O USO DE BIOMARCADORES MOLECULARES NO DIAGNÓSTICO PRECOCE DA DOENÇA DE ALZHEIMER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7376101


Andressa Fernandes Neres¹
Isabella Valvassori Baldin¹
Laura Souza do Nascimento¹
Priscila Ferreira Silva²


RESUMO 

Os avanços tecnológicos, principalmente relacionados à medicina, colaboram para a melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, para o aumento da expectativa de vida. Em vista disso, doenças relacionadas ao avanço da idade estão aumentando consideravelmente e trazendo preocupação à saúde pública. A doença de Alzheimer (DA), caracterizada, histopatologicamente, pela maciça perda sináptica e pela morte neuronal nas regiões cerebrais responsáveis por funções cognitivas como memória e atenção, é considerada a causa mais comum de demência associada ao envelhecimento. Seu diagnóstico precoce é um grande e importante desafio, e os biomarcadores podem vir a auxiliar nesta etapa. As estratégias que possibilitam o diagnóstico precoce incluem a detecção de níveis alterados de tau e beta-amilóide no líquido cefalorraquidiano. Atualmente o Alzheimer é um dos distúrbios mentais que mais concentram esforços de pesquisa, além da atenção de profissionais da saúde e das famílias. 

Palavras chaves: Alzheimer; biomarcadores; diagnóstico. 

ABSTRACT 

Technological advances, mainly related to medicine, collaborate to improve the quality of life and, consequently, to increase life expectancy. In view of this, age-related diseases are increasing considerably and causing public health concern. Alzheimer’s disease (AD), characterized, histopathologically, by massive synaptic loss and neuronal death in brain regions responsible for cognitive functions such as memory and attention, is considered the most common cause of dementia associated with aging. Its early diagnosis is a great and important challenge, and biomarkers can help at this stage. Strategies that enable early diagnosis include detection of altered levels of tau and beta-amyloid in the cerebrospinal fluid. Currently, Alzheimer’s is one of the mental disorders that most focus research efforts, in addition to the attention of health professionals and families. 

Keywords: : Alzheimer’s; biomarkers; diagnosis. 

INTRODUÇÃO 

A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa frequentemente associada ao envelhecimento que, de maneira geral, por ser descoberto já em estágios avançados, não permite um tratamento tão eficaz. De acordo com o psiquiatra, neuropatologista e autor do primeiro estudo sobre o assunto, Alois Alzheimer, os sintomas incluem falhas na memória recente, paranoia e problemas comportamentais e de linguagem. 

Hoje, com a melhor compreensão da doença, propõe-se que seja caracterizada pelo excesso de produção, deposição e agregação de proteínas que se acoplam às placas danificando as células cerebrais, a Aβ40 (peptídeo beta-amilóide de 40 aminoácidos de extensão) e a Aβ42 (peptídeo beta-amilóide de 42 aminoácidos de extensão) que levam a esta disfunção neuronal oxidativa; uma excitotoxicidade e neuroinflamação, decorrendo assim no apoptose das células e por fim a morte neuronal. Disfunções estruturais neurovasculares,processos inflamatórios, perda de funcionalidade das mitocôndrias e estresse oxidativo celular, também são alterações conhecidas que podem levar ao diagnóstico da doença. 

A princípio, o diagnóstico é semelhante ao de outras formas de demência e é feito por associação de histórico médico familiar, exames neurológicos e de sangue. 

O uso de biomarcadores moleculares que contém um alto grau de especificidade e boa sensibilidade é uma forma inovadora de diagnóstico, permitindo até mesmo o diagnóstico precoce. Seus benefícios incluem a possibilidade de evitar um avanço progressista da doença no indivíduo, permitindo que o tratamento seja feito desde o seu início. 

A partir do perfil proteico do sangue em indivíduos que já apresentavam identificação para alta ou baixa carga beta-amilóide neocortical, foi gerado um perfil sanguíneo a fim de fornecer uma aproximação do aumento da carga beta-amilóide neocorti•cal (NAB) e associar a um declínio cognitivo e provável progressão da doença. Além disso, os autores também identificaram indivíduos com riscos de progressão da DA no período prodrômico e estágios pré-clínicos. Tais resultados colaboraram com a possibilidade de NAB ser utilizado como um biomarcador em breve. 

