PARA CADA VIOLÃO, UMA NOVA HISTÓRIA”: A OBRA MINIATURAS DE EVALDO PASSOS SÉRVIO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7296718


Denison D’ Johnson Alves da Silva
Jairo Aurélio de Deus Sousa


Resumo:  O presente artigo tem como objetivo apresentar caminhos metodológicos para o estudo da obra Miniaturas do professor, compositor e arranjador Evaldo Passos Sérvio. No entanto, tratou-se de discutir sobre os pontos históricos que norteiam a pedagogia do violão. Realizou-se o levantamento bibliográfico, tendo aporte teórico autores como Sérvio (2015), Carlevaro (1979), Pinto (2005), Foram apresentado as obras de Evaldo Passos Sérvio, e com enfoque principal nas Miniaturas, desvendando o discurso musical no intuito de propor formas de estudo e de vivência musical.

Palavras-chave:  Pedagogia do Violão, Evaldo Passos Sérvio, Miniaturas;

1. INTRODUÇÃO

A necessidade de uma orientação adequada dos diversos métodos para o ensino de violão que abranja um ensino contextualizado – atendendo os desafios da educação musical contemporânea – implica numa abertura didático-pedagógica quanto ao conhecimento de como cada método desencadeia suas ideias e princípios metodológicos.

Nesse contexto estão os espaços de educação musical – como faculdades, conservatórios, cursos livres, e espaços virtuais – onde alunos interessados em aprender ou qualificar-se no violão, acessam e investem nesses espaços. Deste modo, realizar uma análise crítica quando da existência de métodos que contribuam para a pedagogia do violão num sentido geral, e que podem ser adaptados em situações específicas e em determinados ambientes de ensino musical é de fundamental importância para prática pedagógica de ensino do instrumento.

No intuito de realizar uma orientação que condiz com os anseios e necessidades do educando e que atenda as exigências curriculares de cada espaço de ensino, a professora ou professor de violão se depara com os desafios de perceber dentre os mais diversos métodos de ensino qual se adequa aos modos e maneiras de ensinar esse instrumento para aquele este específico. 

Deste modo, realizar uma análise crítica quando da existência de métodos que contribuam para a pedagogia do violão num sentido geral, e que podem ser adaptados em situações específicas e em determinados ambientes de ensino musical é de fundamental importância para prática pedagógica de ensino do instrumento.

A diversidade de métodos para o ensino de violão fez-se levantar uma problematização: como contextualizar estudos, já existentes, para violão dialogando com um direcionamento científico e crítico?

E é nesse intuito que o presente trabalho tem como foco apresentar 4 peças, intituladas Miniaturas, do professor e violonista Evaldo Passos Sérvio, desvendando as suas características e possíveis formas de uso dentro da perspectiva da pedagogia no ensino de violão. Trabalharemos também como questões de atravessamento: observar os aspectos característicos de cada miniatura e suas finalidades para a aprendizagem do instrumento; ampliar formas de uso para cada miniaturas; apresentar possibilidade de digitação e de re- harmonização; direcionar cada estudo para diferentes níveis de alunos;

Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, sendo realizado o levantamento de métodos para o ensino de violão. E para a estruturação desse artigo na introdução houve a exposição dos temas, dos objetivos, da problematização e da justificativa da pesquisa. Na revisão de literatura discutiu-se sobre as contribuições de métodos para violão, enfocando assim a pedagogia musical deste instrumento. 

Num terceiro momento, realizou-se uma breve apreciação das obras de Evaldo Passos Sérvio, no intuito de analisar as características estéticas e estilísticas do autor. Em seguida, o enfoque se deu na análise das miniaturas e de sua contribuição para o contexto do ensino do instrumento violão. 

Nas considerações finais considerou a importância do diálogo entre as diferentes pedagogias para o instrumento, e de como a obra de Evaldo Passos se estabeleceu de forma sistemática dentro desse contexto de ensino de violão.

2. REVISÃO DE LITERATURA

As obras para violão do professor e violonista Evaldo Passos Sérvio apresentam tanto uma contribuição no quesito de desenvolvimento para a prática do violão solo, como para a prática em conjunto (de música de câmara) e para o ensino em ambientes de ensino de violão.

Apresentamos um breve histórico de Evaldo Passos Sérvio, nascido em 04 de Maio de 1957, natural de Teresina- Pi, “mestre em educação, violonista, flautista, arranjador e compositor” (SÉRVIO, 2015), optou-se por citar um trecho do próprio autor no posfácio da obra Miniaturas:

O contato com o violão e o piano vem da adolescência. Na realidade, não pensava em estudar música, pois me tornei professor de inglês do Instituto de Idiomas Yázigi e queria cursar Letras. Porém, a música guiou para o Curso de Educação Artísticas da UFPI em 1978. Estudei violino com os Mestres Emanuel Coelho Maciel e Leocádio de Assis. O violão soou mais forte, e tive que estudar como autodidata, (...) Concluído a graduação em 1985, somente quatro anos depois fiz concurso para professor do Departamento de Educação Artística, passando a desenvolver intensa relação entre ensino e extensão (SÉRVIO, 2015)

No entanto, é necessário frisar a existência de diversos métodos que são amplamente ou de certa forma “populares” nos ambientes do ensino de violão. Além disso, ressalta que a contribuição da diferente autora e sua respectiva obra evidencia que os métodos não se constroem de forma isolada, mas que se detém um legado histórico que viabiliza uma continuidade para prática e o desenvolvimento da linguagem e fluência desse instrumento. Deste modo, é possível perceber o diálogo entre exercícios de dedilhado em obras de Henrique Pinto e Abel Carlevaro (1974), e trechos com semelhança, em estudo para violão de Heitor Villa- Lobos, a saber, o estudo Nº1, para citar como exemplo.  

Historicamente, violão é considerado um instrumento amplamente difundido, abrangendo toda uma diversidade de repertório popular e erudito. De acordo com Pinto (2005)

A história do violão tem um longo caminho, desde seus primórdios no século XVI até o violão atual, com todo o seu repertório caracterizando cada período e cada compositor em sua linha de criação, seus intérpretes ou compositores [...] ressurgiu a cada um destes períodos pela mão de seus verdadeiros cultores, que valorizaram e reconstruíram sua história colocando-o em sua posição de justiça.  (PINTO, 2005, p. 07).

No contexto do violão se destacam as escolas que influenciaram, e até os dias atuais se fazem presentes nos ambientes de ensino, deste modo:

Podemos definir “escola” como uma série de atitudes particulares de uma determinada forma do ensino no instrumento. O violão tem suas “ escolas” que foram se tornando padrões e convertidas em “ tradicionais”. Como exemplo temos a “ Escola de Tárrega”, que foi ingenuamente representada por uma postura de mão trazida por uma postura de mão, trazida por seu autor e representada numa antológica foto. (PINTO, 2005, p. 51)

Neste sentido, as obras de Evaldo Passos Sérvio, de certa forma, apresentam características pertinentes ao provável modo que o autor concebe o ensino de violão, mas não se percebe uma necessidade de formar uma escola com características e imposições ou posicionamentos rígidos e/ou doutrinadores, pelo contrário, é notável a fluência com os parâmetros da educação musical contemporânea, que trazem uma perspectiva ampla e aberta, considerando as inúmeras diversidades e contexto de ensino. Historicamente, destaca-se a obra de Luis Milan (1500-1561), considerado um dos primeiros métodos para os instrumentos como a Vihuela, considerado ao antecessor do violão, pelos teóricos e musicólogos:

O El Maestro é um livro didático, o primeiro método de cordas dedilhadas a ser publicado na Península Ibérica. A intenção pedagógica do livro está clara não só no seu título, como também na ordem em que as obras estão arranjadas, indo de fantasias simples até obras complexas, como é o caso de certos tientos e algumas fantasias. (DUDEQUE, 1994, p. 15)

Assim, o estudo e a aprendizagem de um instrumento direcionam-se em muitos casos, a prática de pequenos estudo ou de determinado repertório, no violão, este fato é bastante comum, embora seja evidente que cada instituição de ensino, tenha suas estruturas metodológicas e que cada aluno tem sua forma, ritmo e características musicais e de desenvolvimento musical. 

Nas obras para violão de Evaldo Passos, encontram-se estudos direcionados às mais diversas técnicas e necessidades musicais, perpassando pelo trabalho melódico, rítmico e harmônico.

Entretanto, é possível citar outras obras que foram relevantes, no desenvolvimento e na história da pedagogia do violão. O espanhol Francisco Tarrega, destaca-se entre os nomes que contribuíram para o aprimoramento do violão, considerado o violonista que estabeleceu os parâmetros para o violão moderno e contemporâneo (DUDEQUE, 1994, p.80).

Seu trabalho visa todos os aspectos do violão, desde o mais rudimentar exercício até a sua execução dos mais intrincados problemas que possam surgir na execução de uma peça. Tárrega procurava resolver todos os problemas que surgiam durante o período de preparação de um repertório. Seu sistema de estudo incluía fazer exercício durante um longo período; escalas, arpejos, ligados, acordes e todos efeitos instrumentais, para em seguida estudar as obras, desta forma não haveria não haveria surpresa de dedilhado. Ele era aluno e professor dele mesmo e só tendo vivido a experiência de tocar é que chegava às conclusões pretendidas. (DUDEQUE, 1994, p. 13)

De certo modo, toda contribuição situa-se num determinado período, com necessidades que condizem com a época, acredita-se que para época de Tarrega e para gerações posteriores e até os dias atuais, seu legado é de extrema relevância, porém, reitera-se que novas necessidades, concepções e linguagem, surgem com o tempo, exigindo conceitos aprimorado, agregados, de releitura, e/ou criados, oportunizando, diferentes olhares para gerações futuras.

Os cadernos Nº 1, 2, 3, e 4 de Abel Carlevaro, também compõem, um dos importantes trabalhos, para a história da pedagogia do violão, embora tenha realizado um trabalho composicional relevante, seu legado, é citado e vivenciado, principalmente pelo seus cadernos para o estudo da técnica.

Uma “ escola “ mais é a “ Carlevariana”, ou melhor, a escola de Abel Carlevaro. Ele tem uma forma, digamos, científica de abordar os problemas técnicos do violão. Todos os gestos têm uma explicação racional, o uso de todo o corpo fazendo parte da movimentação dos dedos, os diversos toques da mão direita para a obtenção dos vários timbres possíveis do violão, como e onde sentar e sua implicação na longevidade do violonista, não prejudicando a coluna e musculatura usada no ato de tocar. Assim como Tárrega, Carlevaro fez seus experimentos durante seu trabalho com o violão, assim sintetizando sua “ escola”. (idem, p. 51)

De acordo com Carlevaro:

Deve-se compreender que não existe um desenvolvimento técnico eficiente, sem um esforço constante das faculdades intelectuais do aluno. Por outro lado, não há dúvida de que os métodos empregados para o ensino do instrumento, salvo exceções de casos que felizmente existem, são insuficientes e ocasionam ser difícil conseguir o domínio técnico sem o material de ensino adequado para uma educação integral. (CARLEVARO, 1979, p. 02, Tradução nossa)

Neste momento, destaca-se a importância quanto a organização, os objetivos, a finalidade e de certa forma o público, que um método, até certo ponto pode alcançar. Entretanto, não se pretende afirmar que o alcance seja limitado, assim, levanta-se a hipótese de que é possível que um método tenha a capacidade de atingir públicos, para diferentes possibilidades. 

Assim, citamos o livro Prática em Conjunto para Quarteto Violão de Evaldo Passos, nesta obra encontramos arranjos direcionados para grupo de câmera, especificamente quarteto de violão, porém, é possível que se façam adaptações das vozes do arranjos para outros instrumentos, como por exemplo, para cavaquinho, bandolim? Possivelmente, embora ainda não tenha havido grupo que tenha promovido tal realização, na obra deste autor, mas um arranjo pode ser adaptável a outros instrumentos, desde que respeitando os limites e as características idiomáticas de determinado instrumento.

No Brasil, o violonista e educador Henrique Pinto, destacou-se por ter produzido diversas obras relevantes (PINTO, 1999, 2005), e que se fazem presentes nos círculos de pedagogia do violão brasileiro. Segundo este autor:

O conhecimento de várias “escolas violonísticas" se faz necessário, pois é na experimentação desta diversidade pedagógica que podemos usar de suas particularidades, e saber como utilizar as propriedades de cada uma num determinado momento da evolução do aluno. Seguir teimosamente um determinado caminho e não acontecer o previsto resultado é hora de mudar de estratégia e trabalhar um novo repertório e estudar o aluno como um todo, esta atitude faz parte do trabalho pedagógico. (PINTO, 2005, p. 52)

Partindo, desta premissa, de conhecer várias escolas, autores e repertórios, destaca-se logo na tabela 1, um mapeamento de importantes violonistas, teóricos e compositores que forneceram um legado significativo na história do violão:

Dionisio Aguado (?)
Fernando Sor (1778- 1839)
Mateo Carcassi (1792- 1853)
Ferdinando Carulli (1770- 1841)
Mauro Giuliani (1781- 1829)
Francisco Tárrega (1852- 1909)
Andrés Segovia
John Williams
Leo Brower
Abel Carlevaro
(DUDEQUE, 1994)
Tabela 1 – Mapeamento de importantes violonistas na história do violão

No Brasil, destacamos violonistas e compositores importantes para compreensão desse instrumento, como segue na tabela 2

Evaldo Passos Sérvio
Henrique Pinto
Baden Powell
Heitor Villa- Lobos (1887- 1959)
João Pernambuco
Aníbal Augusto Sardinha  (1915- 1955)– O Garoto
Dilermando Reis (1916- 1977)
Rafael Rabello
Paulo Belinnatti
Yamandu costa
Paulinho Nogueira
Turíbio Santos
Nonato Luis
Emanuel Nunes
Erisvaldo Borges
Edino Krieger
Egberto Gismonti
Duo Assad
Badi Assad
Marco Pereira
Josué Costa
Alessandro Penezzi
Tabela 2 – Importantes violonistas brasileiros

A significativa contribuição de intérpretes, compositores e teóricos, concedida ao violão, enfatiza a popularidade deste instrumento nas diversas vivências musicais. Nos demais capítulos, será apresentado as obras de Evaldo Passos direcionadas a este instrumento.

3. UMA BREVE APRECIAÇÃO DAS OBRAS PARA VIOLÃO DE EVALDO PASSOS SÉRVIO

A partir da apreciação da obra do professor e violonista Evaldo Passos torna-se viável um desvelamento das concepções que o autor apresenta, tendo em vista que o d1. iscurso musical dentro das peças, dos estudos, arranjos e composições revelam as características e as formas de estruturação inerente às diversas funções que as suas obras podem oferecer como contribuição a pedagogia do violão.

Para tanto, apresenta-se 3 (três) obras sendo elas a primeira Prática de Música em Conjunto para quarteto de violão (2002), a segunda Violão solo Popular (2015) e a terceira obra violão solo (2004), sendo que em cada obras percebe-se formas estética e estilísticas e contextuais, com objetivos e finalidades que encontram pontos específicos e ao mesmo em comum.

Entretanto, cabe ressaltar que se constitui algo necessário o conhecimento das escolas dentro do contexto violonístico para que seja possível um diálogo que fomente a discussão e o desenrolar crítico dentro de uma perspectiva de desconstrução e produção com caminhos abertos a novas formas de conceber a aprendizagem violonística:

Assim:

O conhecimento de várias “escolas violonísticas"  se faz necessário, pois é na experimentação desta diversidade pedagógica que podemos usar de suas particularidades, e saber como utilizar as propriedades de cada uma num determinado momento da evolução do aluno. Seguir teimosamente um determinado caminho e não acontecer o previsto resultado, é hora de mudar de estratégia e trabalhar um novo repertório e estudar o aluno como um todo, esta atitude faz parte do trabalho pedagógico. (PINTO, 2005, p. 52)

Além do conhecimento das diversas escolas, acredita-se que o aprofundamento na obra de determinado autor poderá criar aberturas para a criação de procedimentos metodológicos de acordo com a necessidade individual e de contextos e espaços de ensino musical.

Na obra Prática de Conjunto em Música Brasileira- Quarteto de Violões, encontramos uma sequência de temas com arranjos que, como já vimos no título da obra, direciona-se para quarteto de violões. O repertório destaca arranjos da música brasileiras, tendo o livro a seguinte sequência Passos (2002): a) Suíte Infantil (Samba – Lelê, Nesta Rua, Sapo Cururu, Teresinha de Jesus); b) Gonzaguianas (Asa Branca, Que nem Jiló, Baião); c) Trenzinho de Caipira; d) Odeon; e) Ponteio; f) Upa, Neguinho.

No primeiro arranjo da suíte Infantil, nos deparamos de início com a utilização de harmônicas no violão, proporcionando a exploração de timbres dentro da cantiga de roda, além indicação de dinâmica ao executar os harmônicos, segue o trecho (PASSOS, 2002, p. 13).

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A utilização de trechos onde deve ser trabalhada a respiração longa, com frases ininterruptas surgem em compassos como 64 seguindo o trecho melódico nos compassos seguintes:

O trecho apresentado acima refere-se ao 4 tema da suíte infantil, tema Teresinha de Jesus, cabe ressaltar, as possibilidades de rearranjo desse repertório, pois, nestes temas, geralmente, as melodias são curtas, não exigindo virtuosidade na execução das frases.

Outro aspecto importante é a possibilidade de harmonização dos temas, baseado na concepção do arranjador e de suas influências musicais; como exemplo no compasso 73 , onde o acorde de D7M/F#, é distribuído entre as quatro vozes, possibilitando a criação de uma sonoridade jazzística num repertório folclórico. Além disso, ressalta-se o uso do pizzicato no compasso 66, em que violão 1 e 2 realizam o pizzicato e os violões 3 e 4, continuam executando harmonia e um contraponto sem efeitos, criando assim uma textura sonora equilibrada e diversificada.

O arranjo intitulado “Gonzaguianas” explora os temas do intérprete, compositor e representante da cultura nordestina Luiz Gonzaga, com apresentação de motivos de Asa Branca, Que nem Jiló, Assum Preto, além de trechos de autoria do próprio autor Evaldo Passos.

Um dos trechos a serem destacados se encontra logo no início da peça, com o uso de pedais nos violões 1 e 2, algo utilizado no repertório “violonístico” e que foi imortalizado na obra José Aníbal Sardinha, O Garoto. Reforçando, a ideia de que o estilismo presente na linguagem e no repertório “violonístico” dialogo seja na música solo e em conjunto.

Além disso, é possível destacar, a utilização de técnicas expandidas no violão, como o uso percussivo indicado pelo arranjador, como no trecho a seguir:

A segunda obra de Evaldo Passos que será brevemente apresentada intitulada Solo: vinte estudos para violão, aborda uma sequência de 15 estudos, com a proposição de 5 peças

Desta maneira, as peças aqui apresentadas limitam-se à aplicação dos modos gregos, escalas diatônicas e simétricas, formação de acordes ( com e sem pestana), modelos de arpejos, utilização de legato, pizzicato, harmônicos, mudança de posição e mecanismo para mão direita, sempre dentro de um contexto sonoro, de modo que o estudante curioso inevitavelmente indagará: que escala ou acorde estou tocando, como executo este harmônico ou mesmo qual seria a digitação mais lógica para esta peça? Assim, ele terá um encontro musical com a prática e, a partir dela, questionar os fundamentos teóricos (PASSOS, 2004).

A partir deste posicionamento levanta-se a possibilidade de delinear as concepções teóricas que norteiam o trabalho do autor, sistematizando os tópicos na aprendizagem musical com arpejos, harmônicos, pizzicato e ao mesmo tempo pontuando a necessidade do educando de explorar as possibilidades de escolher as próprias formas de vivenciar o aprendizado musical, indagando a si mesmo sobre como executar os estudos e as peças do autor.

Na obra Solo, destaca-se a peça Samba in Nebraska, sendo esta uma síntese deste livro, com a apresentação de temas rítmicos, das técnicas de arpejos,

Logo no início, percebe a utilização de harmônicos, e de acordes que se constroem por assim dizer, em contextos harmônicos diferentes do campo harmônico da tonalidade principal de Lá maior, com a indicação de Calmo, como item para a interpretação. 

Em seguida, destaca-se a indicação rítmica da peça, com a indicação sambando:

No desenvolvimento da peça é notável, a concepção de que em alguns trechos encontramos uma digitação direcionado, entretanto em outros fica livre a escolha pelo intérprete, reforçando assim, a ideia do autor de unir o idiomatismo e o legado do instrumento com a liberdade na execução do aluno, como podemos notar no trecho a seguir:

A partir da apreciação das obras torna-se viável discutir como o autor constrói e propõem caminhos para o aprendizado e a prática musical, revelando em seus estudos e peças às suas concepções musicais.

4. ANÁLISE DAS PEÇAS MINIATURAS DENTRO UMA PERSPECTIVA NO ENSINO DE VIOLÃO

O presente capítulo tem como intuito apresentar 4 peças do Violão Solo de Evaldo Passos, trazendo um direcionamento sistematizado de como cada estudo poderia ser feito, desta forma apresentado a perspectiva de que é possível depois de construído um método para instrumento, o educador possa acrescentar a sua própria contribuição, gerando novas formas de perceber e vivenciar determinado método musical.

Desta forma:

O professor de violão vem a ser um educador, seu status representa alguém que tenha pleno conhecimento de sua profissão, tanto à parte de todo o seu funcionamento técnico e como aplicá-la em cada aluno. [...] O educador é a pessoa que procura brechas para o melhor funcionamento de cada aluno, é estimulá-lo em seu trabalho, procurar o repertório adequado à sua personalidade musical [...], enfim, ser um profissional ético em todos os aspectos exigidos por seu trabalho, nos princípios que regem a técnica do violão e humanista. (PINTO, 2005, p. 51- 52)

No presente estudo Miniatura Nº 4 percebe-se a exploração do braço do instrumento, com o uso de ligaduras, de notas vizinhas por graus conjuntos, salto de cordas, exercitando a autonomia dos dedos indicador e médio juntamente com o polegar.

Para tanto, segue-se um conjunto de sugestão para o estudo desta miniatura:

Indicar possíveis digitações para a execução, já que o autor deixa essa escolha livre, dando ao educador para decidir a digitação, lembrando que neste caso poderá haver uma escolha conjunta entre educador e aluno.

No trecho abaixo, considerando os compassos 1 e 3 como padrões, seguem-se as seguintes digitações:

1 digitação (M.E): 1, 2, 3,4

2 digitação: 2, 3, 3,4.

3 digitação; 1, 3, 2, 4.

4: digitação: 2, 4, 2,4

Já os compassos onde houver indicação com p (polegar), sugere-se o estudo com a substituição do polegar pelo:

1: indicador, médio

2- indicador, anelar,

3- médio, anelar;

4- apenas com o polegar

Outra possibilidade seria o estudo do trecho com harmônico, uma técnica que explora o fato “timbrístico” do instrumento, seguindo o trecho a seguir.

Na miniatura 27 percebe-se pelo discurso musical, a possibilidade de estudo de notas repetidas, com o uso de cordas. Ressalta-se que Carlevaro (1967, p.22) em seu Caderno Nº 2, já abordava semelhante proposta, no entanto com procedimentos metodológicos diferentes. 

Além disso, neste campo da pedagogia do violão, é necessário considerar que cada autor se insere em determinado contexto educacional, histórico e estético, com objetivos que podem se diferenciar, embora possa haver o cruzamento de pedagogias, em diversos momentos e em produções de obras para o ensino do instrumento.

Logo a seguir, veremos um trecho desta miniatura com o discurso musical indicando, embora de forma dedutiva, o estudo da mão direita com objetivo de desenvolver o trêmolo.

miniatura Nº 14, o direcionamento musical para o estudo da técnica sugere o enfoque no contexto harmônico, com a apresentação de arpejos e melodias, e acordes com forma de desenvolvimento musical. É notável que no decorrer da obra, o autor proporciona ao estudante de violão a possibilidade de compreender as suas características estéticas e de estilos, e como este o violinista Evaldo Passos, fundamenta seus princípios na pedagogia do ensino do violão.

Finalmente, após a apresentação de todas as Miniaturas (27 estudos no total), o autor finaliza a obra com temas folclóricos apresentados quartetos para cantigas de roda. Desta forma demonstrando, que a relevância de prática de violão solo, e ligando esta mesma prática, a vivência da música em conjunto e “cameristica”.

Nota-se que as pedagogias e concepções filosóficas para a metodologia se encontram de certa maneira, assim de acordo com Pinto:

O estudante de violão (ou qualquer outro instrumento), seu trabalho para alcançar uma maior coordenação motora, que dará o espaço para tocar um repertório cada vez mais complexo, passa por etapas de desenvolvimento em que sua técnica vai ampliando e o repertório vai se tornando mais complexo. (PINTO, 2005, p. 40)

A relação envolvendo a construção de um repertório aliado a técnica realça e dá margem a discussão sobre a importância de um trabalho em conjunto entre educador e educando, no estudo do instrumento, visto a abrangência histórica do violão e da quantidade e variedade de métodos e de instrumentistas que influenciaram os diversos períodos neste instrumento na história da música ocidental. Além disso, é notável a contribuição do violão brasileiro e da diversidade rítmica possível de ser estudada baseado nos gêneros da música brasileira. Assim, o estudante encontra-se diante de uma variedade de possibilidades e caminhos a serem vivenciados e apreendidos neste instrumento tão difundido na cultura musical.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conceber uma pedagogia para o estudo de forma inédita, é um fato, no entanto, que almejava uma total abstenção e anulação de todo legado que foi e tem sido deixado na história do violão, tendo em vista o grau de projeção e popularidade deste instrumento, falando mais especificamente da cultura musical brasileira.

No intuito, de apresentar de forma ainda que sucinta a obra do violonista e professor Evaldo Passos Sérvio, foi necessário haver um resgate e uma discussão histórica, baseado, na citações e concepções em que autores e suas respectivas obras para o violão proporcionaram, em diferentes contextos e épocas.

Acredita-se que na obra miniatura, é possível perceber que o amadurecimento sistematizado de um educador se realiza em diferentes níveis, com as características estilísticas e estéticas se desenrolando ao decorrer da obra. Afinal, o produto pedagógico musical se revela através do todo, sendo necessário haver uma análise criteriosa do que o autor já realizou, e partir de então, entender que uma pedagogia para o instrumento existe de um processo constante da desconstrução, construção e vivência do fazer musical. 

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 1Debe comprenderse que no hay um desarrollo técnico eficiente, sin un esfuerzo constante de las facultades intelectuales del alumno. Por otra parte, no hay duda de que los métodos empleados para la enseñanza instrumental, salvo en casos excepcionales que afortunadamente los hay, son insuficientes, y resulta difícil conseguir el dominio técnico sin el material de enseñanza adecuado para una educación integral. (CARLEVARO, 1966, p. 02)