BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA EM PESSOAS COM ESTOMIAS INTESTINAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7317281


Bárbara Neilly Ferreira dos Santos1
Samya Bonifácio Dantas dos Santos
Júlia da Costa Araújo Ribeiro


1 RESUMO

  Objetivo: alcançar a maior independência possível para cada pessoa e com a máxima adaptação à sua nova condição.  Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, com base no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and  Meta-Analyses. A busca foi baseada nas bases de dados Pubmed, PeDro e LILACS, por meio dos seguintes descritores: Ostomia’, ‘Colostomia’, ‘Bolsa de Colostomia’, ‘Ileostomia com tubo’, ‘Estomia’ , ‘Ileostomia em alça’, ‘Sacos Cólicos’, ‘Bolsas do Colón, ‘ Bolsa de Kock’, ‘Reservatórios Ileais’- em inglês e português, sem restrição quanto o ano de publicação. Foram incuidos artigos com amostra de indivíduos com constipação intestinal e problemas digestivos.   Resultados: Os 11 artigos incluídos revelam heterogeneidade nos protocolos de lesão intestinal, que podem incluir a cinesioterapia para o fortalecimento pélvico e eletroterapia na região lesionada. Conclusão: Apesar de não ser possível estabelecer parâmetros rigorosos de fisioterapia por meio de exercícios, pela escassez e qualidade de estudos que relatam da fisioterapia em pessoas com estomias intestinais, foram observados alterações positivas nas variáveis função muscular, em pessoas com fissura intestinal e a melhora da qualidade de vida.

DESCRITORES: Ostomia intestinal, bolsa coletora, obstrução intestinal,colostomia, ileostomia

1 ABSTRACT

  Objective: to achieve the greatest possible independence for each person and with the maximum adaptation to their new condition. Methods: A systematic literature review was performed, based on the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses. The search was based on Pubmed, PeDro and LILACS databases, using the following descriptors: Ostomy’, ‘Colostomy’, ‘Colostomy bag’, ‘Ileostomy with tube’, ‘Stomy’ , ‘Loop ileostomy’, ‘ Colic Bags’, ‘Bolsas do Colón, ‘Bolsa de Kock’, ‘Ileal Reservoirs’ – in English and Portuguese, without restriction as to the year of publication. Articles with a sample of individuals with constipation and digestive problems were included. Results: The 11 articles included reveal heterogeneity in intestinal injury protocols, which may include kinesiotherapy for pelvic strengthening and electrotherapy in the injured region. Conclusion: Although it is not possible to establish rigorous parameters of physical therapy through exercises, due to the scarcity and quality of studies that report physical therapy in people with intestinal ostomies, positive changes were observed in the variables muscle function, in people with intestinal fissure and the improvement of quality of life.

DESCRIPTORS: Intestinal ostomy, collection bag, intestinal obstruction, colostomy, ileostomy

2 INTRODUÇÃO

  A estomia intestinal é um processo cirúrgico na região abdominal, localizado no intestino grosso ou intestino delgado, podendo classificar em colostomia (intestino grosso) e ileostomia (intestino delgado).¹ A colostomia pode ser realizada em várias partes do intestino grosso, como no ascendente, transverso e descendente, bem como no sigmoide. ¹ A ileostomia que é localizado no final do intestino delgado, faz com que as fezes sejam líquidas e ambas as estomias intestinais são coletadas em uma bolsa plástica adaptada à pele.¹ 

  A ostomia intestinal é mais comum em casos de câncer, malformações congênitas (ânus imperfurado, mielomeningocele) e traumatismo(ferimento por armas de fogo ou brancas, acidente automobilístico), porém, existem vários outros fatores que proporciona o uso da ostomia, como em casos com bloqueio ou ausente do canal anal, doenças inflamatórias intestinais(retocolite ulcerativa, doença de Crohn), infecções graves, lesão do cólon e reto e outras.² Por isso, é realizada por qualquer motivo que impede a passagem das fezes pelo intestino grosso ou para proteger a junção de duas partes do intestino, no local do problema.²     