Este estudo além de possibilitar a ajuda no tratamento de uma doença que atinge grande parte da população, também permitirá a descoberta precoce por uma patente diferencial de pesquisa, já que não há nenhum exame de sangue de rotina para o diagnóstico de Alzheimer disponível no mercado atualmente. Permitindo dessa forma, melhor qualidade de vida aos indivíduos idosos que estão tendo sua expectativa de vida ampliada. 

OBJETIVOS 

Objetivou-se discorrer sobre o que são os biomarcadores, para que servem e como atuam no diagnóstico da doença; explicar sobre o Alzheimer em si e, atualmente, como está funcionando o seu diagnóstico. 

METODOLOGIA 

O presente estudo foi realizado por meio  de uma revisão sistemática e narrativa  da literatura de ensaios clínicos sobre o  uso de biomarcadores no líquido  cefalorraquidiano para o diagnóstico de  Alzheimer. Objetivou-se a utilização de  artigos e estudos que continham  dosagem de marcadores de LCR, T-tau,  P-tau e Aβ no diagnóstico de pacientes  com suspeita da doença de Alzheimer e  somado a isso, deveriam descrever as  variações desses biomarcadores na DA,  com objetivo discutir sobre o tema  pesquisado de forma ampla. 

A análise foi feita por meio de um  referencial teórico, incluindo leitura  exploratória, interpretativa e seletiva do  material coletado de forma aleatória nas  bases de dados eletrônicos SciELO,  Medline, PubMed e na base de dados do  Google Acadêmico, priorizando artigos  entre os anos de 2015 e 2022

Para a elaboração deste trabalho,  utilizaram-se as seguintes palavras-chave: Doença de Alzheimer;  Envelhecimento Precoce;  Biomarcadores; Biomarkers; proteína  tau; amilóide. 

DESENVOLVIMENTO 

Envelhecimento Populacional

De acordo com estudos feitos por Carvalho e Garcia (2003), a transição  demográfica teve início na Europa  Ocidental, já no final do século XIX, e  sua causa principal foi a diminuição das  taxas de fecundidade. Tal  acontecimento espalhou-se  rapidamente para o restante dos países  desenvolvidos e, nas últimas décadas,  por vários países subdesenvolvidos. 

Mudanças significativas foram  observadas na população brasileira a  partir da segunda metade do século XX,  como mostra a Imagem 1, dentre elas a  queda nas taxas de fecundidade e o  aumento da longevidade, que são umas  das principais razões para o  envelhecimento populacional. De  acordo com o Ministério da Saúde, em  2016, a quinta maior população idosa  do mundo era brasileira, e a previsão é  de que, em 2030, o número de idosos  no país ultrapasse o total de crianças entre zero e catorze anos. Com isso  surge a seguinte problemática: o  aumento das doenças crônicas não  transmissíveis (DCNT). 

Segundo o Ministério da Saúde, as  DCNT compõem o grupo de doenças de  maior magnitude no mundo, sendo as  populações mais vulneráveis as mais  atingidas. Alguns fatores como o  sedentarismo, tabagismo, alcoolismo e  obesidade são considerados de risco  para o desenvolvimento de doenças  crônicas não transmissíveis. 

A Doença de Alzheimer é considerada  uma DCNT, e está entre as 10 principais  causas de morte no mundo. A doença  acomete em maior quantidade a  população feminina, cerca de 65% das  mortes causadas pelo Alzheimer são de  mulheres (VARELLA, 2014). 

