A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO COM FAMILIARES DE DEPENDENTES QUÍMICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7343288


Micirlande Ramiro de Oliveira1
Diêgo de Lima Brito2
Wollace Scantbelruy3


RESUMO

Dado que a família influencia o modo de vida de todos seus membros e, eles, por sua vez, afetam o convívio familiar. Então, o tratamento para a pessoa quimicamente dependente deve se concentrar no vício como o problema principal, mas também deve ser integrado à psicologia do desenvolvimento individual e familiar. Assim, aponta-se que o objetivo geral da pesquisa é verificar o papel do psicólogo com familiares de dependentes químicos. Menciona-se que os objetivos específicos são: mencionar a responsabilidade da família frete a membro familiar com dependência química; conceituar a dependência química; apontar o tratamento atuais de pacientes dependentes de substâncias psicoativas; e analisar o papel da família e do profissional de psicologia no tratamento de pessoas com dependência química. Para alcançar o intuito da pesquisa foi necessário realizar busca na literatura na área de psicologia e ciência sociais, e foi realizado análise dos materiais a partir de 27 trabalhos científicos publicados a partir do ano de 2017 cujos materiais abordam os conteúdos específicos para colaboração e enriquecimento desta. Conforme explanado, o tratamento de pacientes usuários de substância psicoativas é um trabalho que demanda dedicação e esforço permanentes por parte dos profissionais envolvidos.

Palavras-chaves: Dependência Química; Família; Tratamento Psicológico

ABSTRACT

Since the family influences the way of life of all its members and they, in turn, affect family life. So the treatment for the chemically dependent person should focus on addiction as the main problem, but it should also be integrated into the psychology of individual and family development. Thus, it is pointed out that the general objective of the research is to verify the role of the psychologist with relatives of drug addicts. It is mentioned that the specific objectives are: to mention the responsibility of the family freight to family members with chemical dependence;  conceptualize chemical dependence; point out the current treatment of patients dependent on psychoactive substances; and analyze the role of the family and psychology professional in the treatment of people with chemical dependence.  To achieve the research objective it was necessary to conduct a search in the literature in the area of social psychology and science, and fhi performed analysis of the materials from 27 scientific papers published from the year 2017 whose materials address the specific contents for collaboration and enrichment of this. As explained, the treatment of patients using psychoactive substance is a work that requires permanent dedication and effort on the part of the professionals involved.

Keywords: Chemical Dependence; Family; Psychological Treatment

1 INTRODUÇÃO

A família continua sendo a principal fonte de apego, nutrição e socialização para as pessoas que possuem dependência química em nossa sociedade atual. O impacto dos transtornos por uso de substâncias química na família merece atenção. Cada família e cada membro da família é afetado de maneira única pelo indivíduo que usa substâncias, incluindo, mas não limitado a necessidades de desenvolvimento não atendidas, apego prejudicado, dificuldades econômicas, problemas legais, sofrimento emocional e, às vezes, violência perpetrada contra ele.

Por conta disso, a vida intrafamiliar do dependente precisa também ser vista e avaliada na medida que esse jovem não vivi sozinho, possivelmente ele estabeleceu uma relação com um ou mais familiar, e ao se deparar com esse problema do abuso de drogas muitas alterações acabam acontecendo de fato, desde os primeiros usos até o momento de reconhecer que necessita de ajuda profissional.

Dado que a família influencia o modo de vida de todos seus membros e, eles, por sua vez, afetam o convívio familiar. Então, o tratamento para a pessoa quimicamente dependente deve se concentrar no vício como o problema principal, mas também deve ser integrado à psicologia do desenvolvimento individual e familiar. Assim, aponta-se que o objetivo geral da pesquisa é verificar o papel do psicólogo com familiares de dependentes químicos.

Menciona-se que os objetivos específicos são: mencionar a responsabilidade da família frete a membro familiar com dependência química; conceituar a dependência química; apontar o tratamento atuais de pacientes dependentes de substâncias psicoativas; e analisar o papel da família e do profissional de psicologia no tratamento de pessoas com dependência química.

Para atender aos objetivos propostos realizou-se uma revisão de literatura, fundamentada nas publicações da área de saúde pública, com a utilização de dissertações, teses, artigos científicos de periódicos e capítulos de livros disponíveis em bibliotecas de instituições de ensino superior e virtuais como as plataformas acadêmicas, para o desenvolvimento da conceituação acerca do tema proposto.

