DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: AS INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7388097


Ilvanderson Silva Santos1


RESUMO

Este estudo aborda de uma forma crítico-reflexiva as intervenções psicopedagógicas junto a alunos com dificuldades de aprendizagem, dos anos iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo foi identificar as contribuições proporcionadas pelas intervenções da Psicopedagogia para a superação das dificuldades de aprendizagem de alunos. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, explicativa-descritiva, com abordagem qualitativa. O estudo sinalizou a importância das intervenções psicopedagógicas nas dificuldades de aprendizagem dos alunos, uma vez que o psicopedagogo é um profissional apto a atuar no contexto escolar colaborando para a reformulação e adequação das práticas docentes, para que elas se aproximem da necessidade dos alunos e atenda às suas dificuldades. Ficou evidenciado que a psicopedagogia analisa a influência de diversos contextos na aprendizagem: escolar, familiar, aspecto afetivo, cognitivo e emocional e não atua sozinha, mas de maneira interdisciplinar com apoio de várias áreas do conhecimento. Ressalta-se que o conhecimento acerca das causas das dificuldades de aprendizagem colabora para que os docentes reflitam sobre a sua prática em sala de aula, desenvolvam a capacidade de perceber as crianças de uma forma mais sensível e reconheçam que a intervenção pode ajudar a amenizar as dificuldades no processo de aprender.

Palavras-chave: Dificuldades de aprendizagem. Psicopedagogia. Intervenções psicopedagógicas.

ABSTRACT

This study addresses in a critical-reflexive way the psychopedagogical interventions with students with learning difficulties, from the initial years of elementary school. The objective was to identify the contributions provided by psychopedagogy interventions to overcome student learning difficulties. This is a bibliographic, explanatory-descriptive research, with a qualitative approach. The study indicated the importance of psychopedagogical interventions in students’ learning difficulties, since the psychopedagogue is a professional able to act in the school context, contributing to the reformulation and adequacy of teaching practices, so that they approach the students’ needs and meet their difficulties. It was evidenced that psychopedagogy analyzes the influence of several contexts on learning: school, family, affective, cognitive and emotional aspect and does not act alone, but in an interdisciplinary way with the support of various areas of knowledge. It is emphasized that knowledge about the causes of learning difficulties helps teachers to reflect on their practice in the classroom, develop the ability to perceive children in a more sensitive way and recognize that intervention can help alleviate difficulties in the learning process.

Keywords: Learning difficulties. Psychopedagogy. Psychopedagogical interventions.

1 INTRODUÇÃO

As dificuldades de aprendizagem existentes em sala de aula de muitas escolas brasileiras, têm despertado a atenção para a gravidade do problema, levando a necessidade de intervir nessa realidade por meio de soluções práticas com enfoque interdisciplinar, a fim de prevenir e solucionar as dificuldades detectadas de modo a possibilitar a integração de todos alunos no contexto escolar. O diagnóstico precoce das dificuldades de aprendizagem determina os métodos mais adequados aos problemas dos alunos e devem estar atrelados às orientações de profissionais, a exemplo dos psicopedagogos.

Todas as dificuldades de aprendizagem podem ser compensadas por técnicas adequadas, por meio de modelos de diagnóstico e estratégias de tratamento. Ressalta-se, ainda, a necessidade de desenvolver um trabalho preventivo em sala de aula, sendo recomendado pela literatura pertinente ao assunto, além da identificação precoce, a observação psicopedagógica como forma de antecipar a prevenção do problema e evitar as frustações do não aproveitamento escolar.

A psicopedagogia é um campo de atuação que lida com o processo de aprendizagem humana, isto é, o aprender e o ensinar, situando tanto no âmbito da prevenção quanto da reeducação. Sua importância no âmbito escolar é muito relevante e tem o grande desafio de despertar nos educandos o interesse pela busca do conhecimento e pela aprendizagem significativa. Dessa forma, a discussão é encaminhada para a contribuição da Psicopedagogia no contexto educacional no que tange as intervenções diante das dificuldades de aprendizagem.

Considera-se, portanto, essencial a atuação do psicopedagogo no âmbito escolar frentes as dificuldades de aprendizagem que, muitas vezes, frustram o desejo de sucesso dos educandos, influenciando na sua autoestima e até mesmo na sua permanência no âmbito escolar. Perante essa realidade, o psicopedagogo tem que buscar uma linha de atuação que vise a construção de um espaço adequado para o desenvolvimento do processo de aprendizagem. Nesse contexto, cabe então uma visão psicopedagógica, investigando a dimensão dos processos de aprendizagem dos alunos, evitando que o problema de aprendizagem leve-os ao fracasso escolar.

A relevância de um estudo desta natureza, no campo educacional é necessária, na medida em que pode dar suporte teórico-metodológico para a prática docente no campo da educação, dando ênfase à construção da aprendizagem em sala de aula e construindo junto ao educando novas formas de aprender. O assunto é bastante complexo e profundo, por isso, o estudo partiu da seguinte problemática: Quais as contribuições da psicopedagogia frente as dificuldades de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

Buscar respostas para este problema é de alta significância para o contexto educacional brasileiro, uma vez que ainda é bastante elevado o número de alunos que anualmente são retidos nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por não conseguirem aprender. Desta forma, o estudo tem como objetivo analisar a contribuição do psicopedagogia na superação das dificuldades de aprendizagem, intervindo para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem e superação de suas dificuldades no âmbito educacional. De modo mais específico buscou-se destacar a origem da psicopedagogia e o campo de atuação do psicopedagogo; contextualizar da psicopedagogia na escola frente as dificuldades de aprendizagem e analisar a abrangência das intervenções psicopedagógicas no âmbito educacional. Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia utilizada no desenvolvimento desta pesquisa compreendeu um estudo de caráter explicativo-descritivo, com fundamentação bibliográfica e abordagem qualitativa.

