ASPECTOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS QUE AFETAM A QUALIDADE DE VIDA EM AMPUTADOS DE MEMBROS INFERIORES

PHYSIOLOGICAL AND THERAPEUTIC ASPECTS THAT AFFECT THE QUALITY OF LIFE OF LIFE IN LOWER LIMB AMPUTEES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7421854


Carla Marciana Lima de Oliveira Amorim1
Francisca Kelly Feitosa da Luz 2
Hivana Raelcia Rosa da Fonseca3
Maria Barbosa de Sousa Costa4
Ruth Raquel Soares de Farias5


RESUMO: O presente artigo científico tem como objetivo geral verificar a relação trazida pela literatura entre reabilitação, a protetização e a melhoria da qualidade de vida aos amputados de membros inferiores. Como objetivos específicos buscou-se identificar as contribuições da equipe multidisciplinar para a melhoria da qualidade de vida de pessoas amputadas de membros inferiores, as possíveis causas e níveis existentes de amputações. Para tal, realizou-se um levantamento bibliográfico com abordagem qualitativa em livros, artigos e periódicos pesquisados nas bases de dados BVS, Lilacs e SciELO. Foram analisados seis artigos escolhidos de modo a responder aos objetivos desse estudo, uma vez que se trata de uma pesquisa bibliográfica narrativa. Os resultados demonstram que as amputações podem ter múltiplas causas, principalmente doenças relacionadas ao diabetes e traumas como acidentes de trânsito, sendo que os aspectos emocionais aparecem com destaque ao longo do processo, como a tristeza e a dor de perder um membro, mas que ainda precisam ser estudados no campo da psicologia para fundamentar intervenções e ações adequadas às necessidades reais nesta área. Essa ainda é uma área que requer muitos estudos pela Psicologia, uma vez que apesar de ter um papel essencial no processo de reabilitação e protetização, ainda são poucos os estudos sobre o tema.

PALAVRAS-CHAVE: Amputação. Bem-estar. Reabilitação 

ABSTRACT: The present scientific article has as a general objective to verify the relation, presented by literature, between rehabilitation, prosthetization and improvement of life quality

to lower limb amputees. As specific objectives, it fetches to identify the contributions of the multidisciplinary team to improve the life quality of people with lower limb amputees, the possible causes and existing levels of amputations. As such, it was accomplished a bibliographical survey with a qualitative approach in books, articles and periodicals researched in the databases BVS, Lilacs and SciELO. Six articles were chosen to meet the objectives of this study since it is narrative bibliographic research. The results show that amputations may have multiple causes, especially diseases related to diabetes and trauma such as traffic accidents once emotional aspects are highlighted throughout the process, such as sadness and pain for losing a limb. However, they still need to be studied inthe field of psychology to support interventions and actions appropriate to the real needs in this area. This area still requires much study by Psychology, since despite having na essential role in the rehabilitation and prosthetization process, there is still lacking studies on the subject.

KEYWORDS: Amputation. Well-being. Rehabilitation

1 INTRODUÇÃO

 Amputação refere-se à remoção completa ou parcial de um membro, geralmente ressecção cirúrgica, que é considerada um processo de reconstrução em que o membro não é funcional ou é funcionalmente limitado. O aumento da incidência geral se deve principalmente ao tempo médio de vida e ao trânsito que está relacionado aos acidentes vindos destes, e também acidentes de trabalho (CARVALHO, 2003).

  Para Chini e Boemer (2007), perder parte do corpo dói e impõe uma nova forma de vida, uma relação isolada. Há uma mudança em pessoas amputadas não só em relação ao corpo mas também na maneira de ver o mundo em todos os seus aspectos, pois perder parte do corpo mudará toda a vida, devendo haver adaptações rumo a novas perspectivas.

Situações como alucinações, dor nos membros amputados, dor nos membros do lado oposto, dentre outros, podem interferir na saúde desses pacientes durante o processo pós cirúrgico. As próteses de membros são amplamente utilizadas por pacientes com cotos de tamanhos adequados, vascularizados e bem recobertos pelo tecido muscular circundante. (BRASIL, 2013; CARVALHO, 2003).

Segundo Umburanas et al. (2003, p.2) “as amputações dos membros inferiores são divididas em desarticulação do quadril, transfemoral, desarticulação do joelho, transtibial, Syme, Chopart, pirogof, lisfranc, transmetatarsiana e desarticulação de artelhos”.

A amputação de membro inferior ao nível transtibial (embaixo do joelho), é a mais realizada, pois torna-se um nível de melhor adaptação à prótese. Proporcionando um braço de alavanca maior e, portanto, menor gasto energético na marcha. Prótese é uma ação que fornece soluções protéticas para pessoas que desejam restaurar sua qualidade de vida após amputados, com resultados satisfatórios que perpassa os vários campos como físico, mental e social. (SULLIVAN; SCHMITZ, 2010).

A etapa anterior à colocação da prótese é fundamental para a adaptação do paciente, incluindo fortalecimento muscular, alongamento, prevenção, redução de deformidades, dentre outros, pois torna-se fundamental para um melhor funcionamento da prótese. Com isso há uma capacidade de independência maior e uma vida com mais qualidade. Portanto, é necessário o acompanhamento de uma equipe multiprofissional para enfatizar todo o procedimento do tratamento da mas nova etapa que precisa ser compreendida, absorvida e superada. (NUNES JÚNIOR; MELLO; MONNERAT, 2017).

O tratamento é longo, sendo a reabilitação uma etapa essencial, pois receber cuidados personalizados e programados faz com que todo o processo prossiga da forma mais plena possível e alcance os objetivos desejados. O papel da psicologia em equipes interdisciplinares é considerado essencial para o trabalho com pacientes, de uma forma global com o objetivo de minimizar as dores causadas pela hospitalização, doença e cirurgia, promovendo autonomia e desenvolvimento cooperativo durante todo o processo. (CHINI; BOEMER, 2007). 

Teve-se como objetivo geral da pesquisa, verificar a relação trazida pela literatura entre reabilitação, a protetização e a melhoria da qualidade de vida aos amputados de membros inferiores. Como objetivos específicos buscou-se identificar as contribuições da equipe multidisciplinar para a melhoria da qualidade de vida de pessoas amputadas de membros inferiores, as possíveis causas e níveis existentes de amputações. 

Considerando um fator importante na fase de tratamento pré-prótese, a relevância da presente pesquisa buscou conhecer como a reabilitação e equipe multidisciplinar adequada a pessoas que passaram por amputação leva a um melhor desempenho funcional para uma melhor adequação à prótese. Tem-se como objetivo demonstrar a importância de fornecer, teorias e reflexões para uma visão crítica dessa realidade, permitindo a possibilidade de formular e subsidiar práticas interventivas, pois essas são possibilidades essenciais para o fortalecimento da pessoa amputada como um todo, havendo consequentemente uma melhoria da qualidade de vida.  

2 METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, que se preocupou com aspectos não quantificáveis de realidades, buscando compreender os fenômenos. Para Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa é um processo sistemático, controlado e crítico de reflexão que possibilita descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa qualitativa tende a enfatizar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana para compreender a totalidade no contexto da pessoa que vivencia o fenômeno.

As reflexões sobre a pesquisa qualitativa em psicologia não se limitam a discutir aspectos técnicos específicos relacionados à forma como as investigações são conduzidas. Qualitativo refere-se às diversas possibilidades de abordar dimensões do objeto pesquisado, possibilidades essas que extrapolam a quantificação enquanto recurso dominante na construção da ciência (GOULART, 2018).

A coleta de dados foi feita através de livros, artigos e periódicos pesquisados nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), sem critérios de tempo, visto que foi necessário fazer uma análise mais aprofundada sobre o histórico das diferentes amputações, para chegar a uma compreensão do seu processo e como uma reabilitação eficiente afeta a qualidade de vida do sujeito. Foram utilizados ainda materiais encontrados em livros da área da saúde. 

Essa foi uma pesquisa bibliográfica de caráter narrativo, baseando-se na intencionalidade de compreender e interpretar as dimensões humanas para além de esquemas quantificáveis. Segundo Paiva (2008), os artigos de revisão narrativa são adequados para descrever e discutir desenvolvimentos sobre um determinado tópico de uma perspectiva teórica ou de fundo contextual. A partir disso os dados foram categorizados e discutidos, tendo como orientação os objetivos propostos na pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

3.1 AMPUTAÇÃO DE MEMBROS:  INCIDÊNCIAS, CAUSAS E NÍVEIS DE AMPUTAÇÕES 

 A amputação é tão antiga quanto os próprios humanos. A mais antiga referência escrita à amputação encontrada é o Rig-Veda, um poema antigo sagrado hindu escrito entre 3.500 e 1.800 a.c. O respectivo poema fala sobre a rainha Vishpla, uma guerreira que teve seus membros amputados devido aos ferimentos de guerra, porém volta à respectiva guerra e ao campo de batalha, com uma prótese feita de ferro (CARVALHO, 2012). 

Amputação é uma palavra que deriva do latim, “ambi”, em volta de, e “putatio” podar/retirar. Pode ser definida como remoção, geralmente cirúrgica, total ou parcial do membro. Para muitos, a palavra está relacionada ao fracasso e à mutilação, desencadeando implicitamente uma analogia com dependência e incompetência (CARVALHO, 2003). 

A amputação é a operação mais antiga, significando a remoção cirúrgica do membro, total ou parcial, mas esse tipo de operação só pode ser realizado em condições extremas que colocam em risco a vida ou a qualidade de vida do paciente (CARVALHO, 2003). 

Um amputado é um paciente com alta incidência de dor pós-operatória. Essa dor pode ocorrer de duas formas, geralmente no mesmo paciente: dor no membro residual ou coto (DC) e dor no membro fantasma (DMF) que trata de uma sensação bastante dolorosa. Por ser uma condição que tem um potencial incapacitante e com sua fisiopatologia não totalmente elucidada, estratégias eficazes para prevenir e tratar a dor pós-amputação são desafios que precisam ser superados, e não há consenso sobre a forma mais eficaz e efetiva de lidar com esse evento (XAVIER et al., 2020).

A incidência de amputações no mundo é imprecisa, uma estatística difícil de obter. Somente em tempos de guerra os registros hospitalares militares eram mais precisos. À crescente expectativa de vida acaba por fazer a população apresentar mais doenças arteriais e diabetes, que são as maiores causas de amputações na vida civil hoje. (GABARRA; CREPALDI, 2009).

Pessoas com diabetes têm um risco mais de 18 vezes maior de amputação em comparação com pessoas sem diabetes, e mais de 25% das amputações são atribuíveis ao diabetes. (JORGE et al., 1999; NUNES et al., 2006).

A principal causa de amputação de membros inferiores ainda é a doença vascular periférica (DVP), principalmente doenças relacionadas ao tabagismo e diabetes. A segunda principal causa de amputação é o trauma, principalmente por acidentes de carro ou armas de fogo. De modo geral, os pacientes com amputações traumáticas são adultos jovens, principalmente do sexo masculino (MONTEIRO, 2016). 

Segundo Nunes Júnior, Mello e Monnerat (2009, p.295), “A partir da década de 1970, a abordagem ao paciente amputado ganhou caráter funcional, exigindo maior capacitação técnica do cirurgião e instituição de um programa de reabilitação adequado”. 

Essas amputações podem ser realizadas em diferentes níveis, e cada nível causa certas restrições ao indivíduo, dificultando a realização das atividades diárias, principalmente nos estágios iniciais de adaptação. Para melhorar o bem-estar dos amputados, existem alguns recursos, incluindo o uso de próteses, e equipamentos desenvolvidos e fabricados para substituir o membro que foi amputado. (NUNES JÚNIOR. et al., 2009).

Os principais níveis de amputação de membro inferior são: amputação parcial dos dedos; desarticulação dos dedos; amputação parcial do pé; transmetatarsal; amputação de Ricard; amputação de Pirogoff; amputação de Choppart; amputação de Linsfranc; amputação de Syme; amputação transtibial, transtibial longa e transtibial curta (abaixo do joelho); desarticulação do joelho; amputação transfemoral, transfemoral longa e transfemoral curta (acima do joelho); desarticulação do quadril; hemipelvectomia; e hemicorporectomia (REIS; CASA JÚNIOR; CAMPOS, 2012). 

