O FISIOTERAPEUTA COMO AGENTE DE CUIDADO NO TRATAMENTO DE DISMENORREIA PRIMÁRIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7324938


Denise Alves1
Edna Souza 
Emanuelle Diniz Kimberly Cristina


RESUMO 

A dismenorreia primária é uma condição clínica que atinge muitas mulheres no período fértil, causando dores extremas o que leva a dificuldades nas realizações de tarefas diárias afetando também o seu bem-estar. Apesar do tratamento farmacológico ser o mais comum, o não farmacológico pode ter sim os seus benefícios, o que inclui os cuidados realizados pelo fisioterapeuta em prol de reduzir a sintomatologia da dismenorreia primária. Dessa forma, o objetivo principal foi revisar a literatura sobre a atuação do fisioterapeuta no tratamento de mulheres com dismenorreia primária; sendo os objetivos específicos, verificar qual o recurso fisioterapêutico mais utilizado; comparar os protocolos empregados e confrontar os resultados encontrados. A partir da revisão narrativa da literatura, foram escolhidos oito artigos que traziam protocolos de tratamento da dismenorreia primária. Concluiu-se que as técnicas mais aplicadas são TENS, massoterapia com óleos essenciais e cinesioterapia, sendo as duas primeiras com melhores desempenhos na redução da dor e na diminuição do uso de analgésicos. 

Palavras-chave: Dismenorreia primária. Fisioterapia. Fisioterapeuta. Tratamento. 

ABSTRACT 

Primary dysmenorrhea is a clinical condition that affects many women in the fertile period, causing extreme pain that leads to difficulties in performing daily tasks, also affecting their well-being. Despite the pharmacological treatment being the most common, the nonpharmacological treatment can have its benefits, which includes the care provided by the physical therapist in order to reduce the symptoms of primary dysmenorrhea. Thus, the main objective was to review the literature on the role of physical therapists in the treatment of women with primary dysmenorrhea; the specific objectives being, to verify which physiotherapeutic resource is most used; compare the protocols used and compare the results found. From the narrative review of the literature, eight articles were chosen that brought protocols for the treatment of primary dysmenorrhea. It was concluded that the most applied techniques are TENS, massage therapy with essential oils and kinesiotherapy, the first two had the best performance in reducing pain and decreasing the use of analgesics. 

Keywords: Primary dysmenorrhea. Physiotherapy. Physical therapist. Treatment.

1. INTRODUÇÃO 

            A dismenorreia é o quadro clínico associado ao ciclo menstrual que atinge a maioria das mulheres em período fértil. Para tal, existem diversos medicamentos que objetivam reduzir as cólicas acentuadas, contudo o tratamento farmacológico não é a única possibilidade. O fisioterapeuta é um profissional que tem plena capacidade técnica de auxiliar as mulheres que sofrem tanto com esta síndrome.  

            A dismenorreia é o quadro clínico associado ao ciclo menstrual caracterizada pela dor pélvica acentuada. Este termo deriva do grego que tem seu significado expresso como “fluxo menstrual difícil” (ACQUA; BENDLIN, 2015). Essa síndrome tem uma prevalência altíssima entre as mulheres, sendo um dos problemas ginecológicos mais vistos em adolescentes e jovens (MIELI et al., 2013). 

           Como sintoma, a dismenorreia não consiste somente nas cólicas localizadas na região do hipogástrio, contudo a mulher pode manifestar também náusea, fadigas, vômitos, tonturas, diarreia, cefaleia, nervosismo e dor lombar (ACQUA; BENDLIN, 2015). 

          Essa doença pode ser classificada como primária ou como secundária de acordo com a sua etiologia. A primária está diretamente associada ao ciclo catamenial, não tendo relação com nenhuma outra patologia; e normalmente inicia-se uns dias antes do primeiro dia do fluxo menstrual e pode durar por mais um ou dois dias após seu início (TRONCON; ROSA-E-SILVA; REIS, 2020). 