Esta pesquisa está estruturada em uma seção introdutória, três categorias conceituais discutidas com base na literatura que trata diretamente do assunto e finaliza com as considerações finais. A introdução traz um esboço de todo o trabalho desenvolvido, destacando à importância, os objetivos e a metodologia utilizada no estudo. Nas categorias foram abordados aspectos tais como: a aprendizagem e suas dificuldades presentes no contexto educacional brasileiro, bem as concepções teóricas, características, tipos e causas das dificuldades de aprendizagem, os diferentes enfoques e modelos de dificuldades de aprendizagem, o papel da família e da escola no processo de aprender e nas suas dificuldades, a relação interpessoal professor-aluno e sua importância no desenvolvimento do processo de aprendizagem.

Trata-se, ainda, de forma mais especifica sobre a prática da psicopedagogia no campo educacional com as possibilidades de intervenções psicopedagógicas nas dificuldades de aprendizagens na sala de aula, de apoio à família de alunos com dificuldades de aprendizagem e também docentes que precisam lidar com este problema em sala de aula. Por fim, a pesquisa é finalizada com as considerações finais, destacando os encaminhamentos, as conclusões e as perspectivas para trabalhos futuros de pesquisadores.

2 A APRENDIZAGEM E SUAS DIFICULDADES

2.1 Concepções teóricas sobre as dificuldades de aprendizagem

Aprender consiste em um processo cognitivo de construção do conhecimento, que acompanha todas as etapas de desenvolvimento do ser humano. Entretanto, alguns indivíduos têm um processo de aprendizagem diferenciado dos demais, não desenvolvendo com eficácia as habilidades necessárias para a compreensão do que lhe é exigido. As dificuldades relacionadas ao aprendizado é um problema cuja discussão tem sido cada vez mais necessária no contexto escolar.

Tem-se percebido o quanto as dificuldades de aprendizagem e a própria ausência de sua compreensão estão presentes no cotidiano escolar, bem como são desconhecidas, em seu caráter particular, pelos educadores. É relevante ressaltar que a dificuldade em aprender não se constitui em uma dificuldade primária de aprendizagem e não é uma doença ou o resultado de desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência (MARTINS, 2019).

Quanto ao entendimento das dificuldades de aprendizagem, os estudiosos têm enfoques diferenciados sobre o assunto. De acordo com Sisto (2016), as dificuldades de aprendizagem implicariam em qualquer ocorrência observável, vivenciada pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas da mesma idade, independente do fator determinante da defasagem. Desta forma, dentro das dificuldades de aprendizagem pode-se encontrar, por exemplo, alunos com problemas situacionais, problemas de comportamento, problemas emocionais, problemas de comunicação ou problemas físicos. Neste sentido considera-se:

As dificuldades de aprendizagem se constituem como uma das áreas mais complexas de se conceituar em decorrência da variedade de teorias, modelos e definições que visam esclarecer esse problema. Logo, a heterogeneidade referida confere, por si só, grande complexidade ao estudo de tais dificuldades que, somada à realidade educacional brasileira, torna-se um grande desafio não só àqueles que fazem parte do sistema educacional, mas à sociedade como um todo (CURY, 2018, p. 28).

As dificuldades de aprendizagem podem ser uma repercussão da falta ou carência de oportunidades, enquanto que as desordens de aprendizagem equivalem a problemas mais severos, como as incapacidades de aprendizagem. Nas desordens ou incapacidades de aprendizagem, a identificação de disfunções é clinicamente constatada, porque existem anomalias neurológicas expressivas ou lesões cerebrais facilmente detectadas pelos processos convencionais. Nas dificuldades de aprendizagem não surgem sinais disfuncionais severos, apenas sinais disfuncionais ligeiros com mais implicações exógenas que endógenas.

É interessante frisar que há alguns termos como distúrbios, transtornos, problemas de aprendizagem que, em alguns casos, na prática escolar têm sido utilizados na literatura especializada de modos divergentes, para designar quadros diagnósticos diferentes. De acordo com França (2019, p. 21) aparentemente a distinção feita entre as designações “dificuldades e distúrbios de aprendizagem encontra respaldo na concepção de que o termo dificuldade está mais relacionado a problemas de ordem psicopedagógica e/ou sociocultural”, ou seja, o problema “não está centrado apenas no aluno”, sendo este entendimento frequentemente utilizada em uma perspectiva preventiva; enquanto que o termo “distúrbio” estaria diretamente relacionado ao aluno, na medida em que sugere a existência de comprometimento neurológico, sendo mais utilizado na perspectiva clínica.

A criança com dificuldade de aprendizagem apresenta discrepância entre a capacidade ou habilidade mental e o desempenho, refletidas em resultados escolares insatisfatórios. As dificuldades de aprendizagem sugerem um comprometimento no processo de informação, com uma pequena desordem psiconeurológica que afeta a função cognitiva (JARDIM, 2017). Há indivíduos que apresentam apenas uma dificuldade em particular, deveriam ser descritos como portadores de dificuldade específica de aprendizagem. Contudo, é relevante destacar que problemas de aprendizagem não são sinônimos de dificuldades de aprendizagem.

2.2 Diferentes enfoques e modelos de dificuldades de aprendizagem

Há diversas correntes e teorias acerca das dificuldades de aprendizagem que tentam explicar por meio de modelos, suas origens, características e inter-relações. De acordo com Jardim (2017), os enforques mais atuais se resumem em cinco modelos: modelo interacional, teoria integrada da informação, teoria do atraso do desenvolvimento da atenção seletiva, hipótese do déficit verbal e hipótese do educando inativo.

No modelo interacional o sucesso ou insucesso escolar está em função da integração entre suas áreas fortes e suas áreas fracas, além das diferenças individuais dos professores e seus diferentes métodos de instrução. O enfoque deste modelo é a interação da criança com o programa de instrução, ou seja, quanto maior for o desajustamento entre as características da criança e as exigências do programa, maior será o não-aproveitamento escolar. No que se refere ao êxito escolar, há que se considerar as variáveis das crianças e as da sala de aula. Isto significa que dentro das necessidades da criança, é preciso observar suas condições de aprendizagem, considerando as aquisições perceptivas, cognitivas, psicomotoras e expressivas, seus interesses, necessidades, motivações, que deverão antecipadamente conhecidos. Quanto às variáveis de sala de aula, deve-se analisar a metodologia dos professores, os objetivos, os processos, os materiais didáticos (CAETANO; YAEGASHI, 2020).

A teoria integrada da informação, fundamenta-se na Psicologia Cognitiva, nos modelos de processamento da informação e nas investigações sobre a memória. Essa teoria observa que a criança organiza seletivamente e integra a informação, fazendo uso nas diversas manifestações comportamentais. Considera também o conteúdo relevante da tarefa e a ansiedade, tido como variável significativa na evidencia das dificuldades de aprendizagem. Os defensores desta toeira entendem que as dificuldades de aprendizagem surgem como resultado do fracasso em produzir informação ordenada; falta de conteúdo da tarefa que desordena a informação, inadequada atividade de orientação receptiva, reflexo na atenção. Na perspectiva da teoria integrada da informação, o êxito da aprendizagem depende muito da experiência a que a criança está sujeita, sendo de grande importância a metodologia da análise de tarefas.

Outro modelo de dificuldade de aprendizagem tem como base a teoria do atraso do desenvolvimento da atenção seletiva. Para os defensores desta teoria, a atenção seletiva é uma variável que diferencia o nível de realização entre a criança dita normal e a que tem dificuldade de aprendizagem. Consideram que o êxito escolar depende da aquisição de dados aprendidos anteriormente, que resultam na passagem de uma fase para a outra, as aquisições mais simples das fases anteriores não estão suficientemente aprendidas e consolidadas, nas crianças com dificuldades e aprendizagem (CAETANO; YAEGASHI, 2020). Na visão dessa teoria, o excesso de barulho, a exposição exagerada de painéis, as dimensões ou complexidades das tarefas podem dificultar a seleção entre variáveis relevantes e irrelevantes nas situações de aprendizagem, podendo ser responsáveis pela dificuldade de concentração e organização da informação para a criança.

O quarto enfoque está fundamentado na hipótese do déficit verbal nas crianças com dificuldades de aprendizagem. Esse déficit surge como consequência da insuficiente renomeação das palavras, provocada pela carência de informações disponíveis. Tal carência repercute num déficit linguístico e numa lentidão de identificação e uso das palavras. Crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam déficits fonológicos, semânticos e sintáticos associados a problemas de memória, codificação e síntese da informação (FRANÇA, 2019).

Na hipótese do educando inativo, a criança com dificuldade de aprendizagem caracteriza-se como sendo mais dependente em suas atividades intelectuais, tendo menos perseverança, mais impulsividade e maior dificuldade em compreender e realizar direções. Esta hipótese associa as dificuldades de aprendizagem mais aos déficits de realização do que aos déficits de capacidade. Devidos aos insucessos acumulados as crianças com dificuldades para aprender tornam-se pouco participativas e inativas.

O aprofundamento no conhecimento de todos os modelos citados anteriormente, possibilitam estabelecer procedimentos de diagnóstico e intervenção, junto a criança com dificuldade de aprendizagem. Além disso, permite distinguir uma criança com dificuldades de aprendizagem daquela que experimenta problemas de aprendizagem por motivo de defasagem cultural, de inadequada aprendizagem, de inadequada integração pedagógica ou deficiências especificas.

2.3 Fatores que interferem na aprendizagem e causas das dificuldades em aprender

Existe muitas controvérsias quanto ao controle e compreensão acerca das causas das dificuldades de aprendizagem. Historicamente, ao problemática se equaciona paralelamente ao desenvolvimento das sociedades. Há um ponto que possui inconsistência na literatura, em relação as dificuldades de aprendizagem, que é sobre as suas verdadeiras causas, ou seja, há quem acredite que essas dificuldades podem surgir de problemas cerebrais ou neurológicos e até quem acredite que as dificuldades de aprendizagem são decorrentes da interação entre a qualidade da instrução e as características emocionais e motivacionais dos alunos, ou até mesmo com condições socioeconômicas. As dificuldades de aprendizagem só poderão ser entendidas na interação de fatores intra e extra-escolares, onde requer intervenção tanto no âmbito do aluno quanto do docente, no que diz respeito às práticas pedagógicas e de formação dos professores (OLIVIER, 2020).

É extremamente relevante compreender a origem e as causas das dificuldades de aprendizagem, bem como os possíveis efeitos no processo educacional dos alunos. De modo geral, as causas do não aprender podem ser as mais diversas, a exemplo dos problemas familiares, com os professores, com os colegas de turma, no conteúdo escolar e outros que acabam por tornar a escola um lugar aversivo, quando deveria ser um lugar prazeroso.

Assim, a literatura identifica que algumas dificuldades são resultantes de problemas educacionais ou ambientais (como o ambiente familiar) que podem não estarem relacionados às habilidades cognitivas da criança; outras podem ter relação direta com estratégias educacionais ineficientes afetando gravemente o nível de aprendizagem do indivíduo, tendo como consequência o fracasso escolar precoce que leva a perda da autoconfiança com efeitos subsequentes no aprendizado (DOCKRELL; MCSHANE, 2019). É importante ressaltar que o grau de dificuldade de aprendizagem não é o mesmo para todas as crianças. Para algumas as dificuldades são temporárias e para outras são mais longas e persistentes, necessitando de uma atenção educacional especial.

