BENEFITS OF PHYSIOTHERAPY IN STRESS URINARY INCONTINENCE IN ELDERLY WOMEN: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7376615
Mayza dos Santos Gama1
Rayane de Morais Freitas1
Thaiana Bezerra Duarte2
Resumo
Introdução: A incontinência urinária de esforço é caracterizada como perdas urinárias involuntárias, mediante a esforço físico, tosse ou espirro, ocasionada por disfunções nos músculos do assoalho pélvico (MAP), como o enfraquecimento dessa musculatura, situação comum em mulheres idosas, por conta do processo da senescência. De certa forma estes acontecimentos impactam diretamente a qualidade de vida e a interação social. A fisioterapia contribui para o tratamento desta disfunção, por meio de exercícios, educação sobre a incontinência urinária, dessa forma proporcionando ao paciente uma melhora da qualidade de vida e um bem-estar social. Objetivo: Evidenciar os benefícios da fisioterapia no tratamento da Incontinência Urinária de Esforço especificamente em mulheres idosas, acerca dos principais métodos utilizados na prática clínica, que tem como base a prática baseada em evidência. Materiais e método: Foi realizada uma revisão de literatura, por meio da base de dados virtuais Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (MEDLINE), PUBMED, PEdro, BVS e Portal CAPES. Foram incluídos artigos que apresentassem os seguintes critérios: artigos que tenham intervenção fisioterapêutica, direcionada a incontinência urinária de esforço e com o público alvo mulheres idosas. Foram excluídos artigos que apresentassem os seguintes critrérios: artigos duplicados, artigos com ano de publicação anterior a 2014, idiomas diferentes de português, inglês e espanhol. Resultados: Seis artigos foram incluídos nesta revisão. O estudo incluiu o total de 489 mulheres, com idade média de 63,36 anos. Os protocolos de tratamento dos MAP abordaram diferentes parâmetros de treinamento em relação aos MAP.
Alguns estudos aplicaram o tratamento com técnicas complementares, como método pilates, biofeedback, cones vaginais, cinesioterapia, terapia comportamental, feedback verbal, programas de tratamento em grupo e individual. Conclusão: A partir deste estudo pode-se concluir que a fisioterapia oferece inúmeros benefícios diante do tratamento da IUE em mulheres idosas.
Palavras-chave: “fisioterapia”, “incontinência urinária de esforço”, “mulheres” e “idosas”.
Abstract
Keywords: “physical therapy”, “stress urinary incontinence”, “women” and “elderly”.
Background: Stress urinary incontinence is characterized as involuntary urinary losses, through physical exertion, cough or sneezing, caused by dysfunctions in the pelvic floor muscles (MAP), such as the weakening of this musculature, a common situation in older women, due to the senescence process. In a way these events directly impact the quality of life and social interaction. Physiotherapy contributes to the treatment of this dysfunction, through exercises, education on incontinence, thus providing the patient with an improvement in quality of life and social well-being. Pourpose: To highlight the benefits of Physiotherapy in the treatment of Stress Urinary Incontinence specifically in older women, regarding the main methods used in clinical practice, which is based on evidence-based practice. Methods: A literature review was conducted through the virtual database Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System online (MEDLINE), PUBMED, PEdro, VHL and CAPES Portal. Articles that presented the following criteria were included: articles that have physical therapy intervention, directed to stress urinary incontinence and with the target audience older women. Articles that presented the following criteria were excluded: duplicate articles, articles with year of publication before 2014, languages other than Portuguese, English and Spanish. Results: Six articles were included in this review. The study included a total of 489 women, with a mean age of 63.36 years. The map treatment protocols addressed different training parameters in relation to MAP. Some studies have applied treatment with complementary techniques such as pilates method, biofeedback, vaginal cones, kinesiotherapy, behavioral therapy, verbal feedback, group and individual treatment programs. Conclusion: From this study, it can be concluded that physiotherapy offers numerous benefits in the treatment of SUI for older women.
