REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7409463
Maria Gabriela Reis do Espirito Santo
Mayara Patricia Reis da Silva
Luciano César Silva Dos Santos
Resumo
Na contemporaneidade estudantes têm utilizado de substâncias psicoestimulantes com a finalidade de melhorar o seu desempenho acadêmico. O metilfenidato é um dos estimulantes mais prescritos no mundo para indivíduos que possuem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas tornou-se popular entre os estudantes para aumentar o desempenho cognitivo. O estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Foram encontradas 318 publicações nas bases de dados eletrônicos MedLINE, LILACS e SciELO, das quais após sistematização para o estudo da revisão, restaram 06 publicações que são detalhadas neste estudo. Há um número insuficiente de estudos que tratam sobre o uso de psicoestimulantes entre estudantes saudáveis na literatura brasileira. Assim, é preciso avaliar os impactos do uso de estimulantes na prática clínica, a fim de minimizar possíveis efeitos adversos, avaliar a dose considerada segura e coibir o uso de determinadas substâncias.
PALAVRAS-CHAVE: metilfenidato; estudantes; uso de medicamentos.
ABSTRACT
In contemporary times, students have used psychostimulant substances in order to improve their academic performance. Methylphenidate is one of the most prescribed stimulants in the world for individuals with mental disorders of attention deficit hyperactivity disorder (ADHD), but it has become popular among students to increase cognitive performance The study is an integrative literature review 318 publications were found in the electronic databases MedLINE, LILACS and SciELO, from which after systematization for the review study, there were 06 publications that are detailed in this study. There is an insufficient number of studies that deal with the use of psychostimulants among healthy students in the Brazilian literature.Thus, it is necessary to evaluate the impacts of the use of stimulants in clinical practice, in order to minimize possible adverse effects, evaluate the dose considered safe and curb the use of certain substances.
KEY WORDS: methylphenidate; students; use of medicines
1.INTRODUÇÃO
A partir da segunda metade do século XX o consumo de medicamentos aumentou significativamente, devido ao crescimento da indústria farmacêutica, à ampliação do acesso aos medicamentos e à intensificação dos processos de mercantilização da saúde e medicalização da sociedade. Nesse cenário, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade tem sido exposto como um dos diagnósticos que mais ampara o processo atual de medicalização da vida, devido ao crescente consumo de metilfenidato.
O metilfenidato é um medicamento estimulador do sistema nervoso central oriundo da piperidina, estruturalmente relacionado com as anfetaminas (PAPA, 2013). O consumo do metilfenidato é maior que a soma de todos os psicoestimulantes, sendo o mais consumido no mundo (SILVANO,2015).
O metilfenidato foi sintetizado pela primeira vez em 1944 por Leandro Panizzon e em 1954 foi dado início aos testes em humanos e comercializados somente em 1955 pela Ciba-Geigy com o nome comercial de Ritalina, inicialmente indicado para tratamento da narcolepsia, um raro transtorno do sono atualmente também indicado para tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (CALDEIRA,2015).
O metilfenidato é um potente inibidor da recaptação da dopamina e da noradrenalina. Bloqueia a recaptação das catecolaminas pelas terminações das células nervosas pré-ganglionares, impedindo que sejam removidas do espaço sináptico. Deste modo a dopamina e a noradrenalina extracelulares permanecem ativas por mais tempo, aumentando significativamente a densidade destes transmissores nas sinapses. Ele possui potentes efeitos agonistas sobre os receptores alfa e beta adrenérgico. O fármaco eleva o nível de alerta do SNC. Isso tem como resultado uma melhor concentração, coordenação motora e controle dos impulsos.
O aumento do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que buscam melhorar seu desempenho. o termo “Cognitive enhancement” traduzido como “aperfeiçoamento cognitivo”, surgiu, segundo Teixeira (2005) no início do ano 2000 para indicar que um medicamento além de indicação terapêutica para quem possui TDAH “aperfeiçoar” artificialmente uma qualidade já presente.
Os estudantes, devido a suas obrigações e cobranças internas e de familiares, representam grande parcela dos usuários que não apresentam indicações clínicas, como TDAH (DE SANTIS et al.,2008).
