REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7241910
Geórgia Guimarães de Barros Cidrão1
Esther Ribeiro Studart da Fonseca2
Isabelly Abreu de Oliveira3
Júlia Francisca Rodrigues de Sousa4
Teresa Micaelle Lima dos Santos5
RESUMO
INTRODUÇÃO: O transplante cardíaco somente é realizado quando a expectativa de uma vida útil é maior com tratamento cirúrgico do que com tratamento clínico, sendo vários fatores avaliados antes de se propor a abordagem cirúrgica. É visto como um tratamento padrão ouro para a insuficiência cardíaca, doença na qual o paciente apresenta uma grande limitação funcional e alta mortalidade. Além da insuficiência cardíaca, o transplante pode ser realizado em indivíduos com patologia isquêmica com angina refratária e sem capacidade de revascularização, apresentando uma melhora na qualidade de vida e sobrevida desses pacientes. Mas apesar dos benefícios do procedimento, ele pode trazer algumas complicações clínicas. A reabilitação cardíaca faz-se necessária na recuperação do indivíduo pós-transplante cardíaco, pois corresponde a um conjunto de atividades necessárias para garantir aos pacientes portadores de doenças cardiovasculares as melhores condições sociais, mentais e físicas possíveis. Portanto, o objetivo desse trabalho consistiu em avaliar os efeitos da reabilitação cardíaca na qualidade de vida e funcionalidade em pacientes pós transplante cardíaco de um hospital da rede pública de Fortaleza-CE. MÉTODO: O presente estudo trata-se de uma série de casos, com pacientes submetidos ao programa de reabilitação cardíaca, sendo aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 no início e ao fim do programa. RESULTADOS: Foram avaliados quatro pacientes do sexo masculino com idade entre 24 e 57 anos. Constatou-se que todos os pacientes tiveram melhora de pelo menos quatro dos oito domínios avaliados após a reabilitação cardíaca. CONCLUSÃO: A reabilitação cardíaca foi benéfica, atuando na melhora da qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes estudados. O domínio de maior destaque foram os aspectos físicos, onde todos os pacientes obtiveram melhora significativa. Ressalta-se a importância de serem realizados mais estudos na área para que o assunto possa ser mais discutido entre os profissionais e a sociedade como um todo.
PALAVRAS-CHAVE: Fisioterapia; Reabilitação cardíaca; Transplante cardíaco.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Heart transplantation is only performed when the life expectancy is longer with surgical treatment than with clinical treatment, with several factors being evaluated before proposing a surgical approach. It is seen as a gold standard treatment for heart failure, a disease in which the patient has a major functional limitation and high mortality. In addition to heart failure, the transplant can be performed in individuals with ischemic pathology with refractory angina and without revascularization capacity, showing an improvement in the quality of life and survival of these patients. But despite the benefits of the procedure, it can bring some clinical complications. Cardiac rehabilitation is necessary in the recovery of the individual after heart transplantation, as it corresponds to a set of activities necessary to guarantee patients with cardiovascular diseases the best possible social, mental and physical conditions. Therefore, the objective of this study was to evaluate the effects of cardiac rehabilitation on quality of life and functionality in patients after heart transplantation at a public hospital in Fortaleza-CE. METHOD: The present study is a case series, with patients undergoing the cardiac rehabilitation program, with the SF36 quality of life questionnaire being applied at the beginning and end of the program. RESULTS: Four male patients aged between 24 and 57 years were evaluated. It was found that all patients improved in at least four of the eight domains evaluated after cardiac rehabilitation. CONCLUSION: Cardiac rehabilitation was beneficial, improving the quality of life and functionality of the patients studied. The most prominent domain was the physical aspects, where all patients obtained significant improvement. It is important to emphasize the importance of carrying out more studies in the area so that the subject can be discussed more among professionals and society as a whole.
KEYWORDS: Physiotherapy; Cardiac rehabilitation; Heart transplantation.
1. INTRODUÇÃO
O primeiro transplante cardíaco realizado no mundo ocorreu em 1967 na África do Sul, seis meses após, ocorreu a sua realização no Brasil. Os resultados iniciais não foram promissores, apresentando-se uma alta taxa de mortalidade. Apenas em 1970, com o surgimento do medicamento ciclosporina, foi possível uma melhora no controle da rejeição dos pacientes transplantados. (MANGINI et. al., 2015).
Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – ABTO, foram realizados no Brasil, até março de 2019, um total de 2.889 transplantes cardíacos de doadores falecidos. De janeiro de 1997 a março de 2019, no Brasil, foi registrado um total de 4.854 transplantes cardíacos (ABTO, 2019).
O transplante cardíaco somente é realizado quando a expectativa de uma vida útil é maior com tratamento cirúrgico do que com tratamento clínico, sendo vários fatores avaliados antes de se propor a abordagem cirúrgica (MATOS et. al., 2015). É visto como um tratamento padrão ouro para a insuficiência cardíaca, doença na qual o paciente apresenta uma grande limitação funcional e alta mortalidade. Além da insuficiência cardíaca, o transplante pode ser realizado em indivíduos com patologia isquêmica com angina refratária e sem capacidade de revascularização, apresentando uma melhora na qualidade de vida e sobrevida desses pacientes. Apesar de sua eficácia, o transplante cardíaco é contra indicado em indivíduos com a presença de comorbidades, por dificultarem o tratamento cirúrgico e, futuramente o tratamento clínico do transplantado (MANGINI et. al., 2015).
Apesar de todos os benefícios do transplante cardíaco, as alterações de qualidade de vida e funcionais ocorrem nos pacientes pós transplantados. Esses pacientes apresentam intolerância ao exercício físico pela alteração no desempenho hemodinâmico, resultante de anormalidades cardíacas, neuro-hormonais, vasculares, musculoesqueléticas e pulmonares. Isso poderia ser explicado, em parte, pela falência cardíaca pré-transplante, pelo próprio ato cirúrgico, pelo período de hospitalização, pela utilização de imunossupressores, pelo número de episódios de rejeição e pelo tempo de transplante. (FOGAÇA, et. al., 2012).
Após a realização do transplante cardíaco, se faz necessária a intervenção de uma equipe multiprofissional, visando melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes, permitindo o seu retorno às atividades de vida diária. Dentro desse contexto, a reabilitação cardíaca (RC) tem um papel importante na recuperação do indivíduo pós-transplante cardíaco. Corresponde a um conjunto de atividades necessárias para garantir aos pacientes portadores de doenças cardiovasculares as melhores condições sociais, mentais e físicas possíveis, para que possam alcançar com seu próprio esforço uma vida normal e produtiva. (FOGAÇA et. al., 2012; SOUZA, et. al., 2018). Seus principais objetivos são preventivos e terapêuticos, atuando na melhora do sistema cardiorrespiratório. Outro objetivo importante da reabilitação é a recuperação da autoconfiança do paciente antes perdida. (MARINHO, et. al., 2016).
De acordo com Nunes (2010), para ser indicada a RC, o paciente precisa passar por uma avaliação rigorosa do seu médico assistente e apenas após a sua estabilidade hemodinâmica pode-se dar início ao processo de tratamento.
A fisioterapia tem uma grande importância na RC, principalmente em pacientes pós-cirúrgicos, pois a atividade física aeróbica supervisionada contribui para que não haja complicações na recuperação, diminui o quadro álgico e aumenta a sua qualidade de vida, diminuindo assim futuras intercorrências clínicas. (SOUZA et. al., 2018).
Visto os benefícios da RC nesse grupo de pacientes, surgiu o interesse em pesquisar sobre o assunto. Verifica-se também que ainda há necessidade de um número maior de estudos dentro dessa temática, para assim alicerçar a prática clínica dos profissionais que atuam na área.
Acredita-se que, conhecendo os efeitos terapêuticos da RC, políticas e programas de saúde sejam implementados, visando a um maior controle das complicações pós operatórias dos transplantados e como consequência a redução do custo financeiro para o sistema de saúde e para a sociedade.
Portanto, o objetivo desse trabalho consistiu em avaliar os efeitos da reabilitação cardíaca, na qualidade de vida e funcionalidade em pacientes pós-transplante cardíaco de um hospital da rede pública de Fortaleza, Ceará.
2. MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma série de casos.
3. AMOSTRA
Participaram do estudo quatro pacientes em pós operatório de transplante cardíaco, pertencentes ao programa de RC do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital de Messejana), no período de setembro/2019 à março/2020. Os critérios de inclusão foram: pacientes de ambos os sexos e de qualquer idade, que foram submetidos ao transplante cardíaco e que estivessem em atendimento no serviço de reabilitação cardíaca do hospital. Critérios de exclusão: pacientes que estivessem sendo atendidos há mais de um mês, pois foram comparados os resultados encontrados no início e no final do tratamento. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital de Messejana e aprovada pelo parecer número 3.364.367, sendo assinados antes do início do estudo os termos de consentimento livre e esclarecido.
4. INSTRUMENTOS
Para a coleta de dados foram utilizados um questionário sócio demográfico elaborado pelos próprios pesquisadores e o questionário SF-36, que vem sendo um instrumento utilizado em pesquisas importantes, como por exemplo, pacientes que fizeram cirurgia cardíaca. A grande vantagem da utilização desse instrumento, em todos os casos, é deixar o paciente falar sobre o próprio tratamento. Nesse contexto, o pesquisador, principalmente, tem que dar voz ao paciente, para que ele possa sair dessa posição “paciente”. (TEIXEIRA et. al., 2002).
O SF-36 (SHORT FORME) é constituído por 11 perguntas, uma que mede a transição do estado de saúde no período de um ano e não é empregada no cálculo das escalas, e as demais que são agrupadas em oito escalas ou domínios. As pontuações mais altas indicam melhor estado de saúde. O tempo de preenchimento é de 5 a 10 minutos e a versatilidade de sua aplicação por autopreenchimento, entrevistas presenciais ou telefônicas com pessoas de idade superior a 14 anos, com níveis de confiabilidade e validade que excedem os padrões mínimos recomendados, tornam esse instrumento atraente para uso combinado com outros questionários em inquéritos populacionais (LAGUARDIA et. al., 2013).
O questionário SF-36 é dividido em domínios, sendo eles capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Foi realizado o cálculo da média geral dos domínios do questionário SF-36 (SHORT FORME).
Para resolver o questionário SF-36, primeiramente é preciso identificar qual o valor de referência para cada questão. Feito isso, é necessário encontrar o raw score, onde serão transformados os valores das questões em notas para cada um dos oito domínios do questionário. Os domínios variam de 0 a 100, onde 0 é pior e 100 é melhor. Quanto mais perto de 100 melhor está a qualidade de vida da pessoa naquele domínio e quanto mais próximo de 0 pior. A fórmula para o cálculo de cada domínio é o valor obtido nas questões correspondentes menos o limite inferior dividido pela Variação (Score Range) e depois multiplicado por 100.
A primeira aplicação do questionário foi realizada no início do programa de RC, para se ter um parâmetro da condição inicial do paciente. Já a segunda aplicação foi realizada no final do último mês da reabilitação, para assim acompanhar as respostas dos pacientes após o tratamento.
5. PROCEDIMENTOS
Antes de iniciar a coleta de dados, explicou-se aos pacientes os objetivos do estudo, sendo em seguida entregue o termo de consentimento livre e esclarecido para ser assinado. Após, foram preenchidos o questionário sócio-demográfico e o questionário SF-36. A avaliação se deu em dois momentos, no primeiro mês de reabilitação cardíaca e no último mês, para assim, ser feita uma comparação em relação à evolução do paciente.
6. ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram transferidos para o programa Microsoft Excel 2010 e posteriormente foram analisados de forma descritiva.
7. RESULTADOS
Participaram do estudo quatro pacientes (todos do sexo masculino) em pós-operatório de transplante cardíaco, pertencentes ao programa de RC do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital de Messejana), com idade entre 24 e 57 anos (Tabela 1).
Tabela 1: Perfil sociodemográfico
PACIENTE | IDADE | SEXO | RAÇA |
1 | 45 | MASCULINO | BRANCO |
2 | 24 | MASCULINO | BRANCO |
3 | 57 | MASCULINO | PRETO |
4 | 50 | MASCULINO | PARDO |
A tabela 2 refere-se às patologias que levaram os pacientes a realizarem o transplante cardíaco, onde a patologia mais comum foi a doença isquêmica.
Tabela 2: Patologias que levaram o paciente a realizar o transplante cardíaco
PACIENTE | PATOLOGIA |
Paciente 1 | Insuficiência cardíaca isquêmica |
Paciente 2 | Miocardiopatia dilatada |
Paciente 3 | Infarto agudo do miocárdio isquêmico |
Paciente 4 | Insuficiência cardíaca isquêmica |
A tabela 3 apresenta as principais queixas dos pacientes apresentadas antes ou no primeiro mês e após três meses de reabilitação cardíaca. Verificamos que a principal queixa dos pacientes antes ou no primeiro mês da reabilitação foram as limitações por aspectos físicos e após a reabilitação foram vitalidade (paciente 1), estado geral de saúde (paciente 2), aspectos emocionais (paciente 3) e limitações por aspectos físicos (paciente 4).
Tabela 3: Principais queixas dos pacientes antes/primeiro mês e após três meses da reabilitação cardíaca
PACIENTES | ANTES/PRIMEIRO MÊS DA RC | APÓS A RC |
Paciente 1 | Limitação por aspectos físicos e capacidade funcional | Vitalidade |
Paciente 2 | Limitação por aspectos físicos | Estado geral de saúde |
Paciente 3 | Limitação por aspectos físicos e emocionais | Aspectos emocionais |
Paciente 4 | Limitação por aspectos físicos e dor | Limitação por aspectos físicos |
A tabela 4 refere-se ao paciente 1 e mostra os valores dos domínios calculados antes e após a reabilitação cardíaca, colocando em evidência a melhora da capacidade funcional, limitação por aspectos físicos e emocionais.
Tabela 4: Valores dos domínios do questionário SF-36 antes/primeiro mês e após a reabilitação cardíaca do paciente 1.
Raw Scale | Resultado | |
Domínios | 04/09/2019 | 08/01/2020 |
Capacidade funcional | 35 | 70 |
Limitação por aspectos físicos | 25 | 75 |
Dor | 51 | 74 |
Estado geral de saúde | 62 | 67 |
Vitalidade | 65 | 65 |
Aspectos sociais | 87,5 | 100 |
Aspectos emocionais | 33,3 | 66,6 |
Saúde mental | 96 | 100 |
A tabela 5 refere-se ao paciente 2 e mostra os resultados obtidos no primeiro mês de reabilitação cardíaca e no último mês, colocando em evidência a melhora dos domínios limitação por aspectos físicos e aspectos sociais. No domínio limitação por aspectos físicos, o paciente obteve melhora de 100% nessas limitações.
Tabela 5: Valores dos domínios do questionário SF-36 antes/primeiro mês e após a reabilitação cardíaca do paciente 2
Raw Scale | Resultado | |
Domínios | 14/10/2019 | 14/02/2020 |
Capacidade funcional | 90 | 95 |
Limitação por aspectos físicos | 0 | 100 |
Dor | 100 | 100 |
Estado geral de saúde | 77 | 77 |
Vitalidade | 80 | 90 |
Aspectos sociais | 50 | 100 |
Aspectos emocionais | 100 | 100 |
Saúde mental | 100 | 100 |
A tabela 6 refere se ao participante 3, que possuía a maior idade entre os participantes (57 anos). De acordo com os valores dos domínios calculados antes e após a reabilitação cardíaca, o paciente apresentou melhora e mudança em todos os domínios após a reabilitação, onde as alterações mais significativas foram limitação por aspectos físicos e dor.
Tabela 6: Valores dos domínios do questionário SF-36 antes/primeiro mês e após a reabilitação cardíaca do paciente 3
Raw Scale | Resultado | |
Domínios | 06/09/2019 | 08/01/2020 |
Capacidade funcional | 55 | 90 |
Limitação por aspectos físicos | 25 | 100 |
Dor | 51 | 100 |
Estado geral de saúde | 52 | 67 |
Vitalidade | 70 | 85 |
Aspectos sociais | 62,5 | 100 |
Aspectos emocionais | 0 | 33,3 |
Saúde mental | 72 | 84 |
A tabela 7 mostra os resultados obtidos do paciente 4, que teve entre os avaliados o menor tempo de RC. O tratamento foi interrompido por razões externas. Embora o tempo de reabilitação tenha sido curto, observou-se em seus resultados melhora significantes em alguns domínios como limitações por aspectos físicos e dor, mas em outros domínios não se obtiveram melhoras ou mudanças significativas, sendo importante ressaltar que no domínio saúde mental, o paciente teve uma pequena piora após a reabilitação cardíaca.
Tabela 7: Valores dos domínios do questionário SF-36 antes/primeiro mês e após a reabilitação cardíaca do paciente 4
Raw Scale | Resultado | |
Domínios | 12/02/2020 | 15/03/2020 |
Capacidade funcional | 65 | 85 |
Limitação por aspectos físicos | 0 | 50 |
Dor | 10 | 84 |
Estado geral de saúde | 60 | 77 |
Vitalidade | 65 | 85 |
Aspectos sociais | 50 | 87,5 |
Aspectos emocionais | 100 | 100 |
Saúde mental | 92 | 88 |
Constatou-se que todos os pacientes estudados tiveram melhora de pelo menos quatro dos oito domínios avaliados após a reabilitação cardíaca. Um dos domínios de maior destaque entre os pacientes foram os aspectos físicos, onde todos os pacientes obtiveram melhora significativa.
8. DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da RC (fase 2) na qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes pós transplante cardíaco. Através da aplicação do questionário SF36, foi possível verificar uma melhora expressiva no domínio aspectos físicos.
A Organização Mundial de Saúde (2007) descreveu a reabilitação como “a soma das atividades necessárias para garantir as melhores condições físicas, psicológicas e sociais possíveis, de modo que os pacientes possam restaurar seu status normal na comunidade, o mais rápido possível, por seus próprios esforços, assim prosseguindo à uma saúde ativa “.
No estudo de Silva et al (2011), que verifica os efeitos de um programa de reabilitação cardíaca na qualidade de vida dos praticantes de uma clínica particular na cidade de Brasília, mostrou a predominância do sexo masculino na amostra estudada (M=62%; F= 38%), assemelhando-se ao presente estudo onde todos os pacientes foram do sexo masculino (M= 100%).
Constatou-se que 50% dos pacientes submetidos ao transplante cardíaco foi em decorrência da insuficiência cardíaca, um dado que entra em concordância com os achados de DOBLER et al (2017), afirmando que no Brasil a via final mais comumente que leva o paciente ao transplante cardíaco é a insuficiência cardíaca, tendo como comorbidades associadas, o tabagismo e a arritmia. No estudo LIMA et al (2010), que analisa o perfil de pacientes presentes na lista de espera para o transplante cardíaco no Ceará, verificou-se que a principal causa que leva o paciente ao transplante cardíaco é a miocardiopatia, estando em maior evidência a dilatada. Outras patologias também foram citadas como causas, incluindo a má formação congênita.
Ainda sobre o estudo de Silva et al (2011), alguns pontos foram apresentados sobre as condições clínicas dos pacientes pós-transplante cardíaco, evidenciando alterações no desempenho hemodinâmico, mesmo apresentando uma melhora significativa na qualidade de vida. Guimarões (1999), aborda em seu estudo os mesmos pontos, expondo que esses problemas clínicos são observados durante a recuperação do paciente. Cameo (2019) também expõe no seu estudo as dificuldades clínicas que o paciente apresenta no pós-transplante cardíaco, como descondicionamento físico, fraqueza muscular, atrofia dos membros e até capacidade aeróbica diminuída. Tudo isso, devido ao longo período que o paciente passou em repouso no leito e até a outros fatores como desenervação do coração.
Simchen et al (2001), ao comparar os resultados do SF-36 antes da RC, com a segunda aplicação em um ano, observou-se melhora no estado de saúde geral, função física e social, corroborando com os achados do presente estudo.
Hevey et al (2003) concluíram que a vitalidade, a dor e a saúde geral melhoraram após a RC no hospital.
Através de alguns estudos analíticos para estudar o controle da dor Ulubaya et al (2007), analisaram outros fatores e determinaram a redução da dor relacionada ao transplante cardíaco após a realização de exercícios físicos. No estudo de caso de Polastri et al. (2013), após 3 sessões de treinamento de reabilitação, o paciente conseguiu melhorar significativamente os sintomas de dor muscular durante a caminhada nos membros inferiores, reduzindo o grau de dor de 10 para 2. O presente estudo também traz como resultado a melhora da dor relacionada ao transplante após a realização de exercícios físicos.
9. CONCLUSÃO
Observou-se no presente estudo que todos os pacientes apresentaram, após a RC, melhora de pelo menos quatro dos oito domínios avaliados. Um dos domínios de maior destaque foram os aspectos físicos, onde todos os pacientes obtiveram melhora significativa.
Conclui-se que a RC foi benéfica, atuando na melhora da qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes estudados.
Ressalta-se a importância de serem realizados mais estudos na área para que o assunto possa ser mais discutido entre os profissionais e a sociedade como um todo.
REFERÊNCIAS
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1Fisioterapeuta do Hospital Dr Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital de Messejana) / Bolsista PIBICDTI/ESTÁCIO CEARÁ (2019-2020).
2Fisioterapeuta do Hospital Dr Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital de Messejana).
3,4,5Graduadas em Fisioterapia, Centro Universitário Estácio do Ceará.