  O paciente que passa pelo processo cirúrgico para começar a usar a ileostomia ou a colostomia acaba perdendo o controle sobre a eliminação das fezes e gases, por isso é utilizado a bolsa coletora para armazenar as fezes.² Neste caso, as fezes e gases saem pela estomia, localizada na superfície do abdômen e coletadas pelos coletores adaptados na pele.² 

  A história das ostomias remonta inclusive ao tempo da Bíblia, na qual Praxógoras de Kos (em 350 aC) teria realizado em casos de trauma abdominal “e Aod estendendo sua mão esquerda tirou a adaga e lha cravou no ventre (de Eglon, rei de Moab) com tanta força que os copos entraram com a folha pela ferida e logo os excrementos do ventre surgiram pela ferida”.3 É a partir do início do século XVIII, que os relatos de colostomias se tornam mais frequentes.3

  Em 1709 um cirurgião alemão, Lorenz Heister, teria realizado operações de enterostomia em soldados que apresentavam ferimentos intestinais.3 Contudo, posteriormente descobriu-se que a técnica de Heister consistia na fixação das feridas à parede abdominal e não na realização de verdadeiras ostomias.3 Em 1776, Pillore realizou com sucesso uma cecostomia inguinal.3 Em 1783, um cirurgião de Napoleão, Antoine Dubois, relata a realização de uma colostomia em uma criança de três dias nascida com imperfuração anal.3

  Apesar de nos últimos anos do século XIX, os princípios básicos para a realização das colostomias já estivessem estabelecidos, no início da década de 1950, a designada “era moderna das ostomias”, são alcançados novos conhecimentos em especial através dos trabalhos de Patey (enfatizando a sutura colo-cutânea) e de Butler (excisão combinada do reto). Em 1943, é realizada a primeira proctocolectomia com ileostomia definitiva em uma jovem também acometida de colite ulcerativa, por Gavin Miller.3

  A partir de meados do século XX até aos dias de hoje, ocorreu uma grande evolução nas técnicas cirúrgicas utilizadas na realização de ostomias e nos equipamentos e dispositivos disponíveis.3 É possível encontrar uma grande diversidade de placas e bolsas coletoras, que visam adaptar-se cada vez mais às necessidades da pessoa ostomizada.3

  A par da evolução técnica e tecnológica, regista-se, por parte de diversos autores, citados no decorrer deste trabalho, uma crescente preocupação com o processo de viver da pessoa ostomizada, com ênfase nos aspectos psicossociais.3

  Em homenagem à fundação da Sociedade Brasileira dos Ostomizados (ABRASO), em 1985, a Lei número 11.506/2007 definiu o dia 16 de novembro em torno de um ideal: deixar de lado o preconceito contra as pessoas que utilizam o procedimento da Ostomia, hoje a quantidade de pacientes ostomizados no brasil estima-se em cerca de 50.000 pessoas.4

  A data marca também a conquista da definição da ostomia como deficiência física no Decreto 5.296, de 02 de dezembro de 2004, permitindo às pessoas ostomizadas todos os benefícios que possuem as pessoas com deficiência no Brasil.4

  De lá para cá, esses pacientes ganharam um importante instrumento: a Portaria 400, do Ministério da Saúde, que dita a implantação de Serviços de Atenção a Saúde das Pessoas Ostomizadas em todo o território brasileiro, orientando estados e municípios para o atendimento a esses pacientes. No ano de 2005, contemplando iniciativa da ABRASO e da Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST), foi encaminhada ao Ministério da Saúde uma proposta para a edição de Portaria, regulamentando a implantação de Serviços de Atenção a Saúde das Pessoas Ostomizadas em todo o território brasileiro.4 Em 13 de fevereiro de 2007, essa proposta foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS). E em 2009, no Dia Nacional do Ostomizado, a Portaria foi regulamentada.4

  O portador de uma ostomia muitas vezes sofre e um dos principais motivos desse sofrimento pós cirúrgico é a  própria aceitação, passando a entender os desafios e aceitar a sua nova condição de vida. 

  A reabilitação nesses casos são essenciais é o processo que visa alcançar e manter as condições físicas, sensoriais, intelectuais, psicológicas e sociais em níveis funcionais.5 A reabilitação da pessoa com estomia intestinal tem sido associada mais ao aspecto físico, porém, há necessidade de planejar o cuidado integrando o cuidado físico com os aspectos psicológicos, culturais, laborais, sociais e sexuais, pois o paciente com ostomia passa a ter preocupações com alto aceitação, trazendo problemas psicológicos, afastamento social e entre outros.5  Alguns pacientes temem que seu parceiro sexual não os ache atraentes por causa da bolsa de ostomia.5 Um relacionamento forte, tempo, paciência e grupos de apoio ajudam a resolver esses problemas.

  Após o procedimento cirúrgico, a pessoa com estomia intestinal apresenta alterações em seu corpo saudável.5 Podem desenvolver sentimentos como vergonha, insegurança, vulnerabilidade e não aceitação de sua nova condição.5 A experiência de autocuidado dessas pessoas é influenciada pelo apoio familiar, pessoas significativas, bem como apoio especializado dos profissionais de saúde.5 Espera-se que este Guia de Atenção à Saúde da Pessoa com Ostomia possa orientar o trabalho das equipes multiprofissionais em todas as etapas do cuidado.5

  As pessoas com estomias passam por mudanças que interferem negativamente na imagem corporal e autoestima, afetando também a qualidade de vida, e que requerem mecanismos adaptativos, os quais ocorrem de forma individual, influenciados por diversos fatores, como educação em saúde e disposição para os cuidados com o corpo, por isso é importante que a rede de apoio, sobretudo os profissionais de saúde, compreendam o indivíduo de forma integral, de modo a considerar aspectos individuais, sociais, econômicos e culturais com a finalidade de alcançar a saúde integral dessa população.6

  A obstrução intestinal é uma obstrução mecânica significativa ou bloqueio completo da passagem do conteúdo pelo intestino devido à patologia que causa o bloqueio do intestino. A obstrução mecânica se divide em obstrução do intestino delgado (incluindo o duodeno) e obstrução do intestino grosso. A obstrução pode ser parcial ou completa. Aproximadamente 85% das obstruções parciais do intestino delgado desaparecem com tratamento não cirúrgico, enquanto 85% das obstruções completas do intestino delgado requerem cirurgia.7 Na obstrução intestinal simples, o bloqueio ocorre sem comprometimento vascular. Alimentos e líquidos ingeridos, secreções digestivas e gás se acumulam acima da obstrução.7 O intestino proximal distende-se e o distal sofre colapso.7 As funções secretoras e absortivas da mucosa estão baixas e a parede intestinal se torna edemaciada e congesta.7  A distensão intestinal significativa é autoperpetuada e progressiva, intensificando o peristaltismo e os distúrbios secretórios e aumentando os riscos de desidratação e progressão para obstrução por estrangulamento.

  A obstrução por estrangulamento consiste em obstrução com comprometimento do fluxo sanguíneo; ela ocorre em cerca de 25% dos pacientes com obstrução do intestino delgado.7 Com frequência, associa-se à presença de hérnia, vólvulo e intussuscepção.7  A obstrução por estrangulamento pode progredir para infarto e gangrena em tempo tão curto quanto 6 h.7 A obstrução venosa ocorre primeiro, seguida de oclusão arterial, resultando em rápida isquemia da parede intestinal.7 Esse intestino isquêmico se torna edemaciado e infartado, causando gangrena e perfuração.7 Na obstrução do intestino grosso, o estrangulamento é raro (exceto com o vólvulo).7 Dor intensa e contínua sugere estrangulamento. 7

  Na ausência de estrangulamento, o abdome não é doloroso.7 O diagnóstico é clínico e confirmado por radiografias abdominais.7 O tratamento consiste em reanimação volêmica, aspiração nasogástrica e, em muitos casos de obstrução completa, cirurgia.7

Atualmente, a Fisioterapia pode ser definida como a ciência que estuda, diagnostica, previne e recupera pacientes com distúrbios funcionais em órgãos e sistemas do corpo humano, fisioterapia é uma área que abrange e cuida de diversas áreas da saúde e vários tipos de deficiência.8

  Os profissionais de saúde que participam no planejamento e o atendimento das pessoas a serem submetidas a uma estomia devem trabalhar de forma integrada, contemplando neste cuidado os vários aspectos presentes desde o período pré-operatório, pós-operatório imediato e imediato, o momento da alta e pós-operatório tardio com acompanhamento ambulatorial, independente se a estomia for de caráter temporário ou definitivo.9

  No contexto de saúde, a fisioterapia pélvica atua na prevenção de disfunções do assoalho pélvico, pois atua com patologias geradoras de déficit de qualidade de vida, onde se estima que a Incontinência Fecal (IF) representa 7% dessa incidência. 10 A IF é o termo utilizado para a perda involuntária de material fecal líquida, pastosa ou sólida, sendo caracterizada como a incapacidade para manter o controle fisiológico do conteúdo intestinal em local e tempo socialmente adequados.11 A Fisioterapia também atua na IF com a eletroterapia através da estimulação percutânea do nervo tibial (corrente elétrica de baixa frequência ao nervo tibial posterior), realizada na pele, atrás do maléolo medial do tornozelo, onde as fibras aferentes transmitem os impulsos ao plexo nervoso sagrado, providenciando uma via de neuromodulação do reto e esfíncteres anais.11

  Por outro lado, é importante buscar novas tecnologias educacionais para assegurar o ensino do autocuidado procedimental, otimizando o tempo de cuidado e vínculo enfermeiro-paciente, a fim de estabelecer a demanda individual na consulta de enfermagem, o que resultará no alcance do cuidado integral a essa clientela.12 No núcleo “Assistência interdisciplinar necessária às pessoas com estomia intestinal”, as dificuldades enfrentadas por elas dimensionaram a demanda de uma assistência especializada, com um planejamento de atendimento das necessidades individuais durante o tratamento cirúrgico e seguimento ambulatorial.13 Os familiares devem ser incluídos nesse planejamento, pois são fundamentais na recuperação física e psicossocial da pessoa com estomia, auxiliando-a nos cuidados com a estomia e no manejo do equipamento coletor no domicílio.13 

  Dependendo do tipo de ostomia, pode ser necessário alterar o que você come para controlar o número e a consistência dos movimentos intestinais.14 Você aprenderá a monitorar o efeito da comida na função da ostomia.14 Após um período, muitos pacientes são capazes de introduzir lentamente os alimentos de volta em suas dietas.14 No controle dos movimentos intestinais, auxilia mastigar bem os alimentos, ingerir muitos líquidos e evitar alguns alimentos ricos em fibras, como vegetais de folhas verdes. Após a recuperação da cirurgia, a maioria dos pacientes não tem limitações alimentares.14 

  Para o fisioterapeuta, tratar o paciente representa, muitas vezes, uma rotina: ele já está familiarizado com as doenças, seus sintomas, as reações dos pacientes e as restrições do tratamento, o que o leva a preocupar-se somente com a solução da queixa física do paciente.15 Expectativas e emoções diante da limitação física e do próprio tratamento não são, comumente, consideradas relevantes pelo profissional para o sucesso do tratamento.15 

  É preciso considerar que a experiência de estar próximo ao sofrimento de outros sensibiliza os profissionais que, por vezes, se recusam a conhecer as circunstâncias de vida do paciente, evitando o confronto com seus sentimentos, isso talvez pela crença de que sua formação profissional não abarque esses possíveis aspectos da vida humana (Boesch, 1977), o que é legitimado, em parte, pela estrutura curricular dos cursos de formação profissional.15 Existe também a ideia – compartilhada por pacientes, familiares e profissionais – de que o afastamento emocional é facilitador da objetividade que acompanha a competência para a cura.15 

  Assim, conforme Boesch, o profissional desenvolve mecanismos de defesa que, dentre outras consequências, tenderão a substituir o indivíduo pelo caso clínico, convertendo a relação fisioterapeuta paciente em mais uma experiência técnica, reforçando o pensamento dicotômico corpomente e favorecendo o caráter rotineiro da atividade do profissional, ao evitar que ele se veja, a cada contexto socioemocional dos diversos pacientes, diante do desconhecido, do imprevisível, para o qual ele não se sente preparado.15

  Sendo assim, o objetivo dessa Revisão Sistemática de Literatura (RSL) consiste em descrever  técnicas  terapêuticas para tratamento de obstrução intestinal e fortalecimento da musculatura do intestino.

3 DESENVOLVIMENTO

3.1 Metodologia 

  Foi realizada uma revisão sistemática da literatura (RSL) baseada no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), organizada e conduzida de forma independente por três pesquisadores experientes no tema- Estomias Intestinais.

  Baseando- se na busca eletrônica realizada por três pesquisadores com experiência no tema, de forma independente havendo um avaliador a disposição em caso de divergências entre os resultados. Essa etapa abrangeu a biblioteca da literatura latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) , Acervo+ index base, Scientific Electronic Libary (SciELO), Physiotherapy Evidence Database (PEDRo), Medical Literatury Analysis And Ritrieval Sistem (MedLine/PubMed). Sendo proposto descritores em Espanhol, Inglês e Português, a princípio de acordo com a lista de descritores em ciência da saúde (DeCS) e acrescentado algumas palavras chaves no artigo da temática. ‘Ostomia’, ‘Colostomia’, ‘Bolsa de Colostomia’, ‘Ileostomia com tubo’, ‘Estomia’ , ‘ Ileostomia em alça’, ‘Sacos Cólicos’, ‘Bolsas do Colón, ‘ Bolsa de Kock’, ‘Reservatórios Ileais’. No idioma em inglês foram comtemplados os termos ‘Ostomy’, ‘Colostomy’, ‘Colostomy Bag’, ‘Ileostomy with Tube’, ‘Stomy’ , ‘Loop Ileostomy’, ‘Colon Bags’, ‘Colon Bags, ‘Kock Bag’, ‘Ileal Reservoirs’ . No idioma em Espanhol foram comtemplados os termos ‘Ostomía’, ‘Colostomía’, ‘Bolsa de colostomía’, ‘Ileostomía con tubo’, ‘Estoma’, ‘Ileostomía en asa’, ‘Bolsas de colon’, ‘Bolsas de colon, ‘Bolsa Kock’, ‘Reservorios ileales’. Averiguação de busca foi elabora a partir da combinação dos operadores OR e AND, conforme as caracteriza de cada base de dados. Na base PubMed foi realizada a pesquisa no campo ‘Pesquisa Avançada’, na LILACS também foi realizada a pesquisa  no campo de ‘Pesquisa Avançada’, na PEDRo e Acervo+ também foi realizada a pesquisa  no campo ‘Pesquisa Simples’. Na SciELO foi realizada a pesquisa no campo de ‘Pesquisa Avançada’. A busca foi realizada no período Abril a Dezembro. 

3.2 Resultados

  No quadro 1 mostra-se 5 artigos de estudos realizados, sobre à busca, seleção, elegibilidade e inclusão das evidencias científica relacionadas aos benefícios da reabilitação em pessoas com estomias intestinais ou obstrução intestinal  pode ser visualizada no fluxograma. 

Conforme as estratégias estabelecidas  496  arquivos foram  encontrados na base LILACS, 127  na SciELO, nenhum em PEDRo, 9.259  na MedLine/PubMed, totalizando 9.884 achados.  Enquanto a busca manual, não foi  encontrada. Posteriormente, foi  investigada a existência de duplicidade entre os achados, sendo nenhum encontrados entre as bases. Ao final 86 artigos foram considerados aparentemente relacionadas a pergunta de pesquisa, contudo 9592  não foram  selecionados em razão dos critérios de elegibilidade. 

  A razão para essa exclusão foi  o fato de que, apesar da estratégia de busca utilizada tentar selecionar documentos potencialmente elegíveis, muitas evidencias  não   atendem aos critérios de inclusão. Por exemplo, artigos com ensaios realizados em animais foram eliminados em decorrência dessa revisão sistemática, incluir pesquisas restritas à amostra composta por humanos. Quando das  9.506 evidencias incluídas para a avaliação plena, 9592 foram  excluídos em razão a incompatibilidade com os critérios de elegibilidade citados no fluxograma da figura 1. 

  Concluído o processo de elegibilidade 5 artigos foram incluídos para a sumarização dos dados e avaliação da quantidade metodológica. Neste sentido as evidencias extraídas contem artigos no idioma inglês, publicados entre os anos 2012 e 2021 e majoritariamente com desenho observacional. Estes artigos apresentam heterogênea amostra em relação ao nível abdominal e classificação da lesão intestinal , tempo de lesão, gênero e idade. Em relação aos protocolos de avaliação e intervenção fisioterapêutica por meio de estimulação elétrica de superfície e técnicas fisioterapeuticas também foi constatada variabilidade. 

Estudo AmostraVariáveis AvaliadasParâmetrosDesfecho
Ministério da Saúde Brasília DF (2021) (5)Foram coletados um serie de publicações feita pelo ministério da saúde e incluído alguns artigos científicos. Promover orientações aos profissionais de saúde, para a atenção com pessoas com estomias, com foco no cuidado e na reabilitação.Modalidades: Foram coletadas informações pela Rede de Atenção a Saúde (RAS) e pelo Sistema Único de Saúde (SUS).A reabilitação e a integração social são importantes fatores definidores para se reestabelecer a saúde com um bom prognóstico, sendo trabalhados nas consultas multiprofissionais junto à família e aos cuidadores, que desempenham importante papel no cuidado à pessoa com estomia desde o momento inicial até à manutenção adequada e aos cuidados gerais com as estomias.
Diniz et al.(2021) (6) Foram adicionados 152 sujeitos com estomias.Classificação: Idade igual ou superior a 18 anos.Avaliar a qualidade de vida de pessoas com estomias intestinal. Modalidade: Foi realizado um estudo transversal e analítico e utilizou o instrumento COH-QOL-OQ, para avaliar a qualidade de vida.A avaliação da qualidade da vida de pessoas com estoma intestinal apresentou menores escores nas dimensões físicas, sociais e psicológicas
Barroso et al.(2018) (11)Foram coletados artigos científicos publicados entre 2015 e 2016 Avaliar os conhecimentos atuais sobre incontinência fecal, e o tratamento fisioterapêutico utilizado. Modalidade: artigos sobre abordagem fisioterapêutica na incontinência fecal.A incontinência fecal constitui grave disfunção, atingindo o indivíduo nas dimensões físico, social e emocional, devendo, portanto, seu tratamento ser uma abordagem multidisciplinar. A intervenção fisioterapêutica é imprescindível nessa equipe, uma vez que objetiva a melhora da função anorretal.
Sasaki et al. (2020) (13Foram adicionados 9 sujeitos com estomia intestinal.Classificação: Com média de idade de 60 anosExplicar a experiência de autocuidado de pessoas com estomia intestinal.   Modalidade: Utilizou-se o referencial do Modelo Social da Deficiência para a interpretação da experiência do autocuidado com a estomia intestinal e do manejo do equipamento coletor dos participantes deste estudo.As pessoas com estomia intestinal por doença crônica colorretal necessitam de uma assistência da equipe interdisciplinar para o aprendizado do autocuidado, considerando-se as suas experiências.
Canto CREM,Simão LM(2012) (15)Foram adicionados 2 sujeitos do sexo feminino.Classificação: de 32 e 49 anos.Avaliar a relação fisioterapeuta-paciente quanto a relação copo-mente e busca pela solução de conflitos.Modalidade: Foi realizada uma análise de diálogo entre F e P em 10 sessões.Trata-se, a nosso ver, de manter as especificidades da formação em fisioterapia sem omitir uma perspectiva humanizadora do processo saúde-doença, ou seja, de exercer uma atuação reflexiva como profissionais das ciências médicas na fronteira com as ciências humanas.
Quadro 1- apresenta 5 artigos de estudos realizados sobre indivíduos com colostomia intestinal e técnicas para obstrução intestinal. De acordo com as estratégias estabelecida estabelecida foram encontrados 9.884 nas plataformas de dados. 

Quadro 2– Fluxograma da seleção de evidências baseado nas diretrizes do PRISMA.

3.3 DISCUSSÃO 

  As evidências encontradas nesta revisão atestam que a intervenção fisioterapêutica, por meio da fisioterapia pélvica, eletroestimulação, eletroneuromodulação e biofeedback, melhorando os desequilíbrios da estática lombopélvica, a sensibilidade da ampola retal facilitando a propriocepção muscular e esfincteriana perineal e favorecendo assim, a qualidade de vida com repercussões em curto, médio e longo prazo, inclusive na prevenção de disfunções do assoalho pélvico.

  Fazer um estoma impacta a vida de uma pessoa a partir do momento em que ela vê sua identidade visual afetada. A reabilitação e a integração social são fatores determinantes importantes para restabelecer a saúde com bom prognóstico. O profissional responsável precisa estar atento a todas as orientações e cuidados com essa pessoa. A família e os cuidadores desempenham um papel importante no cuidado da pessoa com estomia.        Após o procedimento cirúrgico, o paciente estomizado vivencia desafios para alcançar a reabilitação 5

  Diversas tecnologias e ferramentas de trabalho podem ser adotadas pelos profissionais para viabilizar ações de cuidado às pessoas com estomia na Atenção Básica de média e alta complexidade. 5 Algumas dessas ferramentas são as ações de consulta, discussão de casos e apoio matricial. 5 É possível associar o cuidado compartilhado ou a discussão de casos a um próximo passo, que é a construção do Projeto Terapêutico Singular.5

Pode ocorrer perfuração em um segmento isquêmico (tipicamente do intestino delgado) ou quando existe grande dilatação.7 O risco é alto se o ceco se dilata até um diâmetro ≥ 13 cm. A perfuração de um tumor ou divertículo pode também ocorrer no local da obstrução.7      

  A obstrução do intestino delgado causa sintomas logo após seu início: cólicas abdominais, centradas ao redor do umbigo ou no epigástrio, vômitos e em pacientes com obstrução completa obstipação. Os pacientes com obstrução parcial podem desenvolver diarreia. O peristaltismo hiperativo e com grande oscilação e cólicas é típico. Algumas vezes, as alças dilatadas intestinais são palpáveis. Com o infarto, o abdome se torna doloroso e a ausculta revela um abdome silencioso com peristaltismo mínimo. Choque e oligúria são sinais sérios que indicam obstrução tardia simples ou estrangulamento.7 A obstrução do intestino grosso usualmente causa sintomas pobres que aparecem de modo mais gradual que no intestino delgado. O aumento progressivo de constipação provoca obstipação e distensão abdominal.  

  Vômitos podem ocorrer (em geral várias horas após o início de outros sintomas), mas não são comuns. Cólicas em hipogástrio não secundárias às fezes podem ocorrer. O exame físico tipicamente mostra um abdome distendido com borborigmos altos. Não há dor e o reto geralmente está vazio. Pode-se palpar massa que coincide com o local de um tumor obstrutivo. Sintomas sistêmicos são relativamente discretos e o déficit de líquidos e eletrólitos é incomum.7

  Muitas vezes, olhar para a estomia concretiza a sua condição, que nem sempre é compreendida como a condição de “pessoa com deficiência física”.12 Nessas situações, inicialmente será necessário o auxílio de um familiar cuidador para realizar o autocuidado, mas este deverá ser estimulado sempre, para que a pessoa se torne mais independente.12 O tratamento da IF tem por objetivo restaurar a continência. Para isso, o tratamento é priorizado com métodos conservadores (medicação, reeducação alimentar e fisioterapia) e para alguns casos, é necessário o tratamento cirúrgico. 12

  A situação de sofrimento foi encarada por essas pessoas como uma normalidade de sua vida, porém tal normalidade incluía todas as mudanças ocorridas com a estomização.13 A falta de entendimento real dessa normalidade referida pode comprometer a avaliação dos profissionais sobre a adaptação e reabilitação alcançadas por esses indivíduos.13 No núcleo “Autocuidado para a reabilitação da pessoa com estomia intestinal”, as diferentes situações que comprometeram a vida dessas pessoas constituíram os desafios a serem vencidos por elas.13 O autocuidado da estomia passou a ser o aspecto central na vida delas e de seus familiares, assim como a assistência especializada e a aquisição dos equipamentos coletores e adjuvantes tornaram-se essenciais para a sua sobrevivência.13 O processo de estomização no contexto intra-hospitalar requer assistência especializada, com planejamento desde o pré-operatório, com preparo e ensino do paciente/família sobre cirurgia e suas consequências, além da demarcação da estomia; e, no pós-operatório, implica retomada do autocuidado com a estomia e do manejo do equipamento coletor, bem como contrarreferência para o Programa de Ostomizados do Sistema Único de Saúde (SUS) ou para o ambulatório do convênio suplementar.13 Esse planejamento e implementação da assistência à pessoa com estomia intestinal possibilitará a recuperação fisiológica e psicossocial, com alcance da reabilitação.13      No entanto, o autocuidado constituiu um desafio para as pessoas que não receberam assistência especializada.13 Ao contrário, segundo a pessoa adoecida por câncer, o diagnóstico foi vinculado à dor, sofrimento e finitude, sendo que a estomia representou algo que atrapalharia o resto de sua vida. 13

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

  O objetivo é alcançar a maior independência e inclusão possível para cada pessoa ostomica e com a máxima adaptação à sua nova condição. Sendo realizada uma revisão sistemática da literatura (RSL) baseada no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), organizada e conduzida de forma independente por três pesquisadores experientes no tema- Estomias Intestinais.

  As evidências avaliadas revelam que a estimulação elétrica de superfície é uma alternativa para intervenção fisioterapêutica e os exercícios de alongamento e fortalecimentos, são capazes de alterar e melhorar o desempenho de variáveis da função muscular do abdômen em pessoas com estomias intestinais. No entanto, apesar dos resultados majoritariamente positivos, não se pode afirmar que eletroestimulação de superfície acompanhado apresenta resultados superiores a condutas fisioterapêuticas tradicionais, como a assistência fisioterapêutica manual para condicionamento da pressão intra-abdominal. Diante dos achados, os autores encorajam novas pesquisas em torno do tema.

5 AGRADECIMENTOS

  Os autores agradecem a Faculdade UNIP- Universidade Paulista, ao Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e a Orientadora e Coordenadora do Curso de Fisioterapia Priscila França Fernandes pelo ensino de produtividade.

6 REFERÊNCIAS

1. Franco TD, Landmann RG, Cashman AL. Visão geral da ostomia cirurgica para desvio fecal e Cuidados e complicações da ileostomia e colostomia.CUREM- Centro de treinamento em urgência e emergência [homepage da internet]. [acesso em 08 de nov de 2022]. Disponivel em: .https://blog.curem.com.br/topicos/cirurgia-geral/diferenca-entre-as-ostomias-ileostomia-versus-colostomia/   

2. Ricarte M. Estomias intestinais e urinárias. Associação Brasileira de Estomaterapia- SOBEST [homepage da internet].2010.[acesso em 08 de nov de 2022]. Disponivel em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/colostomias/7297/5/

3. Cascais AFMV, Martini JG, Almeida PJ dos S. O impacto da ostomia no processo de viver humano. Texto & Contexto – Enfermagem. 2007 Mar;16(1):163–7. [acesso 08 de nov de 2022]. Disponivel em: https://www.scielo.br/j/tce/a/jhL6tBCyXRzhdrgkfPfBbdF/? lang=pt#:~:text=A%20hist%C3%B3ria%20das%20ostomias%20remonta, pela%20ferida%20e%20logo%20os 

4. O Dia Nacional dos Ostomizados é comemorado nesta sexta-feira (16) Notícias – IMIP [homepage na internet].2018.[acesso 08 de nov de 2022]. Disponivel em: http://www1.imip.org.br/imip/noticias/o-dia-nacional-dos-ostomizados-e-comemorado-nesta-sextafeira-16.html

5. MINISTÉRIO DA SAÚDE Brasília -DF [homepage na Internet]. 2021. [acesso 08 de nov de 2022]. Disponivel em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_atencao_saude_pessoa_estomia.pdf

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1Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista como requisito parcial da disciplina Projeto Técnico Científico Interdisciplinar – PTCI
ORIENTADORA: Priscila França Fernandes