De acordo com a International Continence Society (ICS), a Incontinência Urinária de Esforço (IUE) é caracterizada pela perda involuntária de urina que ocorre ao tossir, espirrar, caminhar, correr, pular ou em outras situações de esforço. Ocorre quando os músculos do assoalho pélvicos são forçados durante esforço físico e se tornam enfraquecidos ou alongados demais. Isso leva a perdas de urinárias em episódios, podendo ocorrer em gotas ou em grandes quantidades (DE JESUS et al, 2017).
A incontinência urinária de esforço piora as condições de vida nos aspectos ocupacional, social, mental, físico e sexual da vida da mulher. Apesar de seu real impacto no cotidiano de milhões de mulheres em todo o mundo, esse problema ainda é desconsiderado e tratado apenas como um desconforto associado à higiene pessoal (WITKÓS et al, 2020).
De acordo com Witkós et al (2020), as mulheres muitas vezes não procuram ajuda de profissionais de saúde por desconhecerem a possibilidade de tratamento da Incontinência Urinária de Esforço. Isso pode ser devido a negligência por parte do profissional de saúde neste assunto e talvez essa falta de conhecimento e informação adequada destinada às mulheres com Incontinência Urinária de Esforço, tenha levado milhões de mulheres em todo o mundo a não realizarem o tratamento desta disfunção e o pior ainda, são deixadas sofrendo sozinhas em silêncio por algumas vezes até décadas. Hendrix et al (2010) afirmaram que a principal barreira para o manejo eficaz da incontinência urinária não é a falta de opções de tratamento, mas a falta de comunicação entre os pacientes e seus profissionais de saúde sobre esse problema.
Quanto mais avançada a idade, maior a chance de a mulher apresentar alterações musculares específicas relacionadas à menopausa, ao envelhecimento associado a um declínio progressivo na força e na massa muscular, descrito como sarcopenia. A redução da massa muscular do assoalho pélvico é causada por vários mecanismos, como atrofia de miofibra tipo II como resultado da morte do neurônio motor, alterações hormonais, redução da oferta de calorias e proteínas, mediadores inflamatórios, estresse, atividade física reduzida e alteração na síntese de várias proteínas, incluindo a miostatina (RADZIMIŃSKA et al, 2018) e também a fatores sociais como a paridade e ao tipo de parto, sendo o vaginal o mais significativo. (CAVENAGHIL et al, 2020).
A Fisioterapia contribui com a recuperação da disfunção urinária da mulher idosa, do momento em que a Incontinência Urinária de Esforço é entendida como um enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico que de certa forma favorece a perda urinária por meio de algum esforço físico, a fisioterapia contribui para o fortalecimento deste grupo muscular por
meio do Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP), seja ele associado a protocolos de tratamento adjuvantes como o biofeedback, os cones vaginais, terapia comportamental, o método pilates, cinesioterapia e/ou de forma isolada, mas também por meio de protocolos complementares ao tratamento como orientações para exercícios domiciliares e a educação quanto a anatomia e função do MAP, assim como o conhecimento acerca da incontinência urinária de esforço.
Há muitos estudos que evidenciam a Incontinência Urinária de Esforço em mulheres mais novas e poucos são direcionados a mulheres idosas, dessa forma há uma escassez de informações de tratamentos efetivos em relação a Incontinência Urinária de Esforço para mulheres mais velhas, visando a alterações morfológicas e fisiológicas decorrentes do envelhecimento.
O objetivo deste estudo é evidenciar os benefícios da fisioterapia no tratamento da Incontinência Urinária de Esforço especificamente em mulheres idosas, acerca dos principais métodos utilizados na prática clínica, que tem como base a prática baseada em evidência.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma revisão de literatura utilizada na prática baseada em evidências. Foram utilizados, para a busca de publicações as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System on line (MEDLINE), PUBMED, PEdro, BVS e Portal CAPES. Para realizar as buscas nas bases de dados, foram usadas as seguintes palavras-chaves: fisioterapia, incontinência urinária de esforço e mulheres idosas. As buscas foram realizadas nos idiomas: português, inglês e espanhol.
Os critérios de inclusão para os artigos foram: artigos que tenham intervenção fisioterapêutica, direcionada a incontinência urinária de esforço e com o público alvo mulheres idosas. Quanto aos critérios de exclusão: artigos duplicados, artigos com ano de publicação anterior a 2014, idiomas diferentes de português, inglês e espanhol.