Muitas pesquisas já foram realizadas no sentido de entender o que são problema ou dificuldades de aprendizagem e como é possível determinar se um educando apresenta ou não uma dificuldade para aprender. Estas pesquisas têm recebido enfoque diferenciado por vários teóricos que abordam o assunto. De acordo com Sisto (2016), as dificuldades de aprendizagem implicariam em qualquer ocorrência observável, vivenciada pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas da mesma idade, independente do fator determinante da defasagem. Neste sentido, considera-se que as dificuldades de aprendizagem são de grande complexidade e heterogeneidade, somada à realidade educacional brasileira.

Assim como existem diversos tipos de aprendizagem, também há diferentes tipos de dificuldades de aprendizagem. O autor Jardim (2017, p. 106-107) subdivide e compara as dificuldades de aprendizagem em primária e secundária. A primeira “não está diretamente associada a fatores médicos, pelo que suas causas são desconhecidas, exigindo um diagnóstico mais aprofundado, ao contrário do segundo tipo, cujas causas são bem conhecidas”. Ressalta-se que os problemas de aprendizagem não se restringem apenas em causas físicas ou psicológicas. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, abrangendo fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, ou seja, para que o aluno não aprenda pode existir uma relação de condições entre fatores externos e internos.

2.4 O papel da escola no processo de aprender e na superação das suas dificuldades

A escola é uma instituição de grande importância no desenvolvimento da criança, cuja primeira e fundamental tarefa é facilitar o processo de individualização da criança, oferecendo-lhe o primeiro contato com a vida social, fora do âmbito familiar. A escola é uma das instituições sociais responsáveis pela construção de representações positivas e exerce papel fundamental na construção de uma educação de qualidade para todos. Nessa perspectiva, escola atual deve ser capaz de atender a demanda, incorporando as diferenças que permeiam o contexto escolar. O grande desafio da educação é que a escola possa ser um lugar onde existam alunos que queiram aprender. Um lugar onde professores e alunos queiram estar, não por uma obrigação, mas por representar um espaço de aprendizagem e de confiança mútua (CAETANO; YAEGASHI, 2020).

As relações que se estabelecem entre a família e a escola deve ser cuidadosamente compreendidas, pois são estas as instituições presentes na formação do sujeito em desenvolvimento. Neste sentido, as relações entre esses dois sistemas são de fundamental importância para evitar dificuldades. Segundo Smith e Strick (2018), quando a criança apresenta uma dificuldade de aprendizagem no âmbito escolar, talvez o problema não esteja diretamente relacionado às relações escolares, mas podem ser reflexo dos vínculos familiares. Assim, se a criança apresenta dificuldades de aprendizagem, os pais devem prover aos seus filhos suporte emocional, informações para auxiliar no processo de superação.

É evidente que se sendo o desenvolvimento um processo global, qualquer dificuldade está relacionada tanto a características próprias da criança quanto a atitudes da família e da escola, afetando sempre a criança enquanto pessoa. Neste sentido, considera-se que a aprendizagem é um processo de constante evolução, que está além do contexto familiar, projetando-se na sociedade como um todo. A problemática das dificuldades de aprendizagem não pode ser analisada sem a noção de que a escola é que será a instituição reveladora dos problemas da criança, uma vez que a passagem da família à escola primária constitui uma ruptura bastante significativa. Contudo, é relevante destacar que a ação preventiva é exterior à escola numa dimensão e inferior a ela em outra, e entre essas posições passam-se inter-relações muito complexas (MARTINS et al, 2018).

De acordo com Piletti (2018) escola exerce uma influência educacional direta sobre os alunos mediante a oportunidade de aprendizagem que lhes oferece, tendo em vista o desenvolvimento de capacidades motoras, afetivas, sociais. Neste sentido, evidencia-se que a instituição escolar tem um papel fundamental para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, haja vista que aluno tem a escola como um ponto de referência e ao chegar nela precisa encontrar um ambiente favorável para sua aprendizagem.

Em relação as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos educandos, observa-se a escola transfere o problema para a família, a qual muitas vezes está desestruturada e não considera a gravidade da questão. Por sua vez, a família entende que a responsabilidade dessas dificuldades é da escola e deve, portanto, solucioná-las. Nestas transferências de responsabilidades, muitas vezes provocadas pelo desconhecimento, as crianças são as mais prejudicadas, pois sentem-se desmotivadas pelas dificuldades que encontram.

2.5 A relação interpessoal professor-aluno e sua importância no desenvolvimento do processo de aprendizagem

Para que de fato os alunos alcancem uma aprendizagem significativa, deve haver uma adequação das condições internas de aprendizagem das crianças, seu desenvolvimento biopsicossocial, às condições externas de aprendizagem, ou seja, aquelas inerentes ao professor e ao sistema de ensino. Os novos paradigmas para a educação determinam que os alunos sejam os construtores do seu conhecimento.

Nesse processo, sabe-se que para aprender são necessários um ensinante e um aprendente, que interagem entre si. Contudo, quando se trata de fracasso na aprendizagem essa regra não é considerada, pois somente o educando é observado neste contexto, sendo deixada em segundo plano a hipótese de que o sistema de ensino e a família também participam desse fracasso. Para o problema seja resolvido, deverá ser diagnosticado e solucionado a partir do vínculo e da interação de dois elementos: professor e aluno (JARDIM, 2017).