A amputação é uma parte da perda do “eu” em que a imagem corporal é danificada e profundamente alterada. Essas mudanças podem produzir desvantagens físicas permanentes e geralmente causam mudanças nas necessidades físicas, psicológicas e sociais. De um modo geral, uma amputação cirúrgica decorre de problemas vasculares, traumas, diabetes, tumores, malformações congênitas, etc (CHAGAS, 2018). 

3.2 O SENTIDO DA PRÓTESE 

Uma prótese é um dispositivo usado para substituir algumas partes ausentes ou deformadas do nosso corpo. Próteses foram consideradas como dispositivos substitutos para amputações desde o período anterior a Cristo, mas devido ao grande número de amputados, seu grande desenvolvimento ocorreu após a segunda guerra mundial. Durante este período, madeira e couro foram amplamente utilizados para peças feitas à mão, como joelhos, pés e soquetes protéticos (CARVALHO, 2012). 

De guerras a deformações ocultas, esses produtos foram e refletiram os avanços médicos e sua integração com a tecnologia. A ligação entre máquinas e carne tornou-se uma realidade e complementa o desenvolvimento auxiliar dos órgãos para a obtenção de um corpo perfeito, tornando-se mais evidente após a revolução industrial. Após a guerra, foi revelado o sofrimento de inúmeras pessoas que precisavam de reabilitação por terem sidos desmembrados em batalha. Portanto, próteses podem ser definidas como dispositivos usados para substituir membros que foram danificados ou gravemente feridos e vem da palavra grega Prosthesis que tem como significado adicionar, acrescentar (MATOS, 2009).

 Quando as pessoas experimentam a perda de uma parte de seu corpo, de alguma forma passam por um luto por lamentar o membro inexistente. Para que as pessoas possam reconstruir suas autoimagens, elas devem vivenciar uma descrição detalhada dessa tristeza de perda devido a amputação, passando a experienciar um novo corpo, reintegrando-se posteriormente. A elaboração do luto envolve a dor de perder um membro e a possibilidade de obter um novo significado a partir dela, pois como não houve a representação da amputação, o sujeito também enfrenta a dificuldade de reconstruir a auto-percepção. Embora as alterações físicas não estejam integradas aos órgãos mentais, a reconstrução da autoimagem fica comprometida pelo trabalho que o luto traz pela perda do membro que foi retirado (FRIGGI et al., 2018). 

Em comparação com as amputações programadas, os pacientes que buscam se adaptar às amputações traumáticas podem sofrer um choque considerável e estresse agudo. O papel do psicólogo é ampliar e fortalecer o sistema de apoio pré-existente, normalizar e tentar aliviar o sofrimento de pacientes e familiares, garantindo que as dúvidas sobre tratamento imediato e atendimento médico sejam respondidas, incentivando por consequência todo o sistema familiar (NAVES, 2020). 

A condição de amputado refere-se a um estilo de vida diferenciado, no qual os sujeitos podem sentir-se como não sendo mais capazes de se adaptar a certos padrões sociais de normalidade que atualmente são tão valorizados. Desta forma, perdem não só uma parte do corpo, mas também a sua vida “normal”, a sua saúde e eficiência física. Nesse sentido, a possibilidade de uma prótese adquire uma característica muito peculiar, pois reconstrói o corpo, faz com que o sujeito volte a ocupá-lo e restaura a pessoa considerada “saudável”. Mesmo que reconstruído artificialmente, esse corpo acaba ganhando nova visibilidade e valor (PAIVA; GOELLNER, 2008). 

Acredita-se que a prótese possibilite a realização de qualquer atividade, melhorando a autoestima e, portanto, minimizando os efeitos negativos resultantes da amputação. Apesar de serem adequadas a quaisquer níveis de amputações, aquelas realizadas em níveis mais distais proporcionam reabilitação mais eficiente. A reabilitação, então, vem sendo considerada cada vez mais importante, pois se o processo ocorrer de forma adequada, o paciente terá uma vida praticamente normal, podendo realizar todas as atividades que quiser ou necessitar (CHINI; BOEMER, 2007, p.6). 

