O AMBIENTE COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM NA CLÍNICA UNIVERSITÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOS ACADÊMICOS DE ODONTOLOGIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7308638


Osvaldo Augusto de Oliveira1
Michelle de Sales Melo Araújo1 
Renata Castedo Justino1
Mateus Henrique da Silva1
Miria Fernandes da Silva1
 Chimene Kuhn Nobre2
 Daniele Simone Dantas da Silva2
 Maria Fernanda Borro Bijella2


RESUMO

Os processos de aprendizagem ocorrem em interação com o outro e com o ambiente. Portanto, é importante que o ambiente seja utilizado conscientemente para estimular a aprendizagem do aluno. O relato desta experiência faz parte do processo cognitivo dos estudantes de odontologia do sexto e sétimo períodos da Faculdade UNIRON, na cidade de Porto Velho-RO. O estágio supervisionado de Clínica em Atenção Básica, ofertada no primeiro semestre letivo de 2022, serviu de ambiente para colocar à prova toda a teoria aprendida na sala de aula. Os elementos do ambiente físico formam uma arena de aprendizagem com as suas diversas características implícitas. Por meio das atividades práticas, dos processos teóricos cognitivos e da atividade social, os estudantes aprendem a se relacionar com o lugar e a dominar várias situações e condições relacionadas ao aprendizado. 

Palavras-chave: Estudante de Odontologia. Teoria e Prática. Clínica Universitária.

INTRODUÇÃO

Aprender faz parte de em um contexto que envolve a interação entre indivíduo, a tarefa e o ambiente. Os fatores indivíduo, tarefa e ambiente não são apenas influenciados um pelo outro em uma interação, mas também podem ser modificados por meio de uma influência mútua. 

O relato desta experiência faz parte do processo cognitivo dos estudantes de odontologia do sexto e sétimo períodos da Faculdade UNIRON, na cidade de Porto Velho-RO. O Estágio Supervisionado de Clínica em Atenção Básica, ofertada no primeiro semestre letivo de 2022, serviu de ambiente para colocar à prova toda a teoria aprendida na sala de aula.  

As atividades de clínica confrontam os estudantes com a verdade nua e crua que o dentista administra no dia a dia de sua profissão.  Recaem sobre ele, nesse momento de aprendizagem, as responsabilidades que cercam o ofício odontológico.

Ao reconhecer que estudantes estão se tornando capazes de descobrir, organizar, observar, comparar, avaliar, escolher, decidir, intervir, propor e resolver casos clínicos odontológicos, com seus professores/tutores/mediadores, também se reconhece a formação ética que a atividade possibilita ao aprendiz. 

A rotina da clínica proporciona achados clínicos que despertam o interesse e a curiosidade para buscar respostas às perguntas que são feitas no momento do achado. O relato deste texto descreve a vivência que pode ser exitosa ou não, mas que pode contribuir de forma relevante para novos olhares.      

Após a anamnese e a avaliação clínica dos pacientes, alguns casos são constatados e anotados no prontuário. Dentre os muitos casos, de maior reincidência dos atendimentos, estão a cárie dentária, as doenças periodontais e a hipersensibilidade dentinária. Elas são causadas pelos maus hábitos relacionados à saúde bucal e por escolhas equivocadas na hora de fazer a higiene dos dentes. Casos como, o uso incorreto das escovas dentais, que causam desgaste do dente e expõe a dentina podendo chegar a um trauma oclusal, são alguns dos exemplos. 

Os objetivos deste texto são: descrever a prática clínica como um relato de experiência; iniciar o processo de escrita científica; apresentar questões teóricas para validar questões práticas; propor ações nos atendimentos; refletir sobre a teoria e prática desta discussão.

Para apoiar os objetivos, far-se-á referência ao material teórico divulgado nos diretórios acadêmicos e revistas científicas atualizadas com referências ao tema. O relato desta experiência faz com que a teoria aprendida na sala de aula apresente resultados aplicados à prática das clínicas odontológicas. Divulgar este aprendizado para a comunidade científica possibilita uma discussão sobre o tema, uma troca de experiências, um conhecimento ampliado de novos caminhos e ideias que podem colaborar com a qualidade do cuidado na saúde bucal.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, um relato de experiência, referente às atividades de Estágio Supervisionado de Clínica em Atenção Básica, desenvolvidas por acadêmicos do sexto e sétimo períodos do curso de Odontologia da UNIRON de Porto Velho-RO, no primeiro semestre letivo do ano de 2022.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Quando os estudantes têm contato com a clínica, os pacientes são reais e os problemas bucais são revelados. Ao observar a cavidade bucal nos atendimentos, o diagnóstico diferencial de doenças faz parte do protocolo de atendimento. Este procedimento é tratado com muito cuidado e atenção. Algumas doenças são comuns e se manifestam em mais de um dente. 

  O exame do paciente na clínica odontológica da UNIRON conta com a anamnese e a avaliação clínica bucal. Toda história de saúde e estilo de vida do paciente são observadas, principalmente a presença de outras doenças que ele possa ter. No exame interno da cavidade bucal, observa-se a mucosa oral, a aparência, o uso de palpação, determinação da mobilidade, temperatura, sensação tátil e gustativa da boca. O exame de dentes e do periodonto conta com a inspeção visual, a sondagem, a percussão, e palpação. Este exame também é externo e acontece na região da face e do pescoço, com a palpação da região maxilofacial das glândulas submandibulares e das glândulas parótidas.   

Para chegar ao diagnóstico de uma doença odontológica na clínica, o exame de raio-X é imprescindível. Geralmente, a imagem dos elementos dentários é feita e revelada na própria sessão com o paciente, logo após as avaliações iniciais, e acontece dentro de uma sala especial e preparada para radiação.

A complexidade que envolve o ensino e a aprendizagem nos tratamentos oferecidos nas aulas práticas coloca os alunos do sexto e sétimo períodos da graduação em odontologia a praticar todo o escopo do conhecimento adquirido. Os procedimentos que os alunos podem realizar são limitados e não incluem exodontia dos terceiros molares, endodontia dos molares, implantes e próteses. Os procedimentos reservados aos alunos são complexos, na maioria dos casos. Dentro da capacidade estrutural que cerca o conhecimento adquirido até o momento, este texto define os tratamentos complexos como aqueles que requerem anestesia local, raspagem e profilaxia, restaurações e o próprio exame de raio-X.A atenção básica que remete a teoria e a prática nos procedimentos odontológicos acontece em meio à pandemia pelo vírus SARS CoV-2 e o momento não pode ser ignorado. A Odontologia sempre primou pelo controle rigoroso das normas de biossegurança. Entretanto, frente à pandemia de Covid-19, os serviços odontológicos viram-se cercados por incertezas. A problemática envolve primordialmente os procedimentos odontológicos geradores de aerossóis, uma vez que esses procedimentos são capazes de dispersar partículas de saliva e/ou sangue e/ou fluído gengival, em consideráveis distâncias, até dois metros. Sendo assim, a experiência prática no local clínico com alunos, professores, funcionários e pacientes seguem, rigorosamente, todo protocolo de biossegurança e os equipamentos de proteção individual-epis são usados e descartados com muito cuidado para proteção de todos.

Estudantes de graduação em odontologia, em seus anos clínicos, exercem a prática sob a supervisão de profissionais experientes. O público atendido por esta equipe é recebido nessas instalações como pacientes. Eles recebem tratamento gratuito e os custos com o material são pagos pelos estudantes. Dado que a saúde bucal é resultado de visitas frequentes ao dentista, o paciente de baixa renda não tem acesso a este serviço com facilidade, o que faz a saúde bucal se tornar um problema. 

É importante considerar a ansiedade experimentada pelos pacientes que optam por visitar uma clínica dentária universitária. Indicadores sociodentais, baseados na autopercepção e nos impactos odontológicos, oferecem vantagens importantes para o planejamento e a provisão dos serviços odontológicos. Esses indicadores destacam a mudança da ênfase dos aspectos puramente biológicos para os psicológicos e sociais, buscando assim entender os anseios, os medos e os desejos do paciente, para que o atendimento odontológico ocorra de forma individualizada e integral, promovendo a saúde e o bem-estar do paciente. A frequência de ansiedade nos pacientes varia de levemente ansiosos até extremamente ansiosos.Na prática, na cadeira profissional, que permite ao dentista colocar o paciente numa posição confortável e prestar os cuidados necessários, sob a luz que ilumina a boca, as evidências começam a se tornar mais claras e as questões teóricas são resgatadas. Buscam-se, bem no fundo da memória, todas as referências para que aquele momento não se torne uma caixa de surpresas. Aqui faz-se referência ao Iluminismo, que foi um movimento intelectual que se tornou popular no século XVIII, conhecido como século das luzes e surgiu na França.

Esta corrente tinha como principal característica de pensamento o de defender o uso da razão sobre o da fé para entender e solucionar os problemas da sociedade.

Sob a iluminação, alguns casos chamam a atenção. A cárie dentária e as moléstias periodontais continuam sendo as duas doenças mais prevalentes em odontologia, apesar de serem preveníveis e passíveis de controle. E isso se explica porque a prevalência e a incidência de tais patologias vêm associadas às condições do meio, como sociais, econômicas, políticas e educacionais, interagindo com os fatores biológicos existentes na placa bacteriana. Além da cárie e das doenças periodontais, nota-se também a reincidência da hipersensibilidade nos pacientes. Estes casos manifestam-se como uma sintomatologia dolorosa, em áreas com exposição de túbulos dentinários ao meio oral. Comumente, está associado a fatores como erosão, abrasão e abfração, que podem atuar isoladamente ou em conjunto. Ela é caracterizada por uma dor aguda e de curta duração, decorrente da exposição de dentina ao meio bucal, em resposta à estimulação térmica, evaporativa, tátil, osmótica ou química. Aspectos deste sintoma estão ligados ao fluxo de fluidos dentro dos túbulos dentinários, que é alterado com o aumento ou direção dos fluídos desencadeados por estímulos. Essa alteração levaria à estimulação das fibras Ad em torno dos odontoblastos, causando a sensibilidade dentinária. As terminações nervosas das fibras Ad são capazes de traduzir um estímulo agressivo de natureza térmica, química ou mecânica, em estímulo elétrico que será transmitido até o sistema nervoso central e interpretado no córtex cerebral como dor, em função da presença da bainha de mielina que transmite o estímulo doloroso de forma rápida,

O entendimento sobre hipersensibilidade depende de fatores que a cause. Entre eles, está o Bruxismo: um hábito caracterizado pela repetição periódica de apertar e/ou ranger os dentes que poderá, consequentemente, originar patologias irreversíveis, como fraturas dentárias, fracassos em tratamentos odontológicos, sensibilidade, doenças gengivais (pela destruição dos tecidos de sustentação), tratamentos de canal (gerados pelas necroses pulpares e pulpites), dores orofaciais crônicas (como cefaléias, dor nos músculos da face, articulações), dentre outros sérios problemas, nos casos em que a intensidade e a frequência das forças musculares aumentem descontroladamente. 

Outro fator que causa a hipersensibilidade é o trauma crônico de escovação. Este trauma, durante a escovação dentária, contribui para o desenvolvimento e progressão da recessão periodontal, sendo este tema enfocado de forma constante em estudos epidemiológicos. Algumas pesquisas epidemiológicas têm registrado problemas na técnica de escovação dos pacientes da casuística (argumentação que utiliza a simulação para justificar ou legitimar qualquer ato ou circunstância) que detectou maior frequência de recessão periodontal dos incisivos inferiores do lado esquerdo. Este fato ocorre, possivelmente, devido à maior força exercida nesta região, por pessoas destras, durante a escovação, provocando trauma gengival. 

Com relação à escovação dos dentes e a força colocada nela no ato, observa-se, nos casos sob a iluminação, a especificidade das escovas. Escovas com cerdas macias apresentam melhor morfologia da ponta das cerdas e, por outro lado, as escovas de cerdas duras, a pior. Em avaliações e estudos (ensaio clínico randomizado (ECR), cruzado, cego e sua correlação com a presença de biofilme) realizados sobre o desgaste de escovas dentais com cerdas macias, médias e duras foram revelados que, após os ciclos de escovação, todos os tipos de escovas tiveram um declínio na morfologia da ponta, o que foi atribuído ao grau de dureza das cerdas, pois as escovas com cerdas extra macias tiveram o maior grau de deformação. Uma vez que escovas extra macias sofreram maior desgaste das suas cerdas e pontas, e que as escovas duras apresentaram-se com pontas com baixo padrão de qualidade, mesmo antes do uso, as escovas macias devem ser as de escolha. Além disso, o uso de dentifrícios com quinze diferentes graus de abrasividade não interferiu no desgaste das cerdas, independente da rigidez das mesmas.

Portanto, fatores como a perda de esmalte causada pela cárie, periodontite, recessão gengival devem ser implicados como fatores etiológicos que predispõem ao consequente desenvolvimento de bactérias na boca11. A odontologia tem a responsabilidade de educar seus pacientes quanto à prevenção e ao tratamento adequado para combater tais doenças. A chave para enfrentar este problema é o diagnóstico. Portanto, diretrizes devem ser estabelecidas e seguidas para tratar os pacientes de forma adequada. Para estabelecer e seguir as diretrizes faz-se necessária a busca incansável pela teoria que descreve e pesquisa sobre o tema. 

A partir dos estudos para elaboração deste texto, algumas reflexões surgiram no decorrer das reuniões feitas pelos alunos. Dentre elas, está uma proposta de ações e estratégias educacionais para as clínicas de atendimento universitário. As ações contarão com materiais de informação, educação e comunicação e deverão ser distribuídas no ambiente clínico odontológico, junto com a exibição de pequenos vídeos informativos nas salas de espera. Pretendem-se assim, mobilizar estudantes, profissionais de odontologia e pacientes para uma atualização de seus conhecimentos voltados à prevenção das doenças bucais. Essa ideia pode gerar seminários, conferências e, quem sabe, programas de treinamento.

CONCLUSÃO

Hoje em dia, espera-se que os alunos de odontologia sejam aptos à prática e proficientes na teoria e no pensamento crítico e não sejam apenas aprendizes, mas propositores de ações que criem um ambiente rico ao aprendizado. Neste caso, tornam-se autônomos, aplicando as habilidades e as teorias ao seu conhecimento estrutural. Sobre as relações de conceito, as complexidades da prática e as ações do estudante, todas elas moldam o corpo distinto da profissão e capturam as formas de se conhecer e de ser. As formas são essenciais para a prática, para a teoria, para a educação e para a pesquisa de qualquer profissão. Esse processo define a carreira, dá luz à sua existência e amadurece sua experiência. A teoria e a prática fazem do ambiente das clínicas universitárias um espaço de avaliação sistemática baseada em critérios específicos e o sucesso é um caminho a ser alcançado. Não é uma tarefa fácil em um mundo competitivo, mas existem trajetórias que mostram a capacidade que a teoria e a prática podem proporcionar à odontologia. As descobertas desta experiência colocam os estudantes mais próximos do desenvolvimento futuro para fazer avaliações críticas e qualificadas no campo odontológico e concluir que a teoria e a prática são essenciais para o sucesso.


1RAMOS, Jociel de Oliveira; COSTA, Tiago Almeida; CASTRO, Myrella Lessio. Os principais erros radiográficos cometidos pelos acadêmicos de odontologia: revisão de literatura. Facit Business and Technology Journal, v. 3, 2020.

2PEREIRA, Felipe André da Rocha Lenz. KEMPER, Miriam. Os desafios dos serviços odontológicos em biossegurança frente à pandemia de COVID-19. Biblioteca digital do Exército.
Disponível em: https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7522/1/Cap_Felipe%20Andr%C3%A9%20da%20Rocha%20Lenz%20Pereira.pdf. Acesso em: 03 de novembro de 2022.

3QUEIROZ, Flauzino Mariane et al. Dor, ansiedade e qualidade de vida relacionada à saúde bucal de pacientes atendidos no serviço de urgência odontológica. Rio de Janeiro: V. 24. Ciência e Saúde Coletiva, 2019.

4WEINMAN, Carlos. O conceito de iluminismo em Kant e sua implicação com a moralidade e a política. Santa Catarina. Unoesc & Amp; Ciência – ACHS, 2015.

5FARIAS,Tiago Amaral. et al. Condição de saúde bucal do paciente da clínica integrada I do complexo odontológico da UNIFAMETRO. Fortaleza. Conexão UNIFAMETRO, 2019.

6RIBEIRO, Pedro José Targino. et al. Mecanismos de ação dos recursos terapêuticos disponíveis para o tratamento da hipersensibilidade dentinária cervical. Recife: Odontologia Clínico Científico. v.12 n2, 2016.

7ROCHA, Aurélio de Oliveira et al. A utilização da laserterapia para o controle da hipersensibilidade dentinária: uma revisão sistematizada da literatura. São Paulo: Revista Eletrônica Acervo Odontológico. v.2, 2020.

8ROCHA, Anita Perpétua Carvalho. et al. Dor: aspectos atuais da sensibilização periférica e central. Campinas: Revista Brasileira de Anestesiologia. v. 57, n. 1 p. 94-105, 2007.

9PEREIRA, José Carlos. NETTO, Camilo Anauate. GONCALVES, Silvia Alencar. Dentística: uma abordagem multidisciplinar. São Paulo. Artes Médicas, 2014, p. 215.

10ENDRES, Carmen Regina. Bruxismo: Um problema em Saúde Pública. Lisboa: Dissertação de mestrado apresentada no ISCSP-Universidade de Lisboa, 2021.

11YARED, Karen Ferreira Gazel; ZENOBIO, Elton Gonçalves; PACHECO, Wellington. A etiologia multifatorial da recessão periodontal. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial, v. 11, p. 45-51, 2006.

12FAGUNDES, Adriane Vienel. Análise do desgaste de escovas dentais após 3 meses de uso em ensaio clínico randomizado. Porto Alegre: Dissertação de mestrado apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021.


1Acadêmico (a) do curso de Odontologia da UNIRON, Porto Velho – RO, Brasil. 
2Docente do curso de Odontologia da UNIRON, Porto Velho – RO, Brasil.