Esta pesquisa bibliográfica foi elaborada a partir de material já publicado e foi construída a partir de pesquisa sistemática em artigos científicos, monografias, livros, dissertações e outros sobre a temática abordada por meio das plataformas cientificas da Scielo, biblioteca virtual de saúde e Google acadêmico. Foi realizado análise dos materiais a partir de 27 trabalhos científicos publicados a partir do ano de 2017 cujos materiais abordam os conteúdos específicos para colaboração e enriquecimento desta.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A responsabilidade da família

A dependência de drogas é um fenômeno mundial que traz diversas consequências para os indivíduos dependentes e para aqueles que convivem com eles, seja no âmbito físico, psíquico ou social. No campo físico, causa doenças que podem levar à morte; no psíquico, pode causar dependência psicológica; e no social, traz problemas nas relações familiares, no trabalho e com o sistema judiciário (TAETS, et al., 2019).

Nos últimos 30 anos, a produção, o consumo e o tráfico de substâncias ilegais, bem como a promoção, a comercialização consumo de substâncias legais, se tornaram tema central da política pública no mundo (DIEHL, CORDEIRO, LARANJEIRA, 2018).

Dados da pesquisa repositório Institucional da Fiocruz (2019) realizada no Brasil aponta que as pessoas de 12 a 65, revelou que 3,2% dos brasileiros fizeram uso substâncias ilícitas nos 12 meses antecedentes à pesquisa, o equivalente a 4,9 milhões de pessoas. O público jovem somava 7,4 % com idade de 18 a 24 anos.

O âmbito da vida de qualquer dependente químico será afetado devido as complicações do vício, sobretudo a âmbito familiar que é onde o sujeito estabelece suas primeiras relações, aprendizados e conquistas. Identificar as mudanças que acontecem na vida pessoal desse sujeito após a chegada das drogas é relevante para entendermos como se dá esse processo (SILVA, GOMES, 2019).

A família é a instituição social mais antiga, nela se estabelece contatos mais significativos para todo os membros do grupo, sendo espaço de conflitos e afinidades. Conforme Ferreira et al (2019) família pode ser dita como um conjunto de pessoas que possuem parentesco próximo; é um grupo de pessoas que têm a mesma precedência; é um grupo de pessoas que vivem juntas na mesma casa; e também é grupo de pessoas que possuem o mesmo interesse;

A família é o alicerce, a sustentação, a alma da personalidade, a presença da família é indispensável no moldar da personalidade. A família é a pedra angular que molda o desenvolvimento psíquico da criança e do adolescente e sedimenta a troca de emoções e experiências. Castanheiro (2019) elucida que é dever da família não é apenas de criar, alimentar e conduzir o segmento de crescimento físico, mas sim dar a criança e ao adolescente o mínimo necessário a uma infância ou juventude digna sem sobressaltos ou transtornos psicológicos.

Segundo Sousa (2020) e Nascimento e Moraes (2019) são os familiares que estabelecerão as regras de convivência, determinando horários, punições e recompensas, esses relacionamentos e regras desenvolvem uma coesão afetiva, uma ligação direta entre pais e filhos capaz de dissuadir o jovem de cometer atos infracionais. No entanto o caráter ambivalente da família, com ambiente com inseguranças, dúvidas, índole destrutiva, exerce um poder que original grande parte dos comportamentos desajustados dos indivíduos, que leva-os, as vezes a criminalidade, violência, ou a utilização de droga.

Dentro dos grupos familiares, alguém que usa drogas tem o potencial de causar danos muito maiores, não apenas a si mesmo, mas também àqueles que ama. Alguém que usa drogas geralmente é menos estável, menos responsável, mais propenso a mentir ou roubar e mais propenso a cometer crimes (PEREIRA, SUDBRACK, DE ALCÂNTARA MENDES, 2020).

É provável que um membro da família seja um dos primeiros a reconhecer que um parente próximo está lutando contra o abuso de drogas, especialmente se eles moram juntos ou têm contato frequente. Corroborando tal afirmação Paula, Jorge e Vasconcelos (2019) afirmam que os membros da família podem ser mais propensos a perceber quando seus entes queridos estão passando por mudanças de humor ou comportamento. Sendo capazes de oferecer apoio, os membros da família podem conectar os necessitados com tratamento, recursos e serviços para iniciar e permanecer em sua jornada de recuperação.

No ano de 2019, o Senado aprovou a internação involuntária e determina que ela pode ser realizada por um familiar ou responsável, mediante autorização médica, internação essa que não precisa do consentimento da pessoa com transtorno por uso de substância. Nesse caso, o dependente só poderá ser internado em unidades de saúde ou hospitais gerais que tenham equipes multidisciplinares e, no máximo, por três meses. Pacientes com comprometimentos psicológicos e biológicos de natureza grave que precisam de uma atenção médico hospitalar contínua ou de emergência deverão ser encaminhados à rede de saúde (BOSSO, DOS SANTOS, 2020).

Verifica-se que o papel da família é mais importante na perspectiva da prevenção e tratamento da dependência química, do que atribuir à estrutura familiar uma relação causal. Portanto, é importante identificar a percepção da família sobre a dependência química em seu núcleo e os mecanismos de gestão adotados diante da sobrecarga emocional, social e econômica para acomodar o grupo em seu sofrimento (SILVA, GOMES, 2019).

2.2 Dependência química

O uso de drogas é tão antigo quanto a humanidade. Usadas inicialmente como meio de conexão com divindades e depois como fuga da realidade ou como facilitadoras da criatividade e expressão, as drogas podem trazer sérios problemas ao ser humano, afetando dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais. Hoje, o uso de drogas atingiu proporções alarmantes em todo o mundo e tem sido associado à violência e ao crime organizado, atingindo pessoas de todas as classes sociais e em idades cada vez mais precoces. A banalização do consumo e a publicidade excessiva de drogas lícitas como álcool e tabaco contribuem para aumentar o uso abusivo e a dependência de substâncias químicas (TAETS, et al., 2019).

O uso de drogas tem variado significativamente ao longo da história, adquirindo características próprias conforme a época e o local. Nesse sentido, elas podem se apresentar com características religiosas ou profanas, de proximidade ou distanciamento e de comunhão ou exclusão. Esse é um fenômeno mundial e pode ser generalizado, comum a países desenvolvidos e para aqueles que estão em desenvolvimento, ocorrendo em centros urbanos e na zona rural, nas classes sociais altas e baixas, em diversas faixas etárias, afetando a saúde de diversas formas. É considerado atualmente como um dos maiores fatores de desagregação social, familiar e pessoal (BOSSO, DOS SANTOS, 2020).

Ribeiro (2019) aponta que não é difícil as pessoas se envolverem com drogas, justamente porque essas substâncias estimulam os neurônios proporcionando a sensação de prazer e levando o cérebro a desenvolver uma compulsão, como a manifestada em ninfomania, cleptomania, vigorexia e transtornos alimentares.

A dependência química é um vício em qualquer composto que altere a função cerebral, incluindo drogas prescritas e ilícitas e álcool. A palavra “dependência” refere-se a uma necessidade física do uso de droga. Conforme Araújo e Laranjeira (2017), e de acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5), o termo uso nocivo de drogas caracteriza um tipo de uso que resulta em dano físico ou mental, e o termo abuso de drogas refere-se às consequências sociais do uso problemático, desde que ausentes os fenômenos típicos da dependência, como compulsividade, tolerância e abstinência.

Na dependência química, muitos são os fatores que podem levar ao uso de drogas (ansiedade, depressão, busca do prazer, etc.). Quando a pessoa utiliza substâncias de forma abusiva e repetitiva, sem controle do consumo, provavelmente a dependência química se instalará, e, como se trata de uma doença biopsicossocial, os modelos de tratamento precisam de intervenções que contemplem diversas estratégias de abordagem do problema, considerando elementos biológicos, psicológicos e sociais (LARANJEIRA, SAKIYAMA, PADIN, 2021).

Portanto, a dependência química de uma droga se desenvolve ao longo do tempo, embora os fatores de risco para o vício e a rapidez com que alguém se torne dependente sejam impulsionados pela predisposição genética e outras forças externas, incluindo fatores socioeconômicos e exposição precoce ao uso de drogas. Na compreensão de Silva et al. (2019) a dependência química é caracterizada pelo uso recorrente de drogas que resulta em problemas como incapacidade de controlar o uso da substância; deixar de cumprir obrigações no trabalho, em casa ou na escola; ter saúde precária; e gastar uma quantidade maior de tempo recebendo, usando ou se recuperando dos efeitos do uso da substância.

