ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7315510


Letícia Chagas Ferreira
Orientadora: Fabiana Pugliese


RESUMO

A Atenção Primária à Saúde (APS) é desenvolvida por meio de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) baseada no trabalho em equipe multidisciplinar. Em conjunto com a ESF, foi desenvolvido um programa de residência multiespecialidade em saúde da família. A atuação do farmacêutico na APS é realizada por meio do Núcleo de Apoio à Saúde Domiciliar e inclui dispensação e orientação de medicamentos, visitas domiciliares, apoio matricial à equipe de saúde, atendimento individual e compartilhado, participação em grupos interdisciplinares de saúde, participação em comissões de farmácia e de tratamento. Além de atuarem na administração de medicamentos, os farmacêuticos da APS auxiliam na construção da saúde dos usuários, no acompanhamento de seus tratamentos e na contribuição para equipes que promovam a saúde e a qualidade de vida desses sujeitos. Portanto, observou-se que a implantação da Assistência Farmacêutica (AF) é vista como uma das ferramentas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso está diretamente relacionado ao desenvolvimento da gestão participativa no sistema, ou seja, garantia de acesso a medicamentos e atenção terapêutica integral. Nesse contexto, a inclusão do farmacêutico impacta positivamente na saúde da população, pois atua junto à população para cuidar e promover a saúde, implementando estratégias voltadas à promoção do bem-estar dos indivíduos e das famílias.

Palavras-chave: Assistência farmacêutica; Atenção primária; Sistema Único de Saúde; Estratégia de Saúde da Família; 

ABSTRACT

Primary Health Care (PHC) is developed through a Family Health Strategy (ESF) based on multidisciplinary teamwork. In conjunction with the ESF, a multispecialty residency program in family health was developed. The pharmacist’s role in PHC is carried out through the Home Health Support Center and includes dispensing and guidance of medicines, home visits, matrix support to the health team, individual and shared care, participation in interdisciplinary health groups, participation in committees of pharmacy and treatment. In addition to acting in the administration of medication, PHC pharmacists help in building the health of users, monitoring their treatments and contributing to teams that promote the health and quality of life of these subjects. Therefore, it was observed that the implementation of Pharmaceutical Assistance (PA) is seen as one of the tools for strengthening the Unified Health System (SUS). This is directly related to the development of participatory management in the system, that is, guaranteeing access to medicines and comprehensive therapeutic care. In this context, the inclusion of pharmacists has a positive impact on the health of the population, as they work together with the population to care for and promote health, implementing strategies aimed at promoting the well-being of individuals and families.

Keywords: Pharmaceutical assistance; Primary attention; Health Unic System; Family Health Strategy;

INTRODUÇÃO

Conforme definição do Ministério da Saúde (MS) e do Conselho de Secretários Nacionais de Saúde (CONASS), a atenção primária à saúde é definida como uma combinação de ações de saúde em contextos individuais e coletivos, incluindo promoção, prevenção e diagnóstico oportunos. Tratamento e recuperação. Sua construção deve ser baseada em práticas de gestão e higiene, democráticas e participativas realizadas em equipes, visando populações em áreas bem definidas (BRASIL, 2017). 

O termo “assistência farmacêutica” originou-se em um contexto focado na entrega de medicamentos. Embora o Centro de Medicamentos Designados (CEME) mantenha o termo AF, o conceito exato de sua finalidade, objetivos e conjunto de atributos que o integram não existiam até o anúncio da Política Nacional de Medicamentos (PNM). Seguindo a construção do PNM, o AF corresponde ao planejamento integrado do Sistema Único de Saúde (SUS), permitindo subsidiar processos instituídos de promoção da cidadania condizentes com os princípios legais do direito à saúde (BERMUDEZ et al., 2018). 

Na construção da PNM, há também a fundação do Regime Nacional de Habilitação ao Atendimento Uniforme do Sistema Único de Saúde (Qualifar-SUS). Este programa visa aprimorar e integrar as atividades de AF nas redes de atenção à saúde. O programa é composto por quatro pilares inter-relacionados, a saber: Estrutura, Informação, Educação e Atendimento (RODRIGUES et al., 2017). 

A atenção farmacêutica é sistêmica, multidisciplinar e abrange uma variedade de estratégias destinadas a promover, proteger e restaurar a saúde de indivíduos e comunidades e permitir o acesso e o uso racional de medicamentos. Nesse contexto, surge a importância da atuação do farmacêutico na AF na atenção primária à saúde. Ao longo dos anos, sua posição na equipe multidisciplinar cresceu, permitindo-lhe assumir funções de liderança, gestão e atendimento geral ao cliente (COSTA et al., 2017). 

Ainda segundo o Ministério da Saúde – 2014, no contexto de complexos processos saúde-doença-cuidado, o fluxo de trabalho da Atenção Primária à Saúde-APS precisa ser sistematizado por equipes multiprofissionais, que devem ter uma abordagem interdisciplinar e intersetorial. Como parte dessa equipe, os farmacêuticos também atuam, seja em centros de saúde ou em centros de apoio à família – equipe de referência do NASF. Notadamente, uma série de conquistas nos últimos 19 anos fortaleceram o papel do farmacêutico na APS, a saber: Política Nacional Farmacêutica, Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF/2004), Política Nacional de Atenção Básica atualizada em 2011 (PNAB/2006); e a portaria de 2008 que cria o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), atualizada em 2014. A estrutura do Departamento de Assistência a Medicamentos (DAF) em 2003 também contribuiu para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2016). 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) promove uma publicação sobre Atualização em Atenção Primária nas Américas, que inclui um documento sobre os serviços de APS para medicamentos. Esse histórico incentiva os farmacêuticos a implementar uma nova identidade profissional que vai além do gerenciamento tradicional de medicamentos para uma abordagem focada na enfermagem. A integração dos farmacêuticos nas equipes, a formação e utilização de novas tecnologias para atuar na APS e a conexão com as comunidades e usuários são desafios (BARBERATO et al., 2019).

OBJETIVO GERAL

O objetivo deste estudo foi analisar a importância da assistência farmacêutica na atenção à saúde na atenção primária, possibilitando compreender o papel primordial do farmacêutico na atenção individual e grupal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

– Compreender a importância da assistência farmacêutica enquanto sistema de apoio das Redes de Atenção à Saúde;

– Discutir o papel da Atenção Primária à Saúde na Assistência Farmacêutica, em execução das etapas do ciclo logístico (Seleção, Agendamento, Aquisição, Armazenamento, Distribuição, Prescrição e Dispensação);

– Analisar a atuação integrada equipe-farmacêutico no cuidado multiprofissional na Atenção Primária à Saúde;

– Relatar estratégias para implementação do cuidado farmacêutico na Atenção Primária à Saúde.

JUSTIFICATIVA

A atenção primária à saúde (APS) é desenvolvida por meio de uma estratégia de saúde da família (ESF) baseada no trabalho em equipe multidisciplinar. A atuação do farmacêutico na APS é realizada por meio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e inclui dispensação e orientação de medicamentos, visitas domiciliares, apoio matricial à equipe de saúde, atendimento individual e compartilhado, participação em grupos interdisciplinares de saúde, participação em comissões de farmácia e de tratamento. Além de administrar os medicamentos, os farmacêuticos da APS auxiliam na estruturação da assistência aos usuários, acompanhando seu tratamento e contribuindo com os esforços da equipe para a promoção da saúde e qualidade de vida desses sujeitos.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo revisão integrativa da literatura, descritiva, onde foi pesquisado publicações de cunho científico indexadas nas bases de dados online Biblioteca Virtual em Saúde – BVS (Medline, IBECS e LILACS) e SCIELO dos anos de 2016 a 2021. Observou-se que a implantação da Assistência Farmacêutica (AF) é vista como uma das ferramentas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso está diretamente relacionado ao desenvolvimento da gestão participativa no sistema, ou seja, garantia de acesso a medicamentos e atenção terapêutica integral. Nesse contexto, a inclusão do farmacêutico tem impacto positivo na saúde da população, pois atua junto à população para cuidar e promover a saúde, implementando estratégias voltadas à promoção do bem-estar dos indivíduos e famílias.

REVISÃO DE LITERATURA

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NO SUS

No Brasil, o marco regulatório para orientar a assistência a medicamentos como política pública teve início na década de 1970, por meio do Decreto nº 68.806/1971, que visava proporcionar o acesso a medicamentos à população de baixa renda e regular a produção e distribuição. Possui uma política centralizada que mantém a aquisição e distribuição de medicamentos (BRASIL, 2019).

Na década de 1980, o movimento de reforma da saúde, que consistia em um grupo de profissionais, engajou-se em uma ampla discussão sobre o processo saúde-doença, indo além do setor saúde para uma visão mais ideológica da sociedade e sua prestação de serviços, em termos de preocupações A agenda da Oitava Conferência Nacional de Saúde em 1986 culminou na integralidade, universalidade e igualdade. Portanto, a Constituição Federal de 1988 foi concebida para focar nos cidadãos brasileiros, não no sistema de saúde. O ativismo do movimento de reforma da saúde permitiu que fossem formadas as bases para sustentar os princípios do SUS, a saber, descentralização, controle social e universalidade, e suas diretrizes: universalização, integralidade, descentralização, participação popular, regionalização e equidade (BRASIL, 2016).

A CF/88 que institui um sistema único de saúde reconhece a saúde como um direito social, implica que o acesso aos medicamentos é uma obrigação do sistema único de saúde (SUS) e deixa claro que a responsabilidade da população pela qualidade dos medicamentos produzidos. Na década de 1990, a publicação da Lei Orgânica do Saneamento (Lei nº 8.080 e 8.142/90) institucionalizou o Sistema Único de Saneamento (SUS) e seu controle social. Entre eles, no artigo 6º: “Desenvolvimento da política de drogas (…)” é identificada como área de atuação do SUS, e a responsabilidade pela “implementação de ações de assistência integral ao tratamento incluindo medicamentos” é atribuída ao setor saúde (BRASI, 2019).

O mercado mudou significativamente na segunda metade da década de 1990, quando o Ministério da Saúde lançou uma política farmacêutica, incluindo a própria assistência farmacêutica e ações contra a produção. Essas mudanças incluem descentralização, revisão de práticas administrativas e novas formas de intervenção no mercado, ampliando assim o número de ajudas e beneficiários (GELARCK, 2017).

AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 

Uma avaliação da atenção às drogas na atenção básica mostra a realidade de várias cidades do Brasil onde os ciclos de assistência às drogas não são totalmente implementados, interferindo em todo o sistema de saúde do município e na qualidade de vida da população. De acordo com a Política Nacional de Medicamentos (PNM), a Portaria nº 1 formulada pelo Ministério da Saúde para salvaguardar a saúde da população. O conceito mais detalhado de assistência a medicamentos vem da Comissão Nacional de Saúde (Resolução CNS 338/2004), que define: A assistência a medicamentos é um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva, aquisição e uso justo. Este conjunto trata da pesquisa, desenvolvimento e produção de medicamentos e insumos, bem como sua seleção, planejamento, aquisição, distribuição, distribuição, garantia de qualidade de produtos e serviços, monitoramento e avaliação de seu uso, com vistas à obtenção de resultados concretos e melhorar a qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2016).

No ciclo de assistência à toxicodependência, o resultado de uma atividade é o ponto de partida para outra, e a ausência ou implementação insuficiente de uma atividade acaba por impedir que toda a atividade funcione adequadamente. As etapas do ciclo de assistência às drogas são:

  • Seleção: Este é um processo de seleção de medicamentos, com base em critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos, estabelecidos pelo Comitê de Farmácia e Terapêutica (CFT) para garantir que os medicamentos sejam seguros, eficazes e custo-efetivos para uso racional, harmonização da prática de tratamento, o processo que orienta a aquisição, produção e política farmacêutica. Todas as outras atividades se desenvolvem a partir de escolhas (MARIN et al., 2018).
  • Agendamento: Inclui a estimativa do número de compras que atenderão a demanda de um determinado serviço em um determinado período de tempo. O planejamento deve ser baseado na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e na Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) estabelecida e acordada durante a fase de seleção. Nessa lista, os medicamentos devem ser listados por nome comum, forma medicamentosa e apresentação e, preferencialmente, pela complexidade de seu uso. A programação inadequada é reflexo direto da disponibilidade e acesso aos medicamentos (MARIN et al., 2018).
  • Aquisição: Consiste em um conjunto de procedimentos pelos quais o processo de aquisição de medicamentos é realizado de acordo com um cronograma estabelecido com o objetivo de atender a demanda de medicamentos em termos de quantidade, qualidade e custo-benefício, e manter a regularidade no sistema de abastecimento O cronograma de aquisições deve responder: comprar o quê? Para quem? Como comprar? Quantos? Quando? Como comprar? (MARIN et al., 2018).
  • Armazenamento: É um conjunto de procedimentos técnicos e administrativos destinados a assegurar condições adequadas de recebimento, armazenamento, conservação e controle efetivo de estoque, e garantir a disponibilidade de medicamentos em todos os locais de atendimento ao usuário (MARIN et al., 2018).
  • Distribuição: Inclui o fornecimento de medicamentos em quantidade, qualidade e pontualidade às unidades de saúde. A distribuição de medicamentos deve garantir a rapidez e a segurança da distribuição, a eficiência do controle e da informação (MARIN et al., 2018).
  • Prescrição: A ferramenta na qual se baseia a distribuição. De acordo com a PNM, “prescrição de medicamentos” é “o ato de determinar o medicamento que o paciente está tomando, a dose correspondente e a duração do tratamento. Geralmente, esse ato se expressa por meio da emissão de uma receita médica”. Portanto, uma “receita” é um documento formal escrito que especifica o que deve ser atribuído a um paciente e como o paciente deve usá-lo (MARIN et al., 2018).
  • Dispensação: É o ato profissional de farmácia que envolve o fornecimento de um ou mais medicamentos em resposta a uma receita elaborada por profissional autorizado. Neste ato, um farmacêutico administra os cuidados com a medicação (MARIN et al., 2018).

A assistência farmacêutica é a interação direta de um farmacêutico com um usuário para proporcionar um tratamento medicamentoso racional com resultados claros e mensuráveis ​​visando a melhoria da qualidade de vida. O farmacêutico desempenha um papel fundamental na assistência medicamentosa, pois é o único profissional da equipe de saúde e sua formação técnico-científica é baseada na biologia e no campo preciso de expressão do conhecimento, mas sua inserção se dá de forma progressiva e heterogênea, hoje, muito abaixo da procura, tanto em quantidade como em qualidade (SOLER et al., 2019).

Em todo o mundo, é evidente o papel do farmacêutico como profissional de saúde, e suas funções devem estar voltadas para o uso racional de medicamentos, visando o bem-estar das pessoas e a redução de gastos desnecessários. Na fase de seleção, atividade mais importante do ciclo, não há Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) ou REMUME, compreendendo a seleção dos medicamentos necessários para o município (GADELHA et al., 2016).

Na fase de planejamento, embora reconhecessem a implementação, não havia controles de estoque adequados, afetando a disponibilidade e o acesso aos medicamentos. Durante a fase de armazenamento, fase mais problemática na cidade de Petrolina (PE), as condições do espaço físico e infraestrutura não garantem condições adequadas para a preservação do medicamento, osmótica, umidade, controle de temperatura insuficiente ou inexistente. Algum produto resistente ao calor, entre outras coisas, carece de proteção contra insetos e roedores (GADELHA et al., 2016).

Durante a fase de distribuição, não existe um órgão central capaz de manter e fornecer dinamicamente estoques de medicamentos de alta qualidade e suficientes para uso por cada unidade de saúde domiciliar. Por fim, durante as etapas de prescrição e dispensação, muitas vezes a dispensação é realizada por auxiliares de enfermagem sem formação em farmácia, o que contribui para a alta incidência de problemas relacionados a medicamentos (PRM) do município (SOLER et al., 2019). 

DESAFIOS DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Nos últimos 30 anos, diversas contingências contribuíram para o desenvolvimento da AF na atenção primária à saúde, dentre as quais podemos citar a publicação da Política Nacional de Medicamentos (PNM), a publicação do Guia Curricular do Currículo Farmacêutico e a definição de formação de farmacêuticos generalistas com foco no SUS, Desenvolvimento do Consenso Brasileiro de Assistência Medicamentosa e Criação do Sistema Nacional de Qualificação para Assistência Medicamentosa do Sistema Único de Saúde (QualiFar-SUS) (SOARES et al., 2020).

Logo, observou que a concretização da assistência farmacêutica (AF) é vista como uma das ferramentas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso está diretamente relacionado ao desenvolvimento da gestão participativa no sistema, ou seja, garantia de acesso a medicamentos e atenção terapêutica integral. No entanto, o que se tem observado nas cidades brasileiras nos últimos anos é uma frágil descentralização das ações dessas cidades e da capacidade de gestão da UC. É preocupante, portanto, que um quarto dos municípios do Brasil não tenha Atenção Primária à Saúde – APS estruturadas de acordo com as normas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), fato que pode comprometer sua participação no processo de planejamento em saúde e repercutir mal para o setor saúde, realizar sua tarefa (GERLACK et al., 2017).

No entanto, a implantação da assistência farmacêutica no território brasileiro discute o conceito de AF de acordo com a resolução que promulga a PNAF (Política Nacional de Assistência Farmacêutica), que define AF como uma combinação das matérias-primas originais, concebidas para serem obtidas e utilizadas com cuidado , apontam que a AF tem avançado em colaboração com os atores envolvidos no processo de desenvolvimento dessa política pelos municípios brasileiros, mesmo diante dos obstáculos que a sociedade precisa enfrentar, observar, debater e enfrentar. Assim, observa-se a estruturação do serviço farmacêutico, com grande presença de sistemas informatizados para a gestão da AP nos municípios, o que ressalta um ponto positivo para o desenvolvimento desse serviço. Portanto, a dificuldade está em sua integração com a rede de diferentes serviços de saúde. Diante disso, é necessário garantir condições ambientais mais oportunas para a implantação desses serviços, seja infraestrutura, tempos de espera pelos serviços de farmácia, mas também o repasse de recursos destinados à AF, onde mais da metade dos municípios brasileiros antes a investigação dos fundos destinados às estruturas e organizações do AF são recebidos de estados ou sindicatos por um ano. Mais de 50% dos municípios pagam algum tipo de taxa construindo AF em seu território (COSTA et al., 2017).

A institucionalização da APS sugere um panorama heterogêneo da formação da Atenção Primária à Saúde na região brasileira. A dimensão da estrutura formal é a mais proeminente. A legitimidade do APS no organograma reconhece sua atuação em outras esferas públicas, tornando-o perceptível para toda a população e demais setores da saúde (SOUZA et al., 2017).

Portanto, o conceito de APS está nos olhos dos farmacêuticos, os resultados revelaram uma alta prevalência de visões abrangentes centradas nas drogas na Atenção Primária, bem como o pensamento centrado no cuidado ao usuário de drogas. Daí a implantação da atenção farmacêutica na atenção básica e nos serviços de farmácia no Brasil, que se observa em nível grave. Ainda é uma preocupação ao examinar dimensões e componentes. A implementação começou em 1988 e ainda está em andamento. Surgiu para substituir a nova responsabilidade municipal estabelecida pela Política Nacional de Medicamentos (PNM) (MATOS et al., 2019).

O Serviço de Farmácia do SUS na Atenção Básica mostra que a força de trabalho do serviço de farmácia é predominantemente feminina, com idade entre 18 e 39 anos, escolaridade alta (90,7% na coordenação, 45,5% nas unidades de dispensação), vínculo empregatício efetivo (regulamento do concurso público), trabalho ou atividade na gestão municipal e unidades de dispensação há mais de 1 ano, e trabalham mais de 30 horas semanais. No entanto, questões relacionadas ao AF foram acordadas com financiamento insuficiente. Eles destacaram a falta de correções nos valores de transferências federais nos fundamentos do financiamento do AF, a disparidade entre o financiamento e o aumento dos serviços locais a partir da expansão da política, aumentos de preços dos medicamentos e relações ampliadas (CARVALHO et al., 2017).

PROCESSO DE TRABALHO DO FARMACÊUTICO NO CUIDADO À SAÚDE NA APS E DENTRO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

Trabalhar em equipes multidisciplinares é um desafio, principalmente para os farmacêuticos, por se tratar de uma estratégia relativamente inovadora implantada na APS desde 2009. O objetivo é fortalecer uma cultura de compartilhamento de conhecimento e relações horizontais e igualitárias entre os profissionais. O estímulo ao trabalho multidisciplinar do farmacêutico passa pela compreensão de suas responsabilidades específicas no trabalho em equipes de saúde, de modo a compartilhar conhecimento e responsabilidade compartilhada (SILVA et al., 2018).

Portanto, o fluxo de trabalho dos farmacêuticos na APS divide o trabalho da farmácia em gestão técnica e suporte técnico, o que faz com que os farmacêuticos tenham muita carga emocional negativa. Esse tema é um dos mais questionados nos diários de campo e entrevistas deste estudo como, sentimentos de ansiedade, dor, exaustão, interrupções constantes, preocupação, cansaço, asfixia e depressão (PEREIRA et al., 2021).

Farmacêuticos da APS, principalmente do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, apontaram o desmoronamento da equipe. Um ponto positivo é a estrutura de alguns centros de saúde, que não facilita a interação entre os profissionais e interfere na integração ativa da colaboração e do trabalho participativo. Também são elencadas outras questões que demonstram a descentralização do atendimento, a saber, a falta de integração entre APS e farmácias, onde, por exemplo, os centros de saúde podem dispensar medicamentos sem saber que se trata de pessoas vivendo com HIV. Observa-se que a farmácia ABS discorda e planeja atender com a Equipe de Saúde da Família – ESF. De fato, a contribuição do farmacêutico para o SUS na promoção do uso consistente de medicamentos afirma que a intervenção do farmacêutico na mudança do padrão de prescrição é ocultada pelos prescritores porque não há reconhecimento da aprovação do gestor ou da autenticidade da função, os farmacêuticos olham além da logística relacionada a medicamentos (MELO & CASTRO, 2017).

A maioria dos farmacêuticos declarou em seus estudos que, mesmo não tendo um local de trabalho específico, realizaria atividades de natureza clínica, condição essencial para proteger a privacidade e o sigilo em suas atividades com os usuários. Os entrevistados levantaram questões relacionadas aos recursos financeiros, dizendo que se envolvem em improvisações que exigem esforço profissional e que não há padrões para racionalizar a entrega dessas atividades nos serviços de saúde (ARAÚJO et al., 2017).

CONCLUSÃO

O presente trabalho tem como objetivo reunir evidências científicas sobre os cuidados farmacêuticos na atenção primária à saúde (APS) e o papel e a filiação dos farmacêuticos em equipes multidisciplinares. Como resultado, a assistência médica em todo o Brasil continua evoluindo, mesmo em circunstâncias desafiadoras. Nesse contexto, a inclusão do farmacêutico tem impacto positivo na saúde da população, pois atua junto à população no cuidado e na promoção da saúde, implementando estratégias voltadas à promoção do bem-estar dos indivíduos e das famílias.

Ao longo dos anos, a assistência médica se mostrou institucionalizada e dispersa pelos municípios brasileiros. A informatização dos sistemas vem aumentando, melhorando assim o atendimento global aos usuários do SUS. À medida que a gestão da AP avança, o acesso aos medicamentos e o uso racional serão satisfatórios, e os farmacêuticos poderão consolidar suas intervenções centradas no cuidado na prática clínica da APS e na gestão participativa das equipes multidisciplinares.

Espera-se que, a partir das evidências aqui apresentadas, possam contribuir para a expertise dos farmacêuticos, além de enfatizar a necessidade de cada vez mais atualizações e mais pesquisas, agregar abordagens teóricas à prática clínica e uma compreensão da enfermagem farmacêutica na Importância na atenção primária à saúde e seu papel primordial nas equipes multidisciplinares na atenção à saúde individual e comunitária.


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