         Com relação a dismenorreia secundária, a dor na região pélvica é causada por alguma doença que tem a cólica como sintoma e habitualmente está associada ao sangramento anormal do útero e a dispareunia. As etiologias mais comuns são a endometriose, doença inflamatória pélvica, adenomiose, malformações müllerianas, pólipos uterinos, massas anexiais e leiomiomas uterinos. (TRONCON; ROSA-E-

SILVA; REIS, 2020) 

         A etiologia da dismenorreia primária (DP) ainda não está clara. O que se tem mais conhecimento, atualmente, é que os sintomas causados por esta síndrome estão relacionados a ação da prostaglandina F2 alfa presente no sangue menstrual. Mieli et al. (2013) explica que este hormônio determina uma atividade uterina anormal que reduz o fluxo sanguíneo ao útero e sensibiliza os nociceptores. Os nociceptores são neurônios sensoriais responsáveis por enviar os sinais que dão a percepção de dor como resposta a um estímulo (FEIN, 2012). 

 O diagnóstico de dismenorreia é feito pela anamnese clínica através da descrição dos sintomas pelo paciente a um ginecologista. Em determinados casos, são realizados exames de imagem ou outros complementares para descartar a dismenorreia secundária. (BERNARDES, 2011). 

 No tocante dos dados epidemiológicos, estes não são concretos, há diversos estudos que abordam a taxa de prevalência da dismenorreia, contudo cada artigo tem como amostra somente um grupo pequeno e específico. Santos (2020) fez um estudo com mulheres residentes no estado de Rio Grande do Norte, no qual 56% das entrevistadas apresentavam dismenorreia. 

 Em uma outra pesquisa realizada por Frare, Tomadon e Silva (2014) com estudantes de um centro acadêmico (80 mulheres), 71% das participantes afirmaram ter dismenorreia. Mais uma vez, a maioria das entrevistadas apresentaram dismenorreia. Contudo, as taxas de prevalência não são consistentes e não há consenso na literatura, como foi verificado por Acqua e Bendlin (2015) que afirmaram ter observado uma variação de 40% a 70% na presença de dismenorreia em mulheres com idade inferior a 30 anos. Há necessidade de que no futuro sejam feitos mais estudos, inclusive de nível nacional, para averiguar a prevalência da dismenorreia. 

 Os sintomas e desconfortos gerados pela dismenorreia afetam a qualidade de vida de muitas mulheres, o que está relacionado ao absenteísmo. No estudo de Frare, Tomadon e Silva (2014), 42% das acadêmicas entrevistadas relataram já terem faltado à compromissos; os dias mais comuns de faltas na faculdade ocorreram logo no primeiro dia da menstruação (33,75% das acadêmicas) seguido do segundo dia (17,50% das acadêmicas). 

 Encontrando dados ainda mais alarmantes, Nunes et al. (2013) averiguou que quase metades das mulheres entrevistadas (48,4%) apresentaram absenteísmo escolar e todas manifestavam dores intensas durantes as crises de dismenorreia primária. 

Já no levantamento feito por Silva et al. (2019), 37% das mulheres entrevistadas relataram absenteísmo no trabalho devido aos sintomas da dismenorreia. A outra porcentagem assumiu ir trabalhar, contudo não conseguia executar as suas tarefas devido as dores e os desconfortos. Um resultado parecido com este, foi no estudo de Passos et al. (2008), onde 30% das entrevistadas apresentaram absenteísmo e outras 66% presenteísmo. 

Com relação ao tratamento, a terapia farmacológica mais aplicada é com o uso de anti-inflamatórios não esteroides, de antiespasmódicos, de analgésicos e de contraceptivos orais e injetáveis que se ajustam de acordo com a necessidade de cada paciente (ALVES et al., 2016). 

Além dos medicamentos citados acima, há opções de tratamentos não farmacológicos que podem ser oferecidas por terapias alternativas realizadas pelo fisioterapeuta que objetiva reduzir os sintomas da dismenorreia, trazendo qualidade de vida a mulher que sofre com esta síndrome (ALVES et al., 2016). 