Já na perspectiva de Horta et al., (2017, p 128) a dependência química é caracterizada com uma doença crônica que permanece no sujeito ao longo da vida, entretanto, ao ser tratada é controlada. Os usuários frequentemente apresentam conflitos familiares, preconceitos, dificuldades de se relacionar e problemas financeiros, além disso vivem prejuízos à saúde física, cognitiva, psicológica, familiar e social. Isto posto, se faz necessário busca por ajuda profissional para enfrentar este problema.

Nem todo usuário de drogas pode ser considerado dependente. Existem quatro tipos de usuários de drogas: o experimentador é o que usa apenas uma ou duas vezes, geralmente levado pela curiosidade e abandona a prática após as primeiras experiências. O recreacional é quem utiliza a droga esporadicamente, mas que não sente influência positiva ou negativa dela em sua vida. O usuário habitual usa a droga sempre, mas consegue se controlar, crendo que ela o faz desenvolver melhor suas habilidades em diversas áreas. E o dependente, também chamado de toxicômano, é quem não consegue ver sentido na vida sem o uso da droga. Ela passa a interferir em todas as áreas de sua existência, a ponto de ele quebrar qualquer regra para ter a droga consigo. No estágio de dependência, é necessário que a pessoa busque ajuda competente e adequada (RIBEIRO, 2019).

Em suma, compreende-se que as famílias são extremamente importantes para pessoas que têm uso problemático drogas, pois são eles que podem fornecer apoio emocional importante, bem como assistência prática que é uma diferença significativa na jornada de recuperação de uma pessoa.

2.3 O tratamento psicológico de pacientes dependentes de substâncias psicoativas

O tratamento da dependência química tem custos elevados na assistência à saúde pública nos diferentes níveis de atenção, sobretudo na atenção terciária, além de acarretar perdas individuais, sociais e familiares. Os programas de tratamento atuais para os problemas do abuso de drogas e dependência química seguem uma abordagem multidisciplinar (FEITOZA et al., 2019).

Adaptados de acordo com as possibilidades e limitações do país, foram criados diversos ambientes de tratamento para atender aos diferentes níveis de gravidade dos casos, como rede primária de atendimento à saúde, unidades comunitárias de álcool e drogas, unidades ambulatoriais especializadas, centros especializados em tratamento e recuperação, hospitais-dia, clínicas-dia, hospitais psiquiátricos, hospitais gerais, grupo de ajuda, Sistema Judiciário e empresas, além de terem sido renovadas as comunidades terapêuticas (LARANJEIRA, SAKIYAMA, PADIN, 2021).

O usuário de substâncias psicoativas possui múltiplas necessidades de cuidado, quando chega para atenção de um programa de tratamento. Idealmente, preconiza-se, na rede pública de saúde, que as primeiras avaliações aconteçam em ambientes compostos por equipes multidisciplinares. Desse modo, cabe a cada responsável por um determinado serviço posicioná-lo de maneira adequada na rede, considerando as normas que regem os modelos e as práticas profissionais de cada um, para que o usuário, ao acessá-los, tenham a oportunidade de receber as avaliações necessárias, bem como as complementares, durante a disponibilização do cuidado.

O contato do psicólogo com a equipe multiprofissional deve estar sincronizado, para que contribuam com apontamentos e diferentes olhares quanto à necessidade do melhor encaminhamento naquela situação, que pode acontecer em um ambiente de longa permanência ou ambulatorial, dependendo da presença de critérios diagnósticos norteados pelo DSM (BOSSO, DOS SANTOS, 2020).

Para Marquezini (2019) o tratamento é um termo que incorpora múltiplas intervenções terapêuticas que diferem entre si em relação à orientação teórica, ao setting terapêutico e às modalidades específicas de intervenção. Dentre as abordagens existentes, estudos mostram uma grande contribuição da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) na temática da dependência químico.

Uma das principais contribuições da TCC se dá na identificação das distorções cognitivas presentes em diversos transtornos. As distorções cognitivas são erros sistemáticos no processamento de informações e na percepção, fazendo os indivíduos interpretarem situações internas e/ou externas em termos absolutistas e inflexíveis. Assim, como pacientes dependentes químicos podem apresentar crenças distorcidas, identificá-las e abordá-las na terapia pode gerar alívio dos sintomas conflitantes e diminuição do comportamento disfuncional.

Deste modo, é enfatizado por Mendonça e Coelho (2018) que ao realizar o tratamento da dependência química com a ajuda desta abordagem é comum que o profissional de psicologia faça uso de algumas técnicas para visa gerar bons resultados. Algumas das técnicas são: identificação, avaliação e questionamento dos pensamentos automáticos (PA) registro de pensamento automático disfuncional (RPD), identificação, avaliação e modificação das crenças, solução de problemas, cartões de enfrentamento, exercício físico, relaxamento, dramatização, treinamento de assertividade e psicoeducação.

A probabilidade de abandono é grande nos primeiros dias, mas diminui rapidamente ao longo do primeiro mês de permanência no tratamento. É necessário pensar o modo como esses pacientes têm sido acolhidos, exigindo-se esforços no sentido de estabelecer vínculo entre o paciente e os profissionais, assim como com a instituição, que pode ser uma comunidade terapêutica ou centro de reabilitação. (FERNANDES et al., 2017)

2.4 A atuação do psicólogo com familiares de dependentes químicos

O consumo abusivo de drogas tem aumentado em todo o mundo e afeta grandes contingentes populacionais, não só pela seus efeitos, mas também devido à associação comum de tais fenômeno com o crime. Esse consumo foi mostrando ser um grave problema de saúde pública, exigindo respostas concretas e eficazes dos países (ARAÚJO, LARANJEIRA, 2017).

O uso de substâncias psicoativas tem sua origem quando o homem, já em sociedade, aproveitava-se de recursos naturais para se adaptar às dificuldades do meio em que vivia. Na atualidade, visto os impactos relacionados à saúde pública e à criminalidade, as questões envolvendo drogas colocam-se como assuntos urgentes na pauta de diversos governos e instituições (NETO, RIBEIRO, PEREIRA, 2021).

Há muitos estudos na área da dependência química. Dentre outros recortes, há o estudo das relações familiares e a influência da dinâmica familiar na produção e manutenção do sintoma da dependência química. Verificou-se, contudo, que o discurso dos familiares, bem como as propostas de tratamento que visam o atendimento dos familiares são pouco exploradas.

O uso nocivo de drogas trouxe consequências danosas para os usuários e seus familiares, devido aos seus fatores sociais despertam interesse por parte dos estudiosos e exigem mais aprofundada análise. Horta et al. (2017) informa que os impactos que a dependência de drogas gera na vida dos familiares podem originar a quebra da rotina, além de sentimentos de vulnerabilidade, desamparo e frustração, quanto a conviver com a doença e tratamento. Destaque, para o agravamento de conflitos já existentes, ameaçando a relação familiar. Rodrigues et al. (2018) enfatizando a respeito dos sentimentos da família diante dessa situação, tais como culpa, revolta, preconceito e impotência, diante da descoberta do uso das drogas e das recaídas do usuário.

Tratar o indivíduo sem o envolvimento da família pode limitar a eficácia do tratamento por duas razões principais: ignora o impacto devastador do uso de substâncias química no sistema familiar, deixando os membros da família sem tratamento, e não reconhece a família como um sistema potencial de apoio à mudança (SANTOS, 2019).

Para o tratamento da dependência química é fundamental acessar os esquemas familiares. Para compreender as crenças, mantidas em comum entre os integrantes da família, se informar sobre os anos de interação no cerne da família a partir de inter-relações do dia a dia. Os valores e a cultura da família também influenciam essa dinâmica. Por isso, Laranjeira, Sakiyama e Padin (2021), inicialmente, far-se-á uma avaliação da dinâmica dos grupos familiares que possuem dependentes químicos envolve coleta de informações acerca da dinâmica familiar e do lugar emocional do paciente no seio da família; posição e atitude dos familiares em relação às drogas; estilos de enfrentamento de crises e problemas dos pais com o filho; qualidade dos vínculos entre os membros da família; estabelecimento de limites, regras e formas de comunicação. Deve-se identificar comportamentos de familiares que podem reforçar o comportamento de uso e avaliar os familiares que poderão colaborar e participar do tratamento.

Nessa via Maciel et al. (2018) destaca que é importante que os profissionais compreendam os arranjos e condições de cada grupo para construir vínculos e laços de solidariedade, em um espaço privado e desconfortável para os trabalhadores de saúde mental que não têm respostas prontas para oferecer. A intervenção na família não visa apenas instrumentalizá-los como cuidadores, mas como pessoas que também precisam ser cuidadas para minimizar a carga emocional, oferecendo espaços acolhedores e facilitadores de ação e troca de experiências de cuidado.