Figura 1 – Pirâmide etária brasileira 1980-2000

A doença de Alzheimer 

O Alzheimer é definido pelo  neuropatológicos Alois Alzheimer como  “uma afecção neurodegenerativa  progressiva e irreversível de  aparecimento insidioso, que acarreta  perda de memória e diversos distúrbios  cognitivos” 

Em 1901, o neuropatologista relatou o  caso de uma mulher chamada August  Deter, 51 anos, internada com alguns  sintomas como perda progressiva de  memória e ansiedade. Alois Alzheimer  acompanhou o caso de August até  1903, quando a paciente chegou a  falecer. A autópsia apontou atrofia do  córtex cerebral, perda neuronal, placas  senis decorrentes do acúmulo de  depósitos extracelulares de neurites  distróficas e degeneradas, microglia,  astrócitos reativos e beta-amiloides, e  os chamados fusos neurofibrilares, fruto  do acúmulo da proteína Tau  hiperfosforilada (SMITH, 1999) 

De acordo com o Sistema Único de  Saúde (SUS), geralmente, os sintomas  surgem entre os 60 e 70 anos de idade,  e a piora tende a ser lenta e  progressiva. Segundo o Ministério da  Saúde, atualmente o Alzheimer é  dividido em estágios, sendo eles: inicial,  moderado e grave. Dentre os sintomas  que caracterizam o Alzheimer estão as  alterações de personalidade, dificuldade  de fala, deficiência motora progressiva,  incontinência urinária e fecal, e nas  fases terminais, o mutismo e infecções frequentes. 

Figura 2: Comparação entre cérebro normal e cérebro afetado pela Doença de Alzheimer. 

Patologia 

A nível macroscópico, a DA  caracteriza-se pela atrofia do córtex  cerebral, acompanhada pelo aumento  do sistema ventricular, pela perda de  pigmentação da neuromelanina e  pela perda de volume cerebral que  afeta especialmente a substância  branca (DETURE, DICKSON, 2019).  Microscopicamente destacam-se dois  mecanismos fisiopatológicos, as  placas amilóides e os emaranhados  neurofibrilares, que resultam na perda  neuronal e sináptica responsável pela  sintomatologia típica desta patologia.  Para além destes mecanismos,  podem se verificar, em situações  mais raras, corpos de hirano, que se  trata de inclusões intracelulares eosinofílicas, degeneração  granulovacular e angiopatia  amilóide cerebral (DETURE,  DICKSON, 2019). 

A doença de Alzheimer (DA) é uma  patologia multifatorial e de causa  idiopática, e fatores genéticos e  ambientais podem influenciar na sua  progressão. Alguns fatores de risco  estão envolvidos no desenvolvimento  da DA, tais como idade avançada,  fatores genéticos, traumatismo  craniano, entre outros (Ribeiro, et al.  2003). Estudos demonstraram que o  mais prevalente fator de risco da DA  é o alelo ε4 da apolipoproteína E (CASSELI, 2013). Os principais  achados neuropatológicos da doença  consistem na deposição de placas  de proteína beta-amiloide (APP),  acúmulo de emaranhados  neurofibrilares hiper fosforilados,  inflamação mediada pela neuróglia,  desregulação da sinalização de  neurotransmissores, atrofia cerebral  e alterações neuronais (VINTERS,  2015). 

As transformações intracelulares no  sistema nervoso central (SNC)  acarretam um estado emocional  prejudicado, perda de sinapses e  morte neuronal, agravando o declínio cognitivo progressivamente  (KOCABAN, DOGAN, 2017). 

Diagnóstico precoce 

Nos dias atuais ainda não existe uma maneira simples e direta de diagnosticar  o Alzheimer, há um longo período pré sintomático entre o início das alterações  bioquímicas no cérebro e o  desenvolvimento dos sintomas clínicos  da DA, sugerindo a necessidade de  estudos epidemiológicos de longo prazo,  com início em idade precoce,  necessidade de exames médicos  completos, associado a exames de  imagens, testes de estado mental e  imagiologia cerebral, a fim de determinar  a presença e causa dos sintomas ou  estágio da doença. Ainda assim, o  resultado não é totalmente conclusivo, já  que por se tratarem de sintomas muito  próximos ao de outras doenças mentais,  podem ocorrer incertezas. Desta forma,  ainda hoje o diagnóstico clínico é  realizado através de exclusão. 

Porém, os critérios clínicos para o  diagnóstico de DA evoluíram ao longo do  tempo, e a capacidade de diagnosticar  com precisão a DA melhorou com o  desenvolvimento de técnicas para  medição in vivo da neuropatologia o que  requer um declínio tanto na cognição,  especialmente na memória, quanto na função, bem como na neuropatologia  específica. 