Após compreender o assunto, foi possível afirmar que a dismenorreia traz dores intensas e é extremamente debilitante na vida da mulher, podendo até interferir nas suas atividades do dia-a-dia, prejudicando o seu desempenho educacional e laboral; em tais fatos encontrou-se a justificativa de dissertar acerca desta temática. 

O problema de pesquisa questionado foi identificar quais técnicas de fisioterapia são as mais utilizadas pelo fisioterapeuta no cuidado com a paciente com dismenorreia primária. 

Para o desenvolvimento deste trabalho, levantou-se o seguinte objetivo principal revisar a literatura sobre a atuação do fisioterapeuta no tratamento de mulheres com dismenorreia primária. Com relação aos objetivos específicos, propôsse verificar qual o recurso fisioterapêutico mais utilizado; comparar os protocolos empregados e confrontar os resultados encontrados. 

2. OBJETIVOS 

2.1 OBJETIVO GERAL 

Revisar a literatura sobre a atuação do fisioterapeuta no tratamento de mulheres com dismenorreia primária. 

2.2 OBJETIVO ESPECIFICOS 

– Comparar os protocolos utilizados 

– Verificar o recurso fisioterapêutico mais utilizado 

– Confrontar os resultados 

3. METODOLOGIA 

Este trabalho consistiu em um estudo teórico realizado através de uma revisão narrativa. 

A revisão narrativa tem como aspecto a não utilização de critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise dos resultados encontrados; o que faz com que a seleção do conteúdo encontrado e a sua interpretação esteja sujeita à subjetividade de cada autor (UNESP, 2015).  

Para a realização de busca nas bases de dados como SciELO (Scientific Electronic Library Online), Pubmed, Google Acadêmico e Periódicos Capes foram selecionados os seguintes descritores: dismenorreia, fisioterapia, tratamento, dismenorreia primária 

Os critérios para inclusão e exclusão dos resultados achados foram levantados previamente para melhor organização da pesquisa. Os materiais publicados nos últimos 15 anos, nos idiomas português e inglês, e que após a leitura abordavam a temática discutida serão incluídos. Contrariamente, os materiais que foram publicados antes de 2007, que foram escritos em outras línguas, e que após a leitura não discorriam a respeito do assunto da pesquisa, serão excluídos. 

Os dados encontrados foram dispostos em uma tabela disponível no capítulo de resultados avaliadas pela EVA. 

4. RESULTADOS    

A partir da busca realizada, conforme descrito na metodologia, foram selecionados oito artigos que abordavam o objetivo principal deste estudo. Todos os trabalhos escolhidos foram dispostos na Tabela 1 que foi organizada por ordem alfabética de acordo com o nome do autor, acrescidos das informações acerca do ano de publicação, da metodologia aplicada, do protocolo(s) fisioterapêutico(s) abordado(s) e a conclusão do estudo sendo analisado.

Tabela 1 – Artigos selecionados na pesquisa 

Autor(es)  Número da amostra Idade Metodologia Intervenção Instrumentos de Avaliação Resultados 
  WITT et al.,  2008   Total de 649 mulheres; Grupo R: 201 e Grupo NR: 448   35 Anos,    Ensaio controlado randomizado   G.R: Acupuntura em mulheres com dismenorreia primária- Números de agulhas e ponto de agulha foram escolhido pelo terapeuta. 15 sessões cada 3 meses. G. NR: sem intervenção. -EVA.  -Questionário sobre a sintomatologia. A acupuntura mostrou-se eficaz para melhora da dor. 
ARAUJO; LEITÂO; VENTURA,  2010Total de
20 mulheres

Grupo. A:10 Grupo B:10
 18 a 30 anosPesquisa ensaio clínico. G.A: Crioterapia- com bolsa de gel térmica na região de baixo ventre G.B: Calor – com bolsa de gel térmica na região de baixo ventre. Ambos fizeram por 20 min uma vez por mês durante 3 meses. EVA. -Questionário de dor McGill (Aplicado antes e após da sessão)Em ambos foram eficazes, porém a crioterapia mostrou maior eficácia na redução da dor do que a termo. 
Fae; Pivetta  2010  sim    11 mulheres Grupo Masso – 5 Grupo Cinesio – 6 19 a 24 anosPesquisa Qualiquantitativa experimental  com onze mulheres divididas em: um grupo que recebeu massagem e outro que recebeu exercícios terapêuticos.8 sessões de 30 minutos cada realizadas 1 vez por semana – Massoterapia do tecido conjuntivo aplicada no terço superior do sacro até a 11ª vértebra torácica; – Cinesioterapia: exercícios de fortalecimento e alongamento dos músculos do assoalho pélvico, glúteos, abdominais, adutores e abdutores de membros inferiores com exercícios respiratórios com enfoque no padrão diafragmático e exercícios para melhorar a mobilidade pélvica, consciência  corporal e propriocepção perineal. -Questionário Sobre o ciclo menstrual.  – EVA.Apesar de ambos os grupos terem tido redução das dores relacionadas a dismenorreia primária, aquele que recebeu tratamento com a massoterapia obtiverem resultados melhores. 
ARAUJO et al.,   201210 mulheres ao total .18 a 30 anos   Estudo descritivo experimental, com 10 mulheres Método Pilates: realizado 16 tipos de exercícios de solo e bola concentrada na região pélvica. 2 vezes por semana com 60min em 10 sessões. – EVA -Questionário de dor McGill Adaptado.  Proporcionou melhora dos sintomas e da dor. 
Shahr et al.  2014   Sim75 mulheres Grupo óleo rosas 25 Grupo óleo amêndoas 25 Grupo sem óleo – 2520 a 30 anosEnsaio clínico randomizado controlado que dividiu as participantes em três grupos: um realizou automassagem com óleo de rosas, outro que realizou automassagem com um óleo placebo e o grupo controle que somente se automassagem.3 sessões, sempre no 1º dia do ciclo menstrual – Automassagem com óleo de rosas na região inferior da barriga; – Automassagem com óleo de amêndoas sem perfume na região inferior da barriga; – Automassagem na região inferior da barriga.EVA.Foi verificado que massagens com óleos aromáticos reduziu bastante as dores da dismenorreia primária quando comparado ao grupo que apenas realizou a massagem
Azima et al.  2015  sim102 mulheres Grupo masso – 34 Grupo cinesio – 34 Grupo controle – 3418 a 35 anosEnsaio clínico randomizado controlado que dividiu estudantes em um grupo de controle, um que recebeu o protocolo e outro que recebeu exercícios2 ciclos consecutivos de massagem Effleurage com óleo de lavanda no abdômen inferior; 8 semanas de exercícios isométricos; – Grupo controle sem intervenção. EVA A massagem possui melhor efeito quando comparado a exercícios físicos no que tange a intensidade da dor durante as crises de dismenorreia
Silva et al. 2016  sim 20 mulheres Grupo tratament o – 10 Grupo controle – 10 18 a 35 anosEstudo de intervenção que dividiu vinte universitárias em dois grupos aleatoriamente, um de tratamento com o protocolo e outro de controle com tratamento placebo Tratamento assim que surgiram os primeiros sintomas – EVA antes da TENS, depois de sua aplicação e 2 horas após o seu término – Tens na frequência de 150 Hz, duração de pulso 50 µs, durante 30 min; sendo a intensidade aumentada a cada 10 min; – Controle: aparelho desligado.EVA Este tratamento foi capaz de reduzir as dores causadas pela dismenorreia primária. 
Bai; Bai; Yang  2017  sim134 mulheres Grupo tens – 67 Grupo tens sham – 67 18 a 30 anos Intervenção em dois grupos divididos aleatoriamen te onde um receberam o protocolo e o outro acreditou estar recebendo Tratamento iniciado no primeiro dia da menstruação até o último dia (não ultrapassou 8 dias) durante três ciclos menstruais Tens na frequência de 2 a 100 Hz por 30 min na região abdominal inferior durante as cólicas; Tens sham: aparelho desligado. EVADemonstrou bons resultados na redução da intensidade e da duração da dor e levou ao menor uso de medicamentos
Fonte: elaborada pelas autoras (2022) 