3.3 QUALIDADE DE VIDA

 Conforme Braga (2017), a Qualidade de Vida (QV) é um conceito humano marcante, que atinge um nível satisfatório de família, amor, vida social e ambiental e sobrevivência. Baseia-se na premissa da integração cultural de todos os elementos, ou seja, o padrão pelo qual uma determinada sociedade considera seu conforto e bem-estar. Ainda segundo o autor, esse termo possui muitos significados, refletindo os valores, experiências e conhecimentos tanto individuais como coletivos que lhe são relatados em diferentes épocas e diferentes histórias, sendo, portanto, uma construção social que é um signo da relatividade cultural que dá conta de uma multiplicidade de dimensões tanto gerais quanto holísticas. 

A qualidade de vida é considerada uma expressão da compreensão da saúde, categoria penetrada por outros indicadores, não apenas os indicadores biológicos ou de morbimortalidade populacional, conforme previsto na Constituição Federal brasileira de 1988, que conceitua saúde como “Um direito de todos e um dever do Estado”, com acesso universal e igualitário (BRASIL, 1988).

 As pessoas estão cada vez mais atentas ao próprio bem-estar, que vem no sentido das ciências humanas e biológicas, servindo para avaliar uma gama mais ampla de parâmetros do que simplesmente o controle de sintomas, mortalidade mais baixa ou mais alta ou o aumento da expectativa de vida. Portanto, a qualidade de vida é citada por muitos autores que consideram a vida como sinônimo de saúde. (PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012). 

Proposta pela Organização Mundial da Saúde, é a definição que melhor reflete o escopo da estrutura da qualidade de vida, ou seja, a visão dos indivíduos sobre sua situação de vida, sua formação cultural e o sistema de valores em que vivem, atendendo às expectativas deles, aos seus padrões e às suas preocupações. O conceito de qualidade de vida é um conceito muito amplo, que inclui saúde física, estado mental, nível de independência, crenças pessoais, relações sociais e a relação com aspectos importantes do meio ambiente de forma complexa (OLIVEIRA, 2009, p.20). 

Os determinantes e condições do processo saúde doença são multifatoriais e complexos, portanto, saúde e doença constituem um processo que é entendido como um continuum e está relacionado aos aspectos sociais e culturais, econômicos, experiência pessoal e estilo de vida (SEID; ZANNOM, 2004). 

A introdução do conceito de qualidade de vida é uma contribuição importante para os indicadores de resultados de saúde. Por causa de sua natureza abrangente e porque está intrinsecamente conectado com sentimentos e percepções pessoais, tem valor intrínseco e intuitivo. Está intimamente relacionado a um dos desejos básicos dos seres humanos de viver e se sentir bem (FLECK, 2008). 

3.4 REDES DE APOIO

 As condições subjetivas estão relacionadas à saúde mental, ou seja, experiências pessoais, estados internos que podem ser expressos por meio de sentimentos, respostas emocionais e construções psicológicas como felicidade, senso de controle, satisfação, saúde mental, habilidades sociais, estresse e percepção de saúde (DIOGO, 2003). 

Segundo Resende et al., (2007), O apoio social e as redes de relacionamento social conduzem ao bem-estar de pessoas com ou sem deficiência, porque contribuem para as manutenções emocionais e afetivas, sendo particularmente benéficas. Na perspectiva de um futuro próspero, com o apoio de amigos, familiares e outros grupos de apoio, é possível que as pessoas aliviem o estresse, valorizem a satisfação com a vida e promovam novas faces para a reabilitação de amputados de membros. O autor ainda acrescenta que, para pessoas com amputações, à medida que os indivíduos ganham mais amor e respeito por seu senso de controle sobre suas vidas, o apoio social torna-se cada vez mais importante para o seu desenvolver como um todo. 

