A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO EM RECÉM-NASCIDOS PRÉ-TERMO NA POSIÇÃO “CAVALEIRO”- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Sarah Lins dos Santos*
E-mail: princesa_sls@hotmail.com
Maria Betânia de Mélo**
RESUMO
O presente estudo tem o objetivo de realizar um levantamento bibliográfico referente à importância do aleitamento materno utilizando a posição “Cavaleira” no recém-nascido pré-termo (RNPT) na UTI neonatal. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, cujo método de procedimento é o dedutivo. Sabe-se que o leite materno tem uma eficácia muito grande na recuperação destes neonatos, no que diz respeito ao próprio fator da prematuridade que facilita uma resposta no desenvolvimento neuropsicomotor do recém-nascido pré-termo, como também na conduta fisioterapeutica. Entende-se que com a atuação da fisioterapia na área preventiva e curativa irá proporcionar uma recuperação mais rápida do RNPT e as mães ficarão mais informadas, quanto à importância do aleitamento materno.
Palavra-chave: Fisioterapia, Aleitamento Materno,RNPT.
INTRODUÇÃO
O aleitamento materno de prematuros é menos freqüente que o de recém-nascidos a termo, devido à imaturidade anátomo-funcional das crianças e aos distúrbios (Síndrome do desconforto respiratório, Síndrome de Aspiração de Mecônio, Insuficiência respiratória e Apnéia da prematuridade) que costumam apresentar após o nascimento. Estas limitações, porém, não constituem um obstáculo definitivo, e alguns programas de estímulo à prática da amamentação de prematuros têm logrado aumentar significativamente a taxa de amamentação. De modo geral, estas crianças permanecem por períodos prolongados nas unidades neonatais, onde o estímulo à prática da amamentação deve ter início (DARÉ; IAMAMURA, 2003).
A partir destas constatações e da falta de um programa estruturado de ensino dirigido às mães de prematuros quanto ao valor e à prática da amamentação, foram redigidos manuais específicos, contendo informações importantes presente neste presente estudo.
As instruções descritas na seqüência do texto contêm informações encontradas na literatura e tem como objetivo estimular à prática do aleitamento materno nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e serviços ambulatoriais que atendam aos prematuros, a fim de evitar repercussões sofridas pelo recém-nascido pré-termo na UTI neonatal. A ênfase é a posição de “cavaleiro” para estimular o reflexo de preensão e a posição cefálica facilitando a programação fisioterapeutica no âmbito hospitalar proporcionando uma recuperação saudável e uma qualidade de vida eficaz.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os bebês deveriam ser amamentados, com complemento, no mínimo até o 2º ano de vida. Os benefícios da amamentação continuam mesmo para crianças maiores. O leite materno é o alimento ideal para o bebê, fundamental para a saúde e desenvolvimento da criança, devido às vantagens nutricionais, imunológicas e psicológicas, além de originar proveito para a mãe (MINISTERIO DA SAÚDE, 1995). O RNPT tem necessidades nutricionais especiais decorrentes de sua velocidade de crescimento e de sua imaturidade funcional (AKRÉ, 1994). Portanto, as vantagens do aleitamento materno são:
Vantagens nutricionais: segundo o Ministério da Saúde (2001), o leite materno contém todos os nutrientes que um recém-nascido de termo necessita para os seis primeiros meses de vida. Logo, em relação aos prematuros:
• O leite materno oferece maior quantidade de proteína e tem relação caseína/lactoalbumina mais adequada do que o leite de vaca, 30% na forma de caseína e 70% de lactoalbumina. A fração de lactação albumina é digerida com mais facilidade, promovendo o esvaziamento gástrico mais rápido.
• O leite materno contém hidratos de carbono constituídos por lactose e oligossacarídeos. A capacidade de absorção da lactose pelo prematuro é superior a 90%. Os oligossacarídeos são polímeros de hidratos de carbono com estrutura que mimetiza os receptores antigênicos bacterianos, estimula o sistema imunológico e, assim, protege a mucosa da ação de bactérias (FEFERBAUM, 2000).
• O desenvolvimento psicomotor e social dos bebês amamentados é claramente melhor e resulta, na idade de um ano, em vantagens significantes (BAUMGARTHER, 1984). Adicionalmente, o leite humano contém ácidos graxos de cadeia longa, como o ácido araquidônico e o docosaexaenóico, que estão associados à cognição, ao crescimento e à visão (RICCO, 1996).
Os ácidos graxos ômega 3 do leite materno são essenciais para que haja desenvolvimento normal da retina, em especial nos RN de muito baixo peso. Estes ácidos, juntamente com as substâncias antioxidantes vitamina E, β-carotenoetaurina, podem explicar a proteção oferecida pelo leite materno contra o desenvolvimento da retinopatia da prematuridade (UAUY,1990) .
• O leite materno contém vitamina A, importante na proteção do epitélio respiratório quanto à displasia broncopulmonar. A quantidade é maior no leite de mães de prematuros do que nas de RN a termo entre o 6º e o 37º dias de vida, com posterior redução. A concentração de vitamina D no leite de mães de prematuros é baixa e tem sido considerada insuficiente para as necessidades dos mesmos. Em relação à vitamina E, o leite da mãe do prematuro apresenta uma concentração maior em comparação ao leite da mãe de recém-nascido a termo (VINAGRE,1999).
Vantagens imunológicas: o Ministério da Saúde (2001) afirma que crianças em aleitamento materno têm menos quadros infecciosos respiratórios e digestivos, conferido pelos fatores anti-infecciosos. Mas, em relação aos prematuros: as concentrações de lactoferrina, lisozima, IgA e complemento são maiores no colostro de mães de recém-nascidos com idade gestacional menor do que 37 semanas (BARROS,1984).
• A lactase do leite promove a colonização intestinal com Lactobacillus sp., por sua vez estas bactérias fermentativas promovem a acidificação do trato gastrintestinal, inibindo o crescimento de bactérias patogênicas, fungos e parasitas; a acidificação também facilita a absorção intestinal de cálcio e ferro (LAWRENCE,1994).
• O leite materno contém glutamina, arginina e a acetil-hidrolase do PAF (fator ativador de plaquetas). Estas substâncias têm ação antiinflamatória e explicam, em parte, o efeito protetor do leite materno para a enterocolite necrosante, que habitualmente é mais incidente nos prematuros (MOYA, 1994).
• Há células protetoras no leite materno que são estimuladas pela presença da mãe na UTIN; o estímulo ocorre, sobretudo, no leite ofertado aos prematuros (VINAGRE, 2001).
Vantagens psicológicas: o aleitamento materno facilita o estabelecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho, uma maior união entre ambos. Esta ligação emocional pode facilitar o desenvolvimento da criança (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
Vantagens econômicas: a praticidade do leite materno é inquestionável, pois não há necessidade de misturar, aquecer ou esterilizar; ele está sempre disponível, na temperatura adequada (SAKAE, 2001).
Vantagens maternas: em relação à saúde da mãe e bem-estar, a amamentação apresenta vários benefícios: há evidências de que a lactação promove rápida perda de peso da nutriz, essencialmente, no primeiro mês pós-parto (ABUSABHA, 1998).
• Ao longo prazo, as mulheres que amamentaram têm menor risco de osteoporose, menor incidência de câncer de mama na pré-menopausa, e de câncer de ovário. Há variações nutricionais e imunológicas do leite materno, que dependem do estágio da lactação, do horário, do período da mamada, da alimentação e idade maternas, da idade gestacional da criança, bem como das características individuais de cada nutriz. Porém, o leite materno é apropriado para o bebê, especialmente quando é nascido prematuro (MOURA, 2002).
Entende-se que a partir do momento em a mãe amamenta a criança na UTI neonatal na posição “Cavaleiro” ela estará estimulando os reflexos da sucção, preensão palmar, o controle do tronco, reflexo de busca e olhos de boneca de japonesa.Além de outros benefícios tais como, facilitando na eliminação da secreção e na digestão e o elo de confiança da mamãe para o bebê.
Isto é importante, pois a fisioterapia atua no sentido de orientar os posicionamentos da amamentação e exercícios que irão estimular os principais reflexos para iniciar a coordenação motora da criança e nos casos onde ocorre a presença de secreção, a sua eliminação através do aspirador e do aparelho de nebulização juntamente com a técnica de vibração manual.
Então, quando a mãe utiliza a técnica no neonato haverá uma evolução significativa deste, principalmente, durante a fisioterapia e a intenção desta técnica é proporcionar uma melhor qualidade de vida para o prematuro e evitar o avanço da patologia para aqueles que ainda têm chance de receber alta. Portanto, para que ocorra uma evolução rápida para o prematuro faz necessário utilizar esta intervenção.
Assim, diante desse contexto, esse estudo se propõe a obter informações de caráter preventivo e curativo sobre o recém-nascido pré-maturo, no sentido de passar informações importantes para as mães e profissionais da área de saúde, quanto ao posicionamento da mãe durante o aleitamento materno e a atuação da fisioterapia, através do estímulo proprioceptivo nas diversas posturas. O desenvolvimento das reações de retificação, equilíbrio, proteção e manobras de higiene brônquica, proporcionam uma qualidade de vida melhor para o prematuro, um resultado significativo, de acordo com a conduta fisioterapeutica proposta.
METODOLOGIA
A metodologia aplicada neste estudo tem como finalidade esclarecer e aprofundar a temática na área da intervenção fisioterapeutica em recèm-nascidos prematuros enfatizando o aleitamento materno na posição “Cavaleiro”, a fim de evitar complicações geradas na UTI neonatal entre os bebês pré-termo, através de coletas de dados em livros de leitura corrente, livros de publicações periódicas e avulsas recentes e bases de dados eletrônicos, tratando assim de um estudo bibliográfico.
A pesquisa realizada é do tipo exploratória – descritiva com a principal finalidade de explicar os modernos procedimentos fisioterapeuticos em bebês prematuros na UTI neonatal e orientações preventivas quanto à importância do aleitamento materno com base em estudos realizados, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida e uma recuperação saudável para os recém-nascidos de pré-termo (GIL,2002).
Este estudo relata a importância do aleitamento materno em recém-nascidos pré-termo na UTI neonatal dando ênfase a posição “cavaleiro” e a atuação da fisioterapia motora e respiratória, a fim de eliminar a secreção pulmonar e estimular o desenvolvimento neuropsicomotor do prematuro. Durante a realização deste estudo, foram adotadas: a escolha do tema, levantamento bibliográfico, análise qualitativa dos dados a partir de uma leitura analítica, seletiva e interpretativa dos conteúdos trabalhados, a tomada de apontamentos referentes à leitura analítica com elaboração do resumo e fichamento, redação do trabalho em dois momentos: o primeiro relativo ao referencial teórico, obtendo a obra um caráter cientifico e o segundo é a seqüência de exercícios e orientações de caráter preventivo e curativo.
DISCUSSÃO
A intervenção fisioterapeutica aplicada na UTI neonatal tem a intenção de amenizar o sofrimento dos recém – nascidos prematuro que chegam na UTI com problemas respiratórios, com problemas de desnutrição e com alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Uma das complicações geradas na UTI é: a falta de apetite, crescimento prejudicado, problemas na audição e visão, irritação na pele, acúmulo de secreções e atraso no desenvolvimento. O objetivo da fisioterapia é atuar nos dois níveis de assistência: a prevenção e a cura da patologia que o RNPT possui.
A prevenção é realizada com base nas orientações feitas pelo profissional Fisioterapeuta a mãe, quanto ao período de amamentação. Um posicionamento adequado para o RNPT, que não estar entubado, durante a amamentação é a posição “cavaleiro”, na qual a mãe em posição vertical, a criança apoiada na perna da mãe, uma das mãos sustenta seu pescoço e a outra segura a mama direcionada à boca do prematuro, em seguida o bebê suga o leite. Este posicionamento é importantíssimo para o RNPT, pois ele irá estimular a visão, o reflexo de busca e sucção, facilita a digestão do prematuro, diminui o acúmulo de secreções pulmonares, desenvolve a percepção estimulando o elo de confiança da mãe com o seu filho.
O leite materno protege da alergia os prematuros com história familiar de atopia, principalmente no que diz respeito à incidência de eczema. Isso foi observado aos dezoito meses de idade, quando aqueles que receberam leite artificial apresentaram maior risco de desenvolver esse tipo de reação se comparados aos que receberam LH de banco de leite. Quando a mãe fica no hospital com o RNPT durante a sua internação, ocorre a produção materna de anticorpos contra microorganismos nosocomiais da unidade neonatal, o que é importante para o recém-nascido na prevenção de infecção durante a permanência hospitalar (ISSLER,2004).
Confirmando esses dados, em pacientes submetidos ao Método Mãe Canguru (RN mantido na posição vertical, em decúbito prono, contra o corpo da mãe), implicando contato precoce e crescente entre os dois, foi detectada redução significativa na incidência de infecções graves quando comparados com os tratados pelo método tradicional (ISSLER, 2004).
Com base nestas orientações é que a fisioterapia curativa irá atuar no sentido de facilitar a recuperação do neonato tendo como principais objetivos: prevenir os possíveis desvios da normalidade, prevenir e tratar complicações respiratórias e músculo-esquelética, propiciar o estímulo sensório-motor e estimular o Desenvolvimento neuropsicomotor.
Como conduta fisioterapeutica é realizada da seguinte forma: se o RNPT apresentar secreção em alguns lobos do pulmão será utilizado as manobras de higiene brônquica em especial a Vibração manual e a aspiração da secreção acumulada e manobras Farley Campos para permitir a expansão pulmonar, evitando a sua retração; na cinesioterapia motora será utilizado a estimulação tátil através da estimulação precoce com o uso do tapete com pontas para ativar as células nervosas sensitivas e a mudança de decúbito do RNPT; Alongamento passivo global de MMII,MMSS e tronco; Estimulação visual com figuras em preto/branco utilizando como ponto de controle o ombro para facilitar o sentar e trabalhar transferência de peso e equilíbrio.
Mobilização articular para liberar as articulações, a fim de melhorar a amplitude de movimento; para facilitar a utilização da posição cavaleira durante a amamentação o terapeuta com a luva esterilizada irá provocar o reflexo de busca, passando o dedo ao redor dos lábios do RNPT, depois o terapeuta irá colocar o dedo dentro da boca do prematuro massageando a parte interna dos lábios a fim de estimular o reflexo de sucção.
Durante o aleitamento materno o prematuro terá mais facilidade de ser amamentado e principalmente de obter uma resposta significativa, proporcionando uma recuperação saudável e mais rápida.
CONCLUSÃO
Acredita-se que com as orientações apresentadas neste presente estudo é de grande relevância que os profissionais de fisioterapia conscietizem as mães quanto a importância do aleitamento e da posição cavaleiro para o RNPT e também para melhorar a capacidade funcional do prematuro através da fisioterapia motora e respiratória, facilitando assim um recuperação mais rápida, sem risco de complicações geradas pela UTI Neonatal, melhorando a qualidade de vida dos recém-nascidos pré-termo.
REFERÊNCIAS
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