ANÁLISE DAS VIAS DE PARTO NA 15° RS SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DE ROBSON

Analysis of delivery modes in the 15th RS according to Robson’s Classification

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7226121


Autoria de:

Gabriela Menotti Bruceze1
Adriana de Sant’Ana Gasquez2


RESUMO 

As altas taxas de cesariana (CS) são um problema de saúde pública e seu elevado índice é um evento comum no Brasil e em quase todos os países do mundo. Objetivo: Analisar as vias de partos utilizando a classificação de Robson pelas gestantes residentes na 15° Regional de Saúde do Paraná entre os anos 2015 e 2020, com intuito de identificar quem são as mulheres que tiveram a indicação de cesáreas. Metodologia: Estudo transversal, descritivo, quantitativo realizados com dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, em relação a via de parto, no período de 2015 a 2020, da 15° Regional de Saúde do Paraná. Analisou-se o número de taxas de CS de acordo com a Classificação de Robson através dos respectivos grupos. Resultado: O percentual das CS se manteve além do esperado pela OMS, possuindo média de 75,43%, havendo um discreto aumento de 3,4% de 2015 para 2020. É perceptível que a escolha da via de parto vai além da situação clínica das gestantes. Os grupos proeminentes que contribuíram para as altas taxas de CS foram os 5, 2, 1 respectivamente e em contrapartida para os partos vaginais tiveram destaque de contribuição, os grupos 3, 1 e 2. Mesmo os grupos 1 e 2 estarem em ambas as vias, a CS ainda se manteve com valores elevados comparados com os da via vaginal. Conclusão: Notório a necessidade de um pré-natal que vislumbre com clareza dos benefícios ao parto vaginal e intensificar a utilização da Classificação de Robson nos hospitais.

Palavras-chave: Cesárea. Parto Normal. Prevalência

ABSTRACT

High rates of cesarean section (CS) are a public health problem and the high rate of CS is a common event in Brazil and almost all countries in the world. Objective: To analyze the childbirth using Robson’s classification by pregnant women residing in the 15th Health Regional of Paraná between 2015 and 2020. Methodology: Cross-sectional, descriptive, quantitative study that used Live Birth Information System as a secondary database, in relation to the mode of delivery in the 5-year period of the 15th Health Regional of Paraná. The number of CS rates according to the Robson Classification was analyzed through the respective groups. Result: The percentage of CS remained higher than expected by the WHO, with an average of 75.43% of CS according to live births, with a slight increase of 3.4% from 2015 to 2020, it is noticeable that the choice of mode of delivery goes beyond the clinical situation of pregnant women. The prominent groups that contributed to the high rates of CS were the 5, 2, 1 respectively and in contrast to the vaginal deliveries, groups 3, 1 and 2 were highlighted. Even groups 1 and 2 were in both ways, CS still remained at high values ​​compared to the vaginal route. Conclusion: There is a need for prenatal care that clearly envisages the benefits of vaginal delivery and intensifies the use of the Robson Classification in hospitals.

Keywords: Cesarean Section. Natural Childbirth, Prevalence

1. INTRODUÇÃO

No modelo de atenção ao parto vigente no país, mais da metade das crianças brasileiras nasce pela via cesariana, um índice que chega a aproximadamente 80% na rede de saúde suplementar e é um evento comum a quase todos os países do mundo (Alonso, da Silva, Latorre, Diniz & Bick, 2017). Contudo, não sabemos de nenhum outro país onde a curva de aumento seja tão acentuada, nem as taxas tenham alcançado níveis tão altos, como no Brasil (Faúndes & Cecatti, 1991). A cesariana é um procedimento cirúrgico que reduz a morbimortalidade materna e neonatal quando realizada por motivos clínicos. No entanto, há evidências de que taxas de CS superiores a 10% a 15% estão associadas a maiores riscos de morbidade e mortalidade para a mãe e o recém-nascido (Knobel et al.,2020).

De acordo com MS (2001), a falsa associação da decorrência entre o aumento da taxa de cesárea e a diminuição da mortalidade perinatal foi responsável para que ocorresse uma pseudo-evidência-científica para um aumento indiscriminado da prática de cesarianas em todo o mundo ocidental e, particularmente, no Brasil. Também já é conhecido que entre as várias desvantagens da cesariana está o fato de que traumatismos fetais também ocorrem, especialmente em casos de prematuridade (Ministério da Saúde, 2001). Em outro estudo realizado, notou-se a presença de infecção pós-parto e a infecção da ferida operatória, foi maior nas cesáreas, bem como a necessidade de internação em UTI (Mascarello-Keila, Horta & Silveira, 2017).