Segundo a Associação Brasileira de  Alzheimer – ABRAZ (2022), o  diagnóstico da Doença de Alzheimer  ainda é clínico, porém atualmente com a constatação de que marcadores  biológicos (beta-amilóide e a proteína  fosfo-tau) podem auxiliar a tornar o  diagnóstico da DA mais preciso. Dessa  forma, estes marcadores passam a  fazer parte da investigação clínica, associados a sintomas relacionados à  perda de memória e função cognitiva,  permitindo assim um diagnóstico mais  confiável e diferencial entre DA e outras  demências. 

(https://abraz.org.br/sobre alzheimer/diagnóstico/ (2022)) Com isso, nota-se a importância em  diagnosticar o quanto antes com  exatidão a DA, a fim de evitar o avanço  e o alcance a sintomas cada vez mais  críticos da doença e dessa forma,  permitir aos pacientes acometidos por  ela melhores perspectivas de vida. 

Utilização de biomarcadores específicos analisados via imunoensaios 

O termo ‘marcador biológico’ surgiu em  1990, definido por Hulka e  colaboradores. Ao longo do tempo o conceito de biomarcador foi sendo  alterado e aprimorado, e em 2016 teve  seu significado simplificado pelo FDA  (Food and Drug Administration), em  colaboração com o NIH passando sua  definição a ser considerado como “uma  característica mensurada como indicador  de processos biológicos normais,  processos patogênicos ou respostas à  uma determinada exposição ou  intervenção.” (FitzGerald GA. Measure  for Measure: Biomarker standards and  transparency. Sci Trans Med  8(343):343fs10. (2016) 

Estes biomarcadores estão presentes no  LCR (Líquido Cefalorraquidiano) e são  analisados a partir de exames realizados  por meio de uma amostra pequena de  líquor que é coletado via punção lombar.  Este procedimento é considerado um  procedimento simples, seguro e  minimamente invasivo, onde com uma  pequena amostra de sangue  conseguimos realizar a identificação de  estágios precoces da DA e o melhor,  antes do seu desenvolvimento, pois a  análise combinada desses indicadores  permite um diagnóstico diferencial entre  a DA e outras demências. 

Os métodos de diagnóstico de DA  utilizados atualmente na prática clínica  apresentam baixa especificidade ou alto  custo financeiro, o que dificulta o diagnóstico precoce e diferencial em  relação a outras patologias  neurológicas. Desta forma, avaliar e/ou  validar possíveis biomarcadores  sanguíneos para o diagnóstico da  doença de Alzheimer, utilizando como  base proteínas, microRNA ou  autoanticorpos, pode proporcionar um  excelente custo benefício. 

Segundo o consenso de 2014 (The  clinical use of cerebrospinal fluid  biomarker testing for Alzheimer’s  Disease diagnosis: A consensus paper  from the Alzheimer’s Biomarkers  Standardization Initiative): Todos os  pacientes com queixas de memória ou  suspeita de demência de início precoce  devem ser considerados para a  dosagem de biomarcadores de  Alzheimer no líquor. 

Com base nisso, diversos estudos  avaliaram o perfil proteico do sangue  em indivíduos com identificação para  baixa ou elevada carga neocortical de  beta-amilóide (NAB), um deles  aprovado pelo conselho de revisão  institucional do hospital Bundang da  Universidade Nacional de Seul e do  hospital Universitário Chung-Ang, teve o  intuito de determinar a possibilidade de  identificar pessoas com risco de piora  para a DA em um período de 54 meses.  Para que isso fosse possível, foi  necessário o perfil sanguíneo de um  número de pessoas saudáveis, utilizado  como controle, e a participação de  pacientes com comprometimento  cognitivo leve (CCL). Esse perfil além de  proporcionar uma aproximação da  elevação da NAB, associou a um  declínio cognitivo e a uma provável piora  da doença. Por meio deste estudo,  foram detectadas pessoas com riscos de  piora da DA no período prodrômico e  estágios pré-clínicos, além disso, surge  a possibilidade de NAB ser utilizado  como um biomarcador em um futuro  breve. 