Para realizar a pesquisa e o levantamento dos artigos científicos, foram efetuadas buscas nas bases de dados, em seguida foram excluídos os artigos duplicados, onde se realizou uma leitura dos títulos e resumo dos artigos, por conseguinte foram retirados os artigos relacionados aos critérios de exclusão, logo após realizou-se a leitura na íntegra de todos os artigos selecionados, foram excluídos os artigos que não se enquadravam aos critérios de inclusão e
por fim chegou-se aos artigos selecionados para esta revisão. O período de busca por artigos se iniciou em setembro de 2022 e finalizou em outubro de 2022.
3 RESULTADOS
Foram encontrados 663 artigos nas seguintes bases de dados Pedro (140), Pubmed (206), Medline (103), BVS (134) e Portal CAPES (80), onde 15 artigos foram duplicados, foram selecionados 648 artigos para serem lidos o título e resumo, foram aplicados os critérios de exclusão onde foram excluídos 575 artigos, foram selecionados 73 artigos para serem lidos na íntegra, foram aplicados os critérios de inclusão e foram excluídos 67 artigos, sendo selecionados 6 artigos para essa revisão (conforme figura 1).
Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos.
A tabela 1 mostra os resultados dos artigos selecionados para esta revisão.
Tabela 1 – Síntese dos artigos selecionados para a revisão.
AUTOR/ANO | TIPO DE ESTUDO | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS |
Leong et al, 2014. | Estudo Randomizado | Examinar a eficácia de um Programa de Fisioterapia de Continência Urinária padronizada para mulheres chinesas idosas com incontinência urinária de esforço, urgência ou incontinência urinária mista. | Os participantes foram divididas em 2 grupos. O grupo de intervenção recebeu educação sobre incontinência urinária, treinamento muscular do assoalho pélvico com palpação manual e feedback verbal, e terapia comportamental. O grupo controle recebeu orientações e um panfleto educativo sobre incontinência urinária. | Houve melhora significativa nos sintomas urinários no grupo de intervenção, especialmente nas primeiras 5 semanas. Em comparação com o grupo controle, os participantes que receberam a intervenção apresentaram redução significativa nos episódios de incontinência urinária. |
Schrader et al, 2017. | Ensaio Randomizado | Verificar a eficácia do tratamento fisioterapêutico para incontinência urinária com o método o biofeedback manométrico em mulheres na menopausa. | Foram divididas em 2 grupos, onde o grupo 1 foi submetido ao tratamento com o biofeedback e o grupo 2 com o Método Pilates. | Ambos os grupos apresentaram resultados significativos quando realizada a comparação entre os grupos em relação à frequência das perdas urinárias mensais, força das fibras rápidas do assoalho pélvico, a gravidade da incontinência urinária e o impacto desta sobre a qualidade de vida. |
Silva et al, 2017. | Estudo Randomizado | Caracterizar perfil e prevalência dos tipos de incontinência urinária em idosas e avaliar sua qualidade de vida pré e pós programa de treino de fortalecimento da musculatura pélvica. | Consistiu em sessões de cinesioterapia para fortalecimento do assoalho pélvico, sendo: treino aeróbico; atividade propriamente dita e relaxamento. | Foram enunciados ganhos referentes ao controle da micção, satisfação sexual com o parceiro, redução de dores articulares, nas pernas e na coluna vertebral. |
Bertotto et al, 2017. | Estudo Randomizado | Comparar a eficácia do TMAP com e sem biofeedback eletromiográfico no aumento da força muscular, melhorando a atividade mioelétrica e melhorando a pré- contração e a qualidade de vida em mulheres pós- menopausa com incontinência urinária por estresse. | As pacientes foram divididas em 3 grupos, onde o grupo 1 realizaram TMAP isolado, o grupo 2 realizaram TMAP e biofeedback e o grupo 3 , caracterizado como controle, recebeu tratamento após os outros, realizam TMAP isolado. | Evidencia que o TMAP, com e sem biofeedback, está associado ao aumento da força muscular, atividade mioelétrica, pré- contratação dos músculos do assoalho pélvico e melhor qualidade de vida em mulheres pós- menopausa com incontinência urinária por estresse. |
Holzschuh et al, 2019. | Estudo Randomizado | Avaliar o uso de cones vaginais no fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico (MAP) em mulheres com incontinência urinaria pós-menopausa. | Foram realizadas sessões de tratamento com uso de cones vaginais e cinesioterapia, associando aos exercícios de Kegel. | Os cones vaginais beneficiaram mulheres com incontinência urinário de esforço, fortalecendo os músculos do assoalho pélvico, proporcionando melhora na qualidade de vida. |
Dumuolin et al, 2020. | Estudo Randomizado | Avaliar a eficácia do TMAP (Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico) baseado em grupo em relação ao TMAP (Treinamento dos Músculos do Assoalho | Após uma sessão individual realizada para aprender a contrair músculos do assoalho pélvico, foi realizada sessões de TMAP em grupo ou individuais. | O TMAP baseado em grupo não é inferior ao TMAP individual recomendado para o tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres |
Os artigos selecionados apresentam grupos de tratamento variando de 2 a 362 mulheres, totalizando o resultado de 489 mulheres, com idade variando de 60 a 65 anos, obtendo uma média de idade de 63,36 anos.
