O PAPEL DOS PAIS NO TRANSTORNO DE ANSIEDADE INFANTIL

THE ROLE OF PARENTS IN CHILDHOOD ANXIETY DISORDER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7464902


Fernanda Duarte Araújo1
Cleide Maria Lima Barros2
Ruth Raquel Soares de Farias3


Resumo

O objetivo deste trabalho é revisar na literatura o papel dos pais no transtorno de ansiedade infantil. E tem como pretensão orientar as famílias sobre o cuidado e o tratamento das crianças com transtorno de ansiedade, pois a família é a base para o desenvolvimento saudável das crianças. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa e descritiva e ocorreu no período de agosto a novembro de 2022. As bases de dados utilizadas nesta revisão foram: Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia e Scientific Electronic Library Online. Ao final, 5 artigos foram incluídos para constituir a amostra desta revisão de literatura. Os resultados demonstram a importância de um clima familiar agradável, com apoio e coesão na resolução de problemas comportamentais e emocionais, pois é dever primeiro da família proteger as crianças. É papel dos pais a educação e o desenvolvimento saudável dos seus filhos, portanto, cabe à família promover uma estrutura familiar equilibrada para que a criança seja protegida de diversas situações que possam conduzi-la ao transtorno de ansiedade. Ressalta-se a importância dos pais conhecerem o transtorno de ansiedade para poder identificá-lo nas crianças e buscar entender como prevenir e como agir diante do quadro de ansiedade infantil já instalado.

Palavras-chave: Transtorno de ansiedade. Criança. Transtornos do Comportamento Infantil. Família

Abstract

The objective of this work is to review in the literature the role of parents in childhood anxiety disorder. And it intends to guide families on the care and treatment of children with anxiety disorders, as the family is the basis for the healthy development of children. This is an integrative literature review, with a qualitative and descriptive approach, which took place from August to November 2022. The databases used in this review were: Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia and Scientific Electronic Library Online. In the end, 5 articles were included to constitute the sample of this literature review. The results demonstrate the importance of a pleasant family climate, with support and cohesion in solving behavioral and emotional problems, as it is the first duty of the family to protect the children. The education and healthy development of their children is the role of parents, therefore, it is up to the family to promote a balanced family structure so that the child is protected from various situations that may lead to an anxiety disorder. It is important for parents to be aware of the anxiety disorder in order to be able to identify it in children and seek to understand how to prevent and how to act in the face of already installed childhood anxiety.

Keywords: Anxiety disorder. Child. Child Behavior Disorders. Family.

Introdução

A ansiedade infantil está se tornando cada vez mais comum. Cerca de 10% das crianças sofrem de algum transtorno ansioso e os mais frequentes são: o Transtorno de Ansiedade de Separação, que atinge cerca de 4%; o Transtorno de Ansiedade Excessiva (TAG), que atinge de 2,7% a 4,6%, e fobias específicas, que acometem de 2,4% a 3,3%; geralmente, os transtornos variam de acordo com a idade das crianças (ASBAHR, 2004).

Os problemas de saúde mental na infância podem prejudicar o desenvolvimento da criança. No Brasil, as taxas de prevalência estão entre 12,7% e 23,3% (FLEITLICH e GOODMAN, 2002). Entre os principais problemas está o Transtorno de Ansiedade (TA) que é uma patologia que possui características de medo e ansiedade excessivos.

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V) no TA, o medo está associado à excitabilidade, momentos de luta ou fuga e pensamentos de perigo imediato. Já a ansiedade está relacionada à tensão muscular e ao estado de vigilância a perigos futuros, apresentando cautela ou esquiva (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Sendo o transtorno de ansiedade comum em crianças, é necessário que a família seja a principal responsável na prevenção e controle da condição.

A família é importante, pois quando disfuncional, sem previsibilidade, com o ambiente que favorece a ansiedade, a estrutura familiar pode se tornar a promotora da ansiedade infantil. E o desenvolvimento da ansiedade na infância pode causar prejuízo a médio e longo prazo na vida da criança. Sendo assim, se não houver tratamento logo na infância, o transtorno e suas comorbidades podem acompanhar o sujeito ao longo da vida (MATOS et al., 2015).

Nesse contexto, sabendo que a criança é depende da família e se relaciona com ela continuamente, o cuidado e o tratamento da ansiedade infantil devem ter como base o sistema familiar. Por isso, o objetivo desse trabalho foi revisar na literatura o papel dos pais no transtorno de ansiedade infantil.