Junto à carga de NAB, as formas  oligoméricas de b-amilóide (Aβ), tau e  TDP-43 também têm funções  significativas na DA, sendo assim, são  considerados biomarcadores  promitentes. Apurou-se que todas as  amostras apresentaram altos níveis de  proteína variante no plasma em relação  ao controle, ainda que com distinções  nos perfis de biomarcadores individuais.  Com isso, ao ser analisado um conjunto  de amostras longitudinais, observou-se  que as amostras pré-CCL foram  marcadas por altos níveis de TDP-43;  enquanto as amostras de pacientes com  CCL foram marcadas por altos níveis de  Aβ e as amostras de pacientes com  Alzheimer por altos níveis de Aβ e tau.

Por meio de análises deste estudo,  observaram-se também índices  elevados dos níveis plasmáticos de  oligômeros Aβ em pacientes com  Doença de Alzheimer, quando  comparados à indivíduos controle  normais. De acordo com os autores, o  Multimer Detection System (MDS), um  novo imunossorvente unido a enzima  para medir de forma seletiva os  oligômeros Aβ, foi utilizado para  detecção de oligômeros Aβ no plasma  de portadores de DA e indivíduos  controle. Com isso, os níveis  plasmáticos de oligômeros Aβ podem,  por meio de técnicas distintas, ser um  biomarcador simples, não invasivo e  acessível para avaliar a deposição  amilóide cerebral relacionada à DA. 

Além dos acima citados, mediadores  inflamatórios têm estado em evidência  como biomarcadores relacionados à  detecção e monitoração do Alzheimer,  uma vez que, desde o princípio da  inflamação, as células da glia como a  micróglia e astrócitos atuam como  primeira linha de defesa em lesões  cerebrais, acumulando-se durante a  neuroinflamação, associadas à  excessiva agregação de beta-amilóide.  Com tal ativação da microglia e  astrócitos em casos de pacientes  acometidos pela Doença de Alzheimer  pode resultar em liberação de  mediadores pró-inflamatórios, como: citocinas, fatores de complemento,  espécies reativas de oxigênio e produtos  neurotóxicos, que consequentemente  podem potencialmente aumentar os  danos neuronais e acelerar a progressão  da patologia. Desta maneira, é possível observar que  vários marcadores plasmáticos de  inflamação foram identificados para  apoiar o diagnóstico de DA,  possibilitando assim analisar que  proteínas sequestradoras possuem  potencial clínico para a avaliação de  riscos do CCL e para o diagnóstico  precoce de DA. Provando-se como uma  importante ferramenta para a avaliação  dos estágios precoces do  comprometimento cognitivo e DA. Dentre os biomarcadores disponíveis  para investigação clínica da DA, este  estudo foi focado no uso das  proteínas β-amilóide e a proteína Tau  fosforilada. 

Embora a patogênese da DA permaneça  obscura, todas as formas de DA  parecem compartilhar superprodução  e/ou diminuição da depuração de uma  família de proteínas conhecidas como  peptídeos beta amiloides. Dessa forma,  podemos considerar a proteína β amilóide a principal influência para a causa da doença de Alzheimer, tendo como uma das características  patológicas da doença seu acúmulo nas  placas senis do cérebro. 

A principal função da proteína β amilóide é manter o bom funcionamento  dos neurônios, sendo normalmente  produzida no cérebro e em pequenas  quantidades consegue manter esse  funcionamento. A razão desta proteína  ser importante no diagnóstico da  doença de Alzheimer é porque esta tem  sua produção aumentada nos pacientes  com DA, levando ao acúmulo das  moléculas como oligômeros (amplo  grupo de agregados não-fibrilares) e a  formação de placas amiloides no  cérebro. Esse acúmulo progressivo  acarreta em uma alteração nas  respostas sinápticas, sendo que  naturalmente seria eliminada pelo  líquor, que acaba gerando danos  significativos às células nervosas e  consequentemente, morte cerebral. 

