REVISÃO INTEGRATIVA: A TROMBOSE CAUSADA PELO USO IRREGULAR DE ANTICONCEPCIONAIS ORAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7352545


Juliana Brandão Assi1
Prof. Ms. Ademilton Costa Alves2


RESUMO

INTRODUÇÃO: Os hormônios presentes no anticoncepcional afetam a coagulação sanguínea e podem favorecer a formação de coágulos. Quando esses coágulos obstruem uma veia tem-se uma trombose venosa profunda, geralmente nas pernas. O risco maior é esse coágulo se soltar e chegar aos pulmões, causando uma embolia pulmonar.

OBJETIVOS: realizar uma revisão do tipo integrativa sobre a trombose causada pelo uso irregular de anticoncepcionais orais.

MÉTODOS: O presente estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa de revisão integrativa, realizada pela minuciosa seleção de artigos completos e gratuitos, nas bases de dados Scientific Electronic Library Online – SCIELO; PUBMED; e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – LILACS, com um recorte temporal de 2016 a 2022.

RESULTADOS: Conforme os critérios metodológicos empregados, de forma inicial, foram encontrados nas bases de dados SciELO; PuBmed e LILACS, 980 artigos na primeira triagem feita, 572 artigos foram excluídos por estarem em duplicidade; em outro idioma; fora da faixa temporal; e não ser gratuito. Em seguida 408 artigos permaneceram, logo após 353 foram excluídos por fugir da metodologia, sendo eles relatórios de estágios, resumos expandidos e pappers. Dos 55 artigos científicos restantes, foram excluídos 24 tendo a mesma temática, porém contendo informações que não estavam concernentes ao tema proposto, seguidamente retirados 20 por não possuir os objetivos semelhantes ao trabalho em questão, restando apenas os 11 selecionados.

CONCLUSÃO: A trombose causada pelo uso irregular de anticoncepcionais orais ocorrerá na presença de determinados fatores, como, tabagismo; obesidade; doenças cardiovasculares e diversos outros. Os hormônios presentes nesses medicamentos afetam diretamente a coagulação sanguínea, podendo favorecer a formação de coágulos, gerando alterações como a trombose venosa profunda ou embolia pulmonar. Assim é necessária uma indicação clínica particularizada, no que diz respeito a essas drogas e uma avaliação diagnóstica detalhada de possíveis registros de eventos trombóticos, a fim de que essas terapias hormonais possam ser utilizadas da forma mais exitosa e segura possíveis para cada paciente.

Palavra-chave:  Contraceptivos Orais Combinados. Coágulo. Tromboembolismo

ABSTRACT

INTRODUCTION: The formation of contraceptives present in blood clotting and may favor the formation of clots. When these clots block a vein, you have a deep vein thrombosis, usually in the legs. The biggest thing is that this clot gets and gets to the lungs, risking a pulmonary embolism.

OBJECTIVES: To review the type of integrated irregular use of oral contraceptives.

METHODS: The present study was developed through an integrative review research, carried out by the careful selection of complete and free articles, in the databases of Scientific Electronic Library Online – SCIELO; PUBMED; and Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences – LILACS, with a time frame from 2016 to 2022.

RESULTS: According to the methodological criteria employed, initially, they were found in the SciELO databases; PuBmed and LILACS, 980 articles in the first screening, 572 articles were excluded because they were duplicated; in another language; out of time range; and not be free. Then 408 articles remained, after which 353 were excluded for deviating from the methodology, namely internship reports, expanded abstracts and papers. Of the 55 remaining scientific articles, 24 were excluded having the same theme but containing information that was not concerning the proposed theme, then 20 were removed for not having similar objectives to the work in question, leaving only the 11 selected.

CONCLUSION: A rational and accessible perspective that could no longer be the implementation of an initial screening of the state to propose to the proposed objectives a professional design of contraceptive data for objectives foreseen for the design of the most suitable contraceptive data.

Keywords: Combined Oral Contraceptives. Clot. Thromboembolism.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os anticoncepcionais orais combinantes (AOC’s) são fármacos empregados com o principal intuito de impedir uma gravidez, e atualmente proporcionam uma potência de 99% se adotado adequadamente. Sua constituição é bem variada tanto em relação a dosagem quanto ao princípio ativo. Contudo, a respeito dos numerosos benefícios é preciso tomar cuidado com os riscos que podem ser promovidos à saúde das mulheres (BRASIL, 2020).