2.METODOLOGIA
Revisão de literatura de caráter qualitativo, cujo objetivo principal é sobre o uso de metilfenidato entre jovens estudantes e correlatos. Terá palavras-chave como: “Metilfenidato”, “Uso de medicamnetos”, e “Aprimoramento cognitivo”. Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca durante os meses de agosto e outubro de 2022 nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do caribe em Ciências de Saúde (LILACS), Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online (MedLINE) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram selecionados e revisados os artigos que abordaram a temática desde 2000 a 2016, independente do idioma.
O método utilizado para selecionar os trabalhos foi: identificação, triagem, elegibilidade e inclusão. Para serem incluídos nessa revisão os estudos tiveram que possuir textos na íntegra completo acessível nas bases de dados pesquisadas, bem como estarem disponíveis nos seguintes idiomas: portugues, inglês ou espanhol. Os critérios de inclusão definidos para seleção dos artigos foram: artigos publicados nas bases de dados pesquisadas; artigos publicados em português, inglês ou espanhol; trabalhos desenvolvidos no período de 2000 a 2016; disponibilidade on-line dos textos na íntegra. Tomou-se cuidado em excluir estudos sem elementos relevantes a propósito da revisão.
3.RESULTADOS
Após a leitura de títulos e resumos, foram obtidas 223 publicações para leitura de títulos, 164 que traziam outros temas e 59 publicações para análise de dados e por fim foram selecionados 6 artigos na amostra final desta revisão integrativa (Figura1), que seguiu as recomendações Prefrerred Reporting for Ssystematic Reviews and Met5a-Analyses (PRISMA).
No quadro 2 apresenta a caracterização dos 6 artigos utilizados nesta revisão
Base de dados | Títulos | Autores | Objetivos |
SciELO | Consumo de Estimulantes Cerebrais por Estudantes de Medicina de uma Universidade doExtremo Sul do Brasil: Prevalência,Motivação e Efeitos Percebidos | MORGAN,Henri Luiz et al | Investigar o uso de substâncias estimulantes do sistema nervoso central pelos estudantes de graduação emMedicina da Universidade Federal do Rio Grande, verificando as substâncias mais utilizadas, os motivos de uso e o perfil dos usuários |
SciELO | Metilfenidato e aprimoramento cognitivo farmacológico: representações sociais deuniversitários | BARROS,Denise;ORTEGA,Francisco | Apresentar o resultado da investigação das representações sociais de 20 estudantes universitários sobre o uso de metilfenidato para aprimorar o desempenho cognitivo em pessoas saudáveis |
LILACS | Uso prescrito de cloridrato de metilfenidato e correlatos entre estudantes universitáriosbrasileiros | CESAR,Eduardo Luiz Da Rocha etal | Estimar a prevalência do uso prescrito de MPH e correlatos em uma amostra populacional de universitários brasileiros |
LILACS | Metilfenidato: medicamento gadget da contemporaneidade | BRANT, Luiz Carlos;CARVALHO,Tales Renato Ferreira | Apresentar os principais aspectos do uso não médico do metilfenidato |
LILACS | Patterns of non-medical use of methylphenidate among 5th and 6th year students in a medical school in southern Brazil | SILVEIRA,Rodrigo daRosa et al | Avaliar a prevalência do uso do metilfenidato entre estudantes do 5º e do 6º ano de uma faculdade de medicina, discriminar o uso com ou sem indicação médica e correlacionar o uso de metilfenidato com a ingestão de álcool |
MedLINE | Use of methylphenidate among medical students: a systematic review | FINGER,Guilherme;SILVA,EmersonRodrigues da;FALAVIGNA,Asdrubal | Avaliar os efeitos do metilfenidato no aprimoramento cognitivo, na memória e no desempenho em estudantes de medicina |
4. DISCUSSÃO
Dos 6 artigos analisados por esta revisão em pelo menos uma vez durante a vida universitária identificou o uso de metilfenidato uma prevalência entre 8,3% e 9% (TETER et al., 2006, p. 1503). O estudos de Finger, Silva e Falavigna (2013,p. 285-289) identificou a prevalência de metilfenidato entre uma população de estudantes do 5 ao 6 ano de uma universidade de medicina no sul do Brasil e encontrou 34,2% utilizavam metilfenidato, dos quais 23% o usavam sem razões médicas. O uso deste medicamento sem razões médicas tem como importante fator o ambiente competitivo das universidades e para alcançar o tão sonhado destaque no âmbito profissional. Um fato importante observado nos estudos é que o efeito benéfico sobre memória, raciocínio e concentração foi mais frequente entre aqueles que usaram estimulantes com essa finalidade, sugerindo que o motivo de uso tem influência direta no efeito relatado ( CESAR et al.2012,p.185)
Segundo Cesar (2012) os usuários de MPH são jovens adultos, de idade média de 25 anos. Na maioria, declararam-se pertencentes à etnia branca, de estado civil solteiro e sem filhos. Quanto às características acadêmicas, houve maior prevalência de alunos do primeiro e segundo ano de graduação, matriculados em cursos da área de humanidades e de instituições privadas.