A Classificação de Robson é um instrumento padrão e utilizada para avaliar, monitorar e comparar as taxas de CS mundialmente ao longo dos anos. Foi desenvolvida em 2001 pelo médico irlandês Michel Robson e tem como objetivo identificar prospectivamente grupos de mulheres clinicamente relevantes, nos quais haja diferenças nas taxas de cesáreas e dessa forma permitindo comparações em uma mesma instituição ao longo do tempo ou entre diferentes instituições (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). A classificação é baseada em seis itens obstétricos, a partir de informações que geralmente já são colhidas nos serviços, registradas nos prontuários e importantes à prática clínica. Esses itens são: Paridade (nulípara, multípara); Cesárea anterior (sim, não); Início do trabalho de parto (espontâneo, induzido, cesárea antes do trabalho de parto); Idade gestacional (termo, pré-termo); Apresentação fetal (cefálica, pélvica, transversa); Número de fetos (única ou múltipla) (Fundação Oswaldo Cruz, 2018).  

Nesse seguimento, existem grupos onde estas mulheres podem ser identificadas, e a vantagem é que esta classificação é dita “Inclusiva” pois todas as mulheres atendidas no serviço serão incluídas na classificação e “Exclusiva” visto que cada uma das mulheres é classificada exclusivamente em meramente um dos grupos da classificação (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). A Classificação de Robson, por conseguinte, auxilia a responder quem são as mulheres sujeitadas à cesariana, e, desta forma, se há demasia de cesárea em algum grupo específico (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). 

Diante das considerações, o objetivo deste estudo foi analisar e comparar a frequência das respectivas vias de parto pela Classificação de Robson no período de 2015 a 2020 na 15° Regional de saúde do Paraná, com o intuito de identificar quem são as mulheres que tiveram a indicação de cesáreas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Desenvolveu-se um estudo transversal, descritivo, de caráter quantitativo utilizando como base de dados secundários pesquisados no SINASC (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), em relação a via de parto no período de 2015 a 2020 da 15° Regional de Saúde do Paraná. Analisou-se o número de taxas cesarianas de acordo com a Classificação de Robson através dos respectivos grupos (Grupo 1, Grupo 2, Grupo 3, Grupo 4, Grupo 5, Grupo 6, Grupo 7, Grupo 8, Grupo 9 e Grupo 10). A 15° Regional de Saúde, situada na Macrorregional do Noroeste do Paraná, contempla 30 municípios com uma população estimada de 856.843 mil habitantes de acordo com o IBGE (2021). Nesta Regional de Saúde está localizada Maringá, considerada cidade Polo dos municípios ao redor.

Os dados coletados no SINASC foram coletados no Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos segundo Classificação de Risco Epidemiológico (Grupos de Robson) e Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos, por vias de parto vaginal e cesáreo pertencentes ao DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde).

Foi executada uma busca de artigos nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Medline (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica). A seleção e inclusão dos artigos se baseou nos descritores (Cesárea; Parto Normal; Prevalência), através do título e resumo do respectivo tema, contemplando os requisitos para ser incluído como base de dados, e assim, buscou-se o texto completo.

No Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos segundo Classificação de Risco Epidemiológico (Grupos de Robson), pesquisamos a taxa de cesáreas por ano de referência com o Grupo de Robson e efetuamos a comparação nos índices analisados a cada ano. O Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos, foi utilizado para identificar o tipo de parto (vaginal ou cesáreo) pelo Grupo de Robson. 

As terminologias utilizadas na Classificação de Robson, desenvolvidas em 2001 citadas pela Fundação Oswaldo Cruz (2018) são termos presentes em ginecologia e obstetrícia, sendo elas:

  • Nulípara (nenhuma gravidez anterior), multípara (é a mulher que já teve parto de bebê com ≥ 500 g ou ≥ 22 semanas, vivo ou morto, com ou sem malformações, por qualquer via);
  • Início de trabalho de parto espontâneo (se inicia espontaneamente, mesmo que a gestante tenha agendado uma cesariana prévia, sendo incluso também os casos de amniotomia e ocitocina para acelerar o parto após seu início espontâneo), induzido ou cesárea antes do trabalho de parto (é o parto realizado qualquer método de indução, como amniotomia, ocitocina, misoprostol, balão, intracervical, laminária);
  • Idade gestacional a termo (maior ou igual a 37 semanas de gestação), idade gestacional pré-termo (menor que 37 semanas de gestação);
  • Apresentação fetal cefálica (inclui todas as variedades em que a cabeça está para baixo, seja fletida ou qualquer grau de deflexão, incluindo apresentação de face), apresentação fetal pélvica (o polo pélvico é o primeiro que se apresenta na bacia materna), apresentação fetal transversa ou oblíqua (o feto está atravessado sobre o canal vaginal na posição horizontal e o ombro se apresenta primeiro na bacia materna). 

A Classificação de Robson (Fundação Oswaldo Cruz, 2018) contempla a seguinte divisão por grupos:

  • Grupo 1: (Nulípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo);
  • Grupo 2: (Nulípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Indução/Eletivo);
  • Grupo 3: (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo; Sem cesárea prévia);
  • Grupo 4: (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Indução/Eletivo; Sem cesárea prévia);
  • Grupo 5: (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Com cesárea prévia);
  • Grupo 6: (Todas Nulíparas, Único, Pélvico);
  • Grupo 7: Todas Multíparas, Único, Pélvico, Com cesárea (s) anterior (es));
  • Grupo 8: (Todas mulheres, Múltipla, Com cesárea (s) anterior (es));
  • Grupo 9: (Todas gestantes, Transversa ou oblíqua,  Com cesárea (s) anterior (es));
  • Grupo 10: (Todas gestantes, Único, Cefálico, <37 semanas, Com cesárea (s) anterior (es)).

Buscou-se na base de dados, fontes secundárias, disponíveis em relatórios públicos, não necessitando de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Na 15ª Regional de Saúde do Paraná ocorreram 10.892 nascimentos em 2015 (2.859; 26,24% partos vaginais e 8.033; 73,75% de Partos cesáreos). No ano de 2020 nasceram 10.631 crianças sendo 22,86% (2.431) de partos vaginais e 77,13% (8.200) de partos cesáreos. Portanto observamos um número três vezes maior de partos cesarianas em comparação aos partos vaginais; um decréscimo no número de partos vaginais; e, ainda um crescente aumento de cesáreas ao longo do período estudado.

Como já foi relatado, o objetivo da Classificação de Robson é identificar quem são as gestantes que são submetidas à cesárea (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). É recomendado que o parto vaginal seja maior nos grupos 1 e 3. O Grupo 1 representado por Nulípara; feto Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo. E o Grupo 3, (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo; Sem cesárea prévia).

Figura 1. Número de partos vaginais segundo os Grupos de Robson na 15ª Regional de Saúde do Paraná, 2015 e 2020.


Fonte: Os autores.

Na figura 1 ficou demonstrado o total de partos vaginais no ano de 2015 (n=2859) e no ano de 2020 (n=2431) distribuídos nos Grupos de Robson e é notório a liderança do Grupo 3 (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo; Sem cesárea prévia) em ambos. Em seguida representativamente, nos dois anos estudados, segue o Grupo 1 (Nulípara, feto único, Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo), no qual, no ano de 2015 foi de 26,44% (n= 756), e em 2020, 23,24% (n= 565), com percentual de discreta redução de 3,2%.

Figura 2. Números de partos cesáreos segundo os Grupos de Robson na 15ª Regional de Saúde do Paraná, 2015 e 2020.

Fonte: Os autores.

 Observa-se na figura 2 o total das cesáreas realizadas nos anos 2015 (n= 8.033) e 2020 (n= 8.200) distribuídas nos Grupos de Robson. Em 2015 os Grupos em destaque são: Grupo 5 (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Com cesárea prévia); predominante com 38,67% (n= 3.107), em seguida, Grupo 2 (Nulípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Indução/Eletivo) com 24,08% (n= 1.935) e na sequência o Grupo 1 (Nulípara; feto Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo) com 10,35% (n= 832). Os demais Grupos não atingiram margem significativa. 

No ano 2020, o Grupo 5 continuou predominante com 41,48% (n= 3.402), em seguida, Grupo 2 com 24,06% (n= 1.973) e o Grupo 4 (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Indução/Eletivo; Sem cesárea prévia) com 9,23% (n= 757). 

A cesariana foi a via de parto mais comum na 15ª Regional de Saúde do Paraná em 2015 e 2020 e pelos dados apresentados e analisados na Figura 2, o Grupo 1 (Nulípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo) teve seus índices entre terceira (2015) e quarta colocação (2020), respectivamente. 

O Grupo 3, representado por (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo; Sem cesárea prévia), foi o que teve índice de cesárea a partir do sexto lugar em 2015 e oitavo em 2020.

As mulheres representadas pelos Grupos 6 e 7 que incluem, respectivamente, todas as gestações com nulíparas, único, pélvico ou multíparas, único, pélvico, têm a decisão obstétrica afetada pelo tipo de parto cesáreo devido ao item “apresentação pélvica”.

Dentre os grupos de menor representatividade estão o grupo 8 representado por todas mulheres, múltipla, com cesárea (s) anterior (es) e o grupo 9 representado por todas gestantes, transversa ou oblíqua, com cesárea (s) anterior (es). estes grupos estão representados por parturientes com gestações múltiplas em que foram admitidas para parto em diferentes situações e demonstra o grupo de mulheres ao final da gestação com apresentação transversa ou oblíqua. ressalta-se que a definição e classificação destas mulheres ocorrem no momento da internação para o parto, e não em qual apresentação que o feto nasceu.

Por fim, o grupo 10, pouco representativo, ocupando a quarta (2015) e quinta (2020) posições sendo classificadas as parturientes com gestação pré-termo, e contribui com um considerável número para as taxas globais de cesarianas (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). 

O Grupo 10 representado por todas gestantes, feto único, cefálico, <37 semanas, com cesárea (s) anterior (es), possuiu taxas abaixo do esperado. No entanto suas características justifica a realização das cesarianas. Esta via de parto se fundamenta pela associação à prematuridade ocorrida por complicações e/ou riscos gestacionais. Porém, em análise, a Figura 2 demonstrou taxas abaixo do esperado.

A taxa de cesariana é calculada pela relação do número total de parto cesáreos dividido pelo número total de nascidos vivos realizados no ano considerado, multiplicando por 100 (Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2003).

Figura 3. Número de nascidos vivos segundo os Grupos de Robson na 15ª Regional de Saúde do Paraná no período de 2015 e 2020.

Fonte: Os autores.

Na Figura 3 temos a visualização sobre o número de nascidos vivos distribuídos por ano de referência nos Grupos de Robson. Os grupos prevalentes nesses anos foram o 5, 2 e 1. Durante os 5 anos analisados, o Grupo 5 (Multípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Com cesárea prévia) prevaleceu com maiores taxas e observamos uma variação de 0,63% em 2016 para uma maior taxa de 33,13%, em 2019. O Grupo 5 é considerado como taxas apropriadas de partos cesarianas entre 50-60%. Porém no estudo atual, na 15ª RS, foram obtidas taxas próximas a 92,96%. O que explica este percentual elevado de agendamento de cesáreas para mulheres com 1 cesárea prévia, portanto, sem tentativa de parto vaginal. Esses três grupos devem ter uma atenção especial se o hospital deseja diminuir as taxas de CS, e deve focar principalmente no Grupo 1 (Fundação Oswaldo Cruz, 2018).

Seguido pelo grupo 2 (Nulípara; Único; Cefálico; ≥37 semanas; Indução/Eletivo), observamos uma redução de 24,01% (2016) para 20,68% (2020). O Grupo 2, consistentemente, deveria atingir cerca de 20-35% das taxas de cesáreas segundo Robson, no entanto, neste estudo, na 15ª RS, obteve-se em torno de 87,88% no período de 5 anos. 

 Pela interpretação de Robson, o ideal é que o Grupo 1 obtenha taxas de cesarianas menores que 10%, porém, foi identificada uma média de 51,85% no local estudado. E, em seguida, o Grupo 1 (Nulípara; feto Único; Cefálico; ≥37 semanas; Espontâneo), de 14,56% em 2017, sofreu discreta redução em 2020 (11,24%).

Vimos no decorrer deste estudo a necessidade da implementação da Classificação de Robson para ter o melhor controle das taxas de cesarianas, já que o índice brasileiro é acima da média recomendada pela OMS (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). O melhor momento para fazer a classificação é no momento do parto, sendo necessário preparar a instituição para fazer uma coleta desses dados sobre os grupos de Robson prospectivamente. A partir disso, dá-se um feedback para os profissionais buscando entender o porquê da elevação da taxa de cesáreas do grupo 1, representado por uma parturiente Nulípara; feto Único; apresentação Cefálica; com idade gestacional ≥37 semanas; em trabalho de parto Espontâneo (Fundação Oswaldo Cruz, 2018). Discutir com o grupo de profissionais o motivo dos percentuais encontrados em cada grupo (Fundação Oswaldo Cruz, 2018) sobre os níveis elevados de cesáreas desnecessárias, é importante para analisar e sugerir propostas que objetivam a melhoria e a mudança do atual cenário dos nascimentos e partos no Brasil (Ferreira, 2021) e nas diferentes regiões, como também na 15ª regional de Saúde do Paraná. 

Um estudo realizado em Santa Catarina em 2012, observou-se que a taxa global de cesárea foi de 60,7%. Os grupos 2, 4, 5 e 10 foram os que apresentaram maior impacto nas taxas gerais de cesariana, responsáveis por 76,9% de todas as cesarianas. Todas essas diferenças apresentaram significância estatística (Freitas, Paulo (2019). Baseado na Classificação de Robson mostraram que os grupos de 1 a 5 contribuíram com mais de 80% da proporção total de cesáreas (Freitas & Vieira, 2020)

De acordo com Betrán et al (2016), em sua pesquisa realizada em 150 países nos anos de 1990 até 2014, atualmente 18,6% de todos os nascimentos ocorrem por CS, variando de 6% os países menos desenvolvidos e 27,2% nos mais desenvolvidos (Betrán et al.,2016), isso é evidente nas regiões do Brasil também, as regiões Norte e Nordeste apresentavam taxas de 44,5% e 48,4%, respectivamente, já nas regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul, as taxas de partos cesáreas estavam em 61,4%, 60,6% e 61,7%, respectivamente, dados obtidos pelo SINAN.

O elevado índice de cesarianas realizadas no Brasil tem a ver com a própria decisão da mulher pela cesárea justificada pelo “desejo” e a indicação pelos profissionais de saúde, tornando essa prática um problema da saúde pública devido ao aumento desnecessário de riscos com a cesárea (Weidle, Medeiros, Grave & Bosco, 2014).

Devemos colocar em consideração para o elevado índice de cesáreas, o perfil demográfico, obstétrico e de complicações dos serviços de saúde, pois podem variar de região para região (Brasil, 2016).  Analisando os resultados obtidos por esse estudo, na Regional do Paraná o parto vaginal teve maiores índices ocorridos nos grupos 1 e 3 e a cesariana lideradas pelos grupos 5,2,1, ambos analisados no período de 2015-2020.  Comparando com o estudo da Rodrigues (2012) “a frequência de cesariana foi de 57%, 75% cesáreas eletivas. Verificou-se maior preferência pelo parto normal tanto no início quanto no final da gestação. Grande parte das mulheres informaram que realizaram 6 ou mais consultas de pré natal (78,95%), sendo o profissional médico responsável por 94,70% dos atendimentos. Apesar de 57% das gestantes terem realizado cesariana, mais de 80% delas informou que não foi considerada gestante de risco”. O desejo pela cesárea no início da gestação conferiu risco quase 5 vezes maior de realizar cesárea eletiva e quase o dobro de risco de realizar cesárea não eletiva. A devida importância da classificação dos grupos de gestantes, instalação de protocolos e estratégias para ajustar as formas que serão realizadas o parto, poderão ser comparados e avaliados entre a mesma instituição num certo período de tempo ou entre instituições diferentes (Silva-Carlos & Laranjeira-Claudia, 2018).

A partir dessas características, foi evidenciado que os grupos de gestantes que ficam mais aglomerados são os grupos do 1 ao 6, demonstrando que onde se tinha maior probabilidades de realizar o parto normal eram as gestantes dos grupos 1, nulípara com feto único, cefálico, ≥37 semanas, em trabalho de parto espontâneo; Grupo 3, multípara sem cesárea anterior, com feto único, cefálico, ≥37 semanas, em trabalho de parto espontâneo e Grupo 4, multípara sem cesárea anterior, com feto único, cefálico, ≥37 semanas, cujo parto é induzido ou que são submetidas à cesárea antes do início do trabalho de parto (Nogueira & Macedo, 2019). 

Contudo, em nosso estudo observamos que havia maior ocorrência de cesáreas no grupo 5, todas multípara com pelo menos uma cesárea anterior, com feto único, cefálico, ≥37 semanas, sendo seguido pelo grupo 2, nulípara com feto único, cefálico, ≥37 semanas, cujo parto é induzido ou que são submetidas à cesárea antes do início do trabalho de parto e grupo 6, todas nulíparas com feto único em apresentação pélvica. 

Para mudança do panorama atual, iniciativas de políticas públicas, projetos e de ações a promoção de saúde, apresentam o intuito de alterar esse paradigma da assistência ao parto, como por exemplo, Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento e a Rede Cegonha, ambas instituídas pela portaria n° 1.459, de 24 de junho de 2011 (Copelli, Rocha, Zampieri, Gregório & Custódio, 2015).

As evidências científicas nos revelam que os maiores grupos de gestantes estão concentrados nos grupos 1 a 5, mas as maiores oportunidades de parto vaginal estão indicadas nos pacientes dos grupos 1, 3 e 4. A indicação de quais são os grupos proeminentes nas instituições de saúde haverá a contribuição para um bom processo de implantação e acompanhamento do protocolo que poderá levar à redução rápida, segura e duradoura de cesarianas desnecessárias (Silva & Laranjeira, 2018).

No período de 2015 a 2020 o número de nascidos vivos segundo o Grupo de Robson no Brasil teve maiores índices os grupos 5,3 e 1 respectivamente, mantendo em prevalência os grupos de multíparas com e sem cesárea prévia, cefálico e ≥37 semanas. O grupo 5 teve um aumento de 2,82% de 2016 a 2020, o grupo 3 com aumento de 1% até 2019 e uma discreta redução de 0,09% em 2020 e por fim, grupo 1 com redução de 0,72% até 2020 (SINASC, 2022), onde observa-se que ao invés de aumentar o grupo de nulípara que clinicamente deveria ter parto vaginal, houve um aumento do grupo de multípara com cesárea prévia, dificultando a via de parto natural, elevando as taxas de cesarianas. Atualmente, o grupo 5 é bastante importante, haja vista o grande aumento nas taxas mundiais de cesarianas além de ser o grupo que mais contribui para as taxas globais desse procedimento.

4. CONCLUSÃO

Neste presente estudo cujo os dados coletados no período de 2015 a 2020 nas cidades pertencentes a 15° Regional de Saúde do Paraná, podemos concluir que o percentual das cesarianas se mantém altas além do esperado pela OMS, possuindo média de 75,43% de cesáreas de acordo com os nascidos vivos, havendo um discreto aumento de 3,4% do ano 2015 para o ano de 2020, sendo perceptível que a escolha da via de parto vai além do caso clínico da gestante, visualizada pela Classificação de Robson. Os grupos proeminentes que contribuíram para as altas taxas de cesáreas foram os 5,2,1 respectivamente e em contrapartida para os partos vaginais tiveram destaque de contribuição, os grupos 3,1e 2. Mesmo tendo representados os grupos 1 e 2 em ambas as vias de partos, a cesárea ainda se manteve com valores elevados comparados com os da via vaginal.

O pré-natal é o momento ideal para estimular as gestantes sobre os benefícios do parto vaginal e criando ambiente favorável para que isto aconteça. Os motivos para a elevação das taxas devem ser investigados e combatidos. O enfermeiro é o profissional capacitado ao atendimento a gestante e condução da parturiente baseado em evidencias científicas. 

Sendo assim, a Classificação de Robson é a melhor ferramenta para identificação das práticas obstétricas, observando e monitorando se os partos cesarianos estão sendo indicadas de acordo com a condição clínica da gestante. A visualização, indicação e classificação pelos grupos respectivos, fará gotejar as taxas de partos realizadas nas maternidades. 

REFERÊNCIAS

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1Centro Universitário Ingá – Uningá, Maringá, PR, Brasil.

2Universidade Estadual de Maringá – Uningá, Maringá, PR, Brasil.