No Brasil, estima-se que aproximadamente 80% das mulheres na idade fértil fazem uso de algum tipo de contracepção, incluindo o uso de AOC’s. Os métodos contraceptivos são classificados como reversíveis e definitivos, sendo os reversíveis identificados como: comportamentais; de barreira; hormonais; dispositivos intrauterinos; e de emergência. E os definitivos ou irreversíveis são os cirúrgicos (laqueadura das trompas de Falópio e a vasectomia) e nesses observa-se uma diminuição drástica de sua aplicação (OLIVEIRA, 2018).

A utilização de estrógenos ou pílulas anticoncepcionais são fatores de risco a se ponderar quanto aos seus possíveis efeitos à ativação inapropriada dos processos hemostáticos normais. Os contraceptivos hormonais são os procedimentos reversíveis mais empregados pela população feminina brasileira para o planejamento familiar e advém da agregação entre um estrogênio, em geral, etinilestradiol, e um progestagênio; ou em apresentações de progestagênio isolado sem o componente estrogênico. A literatura tem demonstrado associação entre risco de trombose e o uso de anticoncepcionais orais (SILVA et al., 2017).

Esse histórico de uso excessivo de anticoncepcionais objetivando uma eficácia apresentada pelo tipo de método para impedir a ovulação, registra um agravante em inúmeros estudos que demonstram uma forte associação desse grupo de medicamentos com o real surgimento da definida trombose venosa. Esses hormônios contribuem para o estado de hipercoagulabilidade, sendo esse, uma das causas para eventos trombóticos dentro da denominada tríade de Virchow, uma teoria que explica sobre os três principais fatores que desencadeiam a ocorrência de eventos trombóticos: a lesão vascular, alterações no fluxo sanguíneo e a hipercoagulabilidade (LIMA, 2017).

No que diz respeito ao termo denominado trombose, é um procedimento patológico marcado pela solidificação do sangue dentro dos vasos ou do coração, em um indivíduo vivo. O trombo avaliado como uma massa sólida desenvolvida pela coagulação do sangue pode ser venoso ou arterial. O coágulo, por outro lado, significa massa não-estruturada de sangue (SILVA et al., 2018). 

A formação de um trombo no fluxo de sangue poderá bloquear parte do vaso e/ou obstruir a circulação da região, causando elevação da temperatura local, inchaço, dor e rigidez da musculatura. Na pior das hipóteses, um fragmento pode desprender-se e se movimentar na circulação sanguínea, a chamada embolia, que pode ficar presa em diversas partes do corpo induzindo a lesões graves ou até mesmo à morte. Uma possível razão para explicar esse acontecimento seria o período de adaptação do nosso corpo para se ajustar à essa dose exógena de hormônio que, acaba influenciando uma mudança no processo homeostásico (COUTO et al., 2021).

Conhecidos como um método para evitar uma gravidez indesejada, os contraceptivos orais combinados atuam na suspensão de fatores hipotalâmicos, que permitem os hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH) inibirem a ovulação. Já os contraceptivos à base de progestagênio, agem no espessamento do muco cervical, impedindo a passagem do espermatozoide e atuam também no endométrio, tornando-o hipotrófico, diminuindo assim as chances de nidação (SILVA et al., 2018).

A utilização dos anticoncepcionais orais deve ser verificada por uma avaliação particularizada do histórico clínico e familiar da mulher que pretende utilizá-los, de tal modo, como a mensuração de sua pressão arterial. Em determinados países, o acesso é dependente a uma análise prévia. No Brasil, para o uso desses tipos de contraceptivos, a mulher é encaminhada a fazer uma consulta com profissionais de saúde nos serviços públicos ou privados. No entanto, este procedimento contraceptivo é passível de aquisição em farmácias, sem a obrigatoriedade de uma prescrição médica (CORRÊA et al., 2017). Isso suscita um uso indiscriminado, admitindo o uso do medicamento sem o devido conhecimento de suas contraindicações, tornando as usuárias vulneráveis ao sofrimento dos efeitos adversos que ele pode vir a ocasionar.