O medo de enfrentar uma nova imagem corporal, o medo de não ser aceito pelos outros e a limitação da nova realidade pela perda, são fatores que têm penetrado na mente dos sujeitos submetidos à amputação cirúrgica. Embora a amputação seja uma questão física, envolve problemas psicológicos, portanto, o sucesso ou o fracasso da amputação variam de pessoa para pessoa. A consciência da amputação ocorrerá com o tempo e se tornará mais evidente quando o sujeito começar a se recuperar, em que a realização de diversas atividades e o enfrentamento com sua nova adaptação física o fazem se redescobrir, podendo também nesse redescobrir dessa nova imagem corporal lhe trazer angústias. (SEREN; TILIO, 2014).

 Todo mundo tem medo da amputação porque ocasiona a perda de um membro, levando a uma deficiência, portanto, deve-se que considerar como o início de uma nova fase, pois se houve perda de um membro, por outro lado, elimina-se o perigo futuro de uma perda de vida ou até um alívio a sofrimentos constantes tornando a vida do paciente muito mais livre (REIS; CASA JÚNIOR; CAMPOS, 2012). 

Entende-se que essa vivência é um acontecimento que marca a vida do sujeito, pois além das limitações físicas, acaba trazendo uma enorme carga psicológica, exigindo forte apoio no processo de reabilitação física e mental, no qual uma equipe multiprofissional desempenhará um papel muito importante. Por outro lado, muitas vezes, por ser a família a principal apoiadora da recuperação e readaptação do paciente à nova condição, além de ter um papel fundamental na saúde e na doença, esse fato mostra a importância dessa integração no cuidado prestado ao paciente, que irá lhe permitir manter-se em um certo grau de estabilidade (PEREIRA, 2012). 

3.5 MULTIDISCIPLINARIEDADE EM REABILITAÇÃO 

Segundo as Diretrizes de Atenção à Pessoa Amputada (DAPA), estima-se que as amputações de membros inferiores sejam equivalentes a 85% de todas as amputações no Brasil. Por exemplo, segundo esses dados de 2011, cerca de 94% das amputações realizadas pelo SUS foram de membros inferiores. (BRASIL, 2013). A principal causa da amputação de membros inferiores advém de doenças vasculares, como as doenças vasculares periféricas com ou sem diabetes, mais comuns em idosos. Por outro lado, o trauma é a segunda causa de amputação, acometendo adultos e jovens, sendo indicada apenas quando não houver possibilidade de reconstrução do membro lesado (SANTOS et al., 2018).

Devido à alta demanda desses casos, essas diretrizes orientam os profissionais em seu atendimento os devidos cuidados desde o ambiente hospitalar, o que inclui a fase pré-operatória e fases seguintes. Mostra também que no pós-operatório imediato, antes do treino de marcha, cada amputado deve ser instruído sobre como realizar a transferência e deslocamento postural, orientação, prevenção de deformidades, controle de edemas e principalmente a modelagem do membro residual para futuras adaptações a prótese.. Também propõem que na fisioterapia é necessário desenvolver um programa de exercícios que vise corrigir ou prevenir as deformidades, aumentando a força, a flexibilidade e o equilíbrio (BRASIL, 2013). 

Uma relação horizontal precisa ser estabelecida entre os serviços de atenção à saúde e atenção primária à saúde, pois o atendimento para os usuários que dependem de um serviço, para terem atendidas as suas necessidades se dá por essas respectivas redes. Portanto, se faz necessário estabelecer uma eficácia nessa relação para os usuários serem mais bem atendidos (NUNES JÚNIOR et al., 2009). 

Atualmente e muitas vezes, a deficiência causada pela amputação é a única possibilidade de uma pessoa retomar as atividades e viver dentro de parâmetros considerados normais e com qualidade. Dessa forma, os profissionais de saúde veem suas responsabilidades aumentarem e buscam direcionar a recuperação dessas pessoas para uma maior autonomia, e na medida do possível, se integrarem em suas famílias, comunidades do entorno e participarem de papéis sociais (VARGAS et al., 2014). 

A equipe de reabilitação deve avaliar e determinar os principais obstáculos e fatores facilitadores envolvidos na reabilitação de amputados de membros inferiores. Observar amputados em um contexto funcional amplia seus horizontes e coloca indivíduos, famílias e comunidades no contexto de uma perspectiva biopsicossocial (ESCHER, 2005). 

A reabilitação de amputados deve ser realizada por uma equipe multiprofissional visando à melhora da função e da qualidade de vida do paciente, independentemente do uso de próteses. Para que o plano de reabilitação seja eficaz, é necessário que a equipe multiprofissional compreenda as características epidemiológicas dos pacientes em tratamento para melhor conhecer cada perfil, que é único, de forma holística, durante todo o tratamento. Deve levar sempre em consideração a particularidade de todos, de acordo com as necessidades dos pacientes para orientar melhor a reabilitação e ajudá-los a alcançar a independência funcional (CHAMLIAN et al., 2013). 

O trabalho em equipe não é um pré-requisito para eliminar as especificidades do trabalho, pois diferenças técnicas expressam a possibilidade de divisão do trabalho para melhorar na contribuição do serviço que é prestado, pois cada profissão permite aprimorar os conhecimentos e as competências de desempenho técnico em uma determinada área, com isso, há um melhor rendimento do trabalho. As especificidades de cada trabalho devem ser preservadas, devendo ser compartilhadas quando somente se fizerem necessárias (PEDUZZI, 2001). 

Um caminho para a reabilitação física é o uso de uma prótese. Não é o único: o paciente pode estar reabilitado, inclusive do ponto de vista dos diferentes profissionais, utilizando-se, por exemplo de uma cadeira de rodas. Mas a prótese é o caminho mais desejado pelos membros da equipe de reabilitação por oferecer ao paciente a possibilidade de andar novamente e realizar diversas funções, ou seja, traz ganhos funcionais importantes (RODRIGUES, 2011). 

Do ponto de vista psicológico, se cada profissional for responsável pela sua área relacionada à saúde, o trabalho da equipe multidisciplinar será eficaz e enriquecedor para os usuários que dependem desses serviços. Porém, para os profissionais da psicologia, ser responsável pela sua área de conhecimento não significa evitar a comunicação entre os diferentes profissionais que existem na equipe, pois a comunicação é necessária para melhorar o cuidado à saúde do paciente como um todo (FOSSI; GUARESCHI, 2004).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A probabilidade de adaptação para o uso de uma prótese depende do nível de amputação, que é onde a amputação ocorre no corpo e não deve ser considerada uma falha do tratamento, mas o início de uma vida mais produtiva e confortável. Este é um momento delicado para qualquer um por causa dos muitos desafios psicológicos após uma amputação. Redes de apoio fortalecidas e equipes multidisciplinares comprometidas nesse novo caminho, muitas vezes doloroso, tornam-se imprescindíveis ao longo do caminho. 

A reabilitação quando possível e após a cicatrização do coto dá à pessoa que perdeu um membro um novo começo para melhor se adaptar à prótese. Essa reabilitação do paciente inclui não apenas a reabilitação do membro seccionado, mas também a recuperação física, autoconfiança, integração social e melhoria contínua da qualidade de vida.

O papel da psicologia nas equipes interdisciplinares é considerado importante para trabalhar com os pacientes, suas redes de apoio e equipes de saúde para minimizar o sofrimento decorrente da hospitalização, do adoecimento e da cirurgia, proporcionando uma melhor autonomia desse paciente. Apesar disso, ainda são poucos os estudos na área, havendo uma grande lacuna quanto as estratégias de atuação da Psicologia no processo de reabilitação e protetização.

Pode-se concluir que uma reabilitação eficaz é imprescindível durante todo o processo e que as amputações podem ter múltiplas causas, principalmente doenças relacionadas ao diabetes e traumas como acidentes de trânsito e que os aspectos emocionais são predominantes, mas ainda são necessárias pesquisas no campo da psicologia que forneçam teoria e reflexão para uma visão crítica dessa realidade. Com isso, acaba por permitir o desenvolvimento e subsidiação de práticas e ações interventivas adaptadas às reais necessidades do campo, pois são essenciais para potencializar uma visão humanizada e holística dos amputados.

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1Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5362-1829

2Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7609-9500

3ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4548-8826

4Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9922-7517

5ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0988-0900
Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil