O IMPACTO DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NO ANO DE 2020 a 2021

THE IMPACT OF COVID-19 ON THE MENTAL HEALTH OF NURSING PROFESSIONALS IN THE INTENSIVE CARE UNIT IN THE YEAR 2020 TO 2021

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7331786


Marlise Gomes dos Santos1
Maria Silvania Conceição da Silva1
Bruna Luizy Santos Guedes2


RESUMO:

INTRODUÇÃO: A saúde mental é abalada diariamente devido ao desgaste no trabalho dos profissionais de saúde. Com isso, desencadeiam-se alguns transtornos mentais, constituídos por doenças e incapacidades. MÉTODO: realizou-se uma revisão integrativa, buscando produções literárias, entre os anos de 2020 a 2021. Como critérios de inclusão utilizou-se artigos científicos disponíveis na íntegra online e gratuitamente, no idioma português e como critérios de exclusão foram utilizados: monografias, teses, anais de congresso, artigos incompletos e que não respondessem à questão norteadora. As buscas foram realizadas nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).  OBJETIVO: identificar os principais sinais e sintomas dos impactos desenvolvidos na saúde mental dos profissionais de enfermagem intensivistas que atuaram na linha de frente no período pandêmico da COVID-19. RESULTADO: A amostra foi composta por 09 artigos que permitiram uma melhor análise das evidências científicas para identificar os principais sinais e sintomas dos impactos desenvolvidos na saúde mental dos profissionais de enfermagem intensivistas que atuaram na linha de frente no período pandêmico da COVID-19. CONCLUSÃO: Diante desse cenário, faz-se necessário que o profissional adote medidas preventivas para melhorar e promover seu bem-estar e, com isso, a sua saúde mental.

Palavras- chave: Pandemias. COVID-19. Saúde mental. Unidades de Terapia Intensiva. Cuidado de Enfermagem. 

1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, um novo coronavírus, posteriormente designado SARS-CoV-2, foi identificado como a causa de um surto pandêmico na China. A doença causada por esse vírus foi denominada COVID-19 que se espalhou de forma rápida por todo o globo, afetando drasticamente a América Latina. Diferentemente do primeiro coronavírus que causou o surto de SARS em 2003 e que se replicava no trato respiratório inferior, a SARS-CoV-2 começa a se replicar nas vias aéreas superiores e era transmitido antes que o paciente infectado desenvolvesse os sintomas (JUNIOR, 2021).

Na falta de vacinas e tratamento científico comprovado, sugeriu-se o distanciamento social como o meio mais eficiente para controlar a COVID-19. No entanto, para os profissionais que atuaram na linha de frente com os pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de COVID-19 em serviços de atenção primária, nas unidades de pronto-atendimento e nos hospitais, a orientação de permanecer em casa não se aplicou. Os profissionais de saúde constituem um grupo de risco para a COVID-19 por estarem diretamente expostos a pacientes infectados, o que faz com que receba uma carga viral elevada (milhões de partículas virais) (TEIXEIRA, et al; 2020).

Devido à falta de recursos humanos, os profissionais de enfermagem foram removidos de seus setores de trabalho para atuar junto aos pacientes acometidos pela COVID-19, alterando suas rotinas e causando sobrecarga de trabalho. Além disso, o risco iminente de contaminação e a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) gerou sentimentos de medo e angústia, o que levou ao desgaste mental e emocional para lidar com essa situação adversa (REZIO et al, 2021).

O crescente número de profissionais de saúde infectados foi uma preocupação, pois eles eram os grandes responsáveis ​​por cuidar diretamente dos pacientes infectados. Em fevereiro de 2021, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) registrou mais de 48.000 casos confirmados e 590 mortes por COVID-19 (AVILA et al, 2021).

Nesse contexto, para os profissionais da saúde, em especial os da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ter de presenciar frequentemente a morte de muitos pacientes ao longo de suas jornadas de trabalho trouxe à tona sentimentos como o medo da infecção e as suas consequências (LUCCA, 2020). 

As equipes de enfermagem que atuam na UTI são desafiadas, rotineiramente, a promover o cuidado em um ambiente de trabalho caracterizado por extremo desgaste físico e emocional, exigindo alto nível de habilidade e concentração em situações de emergência (ROCHA et al, 2021).

Durante a pandemia do COVID-19, os profissionais de enfermagem precisaram enfrentar, além das dúvidas relativas à doença, a falta de EPI, bem como a escassez de aparelhos, como ventiladores mecânicos, para ofertar uma melhor assistência de saúde e evitar a falta de insumos (MASSARONI, 2020).

Nesse cenário pandêmico, além dos profissionais de enfermagem terem de lidar com os sinais e sintomas causados pelo Coronavírus, houve, também, as mudanças abruptas da saúde mental, o sofrimento psicológico, fadiga, o estresse e outros fatores que antecederam a pandemia, mas que foram intensificados com ela (ROCHA et al, 2021).

Dentre os transtornos que atingem os profissionais da área de saúde que atuaram na linha de frente ao combate a COVID-19, no qual os enfermeiros são a classe mais atingida, temos a síndrome de Burnout que é uma doença psicossocial que se caracteriza pelo desgaste mental, emocional e físico, apresentando os seguintes sintomas: ansiedade, pensamentos acelerados, insônia, quadro depressivo, além do estresse, interação social comprometido em virtude do isolamento social (BORGES et al, 2020).

No que se refere a síndrome de Burnout, direcionado aos profissionais da enfermagem que trabalham em UTI, os problemas de saúde que enfrentam esses profissionais são muitos preocupantes, podendo levar à depressão, à exaustão profissional ou à morte (ROCHA et al, 2021).

Os motivos que levam os profissionais de saúde a desenvolverem sofrimento psicológico podem estar associados às dificuldades de se sentirem seguros no local de trabalho ou ao conhecimento limitado sobre prevenção e controle do vírus, bem como a escassez de equipamentos de proteção, a ausência do descanso regular e a exposição a eventos críticos da vida, como a morte. A Organização Internacional do Trabalho estabelece que, quando a atividade laboral é ajustada às condições do profissional, a sua saúde física e mental é favorecida, desde que os riscos sejam mantidos sob controle (BORGES et al, 2020).

Em consideração aos dados apresentados e ao contexto da pandemia, este estudo tem como objetivo identificar os principais sinais e sintomas dos impactos desenvolvidos na saúde mental dos profissionais de enfermagem intensivistas que atuaram na linha de frente no período pandêmico da COVID-19.

2 MÉTODO

Realizou-se uma revisão integrativa da literatura que é um método de pesquisa que permite a incorporação das evidências na prática clínica. Esse método tem o propósito de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema pesquisado (MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008).

A revisão integrativa percorre etapas pré-determinadas, sendo elas: determinação do objetivo específico, formulação dos questionamentos a serem respondidos ou hipóteses a serem testadas, busca para identificar e coletar o máximo de pesquisas primárias relevantes dentro dos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos (MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008).

Para esta pesquisa foram utilizados os seguintes critérios de revisão integrativa: foi feita uma análise ampla da literatura dos conteúdos de artigos técnico-científicos, pesquisados online de jornais e revistas publicadas nesse período da pandemia (2020 a 2021), publicados no Brasil sobre as equipes de enfermagem que trabalharam na UTI, no âmbito da pandemia de COVID-19.

Para a seleção dos artigos para esta pesquisa foram utilizados os seguintes critérios: para inclusão utilizaram-se artigos científicos disponíveis na íntegra online e gratuitamente, no idioma português e como critérios de exclusão foram utilizados: monografias, teses, anais de congresso, artigos incompletos e que não respondessem à questão norteadora.

 Para auxílio da busca fez-se uso dos seguintes descritores controlados de saúde: Saúde mental; Unidades de Terapia Intensiva; Cuidado de Enfermagem; intercalados pelo booleano “AND”.  

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 10 artigos nas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS. Os resultados são apresentados no quadro 1.

Quadro 1 – Síntese dos artigos encontrados durante pesquisa nas bases de dados.

CÓDIGOTÍTULOAUTORESPERIÓDICO/ANO
A1Fatores de risco para a Síndrome de Burnout em profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19BORGES  et alREVISTA ELETRÔNICA ACERVO ENFERMAGEM.2021
A2A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e para além deles: a emergência do trabalho dos profissionais de saúdeLUCIANO; MASSARONIUFES2021
A3Apoio psicossocial e saúde mental dos profissionais de enfermagem no combate ao covid-19MOREIRA; LUCCAREVISTA ENFERMAGEM EM FOCO2020
A4Síndrome de burnout em profissionais da enfermagem de unidade de terapia intensiva na pandemia da COVID-19.RIBEIRO; SCORSOLINI-COMIN; SOUZAREVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA2021
A5A pandemia de COVID-19 e a oportunidade de acelerar o monitoramento remoto de pacientesJUNIOR, ANTONIO, PAULO NASSARJORNAL DE PNEUMOLOGIA2021
A6A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de Covid-19TEIXEIRA et alCIÊNCIA E SAÚDE COLETIVA2020
A7Apoio psicossocial e saúde mental dos profissionais de enfermagem no combate ao covid-19.MOREIRA,AMANDA SORCE, LUCCA, SERGIO ROBERTOREVISTA COFEN2020
A8O neoliberalismo e a precarização do trabalho em enfermagem na pandemia de COVID-19: repercussões na saúde mental.REZIO LA, OLIVEIRA E, QUEIROZ AM, SOUSA AR, ZERBETTO SR, MARCHETI PM, NASI C, NOBREGA MPSS.REVESCENFERM USP. REEUSP2021
Fonte: Autoras, 2022

Foram destacados alguns fatores que levam ao adoecimento mental dos profissionais de enfermagem que atuaram na UTI, durante a pandemia da COVID-19, conforme quadro 2.

Quadro 2 – Fatores que levaram ao adoecimento mental dos profissionais de enfermagem intensivistas durante a pandemia de COVID-19.

Conflitos de papéis (assumir várias atividades que não lhe compete)
Situações desgastantes (excesso de horário de trabalho)
Alta tensão na rotina hospitalar por atender diariamente pacientes com doenças diferentes ou desconhecidas
Exaustão emocional (transtornos mentais e comportamentais).
Salário baixo
Pouco tempo com a família
Condições de trabalho insalubre
Pouco tempo para dormir e descansar
Pouco tempo para o lazer
Alimentação inadequada
Fonte: Autoras, 2022

É importante o investimento científico para o combate da pandemia do COVID-19, com a produção de vacinas que combatam o coronavírus, bem como a aquisição de EPI para a proteção da equipe profissional da saúde que atuaram na linha de frente cuidando dos contaminados, além de oferecer cursos, com treinamentos adequados a esses profissionais no combate à doença (TEIXEIRA, et al; 2020).

A contratação de mais profissionais da saúde, para que não sobrecarregue os mesmos com excesso de carga de trabalho, fazendo com isso que eles tenham horário para descanso e lazer, fato esse que ajudaria na diminuição dos problemas físicos, mentais e emocionais enfrentados pelos mesmos quando do auge da pandemia, em virtude do baixo quadro de funcionários e de excesso de carga horária de trabalho (REZIO et al, 2021).

Melhorias nas condições de trabalho para esses profissionais de saúde, bem como salários mais justos, visto a responsabilidade de lidar diretamente com pessoas contaminadas pelo COVID-19 também é apontado como fator que pode auxiliar o profissional a enfrentar as questões relativas à saúde mental (BORGES et al, 2020).

Como resultado da diminuição de novos casos de COVID-19, houve uma diminuição da doença mental entre os profissionais, pois, à medida que o número de doenças diminuiu, também diminuiu o estresse emocional dos profissionais (TEIXEIRA, et al, 2020).

CONCLUSÃO

Sabemos que na literatura atual existem várias propostas de como enfrentar os agravos causados por essa pandemia, em contrapartida, existe um déficit de publicações a respeito dos resultados obtidos por essas estratégias, considerando que esses resultados são fundamentais para proporcionar uma boa saúde mental aos profissionais de saúde temos que uma equipe de enfermagem com uma melhor qualidade de vida: hora adequada de repouso, boa alimentação, com hora de lazer para a família, bem como treinamento necessários  para essa situação específica, o uso adequado de EPI irá refletir de forma proporcional na melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes.

Salienta-se a importância de que todo profissional não só na área da UTI, mas também em todas as outras, devem utilizar práticas saudáveis para a melhoria de sua saúde, evitando assim adoecer.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, Fernanda Maria Vieira Pereira; GOULART, Maithê de Carvalho e Lemos; GÓES, Fernanda Garcia Bezerra; SILVA, Ana Cristina de Oliveira e; DUARTE, Fernanda Carla Pereira; OLIVEIRA, Claudia Pontes Braz de. SINTOMAS DE DEPRESSÃO EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19. Cogitare enferm., v 26, e76442, 2021. Acesso em 08 nov. 2022. Online. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/76442

BORGES FES, et al. Fatores de risco para a Síndrome de Burnout em profissionais da saúde durante a pandemia de COVID-19. RevEnfermAtual In Derme, v. 95, n. 33, e-021006, 2021. Acesso em 12 nov. 2022. Online. Disponível em: https://revistaenfermagematual.com/index.php/revista/article/view/835/790

JUNIOR, Antonio Paulo Nassar. A pandemia de COVID-19 e a oportunidade de acelerar o monitoramento remoto de pacientes. J Bras Pneumol., v. 47, n. 4, e20210238, 2021. Acesso em 08 nov. 2022. Online. Disponível em: https://www.jornaldepneumologia.com.br/details/3571/pt-BR/a-pandemia-de-covid-19-e-a-oportunidade-de-acelerar-o-monitoramento-remoto-de-pacientes

LUCIANO, Luzimar dos Santos; MASSARONI, Leila. A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e para além deles: a emergência do trabalho dos profissionais de saúde. Universidade Federal do Espírito Santo. 2020. Acesso em 08 nov. 2022. Online. Disponível em: https://coronavirus.ufes.br/conteudo/falta-de-equipamentos-de-protecao-individual-epis-e-para-alem-deles-emergencia-do-trabalho.

MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira; GALVÃO, Cristina Maria. REVISÃO INTEGRATIVA. MÉTODO DE PESQUISA PARA A INCORPORAÇÃO DE EVIDÊNCIAS NA SAÚDE E NA ENFERMAGEM. Texto Contexto Enferm, v. 17, n. 4, p. 758-64, 2008. Acesso em 10 nov. 2022. Online. Disponível em:https://www.scielo.br/j/tce/a/XzFkq6tjWs4wHNqNjKJLkXQ/?format=pdf&lang=pt

MOREIRA, Amanda Sorce, LUCCA, Sérgio Roberto. Apoio psicossocial e saúde mental dos profissionais de enfermagem no combate ao covid-19. Enferm. Foco, v. 11, n. 1, especial: 155-161, 2020. Acesso em 11 nov. 2022. Online. Disponível em: http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/3590

REZIO LA, Oliveira E, Queiroz AM, Sousa AR, Zerbetto SR, Marcheti PM, Nasi C, Nóbrega MPSS.  Neoliberalismo e a precarização do trabalho em enfermagem na pandemia de COVID-19: repercussões na saúde mental. Rev. esc. enferm. USP, v. 56, 2022. Acesso em 10 nov. 2022. Online. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0257

RIBEIRO, Beatriz Maria do Santo Santiago; SCORSOLINI-COMIN ,Fabio; SOUZA , Silvia Rocha de. Síndrome de burnout em profissionais da enfermagem de unidade de terapia intensiva na pandemia da COVID-19. Rev Bras Med Trab., v. 19, n. 3, p. 363-71, 2021. Acesso em 10 nov. 2022. Online. Disponível em:https://www.rbmt.org.br/details/1621/pt-BR/sindrome-de-burnout-em-profissionais-da-enfermagem-de-unidade-de-terapia-intensiva-na-pandemia-da-covid-19

TEIXEIRA, Carmen Fontes de Souza; SOARES, Catharina Matos; SOUZA, Ednir Assis; LISBOA, Erick Soares; PINTO, Isabela Cardoso de Matos; ANDRADE, Laíse Rezende de; ESPIRIDIÃO, Monique Azevedo. A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Ciênc. saúde coletiva, v. 25, n. 9, Set, 2020. Acesso em 11 nov. 2022. Online. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/6J6vP5KJZyy7Nn45m3Vfypx/


1Discente do curso de bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário
Mário Pontes Juca

2Docente do Curso de  bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário
Mário Pontes Jucá