Sobre os efetivos benefícios deste medicamento em indivíduos que não sofrem de TDAH, estudos existentes não mostram evidências consistentes de otimização sobre o SNC. O número de estudos que analisam os possíveis efeitos colaterais deste medicamento em indivíduos saudáveis sem indicação é muito pouco, sendo descritos efeitos colaterais, como taquicardia, alucinações visuais, vertigem, sonolência, cefaleia, falta de apetite, náuseas, ansiedade e distúrbios do sono (BRANT;CARVALHO,2012,p.627)
5. CONCLUSÃO
A um número muito baixo de estudos sobre o metilfenidato utilizado por indivíduos saudáveis na literatura brasileira e para minimizar possíveis efeitos adversos seriam necessários avaliar os impactos na prática clínica, para verificar uma dosagem considerada segura para a utilização dessa substância.
O conhecimento dos principais usuários é de extrema importância através de estudos foi identificado que muitos começam a utilizar na universidade para melhorar seu desempenho e com isso as universidades deveriam promover políticas, pesquisas que alertam os efeitos da substância sem razão médica e intervir no consumo de estimulantes entre acadêmicos. Sendo importante realizar um diagnóstico das universidades para que se implementem medidas preventivas
6.REFERÊNCIA
BARROS, D.; ORTEGA, F. Metilfenidato e Aprimoramento Cognitivo Farmacológico: representações sociais de universitários. Saúde Soc, v. 20, n. 2, p. 350-63, 2011.
BOTELHO, L. L. R.; CUNHA, C. C. A.; MACEDO, M. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, abril 2011.
BRANT, L. C.; CARVALHO, T. R. F. Metilfenidato: medicamento gadget da contemporaneidade. Interface (Botucatu), Botucatu, v.16, n.42, p.623-636, setembro 2012.
CESAR, E. L. R. et al. Uso prescrito de cloridrato de metilfenidato e correlatos entre estudantes universitários brasileiros. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, v.39, n.6, p.183-188, outubro 2012.
FINGER, G.; SILVA, E. R.; FALAVIGNA, A. Use of methylphenidate among medical students: a systematic review. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v.59, n.3, p.285-289, junho 2013.
MORGAN, H. L. et al. Consumo de Estimulantes Cerebrais por Estudantes de Medicina de uma Universidade do Extremo Sul do Brasil: Prevalência, Motivação e Efeitos Percebidos. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v.41, n.1, p.102-109, janeiro 2017.
SILVEIRA, R. R. et al. Patterns of non-medical use of methylphenidate among 5th and 6th year students in a medical school in southern Brazil. Trends Psychiatry Psychother, Porto Alegre, v.36, n.2, p.101-106, junho 2014.
TETER, C. et al. Illicit methylphenidate use in an undergraduate student sample: prevalence and risk factors. Pharmacotherapy, Boston, v. 23, n. 8, p. 609-617, fevereiro 2003.
TETER, C. et al. Illicit use of specific prescription stimulants among college students: prevalence, motives, and routes of administration. Pharmacotherapy, Boston, v. 26, n. 10, p. 1501-1510, outubro 2006.