UMA OBRA DE ARTE HABITÁVEL  ESTÉTICA E QUALIDADE DE VIDA NA ILUMINAÇÃO DE INTERIORES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7242285


Vinicius Martins Marques Catharina Pinto1


Resumo 

Ao longo da história, dois fatores foram fundamentais para a humanidade: a iluminação e a arte, cuja relação será o objeto de estudo desse artigo. Tende-se a vê-las separadas entre si e descorrelacionar a iluminação de quaisquer influências substanciais sobre os aspectos psicológicos humanos. Isso não reflete, porém, a verdadeira complexidade existente em tais esferas. Por isso, a hipótese dessa pesquisa é que a iluminação de interiores pode ser considerada de um ponto de vista estético que suscita estados psicológicos e que pode transformar uma casa em uma obra de arte. Almeja-se, assim, demonstrar que a iluminação pode influenciar a qualidade de vida humana e, por conseguinte, sua felicidade e seu bem-estar. Para tal, a metodologia utilizada se baseia na análise de alguns ambientes históricos e contemporâneos, fundamentada em uma sólida pesquisa bibliográfica sobre concepções e técnicas de arquitetura e iluminação de interiores. A partir dos resultados atingidos, conclui-se que a iluminação de interiores é também arte, aproximando-se da escultura, da pintura e da poesia e influenciando diretamente a felicidade e qualidade de vida e podendo transformar uma simples moradia em uma obra de arte habitável. 

Palavras-chave: Iluminação de interiores. Arte. Técnicas de iluminação. Felicidade. 

1. Introdução 

1.1. Considerações Iniciais 

A luz acompanha os seres vivos desde o seu surgimento há bilhões de anos. Seria um erro ou uma ingenuidade compreendê-la de um modo apenas utilitário, como se faz constantemente no cotidiano; ou seja, ela não serve apenas para iluminar cômodos e estradas, evidenciar onde estão os objetos ao redor e evitar que se tropece ao andar durante a noite. Muito mais do que isso, a luz e a iluminação possuem uma série de outros significados tão ou mais importantes e profundos do que o modo como são utilizadas diariamente. Ao analisar as transformações energéticas nas plantas e em outros organismos, por exemplo, o biólogo Richard Dawkins em seu livro A grande história da evolução afirma o seguinte: “a fonte primária da energia externa é o Sol. Por intermédio das bactérias verdes simbióticas no interior das células vegetais, ele é o único gerador de energia para todas as formas de vida que podemos ver a olho nu” (2009:460). Desse modo, a iluminação solar detém um valor e um sentido biológicos extremamente elevados para a vida humana e para a natureza em geral. 

Tanto o Sol, fonte de iluminação natural, como as fontes de iluminação artificiais ganharam diversos outros significados e perspectivas ao longo da trajetória humana. Uma das histórias mais conhecidas é contada por Platão. Nele, a iluminação possui um sentido metafísico complexo ao fazer uma analogia entre o Sol e a verdade versus as sombras e as imitações em seu mito da caverna. No capítulo VII do livro A república (2006), o filósofo descreve o interior de uma caverna onde habitam prisioneiros. Impedidos de olhar para trás, esses habitantes acorrentados conseguem perceber apenas uma parede em sua frente. Atrás deles, no entanto, existe um caminho e, atrás desse caminho, uma fogueira que ilumina aqueles que passam. Conseguindo ver apenas as sombras projetadas na parede, os prisioneiros acreditam fielmente nelas (Figura 1). 

Se alguém se libertasse e caminhasse em direção à saída da caverna, “sob a luminosidade intensa, ficaria incapaz de olhar para aqueles objetos cujas sombras havia pouco estava vendo” (PLATÃO, 2006:268). Mas, com o passar do tempo, acostumar-se-ia com a iluminação do Sol e perceberia que, até então, vivera acreditando em sombras como se fossem a realidade. Pode-se tranquilamente fazer inúmeras relações aqui com a arquitetura e a iluminação de interiores para além de seus objetivos primários e contemporâneos de possibilitar conforto e harmonia visual. A falta de ventilação e de luz natural somada a outras questões criou um ambiente único para aqueles prisioneiros, fazendo-os acreditar que não havia nenhuma realidade além daquela que presenciavam. Mas a questão importante neste momento é que justamente a iluminação interior e exterior recebeu, em Platão, um sentido diferente do que se está habituado. Esses casos indicam que se pode conceber a arquitetura de interiores também por diversas vias. 

1.2. Pontos estruturais: hipótese, metodologia e objetivo 

Por isso, a hipótese deste artigo é que a iluminação de interiores pode ser vista como uma forma de arte que suscita estados psicológicos como felicidade ou tristeza, ansiedade ou calma, tensão ou tranquilidade cognitivas, etc., transformando uma casa em uma “obra de arte habitável”. Afinal, como diz Souza, “a arquitetura de interiores, respalda-se nessa influência das teorias humanas, a fim de gerar uma melhor qualidade de vida e de bem-estar aos seus usuários” (2016:35). Para isso, a metodologia utilizada se baseia na análise de alguns ambientes históricos e contemporâneos, fundamentada em uma sólida pesquisa bibliográfica sobre concepções e técnicas de arquitetura e iluminação de interiores. Com frequência, ao se pensar sobre a iluminação, respostas prontas relacionadas às propriedades físicas da luz, vêm à mente. Lembra-se sobre ondas, raios e cores. De acordo com Innes em seu livro Lighting for interior design, por exemplo, “os materiais que descreveríamos como brancos ou de cores claras aparecem assim porque refletem mais luz que os escuros” (2012:12). 

Esse é um fator relevante dentro da perspectiva que será abordada aqui, mas com um objetivo bastante específico: demonstrar que a iluminação de interiores em acordo com várias outras questões mais técnicas pode ser considerada esteticamente como influenciadora da qualidade de vida humana e, por conseguinte, de estados psicológicos como a felicidade. Ou seja, não se desconsidera a importância de propriedades e questões físicas como o fluxo luminoso, luminância e iluminância, eficiência luminosa, entre outras. Mas vai-se além delas, porque a arquitetura e a iluminação de interiores, sobretudo, residencial – como é a abordagem dessa pesquisa – dependem do projetista, do proprietário e dos habitantes. Essa dependência parte não apenas das habilidades arquitetônicas deles, como, sobretudo, de seus desejos e dos diferentes efeitos psicológicos que certos ambientes lhes causam. Alguns desejam ambientes mais claros, outros mais escuros; uns mais coloridos, outros mais monocromáticos, etc. Os desdobramentos da pesquisa demonstram, desse modo, a importância estética e psicológica da arquitetura e da iluminação de interiores para a vida humana. 

2. Desenvolvimento 

2.1. A iluminação interior e suas funções psicológicas ao longo da história 

Segundo Manuela Cangussu, “a luz controla diversos processos bioquímicos, fisiológicos e psicológicos do ser humano, como relógio biológico ou ritmo circadiano, influenciando no rendimento das atividades, no sono, estado de ânimo e cura de doenças” (2019:41). Outros estudos revelam que a iluminação possui efeitos diretos nas capacidades cognitivas humanas – que podem ser usados para diversos fins, como econômicos, políticos e religiosos. Como demonstra Oliveira ao analisar uma lanchonete McDonald’s, localizada em Londres, os vidros fumês parecem fazer com que os consumidores se esqueçam do ambiente externo enquanto a forte iluminação dos painéis e dos coloridos cardápios luminosos parece divinizar os lanches e transformá-los em protagonistas (2012:03). Esse ambiente possui uma iluminação de interiores comercial voltada para os interesses econômicos de seus donos. De qualquer modo, o ponto é: se a iluminação de interiores pode suscitar determinados estados psicológicos, então o profissional deve considerar, também no âmbito residencial, tanto a finalidade de determinado ambiente quanto os efeitos que quer causar para atingir tal fim.

Nesse sentido, a iluminação natural pode ganhar usos e objetivos diferentes da iluminação artificial. Ao longo da história, inúmeros casos podem ser considerados. Por exemplo, são bastante conhecidas as habitações primitivas em cavernas há milênios; nelas, os seres humanos utilizavam as fogueiras tanto para se aquecer quanto para iluminar seu ambiente, incluindo as pinturas rupestres. Mas essa é uma concepção mais usual. Outras hipóteses arqueológicas compreendem a iluminação artificial desses seres humanos primitivos a partir de interpretações correlacionadas à religião e aos rituais de fertilidade e caça. No documentário Como a arte moldou o mundo (How Art Made the World) da BBC, o professor especializado em arte clássica e arqueologia da Universidade de Cambridge Dr. Nigel J. Spivey aborda ainda outra perspectiva assaz interessante: a arte rupestre das Cavernas de Altamira na Espanha, desenvolvidas entre 35 e 11 mil anos a. C. podem estar relacionadas a performances ritualísticas diretamente ligadas à iluminação (Figura 2). Spivey demonstra que movimentos repetitivos em um ambiente majoritariamente escuro (iluminado apenas por uma fogueira) podem causar alterações na consciência cujas imagens vistas seriam desenhadas nas cavernas. Ou seja, a arte rupestre estava, de um modo ou de outro, diretamente relacionada à iluminação interior2: seja como fonte da arte rupestre seja como instrumento fundamental para iluminá-la e criá-la. 

Outras experiências curiosas estão relacionadas à luz solar. Como se viu nos casos biológico e filosófico acima, o Sol foi utilizado e compreendido de várias maneiras. Entre elas, está Stonehenge, uma famosa estrutura arqueológica datada de 3100 a 1100 anos a.C. e formada por imensas pedras de até 5 metros de altura e 50 toneladas dispostas em círculos concêntricos (Figura 3). Apesar de não estar em um ambiente fechado, a arquitetura desse monumento se utilizava da iluminação natural para assinalar “os amanheceres e os pores do sol durante os solstícios de verão e inverno. Ainda que se siga debatendo sobre a natureza exata da função das pedras, a latitude de Stonehenge é a única na Europa onde todavia é possível essa combinação” (CHING, 2007:47). Essa combinação entre a arquitetura e a luz solar não é exclusiva desse monumento. Também na Ásia, América do Norte e Central e outros continentes existem criações arquitetônicas projetadas com alguma especificidade em relação à iluminação natural. Na África, o Templo de Hórus possui “um cuidadoso alinhamento do pilão com o Sol do meio-dia no solstício de verão, momento em que o pilão não lança nenhuma sombra” (CHING, 2007:137). Ainda de acordo com Francis Ching, “as variações de iluminação e de penumbra que a própria luz comporta fazem com que o Sol seja um elemento revivificador do espaço e articulador das formas que nele se encontram” (2010:171). Isso é importante de ser destacado, porque a utilização da luz solar na iluminação de interiores ainda é utilizada. Como se notou acima, restaurantes utilizam iluminações específicas para atingir seus fins econômicos. Analisando por essa perspectiva, mesmo o cinema e o teatro possuem uma disposição peculiar e bem planejada para que o espectador mantenha sua atenção focada em apenas alguns ângulos. Um pouco antes da contemporaneidade outros exemplos surgiram. As Igrejas e Catedrais foram projetadas para que as iluminações naturais criassem uma atmosfera de espiritualidade e calma em seus templos. As vidraças coloridas foram criadas em forma de imagens santas cuja iluminação exterior as ressalta para quem está dentro de tais estabelecimentos.

Esse modelo especial de vidraça, chamado de vitral (Figura 4), é um dos elementos mais característicos do estilo gótico e utiliza a luz do sol para conferir maior imponência e espiritualidade em suas imagens religiosas. Mas o estilo gótico não utilizava apenas a luz; ele jogava também com a penumbra e com a sombra para criar efeitos psicológicos de medo e mistério sobre seus fieis. As gárgulas e demais estátuas localizadas estrategicamente nas catedrais demonstram isso; as sombras em suas faces parecem dotá-las de um ar ainda mais terrificante e assustador. “Baseando-se em sua intensidade e distribuição, em uma habitação é evidente que a luz solar classifica as formas especiais ou, pelo contrário, deforma-las; ela pode criar uma atmosfera agradável ou infundir um ambiente sombrio” (CHING, 2010:171). 

Desse modo, encontram-se ao longo da história inúmeros casos em que a iluminação natural e artificial não apenas estavam presentes nos projetos arquitetônicos como, sobretudo, possuíam objetivos evidentes de se relacionar com as esferas humanas psicológicas. Medo, imaginação, religiosidade, criação e contemplação artística, espiritualidade, entre tantos outros estados intelectuais, foram suscitados por meio de uma disposição bem planejada da arquitetura e da iluminação de interiores. No entanto, também a ausência e a escassez de luz possuem significados muito contundentes. Enquanto Platão imaginava uma alegoria em que os habitantes não teriam acesso a janelas e a uma iluminação natural, a modernidade conheceu casos reais bastante semelhantes ao modelo platônico. Com a revolução industrial inglesa no século XVIII, houve um movimento migratório massivo das populações rurais para os espaços urbanos.

As cidades começaram a crescer rapidamente e as habitações a concentrar mais e mais pessoas (Figura 5). Além do excesso de gente em seus cômodos, as residências não possuíam ventilação nem iluminação adequadas, o que deteriorava ainda mais a condição do trabalhador com doenças e epidemias.  

Enquanto inúmeros avanços tecnológicos eram realizados no século XIX (inclusive com, ironicamente, o surgimento da luz), as classes mais pobres não tinham acesso a uma iluminação decente em suas casas, fosse natural ou artificial. Esse cenário se estendeu pelo mundo e também chegou ao Brasil. Por aqui, os cortiços ganharam força nos centros urbanos entre a população pobre (Figura 6) e, semelhante às habitações europeias da revolução industrial, também não possuíam boa iluminação e ventilação. Suas péssimas condições de moradia se imortalizaram nas descrições do romance O cortiço de Aluísio Azevedo. Com o passar dos anos, outras residências surgiram; mas, muitas também sem planejamento e sem uma iluminação interior adequada, como é o caso comum nas favelas brasileiras hoje em dia. 

Esse contexto histórico demonstra como a qualidade de vida está atrelada intimamente com a arquitetura e a iluminação de interiores. Atualmente, inúmeras técnicas e pesquisas foram desenvolvidas para possibilitar ao usuário (cliente e/ou morador) experiências confortáveis e saudáveis em sua residência. Não se deve, no entanto, esquecer-se da história que mostra constantemente que, seja natural ou artificial, a iluminação provoca determinados efeitos psicológicos nos seres humanos. Correlacionada com a arte, ela pode assumir um papel importante em possibilitar e potencializar sensações de felicidade, conforto e bem-estar quando o arquiteto leva em conta esses fatores em conformidade com os interesses de quem receberá o seu projeto.

2.2. Algumas técnicas de iluminação de interiores residencial 

De acordo com Arnheim, o termo “iluminação” não possui uma explicação imediata. “À primeira vista pareceria que a iluminação deve estar envolvida todas as vezes que se vê algo, porque, a menos que a luz incida num objeto, ela permanece invisível. Isto, contudo, é a maneira de raciocinar dos físicos” (2005:297). Existem outras explicações sobre a iluminação que não se concentram apenas na luz; como dito acima, também a penumbra e sombra precisam ser levadas em consideração em um projeto. Um teatro e um cinema que fossem plenamente iluminados ofuscariam o ângulo principal. Em uma residência, também existem momentos que se deve considerar o grau de iluminação, quando se utilizar a penumbra, a sombra e a tonalidade da cor da luz. 

Nesse sentido, um quarto pode possuir iluminações diferentes para momentos diferentes. Ao longo do dia, por exemplo, as luminárias podem possuir um fluxo luminoso3 maior do que em um horário noturno. Isso dependerá dos interesses de cada morador. Para um leitor, por exemplo, pode fazer maior sentido ter luminárias próximas aos lados da cama de casal para permitir a leitura enquanto a (o) parceira (o) dorme. Por isso, o arquiteto de interiores precisa estar atento, antes de tudo, aos usos distintos de uma fonte de luz artificial (lâmpada) em relação às luminárias, controladoras e distribuidoras do fluxo luminoso. Pode-se, assim, pensar a iluminação por meio de dois aspectos: a iluminação geral e a iluminação dirigida. No primeiro caso, o arquiteto elabora uma iluminação de interiores, direta ou indireta, que define o espaço e possibilita conforto ao ambiente; no segundo caso, o arquiteto utiliza a iluminação para destacar detalhes arquitetônicos, objetos de arte, etc. A iluminação dirigida possui, desse modo, três tipos básicos: efeito (Figura 7), destaque (Figura 8) e tarefa (Figura 9). O “efeito” tem uma perspectiva mais estética, propiciando experiências com a iluminação para além do carácter utilitário da luz; o “destaque” realça pontos específicos da decoração ou da arquitetura, como uma escultura ou mesmo uma cortina; a “tarefa” possui a função de proporcionar conforto visual em determinadas atividades como em uma leitura ou em uma refeição. 

Tais técnicas deverão seguir, no entanto, uma série de outras questões para que exista conforto visual e para que, de fato, possa-se compreender a iluminação tanto relacionada à arte como à qualidade de vida. A tonalidade da cor é um dos quesitos essenciais ao qual o arquiteto deve se preocupar. Como afirma Jaques da S. Barbosa, “superfícies verdes e azuis parecem mais afastadas, ao passo que vermelhas e amarelas parecem mais próximas” (2007:30). O estudo das cores e a forma com que os habitantes se relacionam com elas são primordiais não apenas esteticamente. Ainda segundo Barbosa, “pessoas nervosas e as que apresentam um temperamento instável ou sujeitas a tensão emocional tendem a piorar em presença de cores quentes, por outro lado estas mesmas cores são adequadas para os deprimidos, angustiados e tristes” (2007:30). Como será visto no próximo capítulo, a iluminação de interiores juntamente com as cores utilizadas estão diretamente correlacionadas com fatores psicológicos, mas, antes de tudo, se enquadram como parte da técnica do arquiteto. Tudo isso está dentro de tipos específicos de iluminação. Conforme explica Moura, existem vários tipos de iluminação, utilizados conforme determinadas situações: 

  • Iluminação direta, na qual todos os raios úteis são dirigidos para baixo;  
  • Iluminação semidireta, na qual mais de 50% dos raios úteis são dirigidos para baixo;  
  • Iluminação indireta, quando todos os raios úteis são dirigidos para o teto ou paredes;  
  • Iluminação semi-indireta, na qual mais de 50% dos raios úteis são dirigidos para o teto ou paredes; e  
  • Iluminação geral difusa, aproximadamente igual para todos os lados. (MOURA, 2015:33) 

Além disso, a proporção harmoniosa entre as luminâncias possibilita não apenas um conforto visual maior, como, também, uma maior sensação de ordem e calma. Em Desing drawing (2018), Ching ressalta ainda alguns aspectos comuns a desenhistas e projetistas que podem ser utilizados em relação à iluminação de interiores residencial: o espaço, a profundidade e a perspectiva. Dependendo do ângulo de iluminação, do fluxo luminoso, de questões de engenharia e dos tipos de iluminação, podem-se criar sensações de profundidade maiores ou menores que mexem com os sentidos e imaginação. 

O artista gráfico Maurtis C. Escher ficou conhecido por obras que possibilitavam complexas e interessantes ilusões de ótica a partir de manipulações da perspectiva (Figura 10). “Perspectiva se refere propriamente a alguma das várias técnicas gráficas para representar volumes e relações espaciais em uma superfície plana, como tamanho e perspectiva atmosférica” (CHING, 2018:239). Desse modo, o arquiteto pode se beneficiar da perspectiva em suas técnicas de iluminação de interiores conforme seus objetivos. A iluminação natural também possui técnicas avançadas. Em uma primeira vista, a luz solar e lunar parecem iluminar os ambientes residenciais apenas por meio de janelas e demais aberturas em uma habitação. 

No entanto, existem atualmente inúmeras tecnologias que permitem uma utilização mais eficiente da iluminação natural: desde materiais envidraçados mais avançados até placas refletoras. Uma tecnologia interessante é o painel prismático (Figura 11). De acordo com Granja, “esse sistema controla a luz através da refração. A direção da luz que chega é alterada através de um prisma. Os prismas são placas transparentes em resina acrílica ou vidro, com uma face plana e outra dentada” (2012:97). Desse modo, as técnicas de iluminação de interiores residencial possibilitam ao arquiteto uma variedade incrível de utilização que será escolhida conforme seus objetivos. Quando se considera, portanto, a arquitetura e a iluminação de interiores por uma perspectiva estética, técnicas como iluminação dirigida do tipo efeito podem apresentar resultados bastante interessantes. Mas tais técnicas não são o limite. Qualquer técnica apenas compõe e auxilia parte da criação estética e da imaginação do arquiteto. Nesse sentido, iluminações dirigidas de destaque podem, por exemplo, dar um ar mais arquitetônico em ambientes como escritórios,ateliês e bibliotecas pessoais. Isso irá variar conforme os objetivos e conforme os estados psicológicos que são almejados.

2.3. Aspectos psicológicos da iluminação 

Por isso, a iluminação de interiores é, no limite, uma relação entre os estados psicológicos dos criadores e proprietários com os objetivos que ambos querem alcançar. Aliados a algumas técnicas vistas acima e respaldados em alguns casos históricos já demonstrados, pode-se afirmar com maior embasamento que a iluminação de interiores afeta de modo bastante considerável a qualidade de vida humana, causando sentimentos de felicidade, euforia, alegria ou mesmo o contrário de tais sensações e sentimentos. Isso não significa, de modo algum, que existam padrões e modelos únicos para cada personalidade. Há pessoas “alegres” que divergem entre si em seus gostos pelas cores, por exemplo. Mesmo a alegria é um estado passageiro e não define necessariamente alguém – motivo pelo qual são utilizadas as aspas anteriores. Existem momentos que se está triste, momentos que se está angustiado, feliz, enfurecido, etc. O arquiteto de interiores deve levar tais situações em consideração ao planejar a iluminação: ou melhor, levar em consideração que os sentimentos humanos são mutáveis, variando cotidianamente conforme suas experiências. 

Isso quebra com alguns paradigmas herdados sem muita reflexão. Entre eles, está a concepção de que a luz associa-se a situações benéficas e bondosas. Muitos artistas expressaram, influenciados por concepções religiosas, essa noção em suas pinturas. A noção que parece prevalecer no mundo todo é a de que a “luz, embora originalmente criada das trevas primordiais, é uma virtude inerente do céu, da terra e dos objetos que os povoam e que sua claridade é periodicamente ocultada ou extinta pela escuridão” (ARNHEIM, 2005:294). Mas nem sempre é assim: a iluminação causada por um incêndio é, por exemplo, o contrário disso. Como explica Rudolf Arnheim em seu livro Arte e percepção visual, “alguns artistas como Rembrandt ou Goya, pelo menos alguma vez, mostram o mundo como um lugar intrinsecamente escuro, iluminado aqui e ali pela luz. Por coincidência eles endossam a descoberta dos físicos” (2005:294) de que a iluminação é intrinsecamente um efeito objetivo e casual da luz. 

De qualquer modo, ambas as situações – escuridão e iluminação – não proporcionam os mesmos efeitos em todas as pessoas. Ao se elaborar um projeto de arquitetura de interiores, depara-se com a difícil missão de pensar e definir os níveis de iluminação adequados para as tarefas visuais. Isso parece impor uma situação ainda mais complexa, já que o que é “adequado” para um indivíduo não é necessariamente para outro. Mesmo sob uma perspectiva meramente utilitarista, essa definição é parece se atrelar aos detalhes mais íntimos de quem habitará a residência, afinal nem todos possuem os mesmos problemas de vista por exemplo. Por isso, algumas normas como a NBR 54134 no Brasil tentam regulamentar três níveis diferentes de iluminação: mínimo, médio e máximo. Esses são extremamente importantes para se estabelecer uma padronização mínima.

Mas, como afirma Barbosa, a obtenção de “níveis de iluminância adequados é subjetivo, sendo obtidos mediante pesquisas. Durante essa atividade, um questionário procura de forma mais isenta possível conhecer a preferência do usuário quanto ao nível de iluminação a ser usado” (2007:26). A questão é como uma mesma iluminação afetará emocionalmente e de modos diferentes as pessoas que a experimentam. Isso porque ela influencia diretamente o comportamento humano, aumentando o estado de alerta, induzindo ao sono e orientando na circulação e movimentação das pessoas. Os seres humanos tendem, por exemplo, a seguir caminhos mais iluminados, sentindo-se mais seguros – mesmo que não haja prova factível para tal consideração. 

Existem outros casos mais delicados. Em seu trabalho Design de interiores para crianças com TEA, Martina Mostardeiro faz inúmeros levantamentos sobre as dificuldades sensoriais em crianças com transtorno de espectro autista (TEA). Entre tais levantamentos, dois interessam especialmente aqui. O primeiro em relação à seleção cuidadosa de “cores, não excessivamente contrastantes, saturadas ou brilhantes” (2019:62). O segundo levantamento em relação à iluminação para “especificar a iluminação difusa, de preferência natural, evitar lâmpadas fluorescentes” (2019:62). Esse cuidado tem o objetivo de auxiliar nas melhorias psicológicas das crianças com TEA, porque a iluminação fluorescente pode ter influência, por exemplo, “sobre o desempenho de atividades para populações neurodiversal (ADD / TDAH / TEA)” (MOSTARDEIRO, 2019:90). A pesquisadora fez alguns estudos de caso e, em um deles, constatou que uma criança ficava agitada com o flicker5 da iluminação – algo não aconselhável diante de transtornos de espectro autista. 

Além disso, as cores se relacionam diretamente com a iluminação. Mas, o que é uma cor? A resposta para essa pergunta é extremamente difícil. De acordo com Innes, “não é somente difícil definir a cor como ela não existe da maneira que nós tendemos a pensá-la” (2012:20). A argumentação de Innes é amparada em sólidas posições físicas, mas é contraintuitiva já que a cor é algo presente no cotidiano e, por isso, as pessoas acreditam saber o que é uma cor e pensam saber explicar o seu significado. Isaac Newton demonstrou que a luz branca é uma mistura de cores. Isso é interessante porque significa que a cor está relacionada não apenas com o objeto, mas também com o espectro de luz visível que a atinge e com o sistema fisiológico de cada indivíduo (um daltônico afirmaria, por exemplo, cores diferentes do que uma pessoa não daltônica). Uma explicação bastante diferente de quem acredita que uma cor é intrínseca à natureza de determinado objeto. Ainda segundo Innes, “luz e cor podem produzir sentimentos fortes e essa resposta não é algo que queremos que aconteça acidentalmente; queremos estar ativamente no controle das qualidades emocionais de nossos projetos de iluminação” (2012:34). 

Essa e outras situações demonstram, claramente, a relação direta entre a iluminação e os estados psicológicos dos seres humanos. Uma iluminação de interiores que não leve em conta tais fatores pode ser desastrosa. Imagine um arquiteto cujo projeto de interiores é composto por lâmpadas fluorescentes e seu cliente possui um filho com autismo. O projeto poderia ser maravilho, mas não seria funcional – ao menos não em relação à qualidade de vida de seus habitantes. Por isso, a iluminação de interiores está diretamente relacionada com tais situações. Se ela pode causar e potencializar determinados estados psicológicos nos seres humanos, pode também, de certo modo, ser concebida como uma arte com várias finalidades; entre elas, a felicidade. Nesse sentido, um arquiteto pode projetar a iluminação de interiores residencial a partir dessa perspectiva, priorizando o carácter estético e original de seu trabalho a fim de que a iluminação influencie positivamente na qualidade de vida e no bem-estar de seus habitantes. 

2.4. A iluminação de interiores: arte, qualidade de vida e felicidade 

Em seu Curso de Estética (2001), Hegel aborda nas artes particulares, primeiramente, a arquitetura. Para o filósofo, ela indica a força inicial do espírito em direção à arte, manipulando e transformando a matéria. Hegel divide a arquitetura em três partes: a simbólica, a clássica e a romântica. Construções e esculturas como as da Grécia Antiga, da Roma Antiga e da Igreja Medieval e Renascentista compõem o grande conjunto estético da humanidade. De qualquer modo, sem entrar muito em tais detalhes, o importante aqui é a consideração de Hegel: a arquitetura não é simplesmente uma arte. Ela é a primeira e movimenta para os âmbitos maiores do pensamento humano. Com um tom mais contemporâneo, parte-se dessa consideração acrescentando que a arquitetura e a iluminação de interiores também é arte, relacionando-se intimamente com outras técnicas como a pintura, a escultura e a poesia. 

Isso se materializou em vários momentos da história. Porém existem dois que chamam a atenção, devido à graça, originalidade e técnica: as casas de Pablo Neruda e de Carlos Paez Vilaró. Pablo Neruda foi um poeta chileno do século XX (1904-1973) e tinha um gosto bastante original em relação às suas habitações. Possuiu três casas e todas elas tinham nomes carinhosos: La Sebastiana (Figura 12), La Chascona (Figura 13) e Isla Negra.

Todas elas são extremamente peculiares. Neruda parecia transformá-las em seus poemas e, com frequência, seus poemas, pareciam ser uma transformação delas. Suas casas surgem constantemente em seus poemas como referências idílicas e criativas. Alguns anos antes, no entanto, Pablo Neruda morou em Madrid na Espanha na Casa das Flores, um símbolo da arquitetura da vanguarda racionalista. A Casa das Flores se configurava com traços sóbrios e com boa uma iluminação natural e boa ventilação. Sobre ela, Pablo Neruda escreveu em um de seus poemas:

Yo vivía em um barrio, de Madrid, com campanas, com relojes, com árboles. 

Desde allí se veia el rostro seco de Castilla como un océano de cuero. Mi casa era llamada la casa de las flores, porque por todas partes estallaban geranios: era una bella casa con perros y chiquillos. (NERUDA, 1981:99)

Se as casas de Neruda pareciam se entrelaçar em sua poesia, a Casa Pueblo parece se ligar com as pinturas e esculturas do uruguaio Carlos Páez Vilaró (Figura 14). Diz-se que ela foi a inspiração para que Vinícius de Moraes compusesse sua famosa música “Era uma casa / muito engraçada / não tinha teto / não tinha nada / […] Mas era feita com muito esmero”. Vilaró modelava à mão sua casa e afirmava que ela era uma “escultura habitável”. Começou apenas com uma casinha de lata onde armazenava os utensílios que utilizaria para construí-la posteriormente o que seria o seu futuro ateliê. Nas décadas seguintes, não parou de ampliá-la, inaugurando, constantemente, novos cômodos e novas vistas para o oceano. Hoje, a Casa Pueblo se tornou, de um lado, um grande hotel luxuoso e, do outro lado (os cômodos originais feitos por Vilaró), um museu cujo horizonte maravilhoso faz com que todos os dias sejam realizadas “cerimônias ao Sol”, celebrando a vida, a beleza e a iluminação natural que recai sobre a casa. 

Esses dois exemplos demonstram a arquitetura como uma arte única e que se conecta também com outras, como a pintura, a escultura e a poesia. Os formatos peculiares dessas casas também tornam a sua iluminação particular. Afinal, como afirma Arnheim, “os efeitos da iluminação são fortemente influenciados pela distribuição da luz percebida no ambiente espacial total” (2005:302) e tais artistas tinham uma ampla iluminação natural distribuída em inúmeros cômodos de suas casas. Desse modo, o conforto visual é um dos objetivos básicos a se atingir na iluminação de interiores. Entretanto, como afirma Barbosa, “entendemos que o conforto visual inclui as necessidades humanas não visuais da luz, mas fisiológicas, que interferem no bem-estar, produtividade e saúde, como foi descrito anteriormente” (2010:106). Em sua pesquisa, a autora conclui enfaticamente que a luz interfere no sistema fisiológico humano em pontos bastante cotidianos como humor, estresse, relaxamento ou estímulo físico e mental, etc. (BARBOSA, 2010:201). Correlaciona-se, então, a beleza com as necessidades orgânicas de um indivíduo. 

A partir disso, compreende-se bem a análise de Pedrotti (2018). Segundo a autora, as cores verde e marrom equilibram, por exemplo, um ambiente infantil, dando às crianças sensações de acolhimento e renovação. O uso de cores mais intensas (como o roxo) aproxima-se mais da faixa etária adolescente, enquanto que as cores mais claras e sóbrias (como o branco) transmitem uma sensação de pureza e limpeza. Com isso, depara-se mais uma vez com as questões relacionadas à qualidade de vida que se mescla entre as necessidades fisiológicas e os gostos estéticos. Relembrando o estudo de Mostardeiro, “aspectos físicos do ambiente (iluminação, ventilação, acústica, cores, texturas), assim como, aspectos de organização (simplicidade, legibilidade, proteção, segurança e supervisão) reduzem o nível de estresse e o desconforto da criança com TEA” (2019:23). De certo modo, é justamente essa mistura entre qualidade de vida e estética que guiará a arquitetura de interiores. Nota-se, nesse sentido, que a iluminação está intimamente atrelada a um aspecto de progresso e desenvolvimento tecnológico-social6; fotos do planeta terra tiradas por satélites que o orbitam demonstram uma clara relação entre a iluminação e as cidades consideradas mais desenvolvidas. 

Visto, portanto, tal relação, a iluminação de interiores torna-se uma arte cuja finalidade poderá ser a felicidade dos habitantes, transformando suas casas em uma “obra de arte habitável” para parafrasear Vilaró. Como a figura 15 demonstra, lâmpadas e luminárias podem se adequar a inúmeras ideias, tornado o projeto de interiores mais original e estimulante e criando atmosferas para o contentamento e o deleitamento estéticos. Essa concepção foi posta em prática no Lighting Design International realizado no Reino Unido (Figura 16). Apesar de sua grandiosidade, ele é um projeto de iluminação de interiores residencial aplicado no porão de uma casa do século 19, de modo que sua elaboração serve não apenas de inspiração como também pode ser adaptada para habitações menores. 

3. Conclusão: estética e qualidade de vida na iluminação de interiores 

Conhece-se bem, atualmente, a importância da iluminação. Ela ajuda à prolongação do dia para o trabalho, o estudo e o convívio; serve para auxiliar mesmo quando o a iluminação natural ainda é forte e o sol adentra por todos os cômodos. Apesar de a iluminação artificial estar presente na história da humanidade desde tempos primordiais com fogueiras e lamparinas de diversos modelos, foi a partir da descoberta da eletricidade e da invenção da luz elétrica que houve um salto enorme no desenvolvimento tecnológico e produtivo. Desse modo, a iluminação afeta necessariamente, entre tantos outros setores de nossa sociedade, a economia, a saúde, a educação. Mas, ela não se reduz a esse caráter utilitarista. Também não pode ser entendida simplesmente e apenas por meio de estudos das propriedades físicas da luz. 

Qualquer uma dessas posições sem a complementação e relação com outras perspectivas reduz a iluminação a uma visão simplista, desconsiderando a complexidade existente em seus diversos usos. A iluminação de interiores está intimamente relacionada à qualidade de vida em relação à saúde. Como se pôde notar, crianças com transtorno do espectro autista precisam viver em um ambiente cuidadosamente planejando em relação à iluminação, à ventilação, ao som, etc. Outros casos estão também associados às questões de saúde. Lares de idosos, orfanatos e creches necessitam, por exemplo, de projetos de iluminação de interiores que levem em conta seus contextos peculiares. Crianças abandonadas, talvez, sintam-se um pouco melhor psicologicamente em ambientes mais arejados, coloridos e iluminados do em ambientes fechados, monocromáticos e escuros. Claro que são exigidos vários outros cuidados; porém, cada detalhe soma-se a outro em relação à qualidade de vida e à felicidade. 

Além disso, o carácter estético é intrínseco à arquitetura. Desde os pensadores antigos até os pensadores modernos, existe a concepção de que a arquitetura enquadra-se no rol das artes, semelhante à escultura e à pintura. O ritmo acelerado de nossas cidades, as cargas de trabalho excessivas e as preocupações constantes fazem com que esse carácter estético seja perdido ou diminuído da percepção cotidiana. Porém, a arquitetura e a iluminação de interiores podem ajudar a potencializar exatamente o contrário. Em outras palavras, podem permitir às pessoas uma contemplação estética semelhante àquelas sensações que se sentia ao entrar em uma Igreja renascentista e ver seus vitrais. A iluminação de interiores pode transformar uma simples casa comum, como já dito, em uma “obra de arte habitável”, elevando a qualidade de vida de seus moradores e, por conseguinte, a felicidade e o bem-estar deles. Isso não exige necessariamente projetos caríssimos e tecnologicamente complexos; a exigência maior para se atingir tal objetivo está mais na criatividade do arquiteto e na expressão dos desejos e interesses dos habitantes. 

Portanto, a iluminação de interiores possui uma finalidade estética bastante humana: possibilitar, em meio a tantos problemas e tantas complicações das sociedades contemporâneas, uma moradia qualitativamente mais acolhedora. A felicidade, o bem-estar e o conforto se tornam, assim, não apenas um parâmetro, mas, sobretudo, uma consequência da qualidade de vida que a estética da iluminação de interiores irá transmitir. Sem perder de vista as funções necessárias das iluminações dirigidas de tarefa e destaque, por exemplo, os efeitos dirigidos podem se harmonizar ao ambiente, mesclando arte e utilidade, contemplação estética e necessidades fisiológicas. Cabe, sobretudo, ao arquiteto aliar sua técnica à criatividade, à sua sensibilidade e à sua originalidade conforme os interesses, desejos e emoções de seus clientes a fim de transformar, por fim, a sua arquitetura e iluminação de interiores em uma obra de arte habitável que transmita qualidade de vida, felicidade e bem-estar. 

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2Para não se recair em anacronismos, aqui não é aplicado o termo “iluminação de interiores”. Sempre que se falar sobre as iluminações naturais e artificiais anteriores à época contemporânea, quando se cunha o conceito “iluminação de interiores”, serão utilizados termos como “iluminação interior”. 

3É importante notar que o “fluxo luminoso” é uma dominação conceitual bastante precisa. De acordo com Neufert, “o rendimento da radiação percebida pelo olho se denomina fluxo luminoso φ. O fluxo luminoso compreendido em um determinado ângulo e segundo uma direção específica, é a intensidade luminosa. A intensidade luminosa de uma luminária em todas as direções de radiação, proporciona a distribuição da intensidade luminosa, geralmente produzida em forma de curvas fotométricas (CF)” (1995p. 128).

4A NBR 5413 versa sobre a “Iluminância de interiores”, é estabelecida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e define seu objetivo da seguinte forma: “Esta Norma estabelece os valores de iluminâncias médias mínimas em serviço para iluminação artificial em interiores, onde se realizem atividades de comércio, indústria, ensino, esporte e outras”. 

5O flicker é aquele piscar constante das fontes luminosas (lâmpadas e lamparinas). Tecnicamente, ele é causado devido a pequenas flutuações de tensão, o que provoca grande fadiga física e psíquica nas pessoas presentes e impossibilita o conforto visual no ambiente. 

6Como afirma Cangussu “a utilização da energia elétrica e iluminação artificial está intimamente ligada à ideia de progresso e qualidade de vida […]: os locais mais iluminados no globo terrestre estão nos países ditos desenvolvidos e, a partir dessa observação, pode-se inferir quais os sítios com maior adensamento” (2019:10). É importante notar que a relação entre eletricidade e iluminação enquanto uma forma de “desenvolvimento” está, antes de tudo, atrelada à qualidade de vida. A eletricidade e a iluminação possibilitam melhores níveis de comunicação e de informação, por exemplo. A iluminação artificial elétrica garante melhores condições de estudo e de trabalho, entre tantas outras situações que poderiam ser levantadas. Assim, estabelece-se uma ligação íntima entre tecnologia e sociedade em relação inúmeros processos sociais e individuais relacionados às melhorias e aos desenvolvimentos da vida humana.


1Master em Arquitetura e Lighting. Instituto de Pós-Graduação – IPOG. Campos dos Goytacazes, RJ