O professor é a condição intrínseca da aprendizagem do aluno, por tratar-se, a aprendizagem, de uma situação marcada pela interação social. Uma vez colocados em sala, professor e alunos passam a constituir um grupo novo, com uma dinâmica própria, e entre eles se desenvolvem intensas relações interpessoais que contribuem para o êxito da aprendizagem. Nessa relação, o papel do professor é o de usar a perspectiva de como se dá a aprendizagem, para estimular as diferentes inteligências de seus alunos, levando-os a se tornarem aptos a aprender. Nas relações que se estabelecem entre professor e aluno, ambos aprendem e ensinam e, para que haja esta troca de saberes é muito importante que o professor saiba sobre seus alunos e seus processos de aprendizagem (SANTANA, 2019).

A questão professor-dificuldades de aprendizagem-aluno passa a ser bem resolvida quando há o reconhecimento de que a aprendizagem é uma questão dialética. É importante destacar que o educador precisa ajudar o educando a buscar o equilíbrio na construção do conhecimento para que a aprendizagem possa ocorrer de forma eficaz. Mas para isso, necessita conhecer a forma como seus alunos aprendem. Em geral, quando se trata do processo ensino-aprendizagem, a preocupação focaliza-se sobre a dimensão cognitiva, nos aspectos intelectuais do aluno implicados nesse processo (CAETANO; YAEGASHI, 2020).

No entanto, uma melhor compreensão do comportamento do aluno, considerando outras variáveis influentes no processo de aprendizagem, poderá colaborar para a percepção do professor no que se refere às necessidades vivenciadas por seus alunos, numa busca por adequar a prática pedagógica às mesmas e, ao mesmo tempo, reconhecer-se nesse processo, enquanto influente nos aspectos cognitivos e afetivos dos alunos.

O processo ensino-aprendizagem compõe uma unidade na qual a relação professor-aluno é determinante. Docentes e alunos compartilham do mesmo ambiente escolar, o qual é o meio essencial para o desenvolvimento dessa relação pedagógica. O docente deve buscar transmitir algo mais que conteúdo da matéria, estimulando o interesse do aluno e orientar o seu esforço para aprender, enquanto que alunos, aos sentirem-se valorizados aumentam sua disposição para aprender e cooperam com seus pares. Diante do exposto, vale ressaltar que a aprendizagem como processo e resultado depende da relação professor-aluno que se constrói no cotidiano da sala.

3 A PSICOPEDAGOGIA NO DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

A psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem e assim buscar estratégias para minimizar as suas dificuldades. Portanto, compreende um campo de atuação comprometido com a melhoria das condições do processo de aprender. De acordo com Coll et al (2018, p. 97), a psicopedagogia “é uma confluência disciplinar, um conjunto de saberes e um espaço profissional”.

O surgimento dessa área de conhecimento, se deu na Europa por volta de 1946, diante da necessidade de se readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e, também, incluir outras crianças com dificuldades de aprendizagem. Na década de 1970 encontram-se os registros dos primeiros estudos psicopedagógicos no Brasil como resposta ao problema do fracasso escolar (BOSSA, 2017).

A importância da psicopedagogia na escola torna-se mais evidente à medida que se reconhece que a instituição escolar não estar preparada como deveria para lidar com muitos problemas que afetam a aprendizagem dos educandos como, por exemplo, os problemas afetivos. Dessa forma, a Psicopedagogia se apresenta como área do conhecimento que assume na escola, a primordial tarefa de atentar para as necessidades de todos os educandos, tendo em vista agregar estratégias na condução do processo de ensino-aprendizagem. Quanto a sua definição, segundo o Código de Ética dos Psicopedagogos (2016, p. 11) em seu artigo 1º é definida como:

Artigo 1º – É um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade – no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia (BRASIL, 2016).

Nas últimas décadas, a Associação Brasileira de Psicopedagogia tem contribuído para que a Psicopedagogia se destaque no cenário educacional brasileiro, pois desde que foi criada em 1980, essa instituição vem desempenhando importante papel nos diversos estudos, que têm delineamento a atuação da psicopedagogia, aproximando profissionais de diferentes áreas vinculadas ao fenômeno da aprendizagem. A associação contribuiu, significativamente, com discussões importantes no sentido de favorecer o reconhecimento da psicopedagogia como práxis, possibilitando uma melhoria nas condições de aprendizagem.

Observa-se que, continuamente, o campo de atuação da Psicopedagogia vem se expandindo e, por isso, os psicopedagogos sentiram a necessidade de aprimorar a própria formação, adquirindo conhecimentos multidisciplinares. Nesse espaço profissional, atua o psicopedagogo (a nível institucional ou clínico), o qual não trabalha sozinho, pois necessita contar com o auxílio de outros profissionais como, psicólogos, pedagogos e assistentes sociais, além da contribuição de outras áreas de conhecimentos numa dimensão de interdisciplinaridade. Ao contar com a contribuição de várias áreas do conhecimento, a psicopedagogia assume o papel de desmistificadora do fracasso escolar, auxiliando no entendimento do “erro apresentado pelo educando no processo de construção do seu conhecimento” (PIAGET, 2013, p. 43), a “as interações como fator importante no desenvolvimento das habilidades cognitivas” ((VIGOSTSKY, 2011, p. 67).

Quanto ao reconhecimento profissional do Psicopedagogo, durante muito tempo esteve em tramitação no Congresso Nacional o projeto de Lei nº 3124/97. Em 2001, foi aprovado o Projeto de Lei nº 10891/01 que “autoriza o Poder Executivo a implantar a assistência psicológica psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem” (BRASIL, 2001). Em 2014, foi encaminhado e aprovado pela Câmara dos Deputados Federais, o Projeto de Lei nº 31/2010, com o objetivo de regulamentar o exercício da atividade de Psicopedagogia, mas ainda, aguarda parecer favorável no Senado Federal. Esta seria uma importante conquista para ao reconhecimento e atuação de milhares de profissionais da área da Psicopedagogia.