Nos estudos de Leong et al (2014), Schrader et al (2017), Silva et al (2017), Bertotto et al (2017) e Dumoulin et al (2020), o protocolo de tratamento iniciou com orientações para aprender como realizar a ativação do MAP de maneira efetiva. Tendo como principal método palpação vaginal, periômetro de pressão, biofeedback. Por outro lado, Holzschuh et al (2019) não orientaram quanto à contração efetiva do MAP. Apenas Leong et al (2014), Schrader et al (2017), Silva et al (2017) educaram sobre a anatomia do MAP e IUE.
Os estudos de Leong et al (2014), Schrader et al (2017), Silva et al (2017), Bertotto et al (2017), Holzschuh et al (2019) e Dumoulin et al 2020) usaram o TMAP como base de tratamento. Portanto, Leong et al (2014) associaram feedback verbal e terapia comportamental, Schrader et al (2017) associaram biofeedback e o pilates, Silva et al (2017) associaram cinesioterapia, Bertotto et al (2017) associaram biofeedback e compararam com o TMAP isolado, Holzschuh et al (2019) associaram cones vaginais e cinesioterapia e Dumoulin et al (2020) compararam a eficácia da prática em grupo e individual.
A duração dos protocolos de tratamento dos estudos foi de 4 a 12 semanas, porém Leong et al (2014), Silva et al (2017), Dumoulin et al (2020) optaram por 12 semanas, porém Schrader et al (2017) optaram por 11 semanas para o grupo de método de pilates e 10 semanas para o grupo de biofeedback. Bertotto et al (2017) e Holzschuh et al (2019) optaram por 4 semanas. Quanto a frequência das sessões, no estudo de Leong et al (2014) nas primeiras 4 semanas realizaram 1 sessão por semana e nas outras 8 semanas realizaram 1 sessão a cada 15 dias. No estudo de Schrader et al (2017) o grupo de pilates teve frequência de 1 sessão por semana e o grupo de biofeedback realizaram 2 sessões por semana. Nos estudos de Silva et al (2017), Holzschuh et al (2019) e Dumoulin et al (2020) realizaram 3 sessões por semana. No estudode Bertotto et al (2017) realizaram 2 sessões por semana.
Leong et al (2014) e Dumoulin et al (2020) avaliaram a frequência urinárias através do diário miccional de 3 a 7 dias e números de perdas urinárias. Bertotto et al (2017) avaliaram a força dos músculos do assoalho pélvico (MAP) por meio da palpação digital (escala de classificação de Oxford Modificada) e eletromiografia. Schrader et al (2017) e Holzschuh et al (2019) por perineometria. Leong et al (2014) utilizaram de avaliação subjetiva baseada na escala analógica visual (VAS). Schrader et al (2017), Bertotto et al (2017), Holzschuh et al (2019), Bertotto et al (2017) e Dumoulin et al (2020) utilizaram a escala ICIQ-SF (Urinary Incontinence Short Form) para avaliar os impactos da incontinência urinária na qualidade de vida e qualificar a perda urinária. Leong et al (2014) utilizaram a escala de qualidade vida IIQ 7 (Urinary Incontinence Short Form – versão chinês) para avaliar os impactos da incontinência urinária na qualidade de vida e qualificar a perda urinária, Silva et al (2017) utilizaram a escala KHG (King’s Health Questionnaire) para a avaliação da qualidade de vida, Silva et al (2017) utilizou a escala de Gaudenz-Fragebogen para análise do tipo de incontinência urinária e Dumoulin et al (2020) utilizaram o teste do absorvente de 24 horas.