Dessa forma, o que é observado nos  casos de DA, é uma queda na sua  eliminação e consequentemente, seu  acúmulo no cérebro formando  agregados anormais de fibras  citoplasmáticas. Em situações  fisiológicas a proteína precursora é  clivada pela α-secretase e γ-secretases  dando origem a um peptídeo não  amiloidogênicas. Já nos casos da DA  quem atua fazendo essa clivagem é a β secretase com produção e liberação do  peptídeo β-amilóide que se deposita no  espaço extracelular, esse acúmulo  acarreta em alterações importantes e  significativas aos neurônios já que o  acúmulo do peptídeo Aβ e/ou os  produtos de clivagem da sua proteína  precursora, uma glicoproteína integral  denominada proteína precursora  amilóide (APP), são neurotóxicos e  podem levar à formação das placas  senis, resultando em morte celular. 

(https://medpri.me/upload/texto/texto aula-1110.html) 

Observe abaixo uma imagem contendo  as diferenças entre um neurônio  saudável e um neurônio característico de  um paciente com DA: 

Figura 3: Diferenças esquemáticas entre um  neurônio saudável (A) e um neurônio de um  paciente com DA (B). 

Como este é um processo lento que não  gera sinais de declínio cognitivo claros,  podendo durar décadas até que os  primeiros sintomas apareçam,  demonstra a importância da identificação  quantitativa de um biomarcador que mostre o aparecimento da doença antes  dos primeiros sintomas ou em pacientes  já com a suspeita da doença. 

Por meio da análise de que os  peptídeos Aβ são produzidos via  clivagem proteolítica da proteína  precursora de Aβ (APP) pela enzima de  clivagem beta-amilóide 1 (BACE1),  possibilitou o surgimento de outro  importante biomarcador para a doença.  A partir dessa característica, analisou se os níveis de circulação de RNAs não  codificadores longos do BACE1-AS  como possíveis biomarcadores para DA  e observou-se que seus níveis são mais  altos em pessoas com a Doença de  Alzheimer, em comparação com os  controles saudáveis, destacando assim  seu potencial como biomarcador para o  desenvolvimento de DA. 

Simultaneamente, ao acúmulo da beta amilóide no cérebro e sua consequente diminuição de concentração no líquor,  ocorre a fosforilação da proteína  plasmática tau (p-tau 181), a qual é uma proteína estabilizadora dos microtúbulos  e é abundante principalmente nos  neurônios do sistema nervoso central.  Normalmente a Tau é uma proteína  solúvel, porém em quadros de DA  encontra-se hiperfosforilada, o que  acaba tornando-a um polímero insolúvel  filamentoso e que gera uma desregulação da cascata citoplasmática  de fosforilação e desfosforilação. Essa desregulação, desestabiliza os  microtúbulos formando os emaranhados  neurofibrilares dentro dos neurônios,  considerada uma alteração patológica  conhecida da DA. Outra consideração  importante é que, com a morte neuronal,  a fosfo-tau é eliminada pelo liquor,  aumentando sua concentração em até  três vezes quando comparada a pessoas  sem a doença (CLEMENTE; PINTO,  2017). 

Abaixo uma imagem contemplando a  formação de emaranhados  neurofibrilares dentro dos neurônios  gerados pela hiperfosforilação da  proteína Tau: 

Figura 4: A formação de emaranhados  neurofibrilares dentro dos neurônios gerados  pela hiperfosforilação da proteína Tau. 

Dessa forma, podemos observar que os  dados neuropatológicos mais relevantes  em pacientes com a DA são a presença  de degeneração neurovascular, atrofia  cortical difusa, perdas neuronais e  sinápticas envolvendo vários sistemas e neurotransmissão, presença da  deposição extracelular de placas senis  difusas e neuríticas compostas de  agregados filamentosos da proteína β amilóide (Aβ) e massas neurofibrilares  intracelulares. 

Em indivíduos positivos para β-amilóide,  alterações longitudinais da tau  fosforilada 181 plasmática foram  associadas com declínio cognitivo,  menor metabolismo da glicose e volume  de substância cinzenta em regiões  cerebrais vulneráveis à doença de  Alzheimer. 