Desde a década de 1970, a formação em psicopedagogia vem conquistando espaço nas instituições de ensino no Brasil, sendo regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC) a nível de cursos de pós-graduação nas áreas clínica e institucional, conforme a Resolução 12/83, formando profissionais denominados de psicopedagogos (FELDMANN, 2017). Mas, foi somente a partir da década de 1980 que a Psicopedagogia começou a se transformar em campo de estudos multidisciplinares. Seu objeto passou a ser a, principalmente, a aprendizagem e suas dificuldades. Neste contexto, conforme assinala Scoz (2016, p. 33), observa-se uma mudança de enfoque, ou seja, de “meramente clínico, centrado nas patologias dos problemas de aprendizagem, para um enfoque multidisciplinar”.

Quanto à formação, fundamentalmente, a intervenção psicopedagógica foi assumida por pedagogos, psicólogos e, mais recentemente, por psicopedagogos. Estes profissionais foram formados em tradições disciplinares diferentes (psicologia escolar, psicologia clínica, psicologia social, pedagogia, terapêutica, organização escolar, orientação profissional, e outros) e em diferentes escolas de pensamento psicológico. As experiências e perspectivas do trabalho psicopedagógico no contexto brasileiro vem ganhando espaço nas abordagens terapêutica e preventiva, haja vista que a intenção é direcionar a Psicopedagogia não só para os descompassos da aprendizagem, mas também, para uma atuação que objetivasse uma melhoria da qualidade de ensino nas escolas, principalmente, as públicas (SCOZ, 2016).

Conforme destaca Rubinstein (2018, p. 103), num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos “portadores” de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e, desta forma, promover o desaparecimento do sintoma. A partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o educando estabelece com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente, ou seja, a metodologia torna-se apenas um aspecto no processo interventivo e terapêutico e o principal objetivo é a investigação de etiologia das dificuldades de aprendizagem, bem como a compreensão do processo de aprendizagem, considerando todas as variáveis que intervêm neste processo.

3.1 A identificação dos problemas e encaminhamentos

A identificação e o diagnóstico das dificuldades de aprendizagem são tarefas bastante complexas. As ocorrências de dificuldades de aprendizagem muitas vezes frustram o desejo de sucesso de uma criança, influenciando na sua autoestima e, até mesmo, na sua permanência no âmbito escolar. É fato que a identificação das diferentes dificuldades de aprendizagem, em geral, se dá tardiamente, após várias repetências. Nos últimos tempos têm-se percebido um número muito alto de educandos com problemas de ordem emocional, social e afetiva que acabam interferindo no seu desenvolvimento e consequentemente no aprendizado. É nesse sentido, que Scoz (2016) vê como necessário intervir psicopedagogicamente na vivência da dificuldade educacional da criança, para que ela possa prosseguir sua caminhada rumo a formação e capacitação intelectual.

Segundo Dockerell e Mcshane (2019, p. 52) o processo de avaliação e diagnósticos das dificuldades de aprendizagem é baseado nas seguintes questões: “a) se a dificuldade de aprendizagem existe de fato; b) que dificuldade é essa; c) por que essa dificuldade existe e d) quais as diferenças entre essa dificuldade e as demais vividas pelas outras crianças”. Assim, uma nova perspectiva de psicopedagogia voltou-se para uma preocupação que leva em conta a multiplicidade e a complexidade dos fatores envolvidos no processo de aprendizagem, considerando os aspectos psicológicos, cognitivos, de natureza psicolinguística, culturais e sociais implicados no quadro das dificuldades de aprendizagem.

De certo, as dificuldades de aprendizagem se constituem um grande desafio a ser enfrentado pelas instituições escolares e neste sentido, tem-se buscando alternativas para superá-las com o objetivo de reduzir os índices do fracasso escolar. Mas, antes de adentrar na discussão que envolve as dificuldades de aprendizagem e seu diagnóstico, é interessante compreender alguns termos ligados diretamente ao trabalho psicopedagógico. Primeiramente, apresenta-se o termo anamnese, o qual refere-se ao histórico que vai desde os sintomas ou queixas iniciais do educando até o momento da observação psicopedagógica, realizado com base nas lembranças do educando e nas avaliações de desempenho do aluno. A noção de diagnóstico também é imprescindível para o trabalho psicopedagógico.

Segundo Miranda (2019, p. 118), “o diagnóstico psicopedagógico significa uma investigação da aprendizagem que considera a totalidade dos fatores intervenientes no ato de aprender”. Dessa forma, o diagnóstico é um meio que consiste em verificar a aprendizagem do aluno e uma vez aplicado, possibilita ao investigador verificar o que o aluno já sabe e o que ele está construindo como conhecimento. Para isso, é necessário alguns critérios e cuidados na escolha das atividades a serem usadas durante o diagnóstico.

O rigor no planejamento das atividades também é importante, sendo justificável pelo fato de ser a partir dos resultados obtidos e de sua análise que se torna possível pensar as ações interventivas. Ressalta-se, porém, que o simples diagnóstico não seria suficiente para solucionar os problemas de aprendizagem, mas sim, apontar dados para que escola-família e aluno pudessem subsidiar um equacionamento para tal problemática. O tratamento poderá ser feito com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico ou poderá ser feito com outro psicopedagogo ou, ainda, indicar um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista, ou outro profissional a depender do caso (MIRANDA, 2019).