Leong et al (2014) referenciaram que houve diminuição na perda de urina e melhora na qualidade de vida. Schrader et al (2017) referenciaram em seu estudo a diminuição da frequência da perda de urina e o ganho da força muscular das fibras de contração rápida, melhorando assim a qualidade de vida. Bertotto et al (2017) referenciaram que o TMAP, com e sem biofeedback, está associado ao aumento da força muscular, melhora da atividade mioelétrica, pré-contratação dos músculos do assoalho pélvico e melhor qualidade de vida. Silva et al (2017) referenciaram melhora no controle da micção, satisfação sexual com o parceiro, redução de dores articulares, nas pernas, na coluna vertebral, além de contribuir para o bem-estar físico e emocional. Holzschuh et al (2019) referenciaram redução na perda de urina, aumento da força da contração do MAP e melhora da qualidade de vida. Dumoulin et al (2020) referenciaram que o TMAP em grupo não é inferior ao TMAP individual, mas que o uso generalizado na prática clínica do TMAP em grupo aumenta a acessibilidade, a disponibilidade do tratamento, além de as pacientes aderirem facilmente ao tratamento.
4 DISCUSSÃO
A presente revisão de literatura evidenciou algumas das principais técnicas aplicadas na prática clínica, principais instrumentos de avaliação e seus correspondentes resultados de intervenção.
Nos estudos de Leong et al (2014), Schrader et al (2017), Silva et al (2017), Bertotto et al (2017), Holzschuh et al (2019) e Dumoulin et al (2020), o protocolo de tratamento iniciou com orientações para aprender como realizar a ativação do MAP de maneira efetiva. Esses resultados corroboram com Glisoi et al (2011) afirmou que a fisioterapia é mais eficaz no tratamento da incontinência quando a paciente tem uma melhor conscientização do MAP e isso reflete positivamente no controle urinário, dando confiança para que as mulheres possam realizar suas tarefas com mais segurança. O fisioterapeuta não deve se limitar apenas à aplicação de técnica especifica, ele tem que atuar na conscientização do que é o assoalho pélvico (AP), visto que, após a conscientização, a recuperação será mais rápida e com melhores resultados.
Todos os estudos presentes nesta revisão usaram o TMAP como base de tratamento, associado a outras terapias adjuvantes. Leong et al (2014) associaram feedback verbal e terapia comportamental, Schrader et al (2017) associaram biofeedback e o pilates. Silva et al (2017) associaram a cinesioterapia para o fortalecimento do MAP. Bertotto et al (2017) associaram biofeedback e comparou com o TMAP isolado. Holzschuh et al (2019) associaram cinesioterapia e cones vaginais para o fortalecimento do MAP e Dumoulin et al (2020) compararam a eficácia da prática em grupo e individual. Esses resultados corroboram com Neumann et al (2006) que demonstrou que o TMAP combinado com terapias adjuvantes é eficaz no tratamento de IUE. De acordo com Dannecker et al (2005) essas técnicas de fortalecimento do MAP permite a identificação, a consciência da contração muscular correta e inibição dos músculos sinérgicos, favorecendo melhores resultados.
Leong et al (2014) associaram terapia comportamental, onde apresentou melhora na frequência de perda de urina e melhora na qualidade de vida. Segundo Leon et al (2015) e Beuttenmuller et al (2011) a terapia comportamental é um treino de hábito miccional para que o paciente adquira o controle sobre o reflexo da micção. Essa reeducação possibilita ao paciente aumentar os intervalos entre as micções de forma progressiva, podendo ser estabelecidas micções de horário e incentivo à micção postergada baseados em diário miccional. De acordo com Moreno et al (2004) a terapia comportamental é uma associação de técnicas cuja base é a ideia de que pacientes com incontinência urinária podem ser educados sobre a patologia e podem desenvolver estratégias para minimizar ou eliminar a incontinência urinária. Entre as principais técnicas está o treinamento vesical, a ingesta hídrica, a educação sobre o trato urinário inferior e suas patologias e a cinesioterapia.