Sendo assim, podemos correlacionar as  duas principais proteínas de diagnóstico  da DA, uma vez que diversos estudos  indicam que o acúmulo de Aβ pode ser  o evento ativador da hiperfosforilação  da proteína tau, verificando-se assim  nos exames a diminuição da  concentração de beta-amilóide e  aumento da concentração de fosfo-tau  no líquor, porém até o momento os  fatores que desencadeiam este  desequilíbrio ainda não são bem  entendidos (BIOCHEM, 2015). 

Isso nos permite observar que a  proteína β-amilóide que deveria estar  em maior quantidade no líquor  apresenta-se com concentrações  reduzidas na DA, enquanto que a proteína Tau fosforilada sofre aumento  da sua concentração.Durante estudos realizados no laboratório Tokuda (R. Ishii, N. Sori e  WTE Yeung) no ano de 2013 a 2017, um estudo piloto exploratório, tiveram como  base inicialmente a avaliação por  imunoensaios buscando também avaliar  o perfil proteico do sangue em indivíduos  com identificação para alta ou baixa  carga beta-amilóide neocortical, tendo  em vista quantificar esses marcadores  para facilitar a identificação de  progressão para a DA. 

TAU– sua quantificação foi investigada  para um possível papel no diagnóstico  da DA, o qual se verificou, no primeiro  coorte composto, que os níveis  plasmáticos de p-tau181 foram  significativamente maiores nos pacientes  com DA do que aqueles nos controles. A  porcentagem dos indivíduos cujos níveis  de plasma p-tau181 excederam o valor  de coorte foi significativamente maior no  grupo DA. Em um segundo coorte  composto por pacientes com síndrome  de Down (SD) e controles pareados por  idade, as concentrações plasmáticas de  p-tau181 foram significativamente  maiores no grupo SD. No terceiro coorte  composto por pacientes com DA e  outros com outras doenças neurológicas,  os níveis plasmáticos de p-tau18 correlacionaram-se significativamente  com os do p-tau181 no líquido  cefalorraquidiano (LCR). ( https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5582385/) 

Este gráfico do estudo ilustra as concentrações  plasmáticas da p-tau181 nos pacientes de  controle e nos pacientes clinicamente  diagnosticados com DA da Coorte 1. 

Com ele pode-se notar que a  concentração plasmática de p-tau 181  no grupo de indivíduos com DA foi  significativamente maior do que nos  indivíduos de controle da mesma idade. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Por meio desse estudo podemos  concluir que, a detecção de variantes  proteicas relacionadas à doença podem  não somente selecionar prontamente  casos de DA, como também  acompanhar a sua progressão, sendo  estes biomarcadores promissores na  fase pré-sintomática para o diagnóstico  da patologia cerebral da DA. Os níveis  plasmáticos de oligômeros AB podem,  por meio de diferentes técnicas, como  uso de biomarcadores simples, não invasivos e principalmente, mais  acessíveis, avaliar a deposição amilóide  cerebral e relacioná-las a casos de  Alzheimer e dessa forma, por meio da  identificação quantitativa de um  biomarcador, demonstrar o  aparecimento da doença antes dos  primeiros sintomas. 

De acordo com a NIH National Institute  on Aging (NIA), graças aos avanços na  pesquisa, métodos aprimorados para  medir essas proteínas derivadas do  cérebro estão agora disponíveis, já é  possível para cientistas e alguns  médicos, dependendo da disponibilidade  específica do estado, refletindo as  diretrizes da Food and Drug  Administration dos EUA, solicitar um  exame de sangue para medir os níveis  de beta-amilóide. Vários outros testes  semelhantes estão em desenvolvimento.  Contudo, a disponibilidade desses testes  de diagnóstico ainda é limitada.  

O mais importante a ressaltar é que, as  alterações patológicas da DA muitas  vezes não são encontradas  isoladamente; muitos pacientes que  morreram com a doença têm evidência  de patologia mista e mesmo sendo  possível que idosos sadios possam  apresentar algumas destas alterações  no cérebro, os sintomas não são  observados conjuntamente e nem com a mesma intensidade do que em  pacientes acometidos pela DA. Logo, o  diagnóstico mais precoce,  preferencialmente na fase prodrômica,  irá permitir um tratamento precoce e  assim levar uma perspectiva de vida  bem melhor para as pessoas acometidas  com DA.

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1. Discente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil 

2. Docente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil