ASSISTÊNCIA DO ENFERMEIRO NO PARTO HUMANIZADO: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7303978


Leyde Cilene da Silva Rocha Sousa
Millene Gleyce Siqueira De Oliveira 
Sharlyane Nascimento Silva 
Enf.ª Prof.ª. Ludmylla Paula Xavier


RESUMO:  

INTRODUÇÃO: O conceito de parto humanizado surgiu por volta de 1980 isso se deu como uma resposta a violência obstétrica sofrida por algumas mulheres. Nesse sentido, assistência humanizada prestada a gestante pela equipe de enfermagem, ocorre bem antes do trabalho de parto, dar-se início na gestação desde as primeiras consultas do pré-natal, o cuidado inclui um conjunto de normas e condutas que objetivam promover um processo de parto de forma acolhedora. Tal abordagem permite que a mulher se torne a personagem principal, evitando métodos desnecessário, como o uso de miotomia precoce e ocitocina. OBJETIVOS: Averiguar a assistência do enfermeiro no atendimento prestado às mulheres durante o trabalho de parto e relatar as dificuldades encontradas. 

METODOLOGIA: trata-se de uma pesquisa descritiva, na modalidade de revisão integrativa, realizada por via eletrônica, visando responder à questão norteadora: como está sendo realizada a assistência de enfermagem no parto humanizado? Realizou-se busca da produção científica, entre 2016 e 2022 em 30 artigos, no site da scielo (scientific electronic library online) e lilacs (literatura latino-americana e do caribe em ciências da saúde) e no google acadêmico, dos quais foram selecionados 10 para essa pesquisa. A escolha da pesquisa desse formato se deu pela necessidade de sintetizar conhecimento publicado acerca do tema. RESULTADOS e DISCUSSÕES: no decorrer da pesquisa ficou nítido que são inúmeras as dificuldades para implantar o modelo de humanização no parto, incluindo desde a capacitação dos profissionais de saúde até os obstáculos de estrutura física nos hospitais públicos e conveniados ao SUS. 

CONCLUSÕES: É imprescindível que a equipe de saúde esteja preparada e qualificada para atender a mulher, a capacitação profissional fará toda diferença, para que o processo gravídico e puerperal possa ocorrer de forma humanizada, segura e prazerosa, é preciso haver interação, acolhimento, confiança, trocas de conhecimento e respeito mútuo por parte dos envolvidos. 

PALAVRAS CHAVES: Humanização, Enfermagem, Gestante 

ABSTRACT 

INTRODUCTION: The concept of humanized birth appeared around the 1980’s. This was a response to the obstetric violence suffered by some women. In that sense, humanized assistance provided to pregnant women by the nursing team, occurs well before labor, before the beginning of pregnancy since the first prenatal consultations, care includes a set of rules and conducts that objective to promote a process delivery in a welcoming way. Such approach allows the woman to become the main character, avoiding unnecessary methods, such as the usem of early myotomy and oxytocin. OBJECTIVES: To verify the nurse’s assistance in the care provided to women during labor and report the difficulties found. METHODOLOGY: This is a descriptive research, integrative review, carried out electronicly, in order to answer the guiding question: how is nursing assistance in humanized birth being provided? Search for scientific production between 2016 and 2022 in 30 articles, on the scielo website (scientific electronic library online) and lilacs (Latin American and Caribbean literature in health sciences) and on academic google, from which were selected 10 for this research. The choice of research in this format was due to the need to synthesis published knowledge about the subject. RESULTS: During the research, it has been clear that there are countless difficulties to implement the humanization model in birth, including from the training of health professionals to the physical structure obstacles in public hospitals and convened to SUS. CONCLUSIONS: It is essential that the health team is prepared and qualified to help women, professional training will make all the difference, so that the pregnancy and puerperal process can occur in a humanized, safe and pleasant way, interaction, reception, trust must be, exchanges of knowledge and mutual respect on the part of those involved. 

KEYWORDS: Humanization, Nursing, Pregnant women 

1.Introdução  

Por volta do século XVI ao XVIII o parto ocorria em casa e o nascimento dos infantos ocorria sob a ajuda de parteiras sem intervenções tecnológicas ou medicamentosas, isso possibilitava um maior afeto familiar entre mãe e recémnascido. Já no século XIX surgiu o fórceps que teve uma boa aceitação dos médicos obstetras e ficou conhecido como disciplina técnica e científica coordenado pelo homem, sendo assim, o parto passou a ser um evento muito perigoso e assustador para a mulher e o feto, levando as mulheres a ficarem com medo de evoluir para o parto normal, optando pela cesariana, sendo que esta, deveria ser um procedimento essencial somente quando oferece risco a saúde dos envolvidos. Com a quantidade exacerbada de cesáreas vieram também as complicações que colocam em risco a vida do binômio mãe-bebê (SOUZA et al.2019). 

O conceito de parto humanizado surgiu por volta de 1980 isso se deu como uma resposta a violência obstétrica sofrida por algumas mulheres. Nesse sentido, assistência humanizada prestada a gestante pela equipe de enfermagem, ocorre bem antes do trabalho de parto, dar-se início na gestação desde as primeiras consultas do pré-natal. Dessa forma, observa-se que o cuidado inclui um conjunto de normas e condutas que objetivam promover um processo de parto de forma acolhedora. Tal abordagem permite que a mulher se torne a personagem principal, evitando métodos desnecessário, como o uso de amniotomia precoce e ocitocina (VENDRUSCULO, KRUEL, 2017). 

Nesse contexto, a parturiente possui o direito legal de receber suporte afetivo, psicológico, físico e emocional, assim como também a presença do seu companheiro ou algum membro da família. Entretanto, apesar da lei estar em vigor, por vezes muitas mulheres desconhecem seus direitos, e não recebem a devida atenção e informação por parte da equipe de enfermagem (MOURA et al.2020). 

Vale ressaltar que no Brasil já foi aprovada no dia 7 de abril de 2005 a Lei Federal número 11.108, que garante a gestante o direito a presença de um acompanhante durante o processo de parto, parto e pós parto, essa lei deve vigorar em todas as maternidades conveniadas ao Sistema único de Saúde (SUS). (SANTOS 2016) 

Ademais, devido ao grande número de intervenções no parto e no nascimento, o Brasil se destaca nas grandes quantidades de cirurgias cesarianas, caracterizandose como a mais comum, atingindo uma média de cerca de 56,7% dos nascimentos ocorridos no país. Sendo que, 25% desta são na rede de atenção hospitalar privada e 40% na pública. A taxa de recém-nascidos prematuros no Brasil é de 11,5%, tal dado é aproximadamente duas vezes maior do que nos países europeus, os quais são resultados das gestações interrompidas sem recomendação por meio de cesarianas agendadas (SOUZA, et al.2019). 

Em vista disso, é primordial destacar a suma importância da atuação do enfermeiro na assistência ao parto humanizado, para que o mesmo ocorra de forma segura, conforme o COFEN n° 0516/2016, no artigo 1°, normativa a atuação do enfermeiro obstetra na assistência as gestantes, parturientes e recém-nascido. Dessa forma, é importante que os profissionais de enfermagem possuam formação capacitada e qualificada para proporcionar um melhor atendimento durante o parto normal ou parto Cesária, para que assim, o parto humanizado seja compreendido e melhor aceito pela população feminina e visto como um ato amoroso, digno e livre de qualquer tipo de violência. Para isso é necessário que o enfermeiro envolvido no atendimento a parturiente seja sensitivo para ouvi-las, compreendê-las e encoraja-las, na intenção de aproximar o nascimento do neonato em um procedimento mais natural possível. (SOUZA, et al.2019). 

Esta pesquisa se deu pela necessidade de compreender e discutir sobre a importância do parto humanizado e seus benefícios tanto para a mãe, quanto para o bebê, e como a assistência humanizada vem sendo prestada por parte de enfermeiros e demais profissionais de saúde, se de fato os hospitais têm promovido a humanização do parto e de que forma está sendo inserida durante todo o processo gravídico. 

Neste sentido elaborou-se a seguinte questão norteadora: Como está sendo realizada a assistência de enfermagem no parto humanizado? 

2. Objetivos 

Objetivo geral 

Averiguar a assistência do enfermeiro no atendimento prestado às mulheres durante o trabalho de parto e relatar as dificuldades encontradas. 

Objetivos específicos 

Compreender qual o papel desenvolvido pela equipe de enfermagem para o funcionamento e organização dos serviços no trabalho de parto no âmbito hospitalar. 

Evidenciar propostas de educação permanente aos profissionais da enfermagem para ofertar o parto humanizado as mulheres em período de parto. 

 Evidenciar quais os serviços estão disponíveis na política do parto humanizado. 

3. METODOLOGIA 

O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, revisão integrativa, realizada por via eletrônica, através de consulta de 60 artigos  pesquisados no site da SciELO (Scientific Electronic Library Online) e LILACS ( Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e no  Google Acadêmico dos quais apenas 15 artigos foram selecionados como amostra de estudo, os mesmos foram publicados nos últimos cinco anos no período de 2016 a 2022, a escolha da pesquisa desse formato se deu pela necessidade de sintetizar conhecimento publicado acerca do tema, proporcionando uma visão que possibilite o entendimento e discussão do assunto as informações obtidas foram apresentadas na forma descritiva.  

Segundo Nunes, et al (2016) na realização da pesquisa descritiva  e feito um estudo detalhadamente, análise, registro e  interpretação dos fatos,  sem a interferência do pesquisador, com a finalidade de observar , registrar e analisar o conteúdo pesquisado, assim para que a pesquisa alcance um grau de veracidade científica é necessário  uma precisa delimitação de técnicas, modelos, métodos, e teorias que orientarão a coleta e interpretação dos dados pesquisados. 

A fim de embasar a pesquisa o local de estudo foi no laboratório de informática do Centro universitário Planalto do distrito federal, UNIPLAN e encontros a domicílios. Os artigos científicos selecionados foram analisados em três etapas: 1ª pré-análise: leitura do material, 2ª exploração do material: processamento de dados, 3ª análise dos resultados: capacidade de mensurar e interpretar métodos buscando um retorno positivo. 

O estudo fez menção a importância da equipe de enfermagem durante a realização do parto normal ou parto Cesária, demonstra a relevância do trabalho do enfermeiro colocando-o como protagonista na assistência humanizada. Após a seleção dos artigos, foi feita uma leitura minuciosa do material obtido, para selecionar o que era de interesse para a pesquisa, os critérios da inclusão foram: artigos completos e disponíveis gratuitamente nas bases de dados, artigos publicados nos últimos cinco anos 2016 a 2022, artigos nos idiomas português, artigos listados no banco de dados em concordância com o tema escolhido: Parto Humanizado, Parto Normal, Parto Cesária e assistência de Enfermagem. Como critério de exclusão foram artigos que relacionam enfermagem com outros procedimentos, artigos cujo o ano excedia ao recorte temporal e aqueles publicados em outros idiomas.  

Toda pesquisa possui seus riscos e benefícios, que deverão ser ponderados, individuais ou coletivos, comprometendo-se, a pesquisa, com o máximo de benefícios possíveis e o mínimo de danos, sendo que o benefício de uma pesquisa científica é desenvolver e contribuir para o conhecimento a respeito do tema, com o objetivo de responder a expectativa do leitor, baseado no conhecimento científico da literatura. 

Por se tratar de uma reflexão por meio de uma revisão integrativa cuja fonte de dados é de domínio público e de livre acesso, o presente estudo de acordo com a Resolução n°466/2012, não necessitou de apreciação por parte do comitê de ética em pesquisa com seres humanos (CEP), de modo que esta pesquisa está sob a ótica da ética e responsabilidade. 

4. Resultados e Discussão 

4.1 Parto Humanizado  

A humanização da assistência ao parto tem sido delineada como resgate do acompanhamento do trabalho de parto respeitando a fisiologia deste momento tão importante na vida de uma mulher, faz parte deste processo respeitar os desejos da parturiente e o seu plano de parto. A expressão humanização foi amparada no ano de 2000, pelo Programa Humanização do Pré-natal e Nascimento (PHPN), por meio da Portaria GM/MS nº 569, de 1º de junho de 2000. Esse programa visa promover a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento do pré-natal, da assistência ao parto e ao puerpério para mãe e o bebê. (GOMES et al;2017) 

 Esse conceito de humanização do parto vem do fato de que muitos serviços hospitalares não seguem as instruções da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde (MS) e de outros órgãos que regulamentam o atendimento ao parto. Todo serviço de saúde que prestam atendimento a gestante devem seguir os princípios do PHPN que são: 1. Toda gestante deve ter o direito a um atendimento digno e de excelente qualidade durante todo o processo de gestação, na hora do parto e no puerpério. 2.Direito de conhecer a maternidade ou o hospital em que vai dar a luz. 3. Acesso à assistência ao parto e ao puerpério sendo realizada de forma humanizada e segura. 4. Todo Recém-Nascido (RN) tem direito à assistência neonatal de forma civilizada e protegida. (GOMES et al;2017) 

 Recepcionar a gestante, seus familiares e o Recém-Nascido (RN) com dignidade é um dever dos profissionais de saúde. Acredita-se então que a chave da humanização do parto se inicia no pré-natal pois é nesse período que a mulher deve receber orientações, da equipe de enfermagem, sobre como vai ser todo o processo de gestação ao puerpério ela também deve ser conscientizada de seus direitos. (GOMES et al;2017) 

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde o processo de parto é um fenômeno fisiológico e natural que pode ocorrer normalmente e sem obstáculos pela maioria das parturientes. No entanto, estudos revelam que as   mulheres grávidas, mesmo saudáveis, sofrem pelo menos uma intervenção clínica durante o parto, elas são submetidas a medicalização de rotina desnecessárias, para acelerar o nascimento do bebê, prejudicando o protagonismo da mulher em dar à luz normalmente. No dia 15 de fevereiro de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas regras que estabelece padrões globais de cuidado para gestantes saudáveis e diminuir as intervenções médicas desnecessárias, que antes eram utilizadas apenas para evitar riscos ou tratar complicações.  (Organização PanAmericana da Saúde).  

As novas diretrizes da OMS contêm 56 recomendações fundamentadas em evidências sobre quais cuidados serão essenciais durante o processo de parto e pósparto imediato para a mulher e seu recém-nascido, para que assim seja realizado um parto humanizado onde a parturiente é a protagonista da sua história. Entre elas podemos citar: a escolha de um acompanhante durante o parto; garantia de cuidados, respeito e diálogo entre a parturiente e a equipe de saúde; preservação da privacidade e confidencialidade; direito para que as mulheres decidam sobre o controle da dor, ou seja, bem como o desejo natural, de escolher a posição que prefere estar na hora do período expulsivo do feto. (Organização Pan-Americana da Saúde). 

4.2 Portaria nº 2.418, de 02 de dezembro de 2005 

Dia 02 de dezembro do ano de 2005 foi publicada a portaria nº 2.418, que regulamenta a Lei nº 11.108 de 07 de abril de 2005, que ficou conhecida como a “lei do acompanhante” que garante às mulheres o direito de ter acompanhante durante o processo de parto e pós parto imediato, em todos os hospitais públicos e conveniados ao SUS, as maternidades e hospitais de referência tiveram um prazo de seis meses para se adaptarem a nova portaria a contar da data de sua publicação (BRASIL, 2005) 

Apesar de ser uma garantia legal, a maioria das maternidades   não permitem que o acompanhante permaneça dentro da sala de parto, muitas vezes isso se deve devido ao espaço físico da unidade hospitalar ser pequeno, impossibilitando que o companheiro esteja presente junto a gestante, pois alegam que o mesmo pode atrapalhar o procedimento e aumentar o risco de infecção hospitalar. (TREVISAN et al;2019) 

Ainda em conformidade a fala do autor acima, as pesquisas comprovam que mesmo a mulher sendo bem atendida por vários profissionais da saúde durante o processo de parto, mesmo assim, ela se sente sozinha, insegura e desprotegida, longe de seu ambiente familiar. Portanto, a participação do acompanhante, nesse momento tão importante na vida de uma mulher, é essencial, proporcionando, proteção, força, conforto e segurança, minimizando a dor e o desgaste causado pelo trabalho de parto, proporcionando alegria emocional, física e mental, esse apoio do parceiro durante todo o processo de parto, deveria ser uma regra e não exceção.  

4.3 Vulnerabilidade das Mulheres em Período de Parto  

  A vulnerabilidade da gestante não se restringe somente no momento do parto, quando o pico da fragilidade é alcançado, mas também em outros contextos que precisa ser visto e analisados com muita cautela. Como por exemplo casos de mulheres em situação de rua e gestante que fazem uso abusivo de substâncias como o álcool e outras drogas. Durante o processo de parto há ocasiões como dor, sofrimento, solidão, preocupação com a chegada do bebê, hospitalização, são situações que amedrontam a parturiente, podendo fazer do parto uma experiência traumatizante havendo uma grande probabilidade de complicações obstétricas. (TREVISAN, et al.2019) 

A forma como o modelo assistencial é organizado no nosso país, é muito diferente do atual, comparado a outros países do mundo. Muitas vezes quando uma gestante é admitida em processo de parto, ela é afastada dos seus familiares e submetida a procedimentos invasivos, apesar de todas as políticas de humanização apoiada pelo governo. Ainda há muitas barreiras a serem superadas, como baixos salários, condição difícil de trabalho, grande demanda, falta de estrutura física e diagnóstica para um tratamento adequado. O que temos na realidade são condições precárias e não condizente com as necessidades estabelecidas pelas diretrizes da humanização, além do pouco conhecimento e capacitação, sobre humanização por parte dos profissionais. (TREVISAN, et al.2019) 

  Apesar das diferenças sociais, toda e qualquer gestante precisa ser acolhida, ouvida e respeitada, recebendo informações de forma clara e objetiva de acordo com a cultura de cada uma. Por falta de conhecimento e de apoio especializado muitas dessas mulheres se submetem a alguns tipos de violência fazendo com que esse momento de parto que deveria ser prazeroso e carregado de emoções se torne em algo traumático e doloroso. (TEIXEIRA,2017). 

4.4 Atributos da Equipe de Enfermagem no Contexto do Parto Humanizado  

Para Rocha et al (2020)  é necessário entender que existe uma diferença no modelo assistencial de parto no que tange o atendimento privado e o público, ainda nesse contexto existem fatores determinantes no processo gravídico – puerperal, fatores culturais, socioeconômicos, idade, sexo e raça, a relação que será construída entre a mulher e a equipe de enfermagem são fundamentais, tanto para a escolha da via de parto quanto no decorrer da gestação, parto e pós parto, pois é desde o pré natal que esses laços e acolhimento entre a equipe de saúde e a tríade (mulher, bebê, família) são fortalecidos,  vale destacar os desafios enfrentados pela mulher, tanto no parto cesáreo quanto no vaginal no que diz respeito a ações humanística.    O Ministério da Saúde do Brasil em 2000, decretou por meio da Portaria/GM nº. 569, o Programa de Humanização no Pré Natal e Nascimento. Desse modo Alves et al (2021) aponta que o processo de humanização do parto siga dois princípios, o primeiro, que as unidades e equipes de saúde receba com dignidade, pro atividade, ética, solidária e acolha a mulher, seus familiares e recém-nascido, o segundo referese a medidas baseadas em evidências científicas, procedimentos que tragam benefícios ao binômio (mãe-bebê), evitando práticas intervencionista desnecessárias. 

De acordo com Alves et al (2021) o processo de parturição e suas perspectivas no campo da obstetrícia, vem se modificando, o que antes era tido como um evento fisiológico natural passou a ser visto como um processo doloroso e perigoso para mulher, o parto natural deixou de ser uma opção confiável, onde as mulheres passaram a depositar sua confiança na assistência ao parto medicalizado, neste sentido o ambiente hospitalar passou a ser visto como o melhor local para a realização do parto,  trazendo um ambiente seguro às mulheres, contudo o protagonismo da mulher passa a ser dividido com o médico e a equipe profissional. Somente no final dos anos 80 a Organização Mundial de Saúde (OMS-1985), publicou recomendações e incentivos ao parto vaginal, aleitamento materno, alojamento conjunto, e acompanhante de sua escolha. 

  Para Souza  et al (2019) diante desse cenário é imprescindível que a equipe de saúde esteja preparada e qualificada para atender a mulher, a capacitação profissional fará toda diferença no que diz respeito à informações e acolhimento integral, não só para a gestante, mas para o seu familiar ou companheiro de sua escolha, para que o processo gravídico e puerperal possa ocorrer de forma humanizada, segura e prazerosa, é preciso haver interação, acolhimento, confiança, trocas de conhecimento e respeito mútuo por parte dos envolvidos, levando em consideração a singularidade de cada mulher, seus medos, anseios e expectativas  com relação ao parto. 

  Segundo Gomes et al (2017), o modelo humanístico precisa ser efetivado e colocado em prática pelos profissionais de saúde, nota-se que existe um conhecimento a respeito do assunto, mas falta atualização profissional continuada, outro fator importante com relação aos profissionais é que em muitos locais a equipe de enfermagem trabalha com o número reduzido de profissionais, o que dificulta o cuidado integral a essa gestante. Sabe-se que para se ter um parto humanizado precisamos que os profissionais de saúde estejam inteiramente ligados ao processo gravídico-puerperal, além de práticas de educação em saúde baseadas em evidências científicas.  

Não podemos falar sobre a humanização do parto sem citar a rede cegonha, que foi instituída pelo governo federal, por meio da Portaria nº 1.459 de 24 de junho de 2011, segundo Alves  et al (2017) a rede cegonha é uma estratégia do ministério da saúde, para implementação de uma rede de cuidados à mulher, organizada por quatro componentes,  visando assegurar o direito  ao plano reprodutivo e atenção humanizada durante a gravidez,  parto e puerpério, as crianças também são garantidas ao direito do nascimento seguro, ao crescimento e desenvolvimento saudável, a rede aborda a organização da atenção materno infantil, devendo este ser implementado de forma estrutural organizacional e gradativa em todo o território nacional, orientado pelo critério epidemiológico, taxa de mortalidade materno infantil e densidade populacional, uma das principais características é o respeito à diversidade cultural, étnica, racial, a participação e mobilização social, a promoção da saúde e da equidade. 

A rede cegonha é organizada por 4 componentes, pré- natal, que visa a captação da mulher, acompanhamento, realização de exames, programas educacionais, estratégia de comunicação social, o parto e nascimento, com garantia de leitos obstétricos e neonatais, métodos canguru, práticas de atenção à saúde baseadas em evidências científicas, classificação de riscos nos serviços obstétricos, direito ao acompanhante no acolhimento, parto e pós parto imediato, no puerpério e atenção integral à saúde da criança, que busca a promoção do aleitamento materno, incentivo a amamentação e alimentação complementar saudável, acompanhamento da puérpera e da criança, e por fim o sistema logístico transporte e regulação, que tem como objetivo o transporte seguro, atendimento móvel de urgência, situações de urgência em que é usado o Samu cegonha. (ALVES et al; 2017) 

Com base na menção do autor citado acima, a rede cegonha visa um parto mais humanístico, menos técnico, com o mínimo de intervenções  possíveis, além de práticas seguras, destacando a importância de humanizar todo o processo gestacional, parto e pós parto, aproximando o profissional da paciente, desse modo para se ter um parto seguro, cada etapa precisa ser realizada de forma assertiva, pois alguns problemas maternos fetais simples,  podem ser melhores conduzido, desde que seja realizado um pré- natal bem feito,  onde  as orientações necessárias são passadas,  evitando possíveis riscos e complicações, o  profissional de saúde tem um papel importante, pois é nesse momento de trocas de informações, que o profissional da saúde irá passar orientações, relacionadas a alimentação, atividade física, hábitos saudáveis, além de empoderar e encorajar essa mulher até o nascimento do bebê.   A equipe de saúde precisa assegurar o bem-estar do binômio (mãe-bebê), dar o suporte necessário tanto à mulher quanto aos familiares, destacando que a mesma poderá ter um acompanhante da sua escolha, direito este garantido pela Lei Federal nº. 11.108 de 07 de abril de 2005, vale lembrar que a equipe deve respeitar a cultura e singularidade de cada mulher, levando em consideração o processo fisiológico natural do parto, garantindo que a gestante sofra o mínimo de intervenções possíveis, apresentando formas que auxiliem e minimizem a dor, seja através do uso da bola, banhos de chuveiro, uso de cavalinhos, massagens, ou terapias medicamentosas, destacando sempre o bem-estar da mãe e do bebê. (GOMES et al; 2017) 

Para isso é necessário que o enfermeiro envolvido no atendimento a parturiente seja sensitivo  para ouvi-las, compreendê-las e encorajá-las, na intenção de aproximar o nascimento do neonato em um procedimento mais natural possível, esse olhar humanístico deve acontecer desde o primeiro contato com a gestante, ou seja desde o pré natal, onde a equipe de saúde estando preparada técnico cientificamente irá acolher de forma integral, enxergar verdadeiramente e as acolher em suas necessidades de  forma sutil e respeitosa, construir vínculos que se estenderão  até o nascimento, fazendo com que cada etapa do processo gravídico- puerperal  seja especial e menos doloroso  possível, destacando  o protagonismo da mulher em cada detalhe (SOUSA et al; 2019). 

Os achados deste artigo foram sistematizados visando responder à questão norteadora: Como está sendo realizada a assistência de enfermagem no parto humanizado? Segundo Matos, Santos e Santana, 2022, os estudos mostram que a atuação do Enfermeiro no momento do parto é de grande importância, pois o enfermeiro é o responsável em promover o conforto da gestante, a fim de oferecer um ambiente seguro e humanizado. Assim o enfermeiro pode adotar várias condutas durante o processo de parto, como por exemplo, métodos não farmacológicos para o alivio da dor, que são: formas de relaxamento, técnicas de respiração, banho morno, deambulação, massagem e uso da bola, uma das funções do enfermeiro é evitar que o processo fisiológico do parto seja motivado por substâncias farmacológicas podendo causar efeitos adversos, levando de forma negativa a experiência em dar a luz, vivenciada pela parturiente.  

É importante ressaltar que os enfermeiros e demais profissionais envolvidos na assistência ao parto, necessitam de um investimento em capacitação,  devendo ser realizado oficinas periodicamente que promovam esse ideal de humanização, podendo também ser feitas mudanças na infraestrutura de alguns órgãos da saúde, que não são adaptados para receber  gestantes, apesar de serem chamadas de maternidade, pois ainda existem diversas atuações imprópria que não é digna de humanização, causando transtorno e medo a parturiente. MATOS, SANTOS, SANTANA (2022). 

Conclusão 

Esse estudo buscou analisar como está sendo realizada a assistência de enfermagem ao parto humanizado, tendo em vista que é um assunto de suma importância e relevante não só para a sociedade acadêmica, mas também para comunidade de forma geral, pela necessidade de compreender sobre a humanização do parto e os benefícios tanto para mãe quanto para o bebê, o objetivo proposto nesse estudo fora levar informações baseadas em estudos técnico científico às equipe de enfermagem e a todos os envolvidos com a saúde da mulher. 

Embora existam as portarias e leis sobre a humanização, como é o caso da Lei do Acompanhante, estudos mostraram que a Lei Federal nº. 11.108 apesar de estar em vigor desde 07 de abril de 2005, ainda existem mulheres que desconhecem e grande parte delas não são informadas pela equipe de enfermagem quanto a seus direitos legais. É dever do profissional enquanto enfermeiro orientar e sanar quaisquer que sejam as dúvidas dessa mulher desde o pré-natal, parto e puerpério. Já as gestantes que conhecem a lei, por medo ou vergonha acabam não questionando o profissional, não exigindo os benefícios propostos em lei. 

Outro ponto abordado na revisão bibliográfica foi a falta de acolhimento e encorajamento por parte da equipe de enfermagem ao parto natural, muitas gestantes não expõem suas dúvidas, ansiedade e anseios por receio de represálias e desatenção proposital. Observou-se a falta de inclusão do familiar nas tomadas de decisões no processo gravídico puerperal, decisões que muitas vezes são impostas pela equipe médica e de enfermagem, diante disso cabe ao enfermeiro orientar essa gestante, de forma que o plano de parto esteja alinhado entre a mulher e o seu parceiro, prevalecendo sempre a vontade e os desejos da mulher em todo o processo gravídico puerperal. 

 Observou se ainda que um pré-natal bem realizado aumenta a chance de um parto bem sucedido, mulheres que são orientadas, encorajadas e compreendidas pela equipe de enfermagem tem maior chance de optar por um parto natural, o estudo mostra ainda que as leis e os programas são eficazes quando exercidos, o que pode favorecer o aumento da prática do parto humanizado e a promoção de seus benefícios. Vale ressaltar que uma maior capacidade de fiscalização dos possíveis atos desatenciosos por parte da equipe de saúde deve vir de órgãos competentes, sejam eles governamentais, sindicais ou internos. 

Outro fator importante é que apesar do conhecimento técnico adquirido na vida acadêmica e profissional, não dispensa o enfermeiro de buscar atualização e educação continuada, além de embasamento científico. A revisão mostrou ainda a importância do enfermeiro nas práticas que auxiliam e minimizam a dor durante o trabalho de parto, seja através de orientações como banhos de chuveiros, massagens ou terapias medicamentosas. 

Além das orientações iniciais que são repassadas no primeiro contato com a mulher até o puerpério, a educação continuada é de suma importância e faz toda diferença quando realizada de forma assertiva baseadas em conhecimento técnico científico. As chances de um parto humanizado bem sucedido aumentam quando há inclusão, interação, educação continuada e laços afetivos que são construídos entre a equipe de enfermagem e a mulher desde a gestação até a chegada do bebê. 

Referências  

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