Leong et al (2014) referiram que o feedback verbal é crucial, no início o tratamento, pois aumenta a adesão ao exercício e conformidade, além de melhorar os resultados do
tratamento. De acordo Floratos et al (2002) e Franke et al (2000) para que se tenha uma contração correta e isolada do MAP, o paciente deve aprender a técnica através de algum método, como exemplo, o método comportamental incluindo a realização de exercícios dos músculos do assoalho pélvico a partir de instruções verbais ou biofeeedback. Segundo Hay
Smith et al (2008) muitos dos pacientes ignoram a localização e a função do AP e são incapazes de contrair satisfatoriamente o MAP após apenas uma instrução verbal. Sendo importante a utilização de equipamentos de biofeedback para a conscientização e controle seletivo dos músculos do AP. De acordo com Wang et al (2004) esses equipamentos de biofeedback informam o paciente por meio de sinais visuais e sonoros qual grupo muscular deve ser trabalhado, potencializando os efeitos dos exercícios perineais.
Schrader et al (2017) associaram o biofeedback com o TMAP, apresentaram melhor da eficácia na função muscular tanto em relação às contrações rápidas quanto às contrações mantidas, contribuindo assim para a diminuição da frequência da perda de urina e o ganho da força muscular das fibras de contração rápida, melhorando assim a qualidade de vida. Já Bertotto et al (2017) usaram biofeedback associado ao TMAP, apresentaram melhora na força muscular, melhora na pré-contração durante o esforço abdominal e da qualidade de vida. Esses resultados corroboram com Fitz et al (2012) afirmaram que o uso de biofeedback, mesmo em curto prazo, pode ser benéfico no alívio de sintomas da IUE em mulheres que sofrem com esse incomodo, tendo como resposta a reeducação da MAP, aumento da ação reflexa das fibras do tipo II que facilita a capacidade de contração para adequado desenvolvimento muscular e favorecendo melhor realização de atividades diárias. Segundo Yang et al (2013) e Dietz et al (2012) o reflexo da contração dos MAP ao aumento de pressão pode ser inerente ao mecanismo da continência urinária, mas a coordenação dos diferentes padrões pode ser adquirida como um comportamento aprendido e atualmente é considerado complementar ao TMAP, como fator determinante em qualquer protocolo de reeducação do MAP.
Schrader et al (2017) associaram o Método Pilates, onde apresentaram maior eficácia no aumento de força das fibras rápidas do que na capacidade se sustentação das fibras lentas, favorecendo assim para a diminuição da frequência da perda de urina e o ganho da força muscular das fibras de contração rápida, melhorando assim a qualidade de vida. Estes resultados corroboram com Correa et al (2015) referem que na prática do Método Pilates, há contração e a sustentação do músculo transverso, favorecendo uma maior estabilização lombo pélvica e o aumento da força do MAP durante a execução dos exercícios. De acordo com Diniz et al (2014) o fortalecimento desta região central pode, então, promover bons resultados para pacientes com disfunções, visto que há melhora na percepção e consciência corporal da região pélvica. O mesmo promove o aumento da vascularização local, da tonicidade e força muscular, evitando problemas com o enfraquecimento muscular.
Silva et al (2017) usaram cinesioterapia para o fortalecimento do assoalho pélvico, referenciaram melhora no controle da micção, satisfação sexual com o parceiro, redução de dores articulares, nas pernas, na coluna vertebral, além de contribuir para o bem-estar físico e emocional. Holzschuh et al (2019) associaram cinesioterapia e cones vaginais para o fortalecimento do assoalho pélvico, apresentando diminuição da perda de urina, aumento da força da contração do MAP e melhora na qualidade de vida. Esses resultados corroboram com Bordiak et al (2014); Bo et al (1996) e Fitz et al (1992) que afirmam que a cinesioterapia é uma técnica fisioterapêutica que é constituída de exercícios globais e pélvicos, além de exercícios ativos resistidos que contribuem para o tratamento das disfunções do AP. De acordo com Abrams et al (2002) a cinesioterapia do AP, como protocolo de tratamento, atua no princípio de que contrações voluntárias e repetidas aumentam a força e resistência muscular, consequentemente, a continência pela ativação da atividade do esfíncter uretral e pela promoção de um melhor suporte do colo vesical, estimulando contrações reflexas desses músculos durante as atividades diárias que geram estresse.
Holzschuh et al (2019) associaram cones vaginais, onde referiram redução na perda de urina, aumento da força da contração do MAP e melhora da qualidade de vida. De acordo com Souza et al (2020) os cones vaginais são recursos práticos e simples que podem ajudar pacientes a identificar e fortalecer o AP, seguindo os princípios do biofeedback, pois o mesmo tem como uma de suas ações ensinar a contrair os músculos do AP de maneira correta por meio da sustentação com cone vaginal introduzido aumentando o peso utilizando o mesmo dispositivo, o que por vez apresenta uma maior resistência e ganho de força muscular. Segundo Silva et al (2011) afirmou que os cones vaginais favorecem uma atividade contrátil muscular eficiente e específica. De acordo com Negamine et al (2021) a contração da musculatura do AP é necessária para manter o cone dentro da vagina, assim ocorre a estimulação e o recrutamento das fibras do tipo I de contração lenta e do tipo II de contração rápida, proporcionando assim estímulos proprioceptivos e favorecendo o aumento da força muscular do AP.
Dumoulin et al (2020), avaliaram a eficácia do TMAP em grupo e individualizado, onde demonstrou que a eficácia entre ambos é igual, mas referiram que no TMAP em grupo as pacientes aderiram facilmente e obtiveram mais benefícios clínicos. Esses resultados corroboram com Lamb et al (2009) que afirmou que mulheres com sintomas mais graves tendem a manifestar preferência por atendimento individual. No entanto, a maioria das mulheres relataram melhoras nos sintomas e na qualidade de vida, sem diferenças clinicamente
significativas entre o tratamento individual e em grupo, além de haver reforço de motivação entre as participantes. De acordo com Camargo et al (2009) o fisioterapeuta e o paciente devem escolher a opção que melhor se encaixa no estilo de vida, sem esquecer que o sucesso dependerá da motivação do paciente e da qualidade da orientação. Segundo Stella et al (2002) do ponto de vista mental, a atividade física, sobretudo praticada em grupo, eleva autoestima da pessoa idosa, contribui para a implementação das relações psicossociais e para o reequilíbrio emocional.
A duração dos protocolos de tratamento dos estudos foi de 4 a 12 semanas, porém Leong et al (2014), Silva et al (2017), Dumoulin et al (2020) optaram por 12 semanas. No entanto, Schrader et al (2017) optou por 11 semanas para o grupo de método de pilates e 10 semanas para o grupo de biofeedback, Bertotto et al (2017) e Holzschuh et al (2019) optou por 4 semanas. Esses resultados corroboram com o Colégio de Medicina Esportiva (2009 e 2013) que determinou que os protocolos de treinamento de força muscular devem durar entorno de 15 a 20 semanas. De acordo com Neumann et al (2006) nas primeiras 8 semanas de treinamento, as alterações são de caráter neural, seguidas de hipertrofia muscular, devido ao aumento do volume e do número de miofibrilas, essenciais para adaptações morfológicas e estruturais. Segundo Dumoulin et al (2011) os músculos do assoalho pélvico são músculos esqueléticos, portanto as recomendações do treinamento de força não diferem de outros músculos esqueléticos.
Em relação a frequência das sessões dos protocolos de tratamento presentes nesta revisão, no estudo de Leong et al (2014), nas primeiras 4 semanas foi realizada 1 sessão por semana e nas outras 8 semanas foi realizada 1 sessão a cada 15 dias. No estudo de Schrader et al (2017) o grupo de pilates teve frequência de 1 sessão por semana e o grupo de biofeedback teve frequência de 2 sessões por semana. Silva et al (2017), Holzschuh et al (2019) e Dumoulin et al (2020) realizaram 3 sessões por semana e Bertotto et al (2017) realizaram 2 sessões por semana. Segundo Camargo et al (2009) não há consenso nos dados da literatura sobre a frequência e duração do tratamento do assoalho pélvico com o TMAP. De acordo com Zanetti et al (2007) e Bo et al (2011) afirmam que isso ocorre por diferenças anatômicas e funcionais de cada mulher, além de que cerca de 30% das mulheres são incapazes de contrair corretamente os músculos do assolaho pélvico, por isso a importância da presença de um profissional especializado para a orientação do TMAP. De acordo com Price et al (2010) a frequência pode ser 1 a 3 vezes na semana, o tratamento pode durar de 1 semana a 6 meses, sendo 3 meses o mais frequente.
Dos estudos presentes nesta revisão, 4 mencionaram sobre o tratamento domiciliar, Dumoulin et al (2020) e Leong et al (2014) referiram que as pacientes foram orientadas a realizar exercícios em casa como parte do programa de tratamento. Schrader et al (2017) referiram que as pacientes recebiam orientações verbais e escritas, por meio de um folder ilustrativo para a continuidade da realização do TMAP em casa. Bertotto et al (2017) referiram que todas as participantes receberam instruções para realizar os exercícios em casa, sendo questionadas a cada nova visita e orientada novamente. Esses resultados corroboram com Berbam et al (2011) que afirmaram que a estratégia de atendimento domiciliar, além de proporcionar a atenção num ambiente que é do seu cotidiano, permite que a mulher se exercite mais de uma vez ao dia e mantenha uma rotina regular de exercícios, prevenindo a recidiva, além de diminuir o tempo de tratamento. Segundo Fitz et al (2017) a frequência de exercícios domiciliares tende a reduzir consideravelmente nos grupos ao longo do tempo, após o período de não supervisão, assegurando que programas supervisionados em geral tendem a ser mais efetivos na promoção da adesão aos exercícios.
Na presente revisão 3 estudos relataram sobre o treinamento supervisionado. Leong et al (2014) realizaram treinamento muscular supervisionado do assoalho pélvico com palpação, Schrader et al (2017) referiram que as pacientes eram orientadas sobre a forma correta de execução dos exercícios e supervisionadas durante todo o treinamento e Dumoulin et al (2020) realizaram programa de treinamento muscular do assoalho pélvico supervisionado. Segundo Dreher et al (2009), Marques et al (2005), Baracho et al (2006) e Goode et al (2003), afirmam que a metodologia de supervisão e avaliação sistemática do fisioterapeuta durante a realização do TMAP, permite a progressão do tratamento, o que pressupõe que o terapeuta identifica de que forma o paciente está executando o exercício e faz as correções necessárias, bem como consegue progredir nos exercícios de forma a contemplar as especificidades de treinamento muscular, o que não é possível apenas pela orientação.
5 CONCLUSÃO
A partir da análise realizada nos artigos selecionados para esta revisão, pode-se concluir que a fisioterapia contribui para a melhora da qualidade de vida de mulheres idosas, que apresentam incontinência urinária de esforço, mostra-se a eficácia no tratamento dessa disfunção. Dessa forma, os protocolos de tratamento aplicados apresentam uma diminuição da perda de urina, ganho de força na musculatura do assoalho pélvico, melhora da flexibilidade, redução da sintomatologia da disfunção, assim como a melhoria da autoestima e do bem-estar social dessas pacientes.
Os resultados presentes nessa revisão evidenciam que os métodos propostos podem ser ferramentas de tratamento para o fisioterapeuta na reabilitação e no tratamento da incontinência urinária de esforço, apresentando inúmeros benefícios e pouquíssimas contraindicações.
A fisioterapia vem ganhando espaço no tratamento e na reabilitação de diferentes disfunções associadas ao assoalho pélvico, baseada na prática com evidência científica e levando em consideração as condições individuais do paciente. Entretanto, ainda assim, são necessárias a realização de mais pesquisas que sejam direcionadas ao tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres idosas e que evidenciem novos protocolos de tratamento para esse público.
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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2 Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE. Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro | Manaus | AM | CEP: 69020-030 | (92) 3212-5000.