hospitalização relataram de maneira positiva a sua experiência após as sessões. Os benefícios foram percebidos em distintas áreas, como sensoperceptiva, cognitiva, social e psicológica. Murray e colaboradores (2010) mostrou que o tratamento com medicação, terapia interpessoal em grupo e terapia ocupacional foi superior ao tratamento apenas medicamentoso para a depressão resistente, mostrando a importância de diferentes estratégias no manejo de paciente psiquiátricos.
De acordo com Tedesco, Nogueira-Martins e De Albuquerque Citero (2017), o uso da TO como método terapêutico resultou no melhor desempenho dos pacientes em todas as dimensões avaliadas, como: capacidade de autocontrole, decisão, frustração, contato social e execução de tarefas cotidianas. No estudo de Tedesco et al., a amostra foi constituída por pacientes internados em ambiente hospitalar, tal qual o presente estudo. Ademais, os pacientes eram avaliados antes e após as atividades ocupacionais, o que ocorreu de forma semelhante neste estudo, ao comparar dois períodos de tempo: o primeiro, sem a TO como parte da terapêutica, e o segundo, com.
CHEN et al. (2015) realizou um estudo randomizado controlado a fim de demonstrar a eficácia da Life Adaptation Skills Training para pacientes com depressão. As atividades tinham como objetivo o desenvolvimento de habilidades, seguindo as recomendações de terapeutas ocupacionais certificados, com sessões realizadas duas vezes por semana por 1-1,5h, em média.
O estudo mostrou que a terapia foi efetiva para reduzir os níveis de ansiedade e ideação suicida. Os resultados encontrados por Chen vão de encontro aos encontrados no presente estudo, tendo em vista que foi observada uma redução significativa das queixas e sintomas de ansiedade e ideação suicida em uma população após a implementação da TO, a qual ocorria uma vez por semana por cerca de 2h. Ademais, de acordo com Chen, os efeitos da terapia foram mantidos por pelo menos três meses após a participação da terapia.
Lage et al. (2008) comparou o número de solicitações de atendimento psiquiátrico em um serviço especializado em dias que as atividades ocupacionais foram realizadas e em dias que não foram. O autor mostra que houve uma redução significativa da média de consultas em semanas com TO em comparação com semanas sem a TO. As principais queixas dos pacientes atendidos foram: ansiedade, cefaleia e insônia. O estudo mostra que, em dias sem a TO, os atendimentos por ansiedade e/ou angústia eram mais frequentes. Nesses dias, foram registradas três vezes mais queixas de ansiedade e/ou angústia em comparação aos dias com a TO. (LAGE, 2008).
De acordo com Rivas-Garibay, Olvera-Romero e Ferman-Cruz (2017), observou-se redução dos sintomas significativos durante o tratamento de pacientes internados em uma ala psiquiátrica de um hospital geral. O autor afirma que a TO fez parte do tratamento destes pacientes, entretanto, explica que não foi possível mensurar o impacto da atividade ocupacional isoladamente na redução da sintomatologia. Nesse sentido, Lage et a. (2008) destaca que há poucos estudos quantitativos que avaliam o impacto da TO na saúde mental no Brasil.
5. CONCLUSÕES OU CONSIDERAÇÕES FINAIS
As queixas e sintomas mais frequentes no período estudado foram insônia durante e fora da ronda médica, ansiedade e agitação. Além disso, observou-se uma redução significativa das intercorrências psiquiátricas por insônia durante a ronda, ansiedade, fissura e ideação suicida após a aplicação das atividades ocupacionais.
As limitações deste estudo foram: a possibilidade de falha de registros no objeto de estudo e a análise voltada a esses registros. Nesse sentido, é necessário estudos voltados ao acompanhamento dos pacientes a fim de melhor determinar a evolução da sintomatologia dos mesmos em um período de tempo.
O presente estudo contribui para a comunidade científica e viabiliza possibilidades terapêuticas voltadas aos pacientes internados para reabilitação. Tendo em vista que há poucas publicações sobre este assunto, mais estudos como este são necessários para avaliar o impacto da terapia ocupacional nas queixas e sintomas em pacientes internados para reabilitação química em um hospital especializado.
REFERÊNCIAS
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1Estudante de Medicina. Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). giuliazaki@gmail.com
2Estudante de Medicina. Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ).
lilianzaki@unochapeco.edu.br
3Estudante de Medicina. Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). tainazan@gmail.com
4Estudante de Medicina. Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). renatalnd97@gmail.com
5Médica formada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). Residente de psiquiatria
no Hospital tal. michellelange@gmail.com
6Estudante de Medicina. Universidade Católica de Pelotas (UCPEL).
taianebrandelli@hotmail.com
7Estudante de Medicina. Universidade Católica de Pelotas (UCPEL).
paolarboschetti@gmail.com
8Médico formado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL). Psiquiatra formado pela
Associação de Caridade Santa Casa de Rio Grande (ACSCRG). gabrielsdcampos@gmail.com