REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7288624
Bárbara Pereira Borges1
Letícia Da Silva Guedes2
Marina Shinzato Camelo3
Resumo:
Objetivo: Avaliar a qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica (DRC) em tratamento hemodialítico. Método: Estudo de revisão da literatura integrativa, realizada por meio das etapas: identificação do problema, pesquisa bibliográfica, avaliação dos dados, análise dos dados e relatório. A busca foi realizada nas bases de dados LILACS e Scielo. Resultados: O início do tratamento é marcado por mudanças e restrições que têm como propósito levar a uma melhor qualidade de vida e o acompanhamento da equipe multiprofissional permite uma assistência completa e individualizada através de ações de promoção de saúde e prevenção dos fatores de risco, elaborando estratégias para ofertar essa assistência de qualidade. Conclusão: A participação e as intervenções de enfermagem melhoram a qualidade de vida e a percepção de saúde dos pacientes renais crônicos em hemodiálise.
Palavras-chave: Hemodiálise Convencional; Assistência de Enfermagem; Qualidade de vida.
Abstract:
Objective: to evaluate the quality of life of patients with chronic kidney disease (CKD) undergoing hemodialysis. Method: integrative literature review study, carried out through the steps: problem identification, bibliographic research, data evaluation, data analysis and report. The search was carried out in the LILACS and Scielo databases. Results: the beginning of the treatment is marked by changes and restrictions that aim to lead to a better quality of life and the monitoring of the multidisciplinary team allows a complete and individualized assistance through actions of health promotion and prevention of risk factors, elaborating strategies to offer this quality assistance. Conclusion: participation and nursing interventions improve the quality of life and health perception of chronic renal patients on hemodialysis.
Keywords: Conventional Hemodialysis; Nursing Assistance; Quality of life.
1. INTRODUÇÃO
A Doença Renal Crônica (DRC) é uma síndrome complexa que consiste na perda progressiva da função dos néfrons, fazendo com que os rins se tornem incapazes de filtrar o sangue e manter a homeostase do corpo. Estudos evidenciam a hipertensão arterial e a diabetes mellitus como fatores de risco para o desenvolvimento desse distúrbio (AGUIAR et al., 2020; SIQUEIRA et al., 2021).
Nos últimos anos tem-se notado o crescente número de casos de pessoas acometidas por essa patologia, atingindo a população de diversas faixas etárias, representando um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Essa síndrome, considerada ainda sem cura, vem sendo responsável pelo aumento da taxa de mortalidade devido às suas complicações (MARÇAL et al., 2019).
Os tratamentos disponíveis atualmente para a substituição das funções renais podem ser: diálise peritoneal, hemodiálise e o transplante renal. Sendo a hemodiálise a mais utilizada com esses pacientes. Essa terapia pode aumentar consideravelmente a expectativa de vida do indivíduo (MARÇAL et al., 2019).
O procedimento se resume em fazer a remoção de substâncias tóxicas e do excesso de líquido do organismo através de uma máquina extracorpórea, em média três vezes na semana, em um período aproximado de três a cinco horas, de acordo com a necessidade do paciente (MARÇAL et al., 2019).
Devido à jornada semanal extensa de tratamento e a rotina monótona e restrita, relatadas pelos pacientes, a hemodiálise se torna uma das terapias de caráter crônico que mais afetam negativamente a Qualidade de Vida (QV) dos pacientes (SANTOS e SARDINHA, 2018).
O diagnóstico de DRC acarreta uma série de mudanças significativas na realidade desse paciente, eles precisam adaptar seus hábitos alimentares, lidar com a sobrecarga emocional, perda da autonomia, além de restrições hídricas, limitações físicas e alterações no cotidiano que afetam as atividades desses pacientes, o emprego, a autoestima e também o convívio social (SANTOS e SARDINHA, 2018).
O estudo sobre a QV tem recebido destaque quando se trata de avaliar a efetividade dessas intervenções e a assistência prestada pelos profissionais de saúde aos pacientes dialíticos. Dessa forma, esse estudo aborda como a atenção prestada pode contribuir para melhor adesão do tratamento, além de analisar os principais enfrentamentos que esses pacientes têm relacionado à doença e as alterações em sua rotina (SILVA et al., 2019; MARÇAL et al., 2019).
Este estudo justifica-se diante da importância que o profissional de enfermagem exerce frente à assistência de pacientes em terapia dialítica e como suas atribuições são fundamentais na promoção da QV, pois cabe ao enfermeiro a responsabilidade de oferecer um atendimento humanizado, acolhedor e qualificado, devido ao contato contínuo com o paciente.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Principais impactos do tratamento aos pacientes em hemodiálise.
Os rins são órgãos responsáveis por processos de manutenção do equilíbrio corporal, possuindo a função importante de eliminar toxinas, regular o volume de líquidos e realizar a filtragem do sangue. A diminuição da capacidade renal acarreta uma série de complicações para funcionamento de outros órgãos, e pode ser observada na DRC (SANTOS et al., 2017).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), a DRC é caracterizada pela lesão do parênquima renal e/ou pela diminuição funcional renal presentes por um período igual ou superior a três meses (BASTOS et al., 2010).
Estima-se que existam atualmente 850 milhões de pessoas em todo o mundo sofrendo de doença renal, que pode ser causada por diversos fatores. A DRC mata pelo menos 2,4 milhões de pessoas por ano, com uma taxa de mortalidade crescente. A estimativa do Brasil é que mais de um milhão de pessoas tenham a doença, e o alto custo de seu tratamento é motivo de preocupação para os órgãos governamentais, tornando a DRC um grande problema de saúde pública (SBN, 2020).
Os tipos de tratamento são: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal, sendo a hemodiálise a terapêutica a mais utilizada. De acordo com a SBN esse procedimento é feito mediante a ligação do paciente a um dialisador, que substitui a função renal, realizando a filtração das toxinas presentes no sangue e excretando o excesso de líquido do corpo (SBN, 2020).
O tratamento pode ser realizado em hospitais ou clínicas especializadas e dura cerca de quatro horas por dia, sendo necessário realizá-lo até três vezes na semana, comprometendo as atividades diárias deste usuário (RIBEIRO et al., 2020).
A terapia de hemodiálise gera uma série de alterações na vida do paciente dialítico, interferem na saúde física e psicológica, e provocam diversas restrições em suas atividades cotidianas, diminuindo sua autonomia e exigindo maior tempo de repouso, repercutindo na qualidade de vida dos pacientes em tratamento, dessa forma, o enfermeiro atua prestando cuidados especiais de acordo com as necessidades e auxiliando nesse processo de aceitação e adaptação (FREITAS et al., 2018).
A pesquisa descritiva de MARTINS et al., (2019), concluiu que a qualidade de vida de pacientes dialíticos é prejudicada em vários pontos, sendo a carreira profissional e capacidades físicas e emocionais as mais afetadas. Isso se deve às diversas alterações na vida diária causadas pelo diagnóstico de Insuficiência renal e as dificuldades relacionadas à adaptação ao tratamento, por esse motivo, a maioria dos pacientes estudados, não apresentaram expectativa de melhora (SILVA et al., 2017).
O tratamento pode comprometer de forma significativa a vida dos pacientes, deixando esses indivíduos suscetíveis a problemas como sedentarismo, surgimento de sintomas como fraqueza e mal-estar, diminuição da interação social, além dos problemas psicológicos como depressão, baixa autoestima e ansiedade, estes estão relacionados à perda da autonomia em suas atividades diárias e ao fato de dependerem de uma máquina para sobreviver (JESUS et al., 2019).
Os hábitos alimentares desses pacientes passam por uma série de restrições, sendo imprescindível um controle rigoroso sobre a ingesta de sal, gorduras e excesso de líquidos. Estes ajustes são essenciais para ofertar o melhor tratamento e promover maior qualidade de vida aos pacientes. O processo de aceitação é lento e difícil, por esse motivo, o profissional de saúde deve prestar o apoio necessário, orientar e instruir de maneira clara e objetiva esse paciente e sua família acerca da importância dessas mudanças (RIBEIRO et al., 2020).
Os pacientes hemodialíticos devem ingerir medicamentos diariamente, se alimentar de forma saudável seguindo as recomendações dietéticas, limitar a ingestão de líquidos. Essas restrições têm o objetivo de prolongar a vida, mesmo que a hemodiálise não tenha total controle das alterações da doença, pois também há um comprometimento físico e psicológico que afetam a qualidade de vida (MARINHO et al., 2017).
2.2 A assistência de enfermagem
Para ANDRADE et al., (2021) o enfermeiro tem papel determinante no processo de adaptação do paciente ao tratamento de hemodiálise, através de uma assistência individualizada e integral, com foco no diálogo e atenção. O profissional deve procurar compreender melhor as necessidades e os sentimentos do paciente e elaborar estratégias que visem facilitar a adaptação à nova realidade de vida.
O enfermeiro deve estimular os pacientes em terapia hemodialítica a manter hábitos de vida saudáveis, manter uma alimentação de qualidade, praticar atividade física e fazer o controle adequado de outras doenças crônicas pré-existentes. As ações do enfermeiro também devem ser voltadas às intervenções assistenciais do cuidado durante o procedimento de hemodiálise, atuando para redução e prevenção dos principais sintomas apresentados como anemia, pressão alta, edema entre outras complicações (SANTOS et al., 2017).
Na hemodiálise clínica, é necessário que o enfermeiro esteja presente na sessão de hemodiálise para supervisionar a equipe e determinar as necessidades específicas de cada paciente. Pode-se citar que as atribuições do enfermeiro incluem verificar o funcionamento da máquina de hemodiálise, prevenir infecção durante todo o procedimento, verificar sinais vitais, identificar os sinais de desconforto para o paciente e minimizá-los, além disso, o enfermeiro tem o papel de apresentar ao paciente o plano terapêutico elaborado pela equipe multiprofissional e fornecer orientações sobre o tratamento, pois é fundamental que o paciente tenha pleno conhecimento sobre a função da hemodiálise e a importância para a melhora de sua saúde (PIRES et al., 2019).
Para proporcionar o conforto necessário para que os pacientes de DRC aceitem o tratamento, o enfermeiro deve ser tolerante, seguro de si e sensível, compartilhando sentimentos, mantendo a humildade e o companheirismo. Ressalta-se a necessidade de implantar estratégias que auxiliem o paciente a se tornar mais envolvido e ativo em seu tratamento, de forma a aumentar sua autonomia e estimulando o autoconhecimento como forma de melhorar sua adesão à hemodiálise e sua qualidade de vida (SANTOS et al., 2017).
O enfermeiro deve ressaltar a importância de se estabelecer uma rede de apoio durante esse processo pois os familiares e amigos têm papel fundamental para a adoção dos novos hábitos e adaptação do paciente ao tratamento, além disso, contribuem para os cuidados que precisam ser mantidos no domicílio e na realização das atividades cotidianas (JESUS et al., 2018).
Os pacientes de terapia hemodialítica se deparam com uma nova realidade, trazendo sentimentos e emoções diversos, o medo, ansiedade, insegurança, culpa e raiva são comuns e dificultam a adesão ao tratamento, consequentemente prejudicando o estado de saúde do paciente. Prestar uma assistência adequada envolve empatia e sensibilidade para compreender as reais dificuldades que a determinado paciente está enfrentando e reconhecer a necessidade individual de cada um (RIBEIRO et al., 2020; SANTOS et al., 2017).
A assistência de enfermagem engloba diversos fatores além dos cuidados com a saúde física, o profissional deve colaborar ainda para a diminuição de sintomas psicológicos, estabelecendo vínculos de confiança com o paciente, por meio de uma abordagem acolhedora. Essa relação entre profissional e cliente tem papel determinante no processo de adesão à terapêutica estabelecida a esses pacientes hemodialíticos, pelo fato de se encontrarem em momento de fragilidade e adaptação, necessitam de apoio no enfrentamento da doença e no tratamento (JESUS et al., 2019).
É necessário buscar reduzir o sofrimento. Juntamente com a equipe multidisciplinar adotar medidas hábeis para reduzir sentimentos como medo, angústia, taquicardia, entre outros que se encontram durante o tratamento (CASTRO et al., 2018).
2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo de revisão da literatura, do tipo integrativa. É definida como um método que tem por finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente (ERCOLE, MELO e ALCOFORADO, 2014).
O estudo foi desenvolvido em seis etapas: 1 – A elaboração da pergunta norteadora “Quais são os aspectos que afetam a qualidade de vida e o cotidiano de pacientes em hemodiálise e como a assistência de enfermagem pode contribuir para amenizar os efeitos negativos, promovendo saúde, bem-estar e conforto para esses pacientes?”; 2 – Levantamento ou amostragem na literatura a partir da estratégia de busca; 3 – Coleta de dados; 4 – Análise crítica dos estudos incluídos; 5 – Discussão dos resultados e 6 – Apresentação da revisão integrativa.
Realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados: Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO).
Para a busca dos artigos, foram utilizados os seguintes descritores (DECs) e suas combinações na língua portuguesa: “Hemodiálise Convencional” AND “Assistência de Enfermagem” AND “Qualidade de vida”.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos foram: artigos publicados em português, artigos publicados e indexados nas referidas bases de dados nos últimos cinco anos e artigos na íntegra que retratam a temática referente à revisão integrativa.
A partir da busca bibliográfica foram identificados e excluídos os artigos que não atenderam aos critérios de inclusão. Após a seleção, foi feita a leitura integral e excluídos os que não retratam o tema de pesquisa.
Figura 1 – Fluxograma do método de pesquisa de artigos.
Fonte: Autoras, 2022.
3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
A seguir, o quadro apresenta um esboço geral dos artigos selecionados por meio dos critérios de elegibilidade para o desenvolvimento desse estudo, sendo composto por 14 artigos representados pelo titulo, os autores, ano de publicação, tipo de estudo e os principais resultados.
Figura 2 – Quadro dos artigos selecionados.
Citação | Título | Tipo de Estudo | Resultados |
---|---|---|---|
SIQUEIRA et al, 2017 | Coping e qualidade de vida em pacientes em lista de espera para transplante renal | Estudo transversal, com abordagem quantitativa | O estudo identificou o perfil de enfrentamento dos pacientes em hemodiálise e em lista de espera de transplante renal, e analisou os aspectos sociais e emocionais desses pacientes, evidenciando o comprometimento da qualidade de vida. |
SOUTO et al, 2017 | Percepção do portador de insuficiência renal crônica quanto às implicaçõesda terapia hemodialítica no seu cotidiano | Estudo descritivo qualitativo | Descreve a influência da hemodiálise na vida dos portadores de IRC e as suas restrições no tratamento |
CARGNIN et al, 2018 | Pacientes em tratamento hemodialítico: percepção acerca das mudanças e limitações da doença e tratamento | Estudo qualitativo | Descreve limitações e frustrações na vida dos pacientes que sofrem com mudanças de vida e tem limitações em suas atividades no dia-a-dia. |
CASTRO et al, 2018 | A percepção do paciente renal crônico sobre a vivência em hemodiálise | Pesquisa de campo | Identifica o perfil dos pacientes renais crônicos em terapia hemodialítica em cada faixa etária e como lidam com o tratamento. |
CRUZ et al, 2018 | Apoio social percebido por cuidadores familiares de pacientes renais crônicos em hemodiálise | Estudo transversal descritivo | O estudo aponta o nível de dependência dos pacientes renais crônicos de acompanhantes no processo de tratamento e a importância dessa rede de apoio durante toda vida. |
FERNANDES et al, 2018 | Necessidades de ações educativas-terapêuticas em um serviço de diálise renal no Brasil | Estudo descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa | O estudo identificou a necessidade de uma reorientação da prática educacional no serviço, com o objetivo de ofertar melhores esclarecimentos sobre a DRC, e consequentemente, uma melhor qualidade de vida às pessoas. |
FUKUSHIMA et al, 2018 | Atividade física e a qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise | Estudo correlacional, transversal e com abordagem quantitativa | Verificou-se que os pacientes ativos apresentaram melhor percepção de qualidade de vida (QV) se comparados aos insuficientemente ativos, e sugere-se que a prática regular de atividade física pode contribuir para uma melhor percepção de QV de pacientes em hemodiálise. |
GOMES et al, 2018 | Atitudes frente à dor e à espiritualidade dos pacientes renais crônicos em hemodiálise | Estudo correlacional e transversal | Confirmou-se a relação entre as atitudes frente à dor e o nível de espiritualidade do paciente renal crônico, logo, tais aspectos deverão ser considerados na assistência prestada a fim de auxiliar no enfrentamento do tratamento e da doença. |
MARÇAL et al, 2019 | Qualidade de vida de pessoas com doença renal crônica em hemodiálise | Estudo transversal, descritivo | Descreveu as comorbidades mais comuns que acometem os pacientes em tratamento hemodialítico. |
SIQUEIRA et al, 2019 | Associação entre religiosidade e felicidade em pacientes com doença renal crônica em hemodiálise | Estudo transversal | O estudo apontou que variáveis psicossociais como religiosidade e espiritualidade são possíveis alvos para intervenções destinadas a promover a melhora na qualidade de vida dos pacientes com DRC. |
STUMM et al, 2019 | Efeito de intervenção educacional na qualidade de vida de pacientes renais crônicos hiperfosfatêmicos em hemodiálise | Pesquisa quase experimental, com delineamento do tipo antes e depois | O estudo aponta que a intervenção educacional de enfermagem melhora a qualidade de vida relacionada à saúde e à percepção de saúde de pacientes renais crônicos hiperfosfatêmicos em hemodiálise. |
SOUSA et al, 2020 | Acolhimento do enfermeiro na admissão do paciente renal crônico para tratamento hemodialítico | Estudo descritivo exploratório de abordagem qualitativa | Descreve o processo de acolhimento na admissão do paciente renal crônico, mostrando a importância do profissional de enfermagem e suas limitações nesse processo de adaptação |
PRETTO et al, 2020 | Depressão e pacientes renais crônicos em hemodiálise: fatores associados | Pesquisa transversal | O estudo aponta que sintomas de depressão estão associados à sobrecarga das comorbidades, maior número de complicações da doença, intercorrências hemodialíticas e dependência funcional. Exercícios físicos podem ser estratégias efetivas de cuidado. |
PRETTO et al, 2020 | Qualidade de vida de pacientes renais crônicos em hemodiálise e fatores relacionados | Pesquisa transversal | O estudo verificou que a qualidade de vida reduzida nessa população associa-se aos sintomas depressivos, complicações como infecções repetitivas, dor e anemia, fraqueza após a sessão dialítica e baixa adesão medicamentosa. |
A hemodiálise oferece ao paciente renal crônico benefícios à saúde que irão prolongar a vida do paciente, no entanto, grande parte possui uma percepção negativa acerca desta terapia, provocando sentimentos de negação, medo e sofrimento (CASTRO et al., 2018).
O diagnóstico da DRC e o tratamento de hemodiálise ocasionam uma série de impactos de diversas ordens, sendo a maioria impactos negativos, onde provoca mudanças no âmbito biológico, social e psicológico, principalmente no que se trata das diversas restrições alimentares e hídricas, as limitações físicas que afetam as atividades cotidianas e até mesmo no campo profissional, além das repercussões nos relacionamentos com a família e amigos, de acordo com o estudo qualitativo de CARGNIN et al., (2019).
De acordo com o estudo de SOUTO et al., (2017) a qualidade de vida dos pacientes em terapia de hemodiálise diminui significativamente com o início do tratamento, devido a rotina considerada monótona de tratamento, que consiste em ficar um período de 4h ligados à uma máquina, geralmente 3 vezes na semana.
As mudanças na alimentação são parte da nova realidade desses pacientes, por este motivo muitas vezes eles se sentem frustrados por perderem sua autonomia com tantas mudanças. A redução da qualidade de vida está associada na maioria das vezes a problemas como a depressão, infecções, dor, anemia, fraqueza, entre outras possíveis consequências do tratamento que dificultam a adesão do paciente (PRETO¹ et al., 2020).
Diante das situações adversas vividas pelos pacientes em terapia de hemodiálise CASTRO et al., (2018) afirma que cada indivíduo busca uma estratégia de enfrentamento que mais se adapte à sua realidade, dessa forma, a busca pela fé e o apoio da família, amigos e dos profissionais de saúde são apontados como métodos que contribuem no processo de adaptação e superação.
De acordo com os estudos de SIQUEIRA et al., (2017) e GOMES et al., (2018) a religiosidade/espiritualidade diminuem os impactos negativos da doença, auxiliam no enfrentamento da dor causada pelo tratamento, colaboram para o aumento da satisfação e qualidade de vida de pacientes renais crônicos, portanto, os profissionais podem apoiar e implementar a religiosidade/espiritualidade como estratégias psicossociais durante as sessões de hemodiálise, associadas às intervenções convencionais.
Para FERNANDES et al., (2018) a falta de conhecimento relacionado ao diagnóstico e o tratamento, podem tornar o processo de adaptação mais complicado. Os pacientes renais crônicos precisam estar cientes das possíveis complicações e devem ser orientados sobre a importância de seguir as restrições propostas, as ações de caráter educativo são fundamentais para que o serviço de hemodiálise seja executado com total eficácia. O enfermeiro deve explicar a etiologia da doença de forma clara e objetiva, apresentar as informações referentes aos cuidados e ao novo estilo de vida, e realizar o acolhimento integral, buscando compreender os sentimentos e os medos do paciente.
A enfermagem exerce um papel determinante durante todo o processo de adaptação e tratamento do paciente, desde o diagnóstico da doença, no primeiro contato com o paciente quando realiza o acolhimento integral. Neste momento, o profissional estabelece um vínculo de confiança com a família e o paciente, buscando compreender as necessidades e sentimentos do indivíduo, como também suas limitações e dificuldades por meio de uma escuta ativa e empática (CARGNIN et al., 2019).
Para SOUSA et al., (2020) o acolhimento dado pelo enfermeiro influencia na aceitação do tratamento e motiva quanto a assiduidade do paciente às sessões de hemodiálise, considerando o fato de que este profissional passa a maior parte do tempo em contato direto com o paciente. Dessa forma, o enfermeiro deve orientar quanto ao autocuidado, apresentar perspectivas positivas em relação ao tratamento, fortalecer as redes de apoio, implementar ações de saúde, entre outras estratégias de fortalecimento ao enfrentamento da doença.
PRETTO² et al., (2020) argumenta que os pacientes hemodialíticos sofrem muitas perdas ao longo do tratamento, ocasionando alterações físicas e principalmente psicológicas, os indicativos de depressão em pacientes com DRC em hemodiálise estão relacionados com as doenças pré-existentes, sintomas da patologia e tratamento e a dependência para realizar as atividades cotidianas.
Para PRETTO² et al., (2020) e SOUTO et al., (2017) a presença de uma equipe multiprofissional durante o tratamento permite uma assistência completa e individualizada, através de ações de promoção da saúde, prevenção de fatores de risco, além de formular novas estratégias no atendimento em busca da excelência na qualidade da assistência.
É importante que o enfermeiro conheça as particularidades de cada paciente, dessa forma poderá personalizar os cuidados para atender às demandas de cada indivíduo. Além disso, tem o dever buscar alternativas que encorajem os pacientes em hemodiálise a adotarem estilo de vida saudável, com a prática de exercícios físicos e uma alimentação adequada de acordo com as restrições. A partir dessas condutas, almeja-se promover mais qualidade de vida e bem-estar aos pacientes (CASTRO et al., 2018; FUKUSHIMA et al., 2018).
A SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem) é uma ferramenta essencial para planejar, organizar e otimizar os cuidados de enfermagem, deve ser implementada integralmente na assistência do paciente renal crônico, sendo colocada em prática todas as etapas do processo, garantindo assim, um atendimento holístico de qualidade e eficácia para a saúde desse paciente (SOUSA et al., 2020).
Cabe também ao enfermeiro proporcionar conforto, escuta ativa, oferecer segurança, orientações e apoio emocional em conjunto com a família, estimulando esses indivíduos o desenvolvimento da autonomia, possibilitando também reconhecer as necessidades individuais de cada paciente, com ética e sensibilidade (SILVA et al., 2019; SIQUEIRA et al., 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste estudo permitiu identificar alterações no padrão de vida do paciente com DRC em tratamento hemodialítico, pois eles apresentam várias demandas que necessitam de atenção em relação ao autocuidado, como: ensino sobre a doença, restrições alimentares, ingestão de líquidos, cuidados com o acesso e restrições físicas.
Dessa forma, se faz necessária a implementação de intervenções para que esses fatores sejam trabalhados, visto que o enfermeiro é o profissional que mais passa tempo em contrato com o paciente. Isto lhe confere a capacidade de aplicar essas ações, que auxiliam na tentativa de amenizar o sofrimento relacionado ao processo terapêutico e consequentemente aumenta a qualidade de vida.
É importante ressaltar que, é de responsabilidade legal do enfermeiro a supervisão do serviço de hemodiálise. Sendo assim, ele é o profissional responsável por avaliar os sinais e sintomas dos pacientes, prescrever as intervenções de enfermagem, conferir as prescrições médicas, e supervisioná-las para que sejam executadas de forma completa pela equipe.
Dessa forma, podemos concluir a importância da implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) para um atendimento completo desde o início e durante o tratamento aplicar ações de educação permanente como: orientações sobre alimentos saudáveis, atividades físicas, intervenções e reconhecimento de sinais e sintomas, não esquecendo das orientações aos familiares e cuidados dos pacientes acerca da patologia e suas complicações.
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1, 2 Graduandas do Curso Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
3Docente do Curso de Enfermagem, do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac