REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7159174
Autoria de:
Josilene Amaral Correia1
RESUMO
A Bioarquitetura discute a utilização do conceito de sustentabilidade na construção, buscando alcançar um equilíbrio sustentável, aliando uma construção socialmente aceitável, econômica e ambientalmente sustentável. Diante disso o objetivo desta pesquisa apresentar acerca da arquitetura de baixo impacto humano e ambiental. Para isso foi realizada uma metodologia qualitativa de revisão bibliográfica em artigos, documentos, sites e livros. A arquitetura não deveria ser prisioneira de valores plásticos e formais, frutos de uma globalização de valores padronizados. Esses valores descontextualizados e dissociados da função podem conduzi-la à inadequação ambiental. Os paradigmas de desenvolvimento, os padrões de consumo e os conceitos de conforto e segurança necessitam ser revistos, na direção de um maior grau de sustentabilidade, dos recursos naturais.
Palavras-chave: Bioarquitetura. Baixo impacto. Ambiental.
1. INTRODUÇÃO
A construção de comunidades é uma atividade produtiva intimamente relacionada ao processo de desenvolvimento social, porém, gera impactos negativos significativos ao meio ambiente. No Brasil, esse setor é um grande consumidor de recursos naturais e um dos principais produtores de resíduos sólidos (BRASIL, 2015), resultando em poluição e degradação ambiental, causada por processos industriais e métodos construtivos convencionais.
O consumo e a destruição dos recursos naturais para satisfazer este setor aumentam a cada dia, produzindo diferentes tipos de escassez. Exige, portanto, o surgimento de soluções e flexibilidade em processos insuficientemente eficientes e insustentáveis.
A sociedade tem um grande desafio: Adotar um novo conceito de construção e saúde, que proporcione qualidade de vida com o menor impacto negativo possível. Para evitar a iminente escassez de recursos naturais e o impacto do futuro, causado pelo grande uso e desperdício de recursos naturais da construção, existe um compromisso entre arquitetura e desenvolvimento sustentável: a bioarquitetura.
A Bioarquitetura discute a utilização do conceito de sustentabilidade na construção, buscando alcançar um equilíbrio sustentável, aliando uma construção socialmente aceitável, econômica e ambientalmente sustentável, e segundo Costa (2014) visa utilizar tecnologias que definem o mínimo impacto ambiental, utilizando técnicas de construção adaptadas às condições locais, como clima, disponibilidade de materiais de construção, matérias-primas locais e uso do conhecimento cultural da comunidade.
Os principais objetivos da bioarquitetura são a utilização de materiais naturais locais e sua utilização na construção civil, buscando promover a inclusão de todos os elementos existentes no sistema (tecnologia, materiais de construção, usuários, plantas), levando em consideração os aspectos importantes da melhoria da qualidade. . .casas na construção de um projeto de qualidade, tais como: condições de insolação, ventilação natural, morfologia topográfica, uso de energia e água e principalmente a destinação e gestão de resíduos, levando à promoção da cultura e à promoção do bem. ser usuários existentes no sistema.
É importante destacar o conceito de impacto ambiental proposto por Sanchez (2008), que é uma mudança em um parâmetro ambiental, em um determinado tempo e em um determinado local, causado por uma determinada atividade, em comparação com a situação que aconteceria se essa atividade nunca tivesse sido feita. Se o impacto ambiental parecer negativo, causa degradação ambiental que se caracteriza pela redução das condições naturais e pela alteração do estado original do meio ambiente.
Diante disso, tem-se por objetivo desta pesquisa apresentar acerca da arquitetura de baixo impacto humano e ambiental.
2. METODOLOGIA
Quanto à abordagem, este artigo pode ser classificado como qualitativo. Para Flick (2009), a pesquisa qualitativa visa entender, descrever e explicar os fenômenos sociais de modos diferentes por meio da análise de experiências individuais e grupais, exame de interações e comunicações que estejam se desenvolvendo, assim como por meio da investigação de documentos (textos, imagens, filmes ou músicas) ou traços semelhantes de experiências e integrações. Já Severino (2017) entende a pesquisa qualitativa como um conjunto de diferentes técnicas interpretativas, em que se procura descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo com muitos significados, com o de objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social para o pesquisado.
A pesquisa bibliográfica, neste caso, torna-se fundamental para teorizar de forma eficaz os processos de tomadas de decisões gerenciais, e para construção do conhecimento que futuramente pode mostrar de forma segura a razão pela qual determinado resultado foi obtido, seja ele bom ou ruim. Diante da falta de uso de bons manuais neste seguimento, aplicado corretamente, tal método se torna fulcral para isso, pois Segundo Lima e Mioto (2007) “a pesquisa bibliográfica implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório”
Para o desenvolvimento desta pesquisa, serão realizadas buscas nas bases de dados digitais e da região investigada, onde serão selecionadas sistematicamente. Para a busca dos artigos serão utilizados os descritores “arquitetura” AND “ baixo impacto ambiental”. A busca de todos os descritores será especificada por título e resumo, e ainda, será filtrada nos idiomas inglês e português.
Na seleção dos estudos, serão selecionados os resumos para serem totalmente revisados. Ao final da análise, será produzida uma lista de artigos completos. Assim os estudos serão revisados e aqueles que forem relevantes ao tema e serão extraídos deles os estudos que respondiam aos critérios de elegibilidade desta pesquisa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. ARQUITETURA DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL
Sabe-se que este tipo de projeto considera a integração entre a edificação e o meio ambiente, para possibilitar uma melhor qualidade de vida aos usuários e menor impacto negativo ao nosso meio ambiente. Dessa forma, estabelece-se um elo entre sustentabilidade e construção social:
É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrado com as características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as futuras gerações. (CORBELLA; YANNAS, 2009, p.19)
Este guia de construção também é conhecido como “arquitetura bioclimática”, termo introduzido pela primeira vez pelos irmãos Olgyay (1963) na década de 1960, e definido como um edifício que busca utilizar, por meio de seus elementos, condições climáticas favoráveis para satisfazer as necessidades térmicas humanas.
Para Lima (1995), o projeto bioclimático trata da regulação do fluxo de energia entre o ambiente e o ambiente construído para fins de conforto e bem-estar dos usuários. Além de buscar a redução do consumo de energia, com base em projetos de construção ecologicamente corretos, também é sensível ao impacto ambiental e à degradação ambiental (FRANÇA; CRUCINSKY, 2010).
De acordo com a CEF (2010), a indústria da construção civil é responsável por grande parte do impacto no meio ambiente, principalmente o nível de emissão de gases de efeito estufa3 associado aos materiais comuns utilizados nas edificações, e a emissão de resíduos tanto no trabalho. e durante todo o ciclo de vida da construção.
A indústria da construção vem criando um enorme impacto sobre o meio ambiente há muitos anos. A construção consome muita energia desde a fase de extração até sua operação final. O enorme impacto causado pelo uso de recursos não renováveis é importante para que algumas regiões se tornem verdadeiros desertos que levaram várias gerações para serem reutilizados (JOHN, 2000).
De acordo com informações do World Business Council Sustainable Development (WBCSD) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a construção social:
- Atividade que consome 75% de todos os recursos naturais;
- 30% das emissões de gases de efeito estufa são oriundas da indústria da construção;
- As edificações são responsáveis por mais de 40% da demanda de energia mundial;
- Até 2025 está previsto um aumento do consumo de materiais e recursos de 45% se comparado ao ano de 2000;
- Produção de grandes quantidades de entulho.
No Brasil, o Selo Casa Azul (CEF, 2010) mostra uma abordagem sustentável agrupada em torno dos temas: qualidade da cidade; design e conforto; eficiência energética; preservação de recursos físicos; gestão da água e processos sociais. Dentre esses métodos, os mais adequados são aqueles que incidem sobre o tema deste estudo – um centro de treinamento com baixo impacto ao meio ambiente – ou seja, design e conforto; e eficiência energética (Tabela 1).
Tabela 1 – Relação dos critérios a serem adotados no projeto e seus benefícios de acordo com o Selo Casa Azul
CRITÉRIO | BENEFÍCIOS |
Adequação à topografia do terreno | A adequação da edificação à topografia do terreno visa a reduzir o volume de terra movimentado com remoções, cortes e aterros, principais causas de problemas com erosão. |
Paisagismo eficiente | Um paisagismo planejado de forma eficiente dentro do projeto pode ser um meio para reduzir o efeito de ilha de calor dentro das zonas urbanizadas, produzido, em grande parte, pelas áreas abertas com pavimentação impermeável. |
Espaços de convivência | Estes devem levar em conta o porte do empreendimento, e a sua localização em relação aos usuários é muito importante para que tenham um uso efetivo por parte dos moradores. |
Coleta seletiva | Esses espaços devem ser previstos na fase da elaboração dos projetos, de forma a evitar a necessidade de adaptações futuras para destinação de locais com essa finalidade. |
Equipamentos de lazer, sociais e esportivos | Promover maiores espaços de convivência entre os usuários, o que pode ser feito por meio da construção de equipamentos de lazer, sociais e esportivos. |
Desempenho técnico – vedações | Visa a propiciar maior conforto térmico, tanto aos moradores do empreendimento como aos do entorno imediato, a partir de uma melhor interação local entre eles |
Desempenho técnico – orientação ao sol e ventos | Melhora a salubridade do ambiente, além de reduzir o consumo de energia. |
Iluminação natural de áreas comuns | Melhora a salubridade do ambiente, além de reduzir o consumo de energia. |
Ventilação e iluminação natural de banheiros | Melhora a salubridade do ambiente, além de reduzir o consumo de energia. |
Sabe-se que projetar um projeto de baixo impacto depende do entendimento da relação entre a edificação e o meio ambiente. No entanto, de acordo com Oliveira (2006), devido à falta de entendimento sobre o impacto das decisões de projeto e as condições físicas envolvidas na relação entre o clima, a edificação e o usuário, o projetista tem negligenciado o desempenho energético térmico dos edifícios.
Por isso e para suprir as deficiências do projeto e as necessidades de conforto dos usuários, o projetista muitas vezes recorre ao uso de sistemas de ar condicionado e luzes artificiais eficazes, ignorando os efeitos negativos dessa decisão como: perda física e mental. bem-estar, baixa produtividade, alto consumo de energia e problemas de saúde (OLIVEIRA, 2006).
Dentre os desafios para o desenvolvimento da construção residencial sustentável no Brasil, destaca-se a necessidade de maior investimento em pesquisas nessa área (pesquisa sobre novas tecnologias sustentáveis 7, materiais naturais e sistemas de gestão sustentável), a adoção de novos paradigmas para todos os profissionais. na área envolvida, desde o projeto até a operação do negócio, a implementação de normas e a conscientização de empresas públicas e privadas que visam reduzir o impacto ambiental.
Diante dos graves problemas ambientais que nosso planeta enfrenta, a introdução de uma cultura de arquitetura que leve em conta as condições ambientais adequadas parece urgente e atual (BITTENCOURT, 2015). Portanto, o processo de projeto de uma edificação de baixo impacto ambiental deve ser desenvolvido a partir de um guia baseado em características urbanas, climáticas, construtivas e humanas. Neste caso, nada melhor do que conhecer os métodos e materiais para este tipo de construção.
3.2. PRINCÍPIOS DE UMA ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
No passado, verificou-se que o conforto dos edifícios tem impacto no consumo energético dos edifícios, está principalmente ligado à sua eficiência energética, sendo muito importante encontrar o conforto dos edifícios de forma a não utilizar energia em sua operação, pois é importante a adequação da estrutura, em seu lugar.
O homem, no processo de adaptação ao habitat, necessita de um mínimo de condições de sobrevivência. Sendo elas:
- Alimentação;
- Adaptação físico-química ao meio;
- Segurança contra agressões do Meio Ambiente – clima e outros animais.
O ambiente natural oferece vários desafios e o clima pode ser muito hostil, e suas características, como umidade e temperatura, variam muito. Para poder manter a estabilidade diante do mau tempo natural, especialmente em termos de temperatura do corpo, uma pessoa deve usar roupas e estruturas, pois sua pele tem uma função muito limitada no cumprimento do papel de adaptação à temperatura. no ar. Desta forma, a envolvente do edifício evoluiu muito, em busca de maior conforto e proteção contra agressões ambientais.
Os fatores mais poderosos para a obtenção do conforto térmico das edificações são: temperatura, umidade, radiação solar e ação do vento (LAMBERTS, 1997). A área terrestre consiste em diferentes combinações dessas variáveis ambientais, que são distribuídas de acordo com as condições geográficas, como latitude, distribuição de rios, mares, relevo ou latitude, etc. Essas regiões climáticas formadas pelo acúmulo de diferentes climas locais proporcionam ao homem diferentes condições ambientais que determinam a forma como se dá a vida humana. Essa adaptação humana ao clima está intimamente relacionada à forma como os edifícios precisam compensar as dificuldades causadas pelo clima (BEHLING, 1996).
Diante das necessidades de equilíbrio de energia e recursos nos últimos tempos, tornou-se mais importante descrever a integração dos recursos naturais nas atividades humanas. Em Caldas (2002) a definição de arquitetura bioclimática foi encontrada como a adaptação da produção das edificações às condições climáticas locais. Esta edificação será baseada no bioclimatismo: um conjunto de recursos teóricos que buscam apoiar o planejamento da construção, incluindo aspectos de projeto passivo e aproveitando fatores climáticos para satisfazer as necessidades de conforto térmico. Vale ressaltar que a bioclimatologia é uma ciência antiga, e se baseia em técnicas de projeto para superar as dificuldades do clima.
O bioclimatismo como tendência técnica tem suas raízes na arquitetura vernacular antiga, que se baseava no conhecimento apurado do ambiente e do clima para proporcionar resultados de conforto térmico e luminoso adequados às necessidades da pessoa naquela época e região. Como resultado da disseminação de conceitos relacionados ao ecodesenvolvimento, surgiram diversos objetivos da integração entre os conceitos de desenvolvimento sustentável e sistemas de projeto em arquitetura. Com a evolução, os conceitos de arquitetura bioclimática incluíram novas técnicas de design, que são descritas como técnicas de ecodesign.
Segundo Vieira (1997), ecodesign significa adaptar o método de construção ao ambiente natural e, em particular, adaptar-se ao clima, ao meio ambiente e a certas tradições culturais. Ele continuou dizendo que continuar com sua definição de ecodesign é aquele que produzirá o menor impacto no meio ambiente.
O ecodesign visa harmonizar a natureza humana, proporcionando uma qualidade da natureza superior às condições naturais oferecidas pela área, pois a evolução da espécie humana exige que o habitat não apenas funcione bem na natureza, mas também se expresse culturalmente de forma simbólica, cultura e beleza (VIEIRA, 1997).
Hoje, a ciência está muito focada no desenvolvimento de técnicas para reduzir o desconforto ambiental dentro das edificações e a qualidade do projeto dos equipamentos de construção e a especificação dos materiais de construção, mesmo diante da situação errônea mundial de escolha de sistemas construtivos padronizados, independentemente do clima e da diferenças culturais.
A arquitetura sustentável pode ter como objetivo propor soluções arquitetônicas que garantam o bem-estar e a convivência dos 3 grupos que compõem o ecossistema mundial: elementos inorgânicos, seres vivos e pessoas (KIM & RIGDOM, 1998). As técnicas de projeto tentam aproveitar melhor as condições ambientais circundantes – energia solar disponível, temperatura externa, direção do vento, etc. , para que as condições ambientais do edifício sejam mantidas a um nível confortável, durante todo o ano.
Em países frios, o conforto térmico necessário para o bem-estar humano é alcançado pela elevação da temperatura interna da edificação, em relação à temperatura externa. Nas áreas tropicais, onde está localizado o Brasil, pode-se aproveitar a temperatura e a umidade relativa do ar para favorecer a propagação do calor extremo (nas áreas tropicais), ou se necessário proteger o corpo do ar quente e seco (nas áreas tropicais).
A Agenda 21 defende a ideia de que a inovação tecnológica é essencial para a busca de áreas sustentáveis para a manutenção da população urbana. Ao contrário do determinismo tecnológico, que se assemelha à governança econômica e política, diz-se que o uso da tecnologia é adequado se satisfaz as necessidades sociais e econômicas do setor alvo, e considera a tecnologia como algo flexível e adaptável. no ambiente social, econômico, cultural e ambiental da região onde será realizado.
Construções sustentáveis buscam basear-se na convergência de forças sociais, ambientais e econômicas para utilizar tecnologias construtivas limpas e técnicas de projeto que aproveitem as condições climáticas locais que favorecem a edificação. Como resultado, no Brasil e em outros países, surgiram esforços de pesquisa e a utilização de estratégias locais para melhor aproveitamento da energia na produção de áreas construídas, buscando reduzir custos e evitar desperdícios.
Victor Olgyay (2002) formula um método de quatro passos integrados, para a construção de um edifício climaticamente equilibrado, que são:
- Clima – análise do clima (e microclimático) da área, onde cada fator tem um efeito diferente e requer soluções específicas. Devem ser conhecidas as características anuais dos elementos climáticos da região: temperatura, umidade relativa, radiação solar e efeitos do vento.
- Biologia – uma pessoa inclui uma medida básica do índice arquitetônico, onde seu objetivo é o projeto de um abrigo que atenda às suas necessidades biológicas. A avaliação biológica é baseada na compreensão do conforto humano. Assim, ao combiná-lo com as condições ambientais da região, permite-nos criar um calendário gráfico, indicando como se pode fazer informação, com alguma precisão, sobre as medidas que devem ser utilizadas em todas as épocas do ano para restabelecer a níveis. .para conforto, são cartas bioclimáticas (figura 1). Esses cartões vinculam informações sobre conforto térmico da área, comportamento climático local e estratégias de design para cada estação do ano. As estratégias indicadas pelo cartão podem ser naturais (sistemas ativos) ou não ativas (sistemas ativos).
Figura 1: Carta Psicrométrica, adotada para o Brasil, com base na carta de Givoni (1992).
Fonte: GOULART, S. V. G.; LAMBERTS, R.; FIRMINO, S. 1997.
Legenda:
1 – Zona de Conforto
2 – Zona de Ventilação
3 – Zona de Resfriamento Evaporativo
4 – Zona de Massa Térmica para Resfriamento
5 – Zona de Ar Condicionado
6 – Zona de Umidificação
7 – Zona de Massa Térmica e Aquecimento Solar Passivo
8 – Zona de Aquecimento Solar Passivo
9 – Zona de Aquecimento artificial
Tecnologia – uma combinação de soluções técnicas que resolvem adequadamente cada um dos problemas de conforto ambiental. As soluções a serem utilizadas devem aproveitar e evitar as dificuldades oferecidas pela área onde o edifício está localizado.
Arquitetura – o edifício representa a combinação de todas as soluções formuladas, conforme a sua importância funcional, formalizado na expressão arquitetônica.
O interesse pela construção bioclimática cresceu na Europa e nos EUA com a crise energética da década de 1970, e muitas melhorias foram feitas nesse campo até agora. A produção de edifícios ecologicamente corretos e energeticamente eficientes aumentou com a conscientização da importância do uso sustentável de energia. A única relação entre a forma e a linguagem arquitetônica de tais edifícios é sua adequação às necessidades funcionais. Em todo o mundo, existem propostas de edifícios estruturalmente sólidos e com desempenho ambiental suficiente (figuras 2 e 3).
Figura 2: Pavilhão da Inglaterra na Expo 92, de Nicholas Grimshaw.
Figura 3: Shangai Bank de Norman Foster.
Fonte: MEIRIÑO (n/i)
No entanto, os tipos de edifícios não climáticos continuam a ser utilizados em todo o mundo, necessitando da utilização de técnicas de climatização intensivas em energia nos seus espaços (figura 4).
Figura 4: Edifício Attílio Tinelli, em São Paulo, com fachada totalmente envidraçada.
Fonte: Arcoweb
3.3 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS
Nos últimos anos, a importância crescente tem sido dada aos materiais de construção e seu impacto no meio ambiente. Ao decidir sobre um determinado produto e sistema construtivo, não apenas fatores técnicos e econômicos devem ser considerados, mas também ambientais. O fato é que a participação de mercado dedicada à mitigação dos impactos ambientais ainda é pequena. Para a maioria das cadeias de materiais de construção que dependem de lojas, é muito menor.
A definição de um produto como sustentável ou ambiental depende do parâmetro, da referência. Em outras palavras, um produto dito sustentável possui propriedades pouco poluentes ou possui baixo uso de água, energia ou recursos naturais em sua produção, em comparação aos produtos convencionais (CAIADO, 2014).
Segundo Pisani (2005), a busca por materiais construtivos e técnicas construtivas que reduzam o impacto ambiental causado pela construção civil tem se intensificado nos últimos anos. Para Hernandes (2015), a distribuição dos chamados materiais “verdes” é fruto da necessidade de soluções sustentáveis no campo da construção social.
Dada a variedade de materiais sustentáveis existentes no mercado, Loturco (2015) descreve dez critérios de sustentabilidade tecnológica para a seleção de materiais: o uso de água e fontes de energia na produção; a produção de poluentes na produção; redução de matérias-primas e uso de materiais reciclados; a distância entre o trabalhador e a fábrica e a origem do produto; geração e gestão de resíduos locais; eficiência energética ou hídrica; durabilidade e facilidade de manutenção; reutilização e descarte do produto após o uso; a liberação de substâncias nocivas à saúde humana; a lei e a responsabilidade socioambiental do fabricante.
A maior parte da seleção de materiais é feita na fase de projeto e orçamento (mais de 70%). No entanto, o alto índice de seleção na fase de execução no canteiro de obras (cerca de 30%) mostra que a construtora muitas vezes altera, durante a obra, os materiais selecionados no projeto.
A falta de dados para fazer escolhas com base em critérios de sustentabilidade (por exemplo, fabricante, uso de ACV, lista de materiais sustentáveis, quantidade de CO2 direto) é um fato que prejudica o setor de projetos. Devido a essa falta de dados, a seleção muitas vezes é feita com base em poucos critérios ou apenas um critério e de forma muito simples, o que gera problemas (CBCS, 2014).
A seguir, alguns materiais utilizados em canteiros de obras sustentáveis atraentes serão explicados em detalhes. São eles: madeira plástica, blocos de bambu, tijolos naturais e agregados de resíduos de construção.
3.3.1. Madeira plástica
A construção da madeira plástica é feita a partir do beneficiamento da madeira e de diversos tipos de plásticos, como polietileno de alta densidade (PEAD), polipropileno (PP), policloreto de vinila (PVC), entre outros. Por isso, sua produção é considerada natural, pois ajuda a eliminar os resíduos plásticos e reduzir o desmatamento ilegal (SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS, 2012).
A madeira plástica é usada como uma forma alternativa de reciclar polímeros, em vez da madeira comum. Esse novo material possui características importantes como: não pode ser atacado por cupins ou fungos; não absorve umidade; resistente a agentes químicos em geral e raios UV; tem baixo consumo de energia em sua produção; é reciclado; não deixe cair as lascas (GUIMARÃES, 2013).
No campo da construção pública, a madeira plástica pode ser utilizada como pilares e vigas de sustentação, fôrmas, escoramentos, esquadrias, decks de piscinas, pisos, entre outros usos. Há também a possibilidade de utilizar um acabamento bipartido, que confere novas características estéticas à peça (SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS, 2012).
Guimarães (2013) apresenta dados relativos à madeira plástica feita a partir de pó de plástico e madeira, denominada Wood Plastic Composite (WPC), em alguns países. Cerca de 1,5 milhão de toneladas de WPC são produzidas mundialmente, com destaque para a Alemanha, líder europeia, que utiliza esse material principalmente na indústria automotiva. A produção chinesa abrange uma grande área, incluindo construção pública, com produtos como janelas, portas, sistemas termo-isolantes, entre outros.
A venda em larga escala de madeira plástica nos EUA, Europa e Ásia pode representar uma tendência nos países em desenvolvimento, surgindo assim mais um método ambiental para reduzir a quantidade de resíduos destinados a aterro (GUIMARÃES, 2013). Ao aliar aspectos socioambientais e inovação tecnológica, a madeira plástica, portanto, apresenta grandes oportunidades no mercado onde substitui a madeira convencional e diversos outros materiais.
3.3.2. Elementos construtivos em bambu
O bambu é considerado um material de grande resistência e facilidade de manuseio e, como material de construção, possui excelentes propriedades físicas e mecânicas. Além de ser um material renovável, barato e não poluente, pode ser utilizado em aplicações estruturais devido à sua boa resistência à compressão (BARBOZA et al., 2008).
Segundo Hernandes (2015), o piso de bambu tem ganhado destaque entre os produtos renováveis disponíveis no mercado. Tais materiais apresentam-se como uma alternativa mais sustentável a outros sistemas de pisos, pois o bambu é um material renovável, duradouro e de baixo carbono. Em seu trabalho, Hernandes (2015) examina como a emissão de gases de efeito estufa no transporte do produto entre a região de produção e o local de uso pode prejudicar o meio ambiente do piso de bambu.
Barboza et ai. (2008) avaliaram o uso do bambu como material alternativo na construção de habitações populares, utilizando-o para materiais de cobertura e painéis de vedação. Os autores observaram que, ao utilizar material disponível no local da obra e de fácil manuseio, contribuiu para baratear a obra e para a utilização de um novo tipo de edificações ecologicamente corretas.
3.3.4. Tijolo ecológico
O tijolo natural é um tijolo de solo-cimento, feito de areia, cimento e água, sem a necessidade de queima. Esse grupo se deve principalmente ao fato de sua produção não necessitar de fornos, não consumir lenha ou outros combustíveis. Além disso, os tijolos quebradiços podem ser substituídos e, ao contrário dos tradicionais blocos cerâmicos, produzindo menos resíduos (SEBRAE, 2015).
Grande (2003) afirma que os tijolos de solo-cimento têm aplicações técnicas simples, que permitem o desenvolvimento de sistemas construtivos com as seguintes vantagens: controle de perdas, disponibilidade de abastecimento; baixo custo em relação à alvenaria convencional; integridade estrutural e segurança; eficiência construtiva; fácil de gerenciar. O SEBRAE (2015) acrescenta que as vantagens do tijolo natural não estão apenas relacionadas ao meio ambiente, mas também ao conforto, beleza e aspecto financeiro.
Por ser a parte mais importante da mistura, o solo deve ser selecionado com o objetivo de utilizar a menor quantidade de cimento. Pires (2004) mostra as características do solo mais adequado para a confecção de tijolos naturais, como passar completamente por uma peneira de 4,8 mm, e desaconselha o uso de solo com mais de 50% de argila. Solos arenosos geralmente requerem menos cimento do que solos argilosos e lodosos.
Embora existam muitas vantagens destacadas em relação aos tijolos naturais, o surgimento de novos e aprimorados materiais no mercado tem causado o desinteresse pela construção do solo cimento, que atualmente é amplamente utilizado em pavimentação, reforço e desenvolvimento de solos, barragens e recipientes (GRANDE, 2003).
3.3.4. Agregados de resíduo da construção civil
A construção, a demolição e a manutenção juntas geram muitos resíduos, que se não forem descartados adequadamente, podem causar sérios problemas ambientais. Esses resíduos podem ser reaproveitados na forma de matéria-prima na construção civil, reduzindo assim o uso de recursos naturais e proporcionando uma solução para os problemas ambientais urbanos relacionados à produção e destinação de resíduos da construção civil (GOMES et al., 2002).
No Brasil, a Resolução nº. 307/2002/CONAMA define Resíduos da Construção Civil (RCC) como resíduos da construção, manutenção, reparo e demolição de obras, bem como aqueles resultantes do preparo e escavação de terrenos, como tijolos, tijolos de barro. , concreto em geral, solo, entre outros, comumente chamados de resíduos de construção.
As usinas de reciclagem da RCC produzem agregados reciclados com alta diversidade mineral, o que limita seu uso como material de construção. Este produto, no entanto, pode ser utilizado em obras de manutenção, pintura e infraestrutura. Neste caso, os requisitos técnicos de contratação são independentes do rigoroso controle de qualidade (MELO, 2011).
A norma NBR 15116 (ABNT, 2004) estabelece os requisitos para a utilização de agregados reciclados de resíduos sólidos de obras públicas destinados a obras de pavimentação de estradas e para reparo de concreto não estrutural. Este tipo de concreto é projetado para usos como enchimentos, contrapisos, calçadas e materiais não construtivos.
Gomes et ai. (2002), em seu trabalho, confirmaram o efeito da substituição do agregado graúdo do resíduo, em concretos de média e baixa resistência, considerando suas propriedades no estado fresco e endurecido. Os resultados mostraram que a análise da absorção do resíduo é necessária, caso os materiais incluídos na mistura estejam em estado seco, há a absorção de parte da água na mistura, o que afeta o desempenho do concreto.
A norma NBR 15116 (ABNT, 2004) confirma essa alta capacidade de absorção dos compósitos reciclados, recomendando a pré-molhagem do material. Os autores citados também observaram que a substituição total do resíduo é melhor do que a parcial, pois traz uma economia significativa nas matérias-primas utilizadas na produção do concreto.
REFERÊNCIAS
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BARBOZA, A. S. R.; BARBIRATO, J. C. C.; SILVA, M. M. C. P. Avaliação do uso de bambu como material alternativo para a execução de habitação de interesse social. In: Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 115-129, jan./mar. 2008
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BEHLING, S.; BEHLING, S.. Sol Power, The evolution of solar architecture. 1th ed. Munich – NY: Prestel – Verlag, 1996.
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CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE). Resolução nº 307/2002:
Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Legislação. Brasília, Distrito Federal, Brasil: DOU nº 136, de 17 de julho de 2002, Seção 1, 9596 p.
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1Graduanda em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Independente do Nordeste