Torna-se importante em meio a esse cenário, o conhecimento e um acompanhamento de um médico responsável por prescrever e analisar qual o método que ofereça um menor risco para cada tipo de perfil biológico e uma maior segurança no seu uso, preservando a homeostasia do organismo e a sua fisiologia. Por isso a relevância de pesquisas, que abordem um tema tão necessário, pois poderá auxiliar em um melhor embasamento sobre viáveis esclarecimentos à sociedade, em especial ao elenco feminino, mas também ao âmbito acadêmico e profissional. E os dados gerados poderão servir de estímulo para fundamentar a possível criação de ações educativas sobre o risco do uso indiscriminado e exagerado de anticoncepcionais orais e a ressalva da melhor maneira a serem utilizados com eficácia. 

Assim, este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão do tipo integrativa sobre a trombose causada pelo uso irregular de anticoncepcionais orais.

2 METODOLOGIA

O presente estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa de revisão integrativa, realizada pela minuciosa seleção de artigos completos e gratuitos, nas bases de dados Scientific Electronic Library Online – SCIELO; PUBMED; e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – LILACS, com um recorte temporal de 2016 a 2022, onde os descritores selecionados foram, respectivamente, os seguintes: ANTICONCEPCIONAL ORAL; SAÚDE DA MULHER; e TROMBOSE; ORAL CONTRACEPTIVE; WOMEN’S HEALTH; and THROMBOSIS.

Foram incluídos artigos, que continham informações pertinentes em relação ao tema proposto, título, objetivo, faixa temporal delimitada, que estivessem na íntegra e nos idiomas português e inglês, no período de coleta de 02 de setembro de 2022 a 18 de novembro de 2022. 

E foram excluídos os trabalhos que estavam em discordância com a temática fundamental e que possuíam desajustamentos com os descritores do estudo. Além disso, foram retirados os artigos em duplicidade e que estivessem fora do contexto correspondente ao assunto abordado. Após uma análise minuciosa, para esta revisão de literatura, foram selecionados os artigos provenientes a submissão dos critérios metodológicos expressos e por fim indexados no Quadro 1.

3. RESULTADOS

Conforme os critérios metodológicos empregados, de forma inicial, foram encontrados nas bases de dados SciELO; PuBmed e LILACS, 980 artigos na primeira triagem feita, 572 artigos foram excluídos por estarem em duplicidade; em outro idioma que não fosse português e inglês; fora da faixa temporal; e não ser gratuito. Em seguida 408 artigos permaneceram, logo após 353 foram excluídos por fugir da metodologia, sendo eles relatórios de estágios, resumos expandidos e pappers. Dos 55 artigos científicos restantes, foram excluídos 24 tendo a mesma temática porém contendo informações que não estavam concernentes ao tema proposto, restando 31 artigos, seguidamente retirados 20 por não possuir os objetivos semelhantes ao trabalho em questão, restando apenas os 11 selecionados.

Após a coleta de dados e caracterização dos estudos selecionados, as informações foram organizadas e apresentadas no Quadro 1, onde foi ressaltado os itens: Procedência, título do trabalho, Autor/Ano, Periódico e Considerações relevantes.

Com base nos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 11 artigos científicos, conforme o fluxograma abaixo.