Metodologia

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa e descritiva. Segundo os autores Souza, Silva e Carvalho (2010) a revisão integrativa de literatura é uma abordagem metodológica ampla que permite realizar a síntese atual sobre determinada temática específica, e ainda permite fazer uma síntese do conhecimento organizando as produções sobre o tema. Assim, no âmbito científico, garante um rigor metodológico.

A coleta de dados (artigos científicos) ocorreu no período de agosto a novembro de 2022. As bases de dados utilizadas nessa revisão foram: Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Para identificar os descritores oficiais em ciências da saúde sobre o tema, foi realizada uma busca no site dos Descritores em Ciências da Saúde (Decs), que é considerado por sua confiabilidade nas publicações na área da saúde. Os resultados foram os seguintes descritores: “Transtornos do Comportamento Infantil”, “Transtornos de Ansiedade” e “Família”.

A busca dos artigos científicos ocorreu na Biblioteca Eletrônica Científica Online, que é uma biblioteca digital de livre acesso. Nessa base de dados, foram utilizados todos os descritores com o operador booleano “AND”. No Pepsic, que é um Portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia utilizou-se a mesma estratégia de busca.

Os critérios de inclusão da pesquisa foram: artigos disponibilizados na integra, referente aos últimos 04 anos de publicação (2018 – 2022), em língua portuguesa. Com resumos e textos completos disponíveis nas bases de dados selecionadas, que retratem a temática referente à esta revisão. Os critérios de exclusão foram: artigos cuja temática não condizem com o tema proposto, artigos com o ano de publicação fora do recorte temporal definido, os duplicados, e a literatura cinzenta: dissertações, monografias, capítulos de livros e editoriais.

A análise dos dados ocorreu através da seleção dos artigos nas plataformas conforme os descritores. Após a seleção dos estudos, foi realizado a leitura dos resumos dos artigos selecionados. Os estudos que se enquadravam nos critérios de inclusão foram analisados detalhadamente.

Resultados e Discussão

A busca inicial pelos descritores nas bases eletrônicas de dados identificou 141 registros publicados no Scielo e 126 no Pepsic, somando, obtêm-se um total de 267 publicações. Do total de registros encontrados, foram removidos 98 por duplicação, ficando apenas 169. Em seguida, foram removidos 94 por se tratar de literatura cinzenta, restando apenas 75 estudos.

Com a remoção da literatura cinzenta, foi realizado a leitura dos títulos e resumos. Após a leitura criteriosa, foram excluídos 70 estudos, restando apenas 05 estudos que foram avaliados como elegíveis nessa revisão. A extração dos dados e a revisão dos artigos seguiram as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA), sendo o detalhamento apresentado no diagrama de fluxo disponível na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão sobre o papel dos pais no
transtorno de ansiedade infantil.

Fonte: PRISMA Statement, 2020

Os artigos selecionados tratam sobre o transtorno de ansiedade infantil, suas consequências e a necessidade de uma estrutura familiar equilibrada para o acompanhamento e cuidado das necessidades psicológicas e sociais na vida das crianças.

Os seguintes dados foram extraídos das publicações: autores, ano, título, objetivo e conclusão. A síntese dos dados se apresenta no Quadro 01, elaborado por meio do Excel 2010, para facilitar a visualização e compreensão dos resultados e discussão dos dados.

Sabe-se que a família é a base da construção da personalidade, docomportamento e dos valores das crianças. Por vezes, esse comportamento é influenciado por fatores externos, mas geralmente, é através do convívio familiar que se forma o caráter e a identidade dos pequenos. É, portanto, dever da família proteger a mente das crianças e orientá-los nas diversas decisões do dia a dia. E quando se fala de saúde psicológica, é ainda mais imprescindível “o desenvolvimento emocional sadio dos membros da família”, é o que destaca Milanez et al. (2019, p. 9). Pode-se afirmar que a presença de pais amorosos e sábios no trato diário possibilite que a criança consiga estabelecer relações sólidas.

Segundo os autores Leusin, Petrucci e Borsa (2018) a família é o primeiro contexto de interação social da criança, e pode se tornar um fator de risco ou de proteção para o seu desenvolvimento. Assim, é importante um clima familiar agradável, com apoio e coesão na resolução de problemas comportamentais e emocionais. O estudo de Matos et al. (2015) corrobora, demonstrando que a forma como se estabelece as relações entre pais e filhos, tornam-se base para a formação do próprio funcionamento interno, e ao crescer outras pessoas passam a ser influências e formam a maneira como a criança lida com a ansiedade. Os autores ainda destacam que eventos estressantes podem ter uma possível causalidade do transtorno ansioso na infância.

Acredita-se que o papel dos pais em primeira instância é criar um ambiente familiar de prevenção ao transtorno de ansiedade. Os autores Guancino, Toni e Batista (2020) em seu estudo sobre o método friends – um método que visa

Autores e AnoTítuloObjetivoConclusão
Leusin, Petrucci e Borsa (2018)Clima Familiar e os problemas emocionais e comportamentais na infância.Investigar a relação entre clima familiar e problemas emocionais e comportamentais na infância.A família é considerada o primeiro contexto de interação da criança, podendo atuar como fator de risco ou de proteção para o desenvolvimento, dependendo da qualidade dos seus processos proximais, como é o caso do clima familiar.  
Guancino, Toni e Batista (2020)Prevenção de Ansiedade Infantil a partir do Método Friends.Verificar se a sintomatologia de ansiedade de crianças diminui após a participação destas no método friends.Os resultados apontam para a diminuição do total de sintomas de ansiedade nas crianças que participaram do método logo após e no seguimento de dois meses.
Emerick e Rosso (2020)A relação da estrutura familiar e o desenvolvimento da ansiedade infantil.Verificar na literatura como ocorre a relação entre a estrutura familiar e o desenvolvimento da ansiedade infantil.Fatores ambientais, genéticos e psicossociais influenciam nos ciclos vitais familiares e os elementos da dinâmica familiar tais como regras, normas, comunicação e as interações conjugais, são características da estrutura familiar que quando presentes de uma maneira desajustada, corroboram para o desenvolvimento da ansiedade na infância.  
Polerto e Amorim (2021)Ansiedade infantil e modernidade em tempos de instabilidade emocional.Estudar um pouco sobre a história da infância, conceituando a ansiedade infantil, compreendendo a atualidade do problema e suas consequências, apontando caminhos para esta superação através da intervenção da escola.O primeiro passo que os pais e responsáveis, devem tomar quando identificado algum transtorno, é se aprofundar no que de fato a criança tem. Ter um diagnóstico preciso de um profissional competente vai contribuir de forma relevante para a superação deste desafio.
Reis e Landim (2021)Relação entre ansiedade social infantil e o uso de controle coercitivo por pais e/ou cuidadores.Identificar possíveis relações entre o uso do controle coercitivo por pais e/ou cuidadores e a ansiedade social na infância.Embora a maior parte dos responsáveis não tenha manifestado diagnóstico de ansiedade, observou-se que seus comportamentos ansiosos diante de situações sociais influenciam na emissão de comportamentos ansiosos por parte dos filhos.

desenvolver as habilidades socioemocionais, de resiliência e comportamentais para uma vida saudável – destacam que é por meio dessa intervenção que se pode chegar à diminuição dos sintomas de ansiedade nas crianças. Izuca et al. (2011) defendem que no método friends seja valorizado a participação de familiares no ensino de habilidades cognitivas para resolução de problemas, bem como identificação e controle de respostas fisiológicas, reestruturação cognitiva, treinamento de atenção e exposição gradual a situações de medo. Assim, verifica-se a necessidade da presença dos pais na prevenção e no tratamento dos transtornos mentais, pois a criança é dependente do apoio e do cuidado parental.

Jansen (2007) constata que os transtornos de ansiedade podem estar associados a fatores psicossociais como desestruturação familiar, desemprego, pobreza, e aspectos ambientais, tal qual um divórcio, doença e/ou morte de algum membro da família. E Milanez et al. (2019) complementam afirmando que disfunções nas relações conjugais podem gerar um impacto na saúde física e emocional das crianças, produzindo também um mau funcionamento na relação entre pais e filhos. É o que conclui também, Emerick e Rosso (2020) em seu estudo, afirmando que as interações entre os membros do sistema familiar, quando em desajustes podem levar ao adoecimento, principalmente em crianças que estão em fase de desenvolvimento, podendo assim desencadear a ansiedade infantil.

Considerações Finais

Os resultados desse artigo ressaltam a importância da família no cuidado psicológico com as crianças, visto que é papel dos pais a educação e o desenvolvimento saudável dos seus filhos, cabe à família promover uma estrutura familiar equilibrada para que a criança seja protegida de diversas situações que possam conduzi-la ao transtorno de ansiedade.

Ressalta-se a importância dos pais conhecerem o transtorno de ansiedade para poder identificá-lo nas crianças e ainda, buscar entender primeiramente como prevenir e como agir diante do quadro de ansiedade infantil já instalado. Por isso, esse estudo se faz relevante e necessário.

O presente estudo proporcionou a possibilidade de aprofundar os conhecimentos sobre o transtorno de ansiedade infantil e sobre as atitudes dos pais nesse processo, contribuindo, portanto, com a possibilidade de ampliação de novas investigações.

REFERÊNCIAS

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