Silva e Penso (2022) explica que a terapia familiar é um sistema de atuação terapêutica que revela e reorganiza fatos e informações, criando novos significados e novas formas de intervenção. Uma terapia familiar para a dependência química pode beneficiar tanto no que se refere ao padrão de consumo do paciente quanto na melhora das relações familiares e sociais.

Ferreira et al., (2017) relata que estudos realizados em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, com 125 dependentes químicos mostrou que a participação de dois ou mais familiares no tratamento repercute diretamente na consolidação da adesão do paciente ao tratamento (57,9%). A participação da família no projeto terapêutico aumenta o empenho desse núcleo familiar na mudança de hábitos de vida e formas de convívio, em que as drogas não estejam presentes.

Dessa forma, na perspectiva de Horta et. al., (2017) a inclusão da família do adicto nas discussões sobre drogadição é de total importância, visto que família está sempre por perto vivenciando todo o sofrimento e as consequências deste sério problema. Corroborando Ferreira et al., (2015) enfatiza que o papel da família é fundamental na reabilitação e adesão do dependente químico, seja incentivando ou participando.

Muitos programas de tratamento de dependência oferecem oportunidades psicoeducacionais que podem informar amigos e familiares sobre o abuso de substâncias. Essas oportunidades fornecem informações valiosas, conscientizam os entes queridos sobre os recursos disponíveis e fornecem aos amigos e familiares o apoio e as habilidades necessárias para ajudar a pessoa no tratamento da dependência química (ARAUJO et al., 2021).

Com base nisso, surge a necessidade de ampliar a oferta de atenção à saúde que possibilite o acolhimento dos usuários e seus familiares pela equipe de multidisciplinar e demais profissionais da psicologia diante da situação de sobrecarga emocional, financeira e social trazida pelo abuso de substâncias a fim de maximizar a adesão do paciente aos regimes terapêuticos e fortalecer os vínculos.

3 CONCLUSÃO

Como conceituado ao longo da pesquisa a dependência química é considerada um problema de saúde pública que vem atingindo um público ainda maior com o decorrer dos anos, vale ressaltar que não há uma separação de classe social, gênero, idade e aparências para que a pessoa seja acometida por esse vício.

Os psicólogos podem ajudar a direcionar a prática em terapia individual e terapia familiar, com atenção especial ao trauma multigeracional e ao abuso de substâncias. Pode fornecer terapia em casa, apoiando os pais a serem mais eficazes com a supervisão, fornecendo estrutura e facilitando a comunicação de cuidados saudáveis. Podem atuar em equipes multidisciplinares para defender uma criança que é julgada, abusada e/ou negligenciada. Além disso, podem fornecer depoimentos de especialistas e atuar na multissistêmicas para ajudar crianças e famílias.

O acolhimento e a escuta são meios importantes que precisam ser realizadas pelo profissional de psicologia que atua neste caso e que busca fortalecer a produção de saúde, proporcionando a criação de vínculos que possibilite ao núcleo familiar o alcance de uma nova organização, facilitando o processo de reabilitação psicossocial e a reinserção social do usuário. Sobretudo, foi percebido que o acompanhamento e apoio familiar faz toda diferença no tratamento da dependência química.

Conforme explanado, o tratamento de pacientes usuários de substância psicoativas é um trabalho que demanda dedicação e esforço permanentes por parte dos profissionais envolvidos. No que tange à vida do usuário e dos familiares, os desafios são múltiplos, desde a identificação do problema da dependência química até a procura por ajuda adequada para o início de uma jornada para a resolução do problema. As políticas públicas se mostram ineficazes diante da demanda, que por inúmeras questões não param de crescer.

Porém, existem poucos materiais atuais que trate a respeito deste assunto, logo, sugiro que novas pesquisas possam ser realizadas para contribuir com novas informações relevantes sobre este assunto que muito é falado e debatido nas escolas, universidades e mídias sociais. Em relação à dependência química o melhor meio de evitá-la ainda é falar e agir com propostas de intervenções, para que desde cedo as pessoas tenham conhecimento a respeito do que pode ser tornar o uso recreativo ou descontrolado de substância psicoativas.

Além disso, propõe-se a elaboração de outros estudos que contribuam para uma melhor compreensão desta população, visando fortalecer o público existente políticas para gerar resultados satisfatórios no modelo de atendimento aos dependentes químico.

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1Acadêmica do Curso de Psicologia pelo Centro Universitário Fametro
2Acadêmica do Curso de Psicologia pelo Centro Universitário Fametro
3Professor e orientador do Curso de Psicologia pelo Centro Universitárioro