RESENHA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: UMA RESENHA CRÍTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7427928


Rondinelli Cruz Roque1


Esta resenha destaca as ideias do livro Pedagogia do Oprimido, escrito entre 1964 e 1968, quando Paulo Freire estava exilado no Chile, foi proibido pelo denunciante cívico-militar no Brasil, onde permaneceu inédito até 1974. publicado em 2020 pela editora Paz e Terra e organizado em 256 páginas. O trabalho é apresentado em quatro capítulos e o formato apresentado por cada capítulo é especialmente interessante, apresentando seu conteúdo, os objetivos, a finalidade e um resumo do capítulo.

 É um livro radical sobre conhecimento solidário, vocação ontológica, amor, diálogo, esperança e humildade. Ele se voltou para batalhar contra a alienação por mão de obra gratuita para confirmar que uma pessoa é uma pessoa e não uma coisa.

Paulo Freire inicia Pedagogia do Oprimido falando do medo da liberdade no caso dos opressores, medo que os que a possuem desconhecem. No caso dos oprimidos, que pensam e se comportam de acordo com o que os opressores prescrevem, a liberdade seria substituir a prescrição dos opressores por outro conteúdo, e esse conteúdo seria elaborado pelos próprios oprimidos, agora autônomos.

No primeiro capítulo, justificativa da pedagogia do Oprimido, o autor destaca certos aspectos da sociedade no que diz respeito à luta pela humanização, pela necessidade de afirmar o homem como pessoa, como “ser para si”. Ele também enfatiza a alienação da exploração do trabalho e a desumanização refletida na objetificação (existência x posse).

Paulo Freire nos convida a refletir sobre a dialética em que a comunhão leva à libertação. A pedagogia do oprimido não pode ser desenvolvida pelo opressor. Considerando que no pensamento dialético ação e mundo, mundo e a ação estão intimamente ligados, a ação humana não dicotomiza a reflexão.

A pedagogia do oprimido é a pedagogia dos homens empenhando-se na luta pela superação das contradições sociais. Nesse contexto, a práxis é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo sem ela é impossível a superação da contradição opressor-oprimido.

O convencimento dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação é o engajamento, resultado de sua conscientização.

A situação opressiva é desumanizante. O que acabará por se tornar desumanizante. A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos: o trabalho do oprimido para transformar o mundo da opressão explorando-o quando a realidade opressora se converte, essa pedagogia deixa de ser para os oprimidos e passa a ser uma pedagogia em processo de libertação permanente.

Se a prática desta educação implica o poder político e se o oprimido não tem este poder, como realizar esta pedagogia antes da revolução? (ação política)

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.

Já no capítulo 2 ou A concepção bancária da educação como instrumento da opressão, o autor afirma que o elemento chave da educação bancária é a narração da palestra, “enchendo” os alunos de memorização durante um simples ato de depósito.

Na educação bancária existe uma contradição pedagógica, educar sob práticas de dominação é uma concepção antidialógica que inibe a criatividade do aluno deixando-o passivo e domesticado, são ideias totalmente conservadoras.

Contrapondo-se a essa concepção, o autor aponta para uma educação libertadora que supera a contradição educacional ao educar, serve ao diálogo e estimula a reflexão crítica onde as ideias são revolucionárias.

A visão do banco anula a criatividade dos alunos, promove a pureza sem julgamento e satisfaz os interesses do opressor. O “humanismo” da educação bancária transmuda automaticamente as pessoas em seres autômatos.

Ao falar sobre a problematização da educação, o autor destaca a importância dos homens oprimidos batalharem por sua emancipação.

No terceiro capítulo intitulado A dialogicidade – essência da educação como prática da liberdade, Paulo Freire descreve o diálogo como um pré-requisito para a existência humana, ou seja, o homem é a personificação da palavra que representa ação e reflexão.

Para o autor é necessário um diálogo horizontal, gerando temas que sejam estratégias metodológicas de sensibilização para a realidade opressiva vivida em sociedades desiguais; é o ponto de partida do processo de construção da descoberta e emerge da consciência pública de que os temas geradores vêm da prática de vida dos alunos.

Para tanto o autor enfatiza a utilização do conteúdo programático que consiste na relação dos conhecimentos selecionados para serem trabalhados na disciplina, organizados de acordo com os princípios existentes no campo do conhecimento relacionado à disciplina. 

E finalmente no último capítulo ou A teoria da ação antidialógica, o livro nos mostra o seguinte contraste: enquanto a teoria da ação antidialógica pensa em conquistar, dividir, manipular e invadir culturalmente a classe oprimida, a teoria da ação dialógica é pautada na colaboração, união, organização e síntese cultural.

Dividir para a classe opressora não significa dar-se ao luxo de consentir na unificação das massas, quando divididas as minorias podem manter seu poder. É preciso enfraquecer os oprimidos, isolá-los.

A manipulação é uma ferramenta para obter domínio. Quanto mais politicamente imaturos eles são, mais facilmente eles se deixam dominar pela classe dominante. É preciso anestesiar as massas para que não pensem, invadiram culturalmente e impõem determinação de visão de mundo.

Nas considerações finais do livro, Paulo Freire enfatiza a necessidade de se trabalhar a conjectura do diálogo versus o manejo de classes menos favorecidas pela ‘ cultura ‘. A própria população deve ser levada ao diálogo, que é o principal canal de libertação da injustiça e da opressão.


1Mestrando em Educação pela Universidade de Uberaba (UNIUBE), Campus de Uberaba. Lexlutoor587@gmail.com