Fluxograma 1: Seleção dos artigos

Quadro 1: Caracterização dos estudos selecionados

ProcedênciaTítulo do TrabalhoAutores /AnoPeriódicoConsiderações relevantes do trabalho
SCIELOTromboembolismo venoso associado ao uso de anticoncepcionais orais combinados: uma revisão da literatura. Oliveira (2018)UNINGAv.9, n.1, jan/jun 2018.Pôde-se perceber que as mulheres que fazem uso de contraceptivos orais têm uma maior tendência a Trombose, isso ocorre por conta do elevado nível de estrógeno nas pílulas. O estrógeno causa alterações na cascata de coagulação, culminando no aumento da geração de trombina. Este hormônio é responsável pela elevação entre 30 e 50% das atividades dos fatores de coagulação (fibrinogênio, protrombina, fatores VII, VIII, IX, X e XI) e a diminuição dos fatores anticoagulantes (PAI, AT e proteína S), o que causa um desequilíbrio na hemostasia e produz um leve efeito pró-coagulante.
PUBMEDAnticoncepcionais hormonais orais: tem relação com a trombose?Santos et al,. (2022)Visão Acadêmica, Curitiba, v.23, n.3, Jul. – Set. /2022 – ISSN 1518-8361O estudo evidenciou que apesar de os anticoncepcionais serem substâncias valiosas na vida das mulheres, eles precisam de atenção ao serem utilizados já que também possuem efeitos adversos, dentre eles o mais severo, a trombose.
SCIELOTrombose relacionada ao uso deanticoncepcional: revisão integrativaDa Cruz Leite e Gomes (2021)Textura, v. 15, n. 1, p. 20-31, 15 jun. 2021.Diante desse estudo, faz-se necessário à implementação de atividades de educação em saúde para as mulheres que fazem uso de anticoncepcional oral sobre os riscos para a trombose, bem como, a atualização frequente por parte dos profissionais de saúde para a investigação dos fatores de risco predisponentes nas mulheres em idade fértil na escolha adequada do método contraceptivo de acordo aos fatores de risco pré-existentes nas mesmas e, consequentemente, redução da possibilidade de trombose.
SCIELOA relação entre o uso da pílula anticoncepcional e o desenvolvimentoda trombose venosa profunda no BrasilFerreira e Paixão (2021)Revista Artigos. Com, v. 29, p. e7766, 26 maio 2021.Entretanto é importante retratar que a trombose é acometida por vários fatores em conjunto, o aumento da reatividade plaquetária e o dano no endotélio vascular, nesse caso, decorrente do uso de anticoncepcional oral.
LILACSAnticoncepcional oral como fator de risco paratrombose em mulheres jovensMagalhães   et al., (2017)Caderno de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde – UNIT – PERNAMBUCO, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 77, 2018..Estudos revelam que 25% das mulheres que usam contraceptivo oral tem histórico de casos de trombose na família, principal fator de risco para desenvolvimento de trombose venosa. Além do fator hereditário, existem outros fatores de risco externos para desenvolvimento de trombose venosa, sendo eles: o uso de bebida alcoólica, tabagismo e obesidade.
LILACSA trombose venosa profunda como reaçãoadversa do uso contínuo de anticoncepcionaisorais.Sousa e Álvares (2018)REVISA (Online) ; 7(1): 54-65, 2018.Ao observar os dados colhidos, todos os métodos contraceptivos que liberam hormônios no corpo feminino têm como um de seus efeitos colaterais, a probabilidade maior de desenvolver Trombose. Visto que esses medicamentos trazem os hormônios, estrógeno e a progesterona, que alteram a coagulação sanguínea.
SCIELOInfluência do anticoncepcional hormonal oral no surgimento da trombose venosa profundaGondim et al., (2022)Revista Facesa; v. 25, n. 3, p. 147-153, 2022.Os anticoncepcionais orais exercem influência no surgimento de trombose venosa profunda pois podem causar alterações no equilíbrio hemostático. Para a utilização desses medicamentos, é necessário responsabilidade e acompanhamento de um especialista. Após uma criteriosa avaliação, será selecionado o anticoncepcional mais adequado.
PUBMEDTromboembolismo venoso relacionado ao usofrequente de anticoncepcionais orais combinadosMorais et al., (2019)Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Saúde e Tecnologia, v. 1, n. 15, p. 85 – 109, 11 set. 2019.Um dos fatores de risco relevantes para o desenvolvimento de tal patologia é o uso de contraceptivos orais combinados, que consistem na associação de hormônios estrogênios e progestogênios sintéticos. É considerável que se alerte as mulheres sobre o desenvolvimento de eventos trombóticos na utilização indiscriminada de anticoncepcionais orais combinados.
SCIELOInfluência dos anticoncepcionais orais hormonais na saúde da mulherSilvério et al., (2022)ReBraM, [S. l.], v. 25, n. 1, p. 153-165, 2022.O uso de anticoncepcionais orais a longo e curto prazo favorecem o risco de trombose. Sem o devido acompanhamento com o profissional de saúde o uso pode tornar-se indiscriminado, comprometendo a saúde da usuária do método, em virtude dos efeitos adversos que esses medicamentos podem proporcionar.
LILACSRisco de trombose associado à terapia dos anticoncepcionais hormonais: uma revisão de literaturaLima (2017)Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.O risco de tromboembolismo venoso se deve a mecanismos transcricionais induzidos pelos estrógenos e progestagênios, envolvendo as vias intrínseca e extrínseca da coagulação. Pelos anticoncepcionais hormonais serem de fácil acesso e apresentarem risco de trombose, a sua utilização deve ser feita sempre com acompanhamento médico. E caso haja um quadro presente de trombose, quanto mais cedo se iniciar o tratamento farmacológico, melhor será a evolução do tratamento. Atualmente, os diversos fármacos existentes como anticoagulantes, exemplo, a heparina, atuam impedindo tanto o crescimento do trombo quanto a sua destruição.
PUBMEDCombined Oral Contraceptives and Venous Thromboembolism: Review and Perspective to Mitigate Risk
Anticoncepcionais Orais Combinados e Tromboembolismo Venoso: Revisão e Perspectiva para Mitigar o Risco
Morimont     et al., (2021)Review and Perspective to Mitigate the Risk. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Dec 9;12:769187Muitos fatores devem ser considerados e discutidos com as mulheres na escolha de um anticoncepcional. Além da eficácia, da tolerabilidade e do benefício adicional para a saúde, o risco de trombose é um elemento importante que deve ser avaliado. Atualmente, esse risco é avaliado apenas com base nas características clínicas e não depende de algoritmo formal, incluindo triagem fenotípica da coagulação com exames laboratoriais.
Fonte: Autoria própria (2022)

4 REVISÃO INTEGRATIVA

Gondim et al., (2022) em suas pesquisas constataram que os anticoncepcionais são fármacos de primeira escolha para a maioria das mulheres, no que diz respeito ao uso rotineiro de medicamentos, devido à sua acessibilidade. Em geral, esses medicamentos são utilizados de forma inadequada por grande parte das usuárias, pois no Brasil a venda desses medicamentos é feita sem prescrição médica. Isso é um fator preocupante, pois como a maioria dos fármacos, os anticoncepcionais possuem efeitos colaterais, principalmente, quando se tratar de um combinado de hormônios. E assim, o uso prolongado dessas drogas podem aumentar o risco de trombose venosa profunda.

Em suas análises, Ferreira e Paixão (2021) demonstram que os anticoncepcionais orais (AOC) podem ser combinados com formulação de estrógenos e progestógenos ou conter apenas o progestógeno, sendo esse o mais utilizado. A reação adversa em destaque dessa pesquisa foi a trombose venosa profunda – TVP, que acomete as veias mais profundas, e é desencadeada a partir de três fatores: estase venosa, lesão da parede vascular e hipercoagulabilidade. É de fundamental importância esse conhecimento, pois fatores como à troca do medicamento ou abandono do uso do método sem orientação médica e/ou automedicação, predispõem o risco de desenvolver a TVP. 

Em concordância, Da Cruz Leite e Gomes (2021) evidenciam a realidade atual brasileira, com registros de ocorrências, onde a trombose permanece como inimigo oportunista, pela baixa incidência, por vezes, não registradas, devido não ser de cunho obrigatório em nosso país, tratando, os contraceptivos hormonais como “amigo” das mulheres, camuflando assim seu possível papel de vilão. Consequentemente, torna-se relevante quaisquer informações adquiridas, tanto da mulher, como dos profissionais envolvidos, para que a terapia seja avaliada criteriosamente, discutindo-se os riscos e benefícios em cada caso específico. A correta avaliação que liberaria a mulher para o uso de hormônios é fundamental, tornando-se um fator primordial na prevenção de uma trombose e de possíveis mortes. Embora, Oliveira (2018) já destacava que o uso associado dos AOCs não são os únicos responsáveis por eventos trombóticos.

Corroborando aos aspectos prevencionistas, Sousa e Álvares (2018) ressaltaram, em seus estudos, à procura por profissionais ginecologistas, que são os indicados para prescrever o uso do anticoncepcional que ofereça menos risco trombótico a cada perfil biológico, através de uma anamnese bem aplicada no momento da consulta, solicitação e análise de exames para melhor escolher o método contraceptivo, respeitando o histórico fisiológico da paciente. Acrescentam ainda, Santos et al., (2022) que o papel de outros profissionais da área da saúde, como o farmacêutico, é de grande importância para a contribuição do uso racional de contraceptivos, onde ele orientará da melhor forma o paciente sobre a posologia, dosagem e efeitos colaterais desse grupo farmacológico, visando a melhoria na qualidade de vida e evitando assim também possíveis danos trombóticos, provenientes ou não de automedicação.