Durante o tratamento podem ser realizadas diversas atividades com o objetivo de identificar o que poderá estar causando o bloqueio e, então, indicar a melhor forma do educando aprender. Para tanto, o psicopedagogo poderá fazer uso de diversos recursos tais como: jogos, desenhos, brinquedos, brincadeiras, conto de histórias, computador e outras estratégias que forem oportunas e necessárias.

3.2 Intervenções psicopedagógicas nas dificuldades de aprendizagens

Sabe-se que a Psicopedagogia não é uma área de atuação reconhecida nas escolas públicas brasileiras, por isso, sendo mais comum a sua ausência no ambiente educacional do que sua presença de modo mais e participativo. Porém, enfatiza-se a importância do psicopedagogo em ambientes como o contexto escolar, devido às dimensões e as possibilidades de intervenções psicopedagógicas nos diversos fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem. Na psicopedagogia, o fundamental é conhecer e compreender o processo de aprender, para a partir dele compreender as dificuldades de aprendizagem, identificar os obstáculos existentes para através da intervenção, promover a sua dissolução. Nesta perspectiva, busca-se, muitas vezes, a parceria com outros profissionais, considerando que em nenhuma ciência há resposta para tudo e para todos.

Há uma tendência em identificar o psicopedagogo como o profissional que atende alunos com dificuldades de aprendizagem. Na prática, a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades tendo, portanto, um caráter preventivo e terapêutico. Por se tratar de uma atividade relacionada as dificuldades escolares, à primeira vista, um dos primeiros espaços que o psicopedagogo deve trabalhar é nas escolas, locais onde são produzidos a maioria dos problemas ou dificuldades para aprender. No que tange ao trabalho do Psicopedagogo no âmbito escolar em seu caráter poderá, Feldmann (2017, p. 6) assinala que:

Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.

Assim, observa-se que o campo de atuação do psicopedagogo no âmbito escolar é bastante amplo, à medida que poderá atuar junto aos professores auxiliando-os a diagnosticar alunos com problemas de aprendizagem e a buscar estratégias interventivas. Esta função é considerada, tendo em vista que nem sempre “os docentes conseguem se expressarem com clareza a respeito do que entendem por problemas de aprendizagem, em parte por desconhecimento, em parte pela complexidade dessa questão” (SCOZ, 2016, p. 46).

O objetivo da Psicopedagogia Educacional é fazer com que os professores, gestores e coordenadores educacionais repensem o papel da escola frente às dificuldades de aprendizagem. Todavia, para que um psicopedagogo possa realizar um bom trabalho é necessário que ele conquiste um espaço dentro da escola, o que nem sempre é fácil, pois a maioria das escolas acham que um orientador educacional já é suficiente para resolver todos os problemas. De acordo com Feldmann (2017, p. 7) sob a perspectiva terapêutica de sua atuação, o psicopedagogo:

Trata das dificuldades de aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica, psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento.

Muitos são os problemas que afetam a aprendizagem dos alunos: interferências na leitura e na escrita (problemas de fono, inversão de letras); lentidão da aprendizagem; interferências socioafetivas (indiferença dos pais e carência afetiva, indiferença dos pais x falta de autoestima, desorganização familiar, agressividade nas relações familiares, perdas familiares, superproteção, falta de estímulo) e outros. (SCOZ, 2016).

Os problemas de aprendizagem tomam maiores proporções no âmbito educacional da escola pública, pois decorrem em sua maioria da falta de condições de atendimento das dificuldades iniciais, que vão se acentuando até tornarem-se mais sérios diante de pouco conhecimento em lidar tais problemas. Neste sentido, ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se modifica em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual constrói conhecimento e aprende. É preciso também, que o psicopedagogo saiba o que é ensinar e aprender; como os sistemas e métodos educativos interferem nesse processo e como enfrentar os problemas estruturais enfrentados nas instituições escolares.

A intervenção psicopedagógica na escola deve ser considerada como um recurso do sistema educacional, portanto, de todos os alunos e professores e não somente daqueles que possuem determinadas características. Mesmo porque, faz parte dessa intervenção, também, a identificação de experiências positivas que podem ser socializadas e compartilhadas por todos. Segundo Fernandes (2019), a intervenção psicopedagógica focaliza o sujeito na sua relação com a aprendizagem.

A meta do psicopedagogo é ajudar aquele que, por diferentes razões, não consegue aprender formalmente ou informalmente, para que consiga não apenas interessar-se por aprender, mas adquirir ou aprender habilidades necessárias para tanto. A ação interventiva do psicopedagogo, atinge plenamente seus objetivos quando amplia a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de cada aluno, abrindo espaço para que a escola viabilize recursos que atendam essas necessidades e possibilite o sucesso de todos na escola. Desta forma, o fazer pedagógico se transforma e reestrutura-se, podendo se tornar uma ferramenta poderosa no projeto pedagógico da escola.

Percebe-se, portanto, que o psicopedagogo tem muito que fazer na escola, pois sua intervenção tem um caráter preventivo. Sua atuação inclui orientar os pais; auxiliar os professores e demais profissionais nas questões pedagógicas; colaborar com a direção para que haja um bom entrosamento em todos os integrantes da instituição e, principalmente, socorrer o aluno que esteja sofrendo, qualquer que seja a causa (BOSSA, 2017). Assim, conforme destaca Sampaio (2018, p. 81), o psicopedagogo na instituição escolar poderá ainda:

Ajudar os professores, auxiliando-os no planejamento tendo em vista o melhor desempenho dos educandos; orientá-los para que eles em sala de aula possam ajudar o aluno com dificuldades de aprendizagem; realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensino-aprendizagem; encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo e outros) a partir de avaliações psicopedagógicos; conversar com os pais para fornecer orientações; auxiliar a direção da escola para que os profissionais da instituição possam ter um bom relacionamento entre si e conversar com a criança ou adolescente quando este precisar de orientação.

Deve ser uma preocupação real do psicopedagogo, auxiliar os docentes para lidar com problemas diversos de aprendizagem, pois eles precisam saber fazer uso de suas habilidades de observação, de detecção de problemas, dar feedback e definir como e quando intervir. Além disso, é importante que eles ajudem os alunos a descobrirem estratégias que sejam uteis na sua aprendizagem e também a compreenderem que suas dificuldades não existem por falta de capacidade, mas sim por fatores possíveis de serem superados.

3.3 As intervenções psicopedagógicas aos docentes diante de alunos com dificuldades de aprendizagem

O enfoque psicopedagógico da dificuldade de aprendizagem compreende os processos de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem. Compreende o aluno de maneira interdisciplinar, buscando apoio em várias áreas do conhecimento e analisando aprendizagem no contexto escolar, no aspecto afetivo, cognitivo e biológico. No que tange ao acompanhamento do aluno, conforme destaca Scoz (2016), o trabalho psicopedagógico também auxilia o aluno na sua produção escolar, assim como os coloca diante de seus bloqueios, sentimentos de angústia e hesitações. Portanto, a psicopedagogia não lida diretamente com o problema, lida com os educandos, familiares e professores, levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e psicológicos.

A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem começa a configurar-se quando se toma consciência das dificuldades dos alunos e cuida-se em apresentar os objetivos, os temas de estudos e as tarefas numa comunicação clara e compreensível, juntamente com o professor e na escola. Conforme destaca Sampaio (2018), o papel do psicopedagogo atuando no âmbito escolar torna-se cada vez mais relevante e necessário, se for levado em conta a realidade educacional brasileira, pois o que se vê nas instituições de ensino é que muitos alunos não estão conseguindo aprender e acabam desenvolvendo um vínculo negativo com o objeto do conhecimento.

Diante de tal realidade, os educadores sentem-se impotentes e ao procurarem agir utilizam alternativas inadequadas e insatisfatórias, contribuindo para que a problemática dos educandos se agrave, levando-os com frequência a desistirem de aprender, gerando como consequência o fomento dos índices do fracasso e da evasão escolar (SAMPAIO, 2018). Neste âmbito, a psicopedagogia seria a área de atuação mais indicada para auxiliar os professores diante de alunos com dificuldades de aprendizagem, pois conta com um aparato de conhecimento científico, técnicas de diagnósticos e tratamento para o enfrentamento dessas dificuldades. Isto significa que, poderá contribuir e atuar de forma significativa, buscando fazer um levantamento da vida escolar dos educandos, afim de que sejam avaliadas suas dificuldades e se defina a melhor estratégia para resolvê-las.

As crianças com dificuldades de aprendizagem, recebendo intervenções psicopedagógicas adequadas e enriquecidas quanto ao processo de ensino-aprendizagem, adquirem informação e desbloqueiam suas dificuldades, podendo modificar todo o seu potencial dinâmico de aprendizagem. Entender as causas das dificuldades de aprendizagem colabora para o surgimento de estratégias de intervenção mais adequadas aos estilos cognitivos de aprendizagem dos educandos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas análises dos referenciais que fundamentaram esse estudo é possível afirmar que os objetivos foram alcançados, à medida que ficou claro o quanto é importante a contribuição da psicopedagogia na superação das dificuldades de aprendizagem, sendo o profissional psicopedagogo capacitado para atuar e intervir de forma preventiva no processo de ensino-aprendizagem no âmbito educacional. O estudo sinalizou que as dificuldades de aprendizagem representam um dos problemas centrais da educação contemporânea. A problemática etiológica e diagnóstica, bem como a avaliação de suas desordens psiconeurológicas, normalmente ausentes dos serviços de orientação escolar, impedem repostas eficazes para solucionar o problema.

É extremamente necessário clarear o conceito teórico das dificuldades de aprendizagem, ampliando o conhecimento no campo da educação permitindo originar medidas e estratégias que deem bases mais seguras para sua avaliação. Ficou claro nesta pesquisa, a importância do diagnóstico precoce do problema para que se detectem previamente as crianças com predisposição para as dificuldades de aprendizagem, a fim de que os alunos recebam a atenção pedagógica adequada. Ressalta-se que a atuação psicopedagógica em contextos escolares deve buscar respostas para os problemas de aprendizagem, abrindo espaço para que a escola tenha possibilidades de atender às necessidades de aprendizagem dos educandos. Desse modo, é correto afirmar que a intervenção psicopedagógica nas instituições escolares gera impactos positivos, à medida que se transforma em uma ferramenta poderosa no auxílio de aprendizagem, na orientação às famílias e aos professores sobre métodos e procedimentos a serem adotados.

A tendência da Psicopedagogia é cada vez mais ganhar espaço nas instituições escolares, embora, esse campo profissional ainda não seja plenamente reconhecido. Mas, não há como negar que o profissional psicopedagogo presente na área da educação é capaz de auxiliar o corpo docente e a outros profissionais da instituição escolar, tendo em vista propiciar as condições necessárias para o êxito do processo o ensino-aprendizagem, assim como para a superação dos problemas de aprendizagem que são tão comuns no nosso sistema de ensino, em especial, nas instituições de ensino público.

Espera-se que esse estudo possa contribuir, de modo significativo para a prática profissional docente, possibilitando uma reflexão em relação ao processo de ensinar e aprender, observando melhor os educandos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Esses docentes a tomarem consciência das dificuldades dos alunos irão repensar e busca estratégias para que todos possam aprender. Além disso, poderão dar mais atenção ao contexto que cerca o seu aluno, incluindo a familiar e o escolar.

REFERÊNCIAS

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1Pós-graduando do Curso de Piscopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade do Maranhão – FACAM.