Depois de muita leitura, foram descartados onze artigos, quatro devido a data de publicação ser anterior a 2007 e os outros sete artigos não abordavam especificamente os cuidados fisioterapêuticos em pacientes que sofrem de dismenorreia primária. O que restou cinco artigos expostos na tabela 1 acima que serão discutidos no próximo capítulo. 

5. DISCUSSÃO 

Para melhor desenvolver e alcançar os objetivos específicos, foi necessário se aprofundar nos conteúdos selecionados durante a etapa de pesquisa da revisão narrativa e assim discorrer e debater os protocolos de tratamento não farmacológicos realizados pelos fisioterapeutas. 

Com este intuito, primeiramente, percebeu-se a necessidade de abordar o conceito que melhor definiu este profissional. Para o Conselho de Fisioterapia (CREFITO, 2022), o fisioterapeuta é o profissional de saúde habilitado e com formação acadêmica em fisioterapia capaz de diagnosticar distúrbios cinéticos funcionais, prescrever e realizar condutas fisioterapêuticas e acompanhar a evolução do quadro clínico funcional do paciente e as possibilidades de o mesmo receber alta desses cuidados. 

Entre os mais diversos cuidados que o fisioterapeuta clínico realiza está a assistência que ocorre através de programas terapêuticos em prol de reduzir, aliviar ou até sanar os sintomas da enfermidade que acometeu o paciente (CREFITO, 2022). Entre as patologias tratadas por um fisioterapeuta, está a dismenorreia primária (DP). O fisioterapeuta pode aplicar diversas técnicas em prol do paciente buscando aliviar as dores causadas por esta síndrome e reduzir a ingestão de medicamentos trazendo uma melhor qualidade de vida para o paciente. Contudo, há muitos protocolos sendo oferecidos, o que trouxe a necessidade de compreender quais eram esses, que informações estavam disponíveis na literatura, o que os pesquisadores da área descreveram e qual das técnicas foi considerada a melhor. 

 Azima et al. (2015) realizaram um estudo de intervenção onde aplicou a técnica da massoterapia do tecido conjuntivo. Esse tratamento consiste na realização de massagens para melhorar o fluxo linfático e sanguíneo, além de relaxar os músculos e reduzir o estresse. O uso deste protocolo junto a óleos aromáticos específicos, como o de rosas, são absorvidos pela pele e detectados pelo sistema olfativo. 

 Os autores concluíram que o uso da massoterapia com óleos aromáticos trouxe significantes reduções nas dores sentidas por mulheres que sofrem com DP quando comparado ao grupo controle (que não recebeu nenhum cuidado). Mesmo o grupo que realizou exercícios também tendo tido melhoras neste quesito, o resultado foi melhor com o grupo que recebeu a massoterapia. (AZIMA et al., 2015) 

Shahr et al. (2014) encontraram um resultado semelhante utilizando a mesma técnica. Neste estudo, os grupos foram treinados para realizarem automassagem (massoterapia), contudo foram divididos em três com características diferentes. Um grupo realizou a automassagem com o óleo com extrato de rosas; outro realizou automassagem com um óleo placebo e o último grupo apenas realizou a automassagem. 

 A aplicação feita no primeiro dia da menstruação no segundo ciclo do tratamento demonstrou uma grande redução nas dores da DP no grupo que realizou a massoterapia com o óleo de rosas do que com relação aos outros dois grupos (SHAHR et al., 2014). Resultado que chegou a mesma conclusão que o estudo de Azima et al. (2015). 

 Fae e Pivetta (2010) também propuseram em seu estudo experimental aplicar a massoterapia, contudo resolveram comparar a técnica com outro protocolo também utilizado no tratamento da DP na fisioterapia, a cinesioterapia. Esta última consiste no conjunto de exercícios fisioterapêuticos que objetiva fortalecer a musculatura e as articulações, reduzir as dores, entre outros benefícios ao indivíduo (SANTOS, 2017).  Apesar de ambos os protocolos terem demonstrados resultados positivos no que toca os sintomas da DP, principalmente as dores lombares e no baixo ventre; a massoterapia apontou ser uma técnica bem mais eficaz. Ao comparar a intensidade da dor antes e depois da aplicação das técnicas, o grupo que recebeu o protocolo da massoterapia teve alívio em todos os pontos avaliados (baixo ventre, lombar, cefaleia e mama). Já o grupo que recebeu a cinesioterapia, só tiveram redução na intensidade das dores no baixo ventre e na lombar; a cefaleia e as dores na mama aumentaram. (FAE; PIVETTA, 2010) 

 Azima et al. (2015) já haviam concluído em seu estudo que a aplicação da massoterapia tinha resultados melhores que a técnica com exercícios fisioterapêuticos, contudo na pesquisa de Fae e Pivetta (2010), a diminuição da intensidade das dores lombares e no baixo ventre foram mais de 50% no tratamento com a massoterapia; dados que constatam uma boa efetividade deste protocolo.  O TENS é a técnica que através de eletrodos aplicados na pele, uma corrente elétrica específica estimula os nervos periféricos que vão agir modulando a dor, já que ocorre a teoria do fechamento das portas, impedindo a passagem dos estímulos de dor e liberando opioides endógenos responsáveis pela analgesia e consequentemente alívio da dor (CAMILO, 2014; PAULA et al., 2008).  

 Com intenção de comprovar a possível ou não eficiência do TENS na DP, Bai, Bai e Yang (2017) realizaram uma intervenção, onde dividiram as participantes em dois grupos, um que seria o controle e outro que recebeu o protocolo. Realmente o grupo que recebeu o tratamento com TENS obteve uma melhora excelente no que se referiu a intensidade das dores das cólicas menstruais e na quantidade de comprimidos de ibuprofeno, onde amos diminuíram. 

Em mais um estudo de intervenção, Silva et al. (2016) separaram dois grupos, sendo um de tratamento e outro controle. O primeiro grupo recebeu o tratamento com TENS, enquanto o segundo foi um tratamento placebo. O alívio da dor foi percebido imediatamente após o término da aplicação do protocolo, contudo duas horas depois houve redução do efeito. Contudo comparando os mesmos quesitos com o grupo controle e com o grupo do tratamento antes da intervenção, a intensidade álgica ainda foi bem menor mesmo duas horas após o tratamento com TENS. 

 A termoterapia é uma outra técnica utilizada nos cuidados do fisioterapeuta no tratamento da DP que funciona como se fosse uma bolsa de água quente. 

Ao colocar o calor sob a região da pelve, há redução dos espasmos musculares, analgesia do local e sedação de terminações nervosas. Ademais, o calor dilata os vasos sanguíneos, o que permite aumento do fluxo menstrual. Todas essas ações somadas promovem a redução da cólica menstrual. (AMARO, 2016) 

Foi possível observar que os outros artigos aqui citados (SILVA et al., 2016; BAI; BAI; YANG, 2017) que abordaram o protocolo de TENS, obtiveram bons resultados com a aplicação dessa técnica e inclusive verificaram melhora na qualidade vida a partir do momento em que ocorreram redução na intensidade e na frequência das dores e também na diminuição do uso de medicamentos para tratar a sintomatologia da DP. 

Há muitas opções, entre outras não abordadas neste estudo, de tratamentos da DP realizadas pelo profissional fisioterapeuta que objetivam reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida. As mais vistas na literatura foram TENS, massoterapia com óleos essenciais e cinesioterapia. 

Todos os protocolos apontaram benefícios no alívio das dores causadas pela DP quando comparados aos grupos controle. A massoterapia com óleos essenciais quando comparada a cinesioterapia mostrou-se mais eficaz em mais de um estudo. Contudo os estudos que abordaram TENS e massoterapia com óleos essenciais, não informaram qual das duas eram mais eficazes. Assim como na pesquisa que utilizou TENS e termoterapia como objetos de estudo. 

A falta de estudos de intervenção do tipo randomizado-controlado que comparassem cinco ou mais protocolos, já que o máximo de ensaios clínicos observados utilizaram somente três técnicas, dificultou concluir exatamente qual protocolo é o mais eficaz. 

No entanto, a massoterapia com óleos essenciais e o TENS são as técnicas mais amplamente utilizadas que possuem ótimos resultados no tratamento de DP, reduzindo a intensidade das dores menstruais e diminuindo o uso de medicamentos para tal. Além de serem protocolos de baixo custo e sem riscos as pacientes. 

ARAÚJO et al. (2012) observou que o método Pilates promove o aumento da circulação sanguínea, melhora os desequilíbrios musculares e postural, e também desenvolvendo a vitalidade da mente e corpo reduzindo a dor. 

ARAÚJO, LEITÃO E VENTURA (2010) Através de um estudo com 20 mulheres, onde 10 foram feitos crio e termo, analisaram que o frio foi eficaz reduzindo a intensidade da dor com DP quando comparado ao calor, pelo fato que ambos reduzem a espasticidade, porém o calor é em curto período, em relação a frio durante o estágio agudo da inflamação para aliviar a dor, reduzir o sangramento e reduzindo o edema. 

Outro recurso também muito eficaz foi a acupuntura, witt et al. (2008) relata que o tratamento da dismenorreia primária por meio da acupuntura foi eficaz na analgesia , oferecendo uma qualidade de vida para as mulheres no ciclo menstrual. 

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A dismenorreia primária é um quadro clínico que atinge diversas mulheres no período fértil, as dores intensas causadas por esta condição dificultam a realização de atividades do dia a dia, educacionais e até laborais; o que prejudica a qualidade de vida e o bem-estar. 

O tratamento farmacológico é o mais tradicional, contudo o fisioterapeuta é um profissional habilitado que possui técnicas que podem auxiliar nos cuidados da mulher que sofre com DP, fato que conduziu este estudo. Os protocolos presentes na literatura são numerosos, porém a revisão narrativa encontrou em maior quantidade estudos que discutiam a massoterapia com óleos essenciais, o TENS e a cinesioterapia. 

Os comparativos entre a massoterapia com óleos essenciais e a cinesioterapia, levou a conclusão de que a primeira técnica é mais eficaz. Todavia, não haviam estudos que efetivamente compararam qual protocolo tem maior desempenho quando se tratou do TENS da massoterapia com óleos essenciais, o que pode se afirmar ser um viés do presente estudo. 

O que tornou inconclusivo saber exatamente qual é a melhor técnica, já que ambas são bastante utilidades, possuem um baixo custo, não trazem efeitos colaterais e são absolutamente eficazes na redução das dores causadas pela DP e, além do mais, levaram na diminuição da ingestão de medicamentos para o alívio das cólicas menstruais. 

Sugere-se que sejam realizados ensaios clínicos randomizados controlados comparando as mais diversas técnicas entre si para compreender verdadeiramente qual dos protocolos disponíveis na literatura é o mais efetivo e que melhor trará qualidade de vida às mulheres, já que esta é a maior finalidade do tratamento da DP. 


REFERÊNCIAS 

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1Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Cruzeiro do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Fisioterapia. 
Orientadora de Conteúdo: Profª. Ms. Laila Moussa  
Orientadores Metodológicos: Dr. Elias Porto