USO DA BOLA SUÍÇA PARA ALÍVIO DA DOR NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO: REVISÃO DE LITERATURA

USE OF THE SWISS BALL FOR PAIN RELIEF IN THE PROCESS OF PARTURITION: LITERATURE REVIEW 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7317056


Cleópatra Gomes Pereira1
Orientadora Dra. Thaiana Bezerra Duarte2


Resumo 

Introdução: O parto é um processo fisiológico curto e crítico que ocorre no final da gravidez, levando o bebê a conhecer um novo mundo. Dentre as práticas humanizadas utilizadas no trabalho de parto, destaca-se -se o uso da bola suíça que é uma intervenção não farmacológica muito empregada no processo de parturição. Objetivo: Investigar o emprego da bola suíça como técnica fisioterapêutica utilizada na assistência ao alívio da dor no processo de parturição, visando a diminuição de práticas intervencionistas e promovendo, assim, um trabalho de parto humanizado. Materiais e método: Foi realizada uma revisão de literatura através de uma busca ativa nas bases de dados LILACS, Scielo e PubMed, utilizando as palavras-chave fisioterapia no parto, bola suíça e bola de parto na língua portuguesa, “physiotherapy”, “childbirth “, ” swiss ball ” e ” delivery ball” na língua inglesa e “fisioterapia en el parto”, “pelota suiza” e “pelota de parto” na língua espanhola. Resultados: Como resultado encontraram-se 10 estudos que apontaram redução significativa do escore de dor, além de atuar de modo efetivo na evolução do trabalho de parto. Conclusão: Portanto, baseado nas evidências científicas encontradas na pesquisa, os estudos analisados demonstraram benefícios na utilização desse tipo de intervenção, por isso, recomenda-se a utilização da bola suíça no durante o trabalho de parto. 

Palavras-chave: “Fisioterapia”. “Bola suiça”. “Parturição”. 

Abstract 

Background: Childbirth is a short and critical physiological process that takes place at the end of pregnancy, taking the baby to know a new world. Among the humanized practices used in labor, the use of the Swiss ball stands out, which is a non-pharmacological intervention widely used in the parturition process. Pourpose: To investigate the use of the Swiss ball as a physiotherapeutic technique used to assist with pain relief in the parturition process, aiming to reduce interventionist practices and thus promoting humanized labor.. Methods: A literature review was carried out through an active search in the LILACS, Scielo and PubMed, using the keywords physiotherapy key in childbirth, swiss ball and delivery ball in Portuguese and “physiotherapy”, “childbirth “, ” swiss ball ” and ” delivery ball ” in English and “Physiotherapy in childbirth”, “Swiss ball” and “birth ball” in the Spanish language. Results: As a result, 10 studies were found that showed a significant reduction in pain score, in addition to acting effectively in the progression of labor. Conclusion: Therefore, based on the scientific evidence found in the research, the analyzed studies demonstrated benefits in the use of this type of intervention, therefore, the use of swiss ball in during labor. 

Keywords: “Physiotherapy”. “Swiss ball”. “Parturition”. 

1. INTRODUÇÃO 

O parto é um processo fisiológico curto e crítico que ocorre no final da gravidez, quando o bebê se prepara para conhecer um novo mundo. Nesse momento, o feto faz um caminho para baixo, em direção a bacia e finaliza saindo para o exterior da vulva e da vagina, sendo esta circunstância chamada de expulsão. Há, então, um aumento nas contrações uterinas, o colo se dilata completamente para permitir que o feto possa sair. Essa experiência é vivenciada com dor, angústia, medo e isolamento pela mulher, entretanto um momento importante na vinculação afetiva entre mãe e filho (BRAZ et al, 2014).  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a dor como sendo uma experiência sensorial e emocional desconfortável, relacionada a uma lesão dos tecidos real ou potencial. A parturição representa uma dor é relativa para cada mulher e pode ser influenciada por vários fatores. Ainda que a parturiente receba um ótimo atendimento, o hospital sempre será considerado um local estranho para as gestantes e seus familiares, esse fato pode gerar angústia, insegurança e ansiedade o que pode contribuir para reforçar a dor no momento do processo do parto (COELHO; ROCHA; LIMA, 2018).  

No Brasil, o número de partos registrados entre 2000 e 2018 foi de aproximadamente 56.314.895 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde 51,3% foram partos vaginais e 48,7% partos cesáreos. Na rede particular houve um registro de 80% de partos cesáreos. Dessa forma, o Ministério da Saúde intensificou as políticas públicas com o intuito de reverter esse quadro, criando assim, a Rede Cegonha através da portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011, que tem o intuito de estruturar o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (FREITAS; FEITOZA, 2022).  

Dessa forma, foram estabelecidas práticas para possibilitar um parto viável e seguro, oferecendo segurança a parturiente através do uso de métodos não invasivos e não farmacológicos de alívio da dor, como a deambulação, os exercícios respiratórios, banhos de imersão e/ou aspersão, posições variadas, exercícios de relaxamento, massagens, principalmente lombossacrais, e exercícios na bola suíça. A humanização no parto deve ser adotada por toda a equipe multiprofissional pois, tais práticas podem substituir técnicas invasivas, analgésicas e anestésicas diminuindo, assim, o risco que estas causam tanto pra mãe, quanto para o bebê (HANUN et al, 2017).  

O fisioterapeuta é um dos membros da equipe no cuidado humanizado ao nascimento, a esse profissional compete propiciar à parturiente melhores condições durante o momento da parturição, sempre atentando para a individualidade de cada mulher, visando reduzir os desconfortos musculoesqueléticos, preparando-a para o nascimento do bebê. É através do fisioterapeuta que a parturiente aprende técnicas respiratórias, controle corporal e emocional, além disso sua atuação proporciona redução no tempo do processo do parto, evita o uso de medicações para o alívio da dor, promove o relaxamento e autoconhecimento, além de dar instruções sobre amamentação a futura mãe (BRAS et al, 2014).  

Dentre as práticas humanizadas, a utilização da bola suíça promove uma participação mais ativa da gestante durante o processo de dar à luz, gerando uma melhor percepção da tensão e assegurando assim o relaxamento global da mulher. O uso dela em hospitais que reconhecem a importância da humanização é uma prática comum por ser um recurso custo baixo e durável (GOIS et al, 2020).  

A bola suíça é utilizada para estimular a posição vertical, auxiliar na ampliação da autonomia de diferentes posições, viabilizar o balanço da pelve além de trazer benefícios psicológicos por seu aspecto lúdico. É um recurso de baixo custo financeiro que também é conhecida como bola do nascimento, bola bobath, gym ball, stability balls, birth ball, fit ball, prana ball, pezzi ball, exercise balls, physio-balls, ballness, entre outros termos (SILVA et al, 2011). Foi descoberta em 1989 por fisioterapeutas americanos que observaram seus benefícios na Suíça. No Brasil, ela começou a ser utilizada como um recurso que promove alívio da dor e contrações durante o momento da parturição nas maternidades e centros de parto normal. Entre seus principais benefícios, destacam-se melhora na postura e estabilização, relaxamento pélvico, favorecimento na redução do uso de fármacos, auxílio na adoção de posturas verticais e mobilidade pélvica. Seu uso não se restringe ao parto, pode ser feito desde o início da gestação (SILVA; RIBEIRO; CORRÊA, 2019).  

A bola suíça é uma intervenção não farmacológica muito empregada no processo de parturição. Apesar desse recurso ser muito utilizado no trabalho de parto, os estudos em relação à temática são escassos limitando a possibilidade de embasamento científico para a prática clínica de forma mais abrangente. Além da escassez de evidências, existem muitos questionamentos que envolvem o uso da bola no processo do parto que ainda não foram respondidos. Nesse sentido, justifica-se a importância do estudo proposto, ao mostrar-se relevante a realização de pesquisas que busquem identificar os efeitos da bola suíça na dor das parturientes, considerando que o evento do parto é bastante temido em virtude da dor. Dessa forma, investigações fazem-se necessárias visando o uso de melhores definições de métodos de avaliação, descrevendo-os de maneira mais detalhada, para que seus resultados possam auxiliar na prática clínica baseada em evidências.  

O objetivo desse estudo foi investigar o emprego da bola suíça como técnica fisioterapêutica utilizada na assistência ao alívio da dor no processo de parturição, visando a diminuição de práticas intervencionistas e promovendo, assim, um trabalho de parto humanizado.  

2. MATERIAIS E MÉTODO 

Trata-se de uma revisão de literatura, onde foi realizada uma busca ativa nas bases de dados: Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e National Library of Medicine (PubMed), no período de agosto a outubro de 2022. Foram usados como descritores as palavras-chave: fisioterapia no parto, bola suíça e bola de parto na língua portuguesa; “physiotherapy”, “childbirth “, ” swiss ball ” e ” delivery ball” na língua inglesa; e “fisioterapia en el parto”, “pelota suiza” e “pelota de parto” na língua espanhola. 

 Foram incluídos artigos de intervenção e estudos de caso publicados em periódicos nacionais e internacionais nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola abordando a temática dos efeitos da bola suíça utilizada durante o momento de parturição na dor das parturientes. Como critérios de exclusão foram utilizados: artigos duplicados, não disponíveis na íntegra e publicações anteriores ao ano de 2012. A seleção dos artigos foi realizada em duas etapas, a 1ª etapa pelo título/resumo e a 2ª etapa pelo artigo completo.   

3 RESULTADOS  

Foram identificados 327 estudos nas bases de dados. Inicialmente foram excluídos do estudo 15 artigos, pois estavam duplicados nas bases de dados, 263 estudos foram excluídos porque os títulos e/ou os resumos não condiziam com os descritores destes, 17 foram descartados pelo motivo da não atender aos critérios de inclusão relacionados ao idioma, 5 foram excluídos pelo design do estudo (revisão), 11 não foram utilizados por não demonstrar clareza na intervenção, outros 6 foram excluídos por não demonstrarem resultados referentes a dor. Ao final foram retidos e classificados como relevantes 10 artigos (Figura 1). 

Figura 1. Fluxograma do estudo. 

Na tabela 1 encontram-se os artigos divididos por autor, tipo de estudo, objetivo, metodologia e resultados.  

Tabela 1. Estudos de intervenção selecionados. 

AUTOR/ANO TIPO DE ESTUDO OBJETIVO METODOLOGIA RESULTADOS 
Wang et al, 2020 Estudo randomizado e controlado. Analisar o efeito clínico da suíça em posição livre no parto de primíparas. 110 primíparas divididas em um grupo de observação (bola suíça combinada com enfermagem obstétrica) e um grupo de controle (cuidados de enfermagem convencionais).A bola suíça combinada com o parto em posição livre pode ajudar a primípara a aliviar a dor e melhorar o grau de conforto. 
Cavalcanti et al, 2019  Ensaio clínico randomizado e controlado.Avaliar o efeito do banho quente de chuveiro e exercício perineal com bola suíça isolados e de forma combinada. 128 parturientes alocadas em três grupos de terapias, banho, bola suíça, e os dois combinados. Houve aumento no escore de dor, na dilatação cervical e nas contrações uterinas e redução da ansiedade e do tempo de trabalho de parto em todos os grupos.
Gallo et al, 2018 Ensaio randomizado cego. Avaliar a aplicação sequencial de intervenções não farmacológicas no alívio da dor do parto. 80 mulheres alocadas em grupo experimental – bola suíça, massagem lombossacral e banho quente – e grupo controle – cuidados usuais na maternidade. Houve redução significativa na dor do parto. 
Taavoni et al, 2016 Ensaio clínico randomizado. Investigar os efeitos de dois métodos não farmacológicos, como a bola suíça e a terapia térmica no alívio da dor no trabalho de parto. 90 primíparas foram divididas em 3 grupos: grupo bola suíça; grupo calor; e grupo controle. Tanto a intervenção com a bola suíça e terapia térmica se mostraram benéficas na redução da dor. 
Gallo et al, 2014 Ensaio clínico randomizado e controlado. Avaliar o efeito da bola suíça no alívio da dor e na duração da fase ativa do trabalho de parto em primigestas. 40 primigestas divididas em grupo controle e grupo bola suíça que realizaram exercícios de mobilidade pélvica durante 30 minutos. Foi observada redução significativa da dor no grupo de intervenção. 
Barbieri et al, 2013 Ensaio clínico experimental ou de intervenção, randomizado. Avaliar a utilização do banho quente de aspersão e exercícios perineais realizados com bola suíça durante o trabalho. As parturientes do grupo 1 receberam banho de aspersão com água quente, as do grupo 2 exercício perineal com bola suíça e as do grupo 3 ambas as intervenções banho e bola simultaneamente.  As intervenções do estudo foram associadas a diminuição significativa da dor. 
Leung et al, 2013 Ensaio clínico randomizado controlado. Avaliar a eficácia de um programa de exercícios com bola suíça realizado por fisioterapeutas no alívio da dor. Exercício na bola suíça por 30 minutos. O exercício com bola suíça pode ser um meio alternativo de aliviar a dor lombar e a dor do trabalho de parto. 
Jamas; Hoga; Reberte; 2013 Estudo transversal. Explorar a experiência relativa à assistência ao parto recebida em um centro de parto normal. Os dados foram obtidos mediante entrevistas individuais que incluiu vários aspectos. A intervenção foi feita através do uso de banho quente, bola suíça e massagem. As mulheres receberam diversos cuidados durante o trabalho de parto. Quanto aos exercícios na bola suíça, houve satisfação, pois perceberam que esses exercícios contribuíram para acelerar o parto e aliviar a dor. 
Miquelutti; Cecatti; Makuch, 2013 Estudo transversal. relatar a experiência do trabalho de parto descrita por mulheres nullíparas que participaram e que não participaram de um Programa sistemático de Preparação ao Nascimento (BPP). Entrevista semiestruturada foi realizada com onze mulheres que participaram de um BPP e que utilizaram durante o trabalho de parto exercícios de respiração, exercícios na bola suíça, massagem, banhos e posições verticais para controlar a dor. As mulheres expressaram satisfação no controle da dor e na facilitação do parto. 
Oliveira; Bonilha; Telles; 2012  Estudo de caso. Conhecer as indicações e repercussões do uso da bola suíça para mulheres e  enfermeiras durante o processo de parturição.  Foram observadas e entrevistadas dezesseis mulheres que utilizaram a bola suíça e observadas e entrevistadas seis enfermeiras que indicaram o uso da bola para essas mulheres. Todas as mulheres relataram alívio da dor.  

As idades entre os estudos variaram entre 15 e 42 anos, a quantidade de mulheres incluídas nos estudos esteve entre 11 e 203 mulheres. Com relação aos protocolos realizados com a bola suíça, os métodos mais utilizados durante a parturição ocorreram quando a parturiente alcançou cerca de 4 cm de dilatação cervical. Foi feita a estimulação da movimentação da parturiente através da mobilização pélvica e do agachamento pela utilização na posição sentada. Houve uma associação do uso da bola suíça com terapia térmica, banho quente de chuveiro, exercícios de respiração e massagem. Foi observado a redução da dor na maioria dos estudos, outro efeito também observado foi a redução do tempo de trabalho de parto.  

Com relação aos métodos de avaliação da dor, Taavoni et al. (2016), Gallo et al. (2018), Cavalcanti et al. (2019) e Barbieri et al. (2013) utilizaram a Escala Visual Analógica. Também foram utilizadas a Escala Categórica Numérica. 

A maioria dos estudos utilizaram a  Escala Visual Analógica (EVA) é um exemplo de método usado para mensurar a forma de perceber a dor, é formada por uma linha reta, que pode variar de tamanho, e traduz uma qualidade contínua de intensidade e informações verbais. É de fácil uso e é um instrumento muito utilizado na prática clínica (PESSI; COSTA; PISSAIA, 2018). 

4 DISCUSSÃO 

Como já exposto, o estudo em questão se dedicou à pesquisa do uso da bola suíça como forma de intervenção não farmacológica para a dor no momento do trabalho de parto. Com isso, os achados da presente pesquisa serão discutidos a seguir, expondo os principais efeitos da utilização da bola suíça pelas parturientes na diminuição da dor no processo do parto.   

Ainda que não exista um consenso a respeito da influência de terapias não farmacológicas no tempo de duração do processo de parto, a sua redução contribui para minimizar o tempo de exposição à dor e ao estresse para a parturiente, favorecendo maior conforto e participação mais ativa da mulher no nesse processo (CAVALCANTI et al, 2019). Nesse sentido, a bola suíça apresenta grande contribuição. Conforme os estudos de Leung et al (2013), Wang et al (2020) e Cavalcanti et al (2019) seu uso contribui para reduzir a duração do trabalho de parto, proporcionado também, menor período de dor em virtude da parturição.   

Os achados de um estudo realizado por Silva et al. (2011) revelam que o emprego da bola suíça proporciona um menor quadro álgico, facilita a circulação materno fetal, impulsiona o aumento das contrações uterinas, diminui o tempo de duração do processo do parto, contribui para a descida e encaixe do feto além de reduzir as taxas de episiotomia e trauma perineal.   

Com relação ao tempo da aplicação da bola suíça, 5 estudos (CAVALCANTE et al 2019; BARBIERI et al ,2013; LEUNG et al ,2013; TAAVONI et al, 2016; GALLO et al, 2014) relataram utilizar 30 minutos de exercícios com esse método. Os demais não especificaram o tempo de intervenção.   

Ao realizar um estudo clínico experimental ou de intervenção, randomizado, Barbieri et al (2013) avaliaram de que forma a dor era assimilada no período do trabalho de parto após a realização, de maneira isolada e combinada, de exercícios perineais e do banho quente de aspersão feitos juntamente com a bola suíça. Participaram desse estudo 15 parturientes de baixo risco obstétrico que formaram três grupos com cinco pacientes de forma aleatória. As parturientes do primeiro grupo receberam como intervenção o banho de aspersão realizado com água quente, as do segundo grupo fizeram exercícios perineais utilizando a bola suíça e as do grupo 3 ambas as intervenções, bola suíça juntamente com o banho ao mesmo tempo. Foi verificado que, quando a parturiente recebiam a associação do banho quente de aspersão sentada sobre a bola suíça resultou diminuição significativa do score de dor entre antes e após a terapia. 

  Cavalcanti et al (2019) realizaram uma intervenção com 128 mulheres com o mesmo objetivo que Barbieri et al (2013), onde fizeram uso da bola suíça para realizar exercícios perineais nas parturientes de forma isolada, ou associada com banho, durante a intervenção a parturiente sentava sobre a bola, executando exercícios perineais por 30 minutos, no momento do banho quente de aspersão. Foi possível observar que o tempo que passou entre a intervenção e o nascimento foi relativamente menor no grupo das terapias combinadas, consequentemente houve abreviação no tempo de exposição à dor e ao estresse inerentes a esse período.   

A aplicação do banho de aspersão consiste na água morna colocada sobre o dorso da parturiente e tem a capacidade de reduzir de forma razoável, a sensação dolorosa, agindo principalmente na lombalgia que é uma das queixas mais recorrentes das mulheres durante o parto. O emprego da bola suíça auxilia no controle da tensão e do relaxamento e estimula a posição vertical. Essas duas técnicas devem ser empregadas no primeiro estágio do trabalho de parto (SILVA; LARA, 2018).   

As pesquisas de Jamas, Hoga e Reberte (2013) e Oliveira, Bonilha e Telles (2012) utilizaram entrevistas como método para avaliar o uso da bola suíça no momento do processo de parturição. Nos achados de Jamas, Hoga e Reberte (2013), foram utilizadas intervenções combinadas (deambulação, bola de parto, banho de aspersão) sendo possível verificar, através das respostas das parturientes, que a bola suíça foi eficaz para diminuir a dor durante o trabalho de parto. O estudo de Oliveira, Bonilha e Telles (2012), utilizou observação naturalística além das entrevistas, envolvendo parturientes e enfermeiras, constatando que a bola suíça promoveu redução no quadro álgico e aceleração no processo do parto.   

Conforme explica Shen et al (2021) a bola suíça influencia no relaxamento dos músculos reduzindo a resistência do tecido mole do assoalho pélvico e aumentando a conformidade do feto no canal de nascimento para possibilitar o declínio e rotação da cabeça fetal na pelve fazendo com que a conexão entre a cabeça fetal e a pelve seja boa. Dessa forma, a parte exposta pode realizar compressão no orifício uterino para flexionar e gerar a contração uterina, que propicia a dilatação cervical e parto.   

Gallo et al (2014) constataram a eficácia da intervenção fisioterápica na diminuição da dor em mulheres primigestas em trabalho de parto por meio da bola suíça, onde a amostra foi constituída de 40 primigestas divididas em dois grupos (grupo controle = 20; grupo bola = 20). A avaliação da dor foi feita através da escala categórica numérica (ECN). No grupo bola foram realizados exercícios de mobilidade pélvica na bola, exercícios ativos de retroversão e anteversão pélvica, lateralização, circundução e propulsão. Wang et al (2020) também dividiu sua amostra (110 parturientes) em dois grupos, grupo controle e grupo bola. No primeiro foram utilizados somente procedimentos comuns da maternidade, no segundo as mulheres fizeram uso da bola suíça por 30 minutos, mobilizando a pelve na bola além, dos procedimentos comuns da maternidade. Os resultados de ambos mostraram que a bola suíça foi um recurso efetivo para aliviar a dor das parturientes.   

Sendo assim, a aplicação da bola suíça no momento do trabalho de parto, tem potencial benéfico para diminuir a dor, proporcionando que sua experiência seja mais satisfatória para a mulher. Assim como mostrado por Gallo et al (2018), exercícios que utilizam a bola suíça no momento da parturição auxiliam na evolução eficiente da dilatação, promovem alívio da dor e facilitam a descida fetal. Ainda no estudo de Gallo et al (2018), onde 80 mulheres alocadas em dois grupos: experimental com intervenções associando bola suíça, massagem lombossacral e banho quente; controle com cuidados usuais na maternidade, demonstraram que associadas foi benéfico para as parturientes do grupo experimental que obtiveram redução na intensidade da dor, redução no uso de analgesias e evolução mais rápida da dilatação quando comparado em relação àquelas do grupo controle.   

Silva (2017) explica que técnica fisioterapêutica de massagem promove o alívio da ansiedade e reduz a sensação de dor e também do estresse, sua maior eficácia é observada quando é aplicada na fase ativa do processo de parto.   

Em outro estudo, Taavoni et al (2016), demonstrou resultados semelhantes na eficácia para diminuir a dor, contudo compara o emprego da bola suíça com o uso da termoterapia. As 90 parturientes que participaram do estudo foram divididas em três grupos (bola, terapia de calor e controle). A termoterapia consistiu na aplicação de aplicou pacotes quentes, com toalhas encharcadas com água fervente onde a temperatura utilizada foi de aproximadamente 45 °C, na área sacral e perineal das gestantes por pelo menos 30 minutos. O uso da bola foi feito durante 30 minutos. Os resultados apontaram que os dois grupos experimentais (bola e terapia de calor) tiveram escores de dor de parto mais baixos em comparação com o grupo controle.   

Dentre esses, a termoterapia é utilizada para promover hipertermia, por meio da aplicação de calor superficial, elevando a temperatura subcutânea por meio da aplicação de calor superficial, fazendo com que a musculatura lisa relaxe, liberando assim substâncias vasodilatadoras que estimulam os receptores irritantes a despertar o bloqueio da dor (TEODORO; OLIVEIRA; MIRANDA, 2021).   

O estudo de Miquelutti, Cecatti e Makuch (2013) consistiu em um programa Sistemático de Preparação ao Nascimento (PSPN) onde receberam várias instruções desde o pré-natal. No momento do processo de parto, as 11 mulheres incluídas na investigação relataram a aplicação de técnicas de respiração, exercícios com bola suíça, caminhada, massagem e banhos para controlar a dor. O nível de satisfação das parturientes foi excelente.   

A caminhada ou deambulação, conforme com Silva (2017) é uma intervenção que auxilia na redução do tempo do trabalho de parto e acelera a dilatação do colo cervical. Quanto à respiração, Nunes e Souza (2017) explicam que o emprego de técnicas de respiração melhora a oxigenação para a mãe e para o feto, além disso reduz a ansiedade das parturientes e desvia sua atenção no momento da dor para as instruções acerca da respiração. 

5 CONCLUSÃO 

A atuação de profissionais da fisioterapia no atendimento das parturientes tem se mostrado muito benéfica, fazendo com que boas práticas de humanização e protagonismo sejam parte importante desse momento na vida das mulheres. Os achados do estudo permitem concluir que, a bola suíça é um instrumento que apresenta evidências positivas em relação à dor no momento do parto. Além disso, outros benefícios também foram observados com o uso desse método de intervenção, como a redução do tempo de duração do parto e auxílio na descida fetal. 

Dado o exposto, acredita-se que o uso não farmacológico da bola suíça pelas parturientes deve ser adotado na assessoria ao parto, pois, seu uso promove alívio da dor, sensação de bem estar, e como recurso lúdico, auxilia na tranquilidade no processo de parturição. Portanto, baseado nas evidências científicas encontradas na pesquisa, os estudos analisados demonstraram benefícios na utilização desse tipo de intervenção, portanto recomenda-se o uso da bola suíça no momento do trabalho de parto. 


REFERÊNCIAS  

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1Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
Artigo Científico apresentado como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Fisioterapia pelo curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.  

2Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.