Somando-se a isso, Santos et al., (2022) expressam que o risco de trombose causada pelo uso dos anticoncepcionais hormonais é influenciado por alguns fatores associados, como a predisposição genética, fatores de risco e estilo de vida de cada indivíduo, bem como cirurgias, alcoolismo, obesidade, doenças cardiovasculares e tabagismo. Caso ocorra alguma alteração negativa, ou a mulher já possua alguma trombose, os fatores de risco de surgimento de mais complicações acabam aumentando. Agrega Silvério et al., (2022) que o aconselhamento que antecede a decisão da mulher pelo melhor método deve considerar a sua história clínica, as contraindicações e as informações de outros métodos alternativos compatíveis com sua condição de saúde, simbolizando cautela, habilidade e raciocínio clínico como atributos essenciais para uma interação personalizada, humanizada e, principalmente, qualificada na assistência à saúde.

Magalhães et al., (2017) já haviam evidenciado que as pacientes que fazem uso de algum tipo de anticoncepcional apresentaram uma diminuição nas médias dos resultados do Tempo de Protrombina -TP e do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado -TTPA, os valores desse último teste, apresentaram uma redução mais significativa nas pacientes que faziam uso de contraceptivo oral. Outros exames complementares mais específicos podem ser utilizados na avaliação de pacientes com fatores de risco para trombose, como a dosagem das proteínas “ C ” e “ S ”. Em concordância Morais et al., (2019) ressaltam ainda que os hormônios contidos em sua formulação estrogênio e progesterona podem aumentar os fatores da cascata de coagulação; reduzir os anticoagulantes naturais, a viscosidade do sangue, parede vascular; e aumentar a produção de fibrinogênio e trombina. E Lima (2017) inclui que os diversos fármacos existentes atualmente como os anticoagulantes ex: heparina atuam impedindo tanto o crescimento do trombo formado, quanto a sua destruição.   

 Morimont et al., (2021) ressaltam que as novas formulações no mercado, ou seja, os anticoncepcionais orais combinados à base de estradiol e estetrol, não devem ser a única opção para minimizar o risco de tromboembolismo venoso associado ao uso de anticoncepcionais orais combinados. Já que existem as pílulas somente de progestágênio que não diminuem esse risco. E como uma válida perspectiva, uma revisão discutindo em detalhes os critérios médicos de elegibilidade para uso de anticoncepcionais, bem como os diferentes métodos hormonais de contracepção, seria de grande interesse para que assim pudesse ser evitada essa taxa tão alta de trombose envolvendo mulheres que usam anticoncepcionais orais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto e dos autores que respaldaram o trabalho, a trombose causada pelo uso irregular de anticoncepcionais orais ocorrerá na presença de determinados fatores, como, tabagismo; obesidade; doenças cardiovasculares e diversos outros. Os hormônios presentes no anticoncepcional afetam a coagulação sanguínea e podem favorecer a formação de coágulos. Quando esses coágulos obstruem uma veia tem-se uma trombose venosa profunda, geralmente nas pernas. O risco maior é esse coágulo se soltar e chegar aos pulmões, causando uma embolia pulmonar.

Os anticoncepcionais que mais elevam o risco de trombose são os que unem derivados do estrogênio (etinilestradiol ou estradiol) a outro hormônio, chamados de contraceptivos hormonais combinados. Portanto, principalmente aquelas mulheres que apresentam fatores de risco, devem evitar fármacos com essa combinação.

A abordagem diagnóstica detalhada de eventos trombóticos é necessária para melhor compreensão de suas consequências, e assim fornecer uma definição diagnóstica mais particularizada para cada paciente. O rastreio da trombose venosa e embolia pulmonar pode permitir elaborar uma estratégia para contribuir com a redução da incidência de casos trombóticos relacionados ao o uso do anticoncepcional oral. Além disso existe ainda a condição a ser analisada e estudada de outros fatores de risco associados ao uso dos AOCs.

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1Acadêmico do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA. Artigo científico apresentado à Universidade CEUMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

2Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
Professor orientador