Viviane Soares.
Introdução
Atualmente, as atenções começaram a se voltar para uma terapêutica que vise a melhoria de vida do paciente renal crônico, como um fator relevante no cenário de atenção a este paciente, e não apenas à extensão de sua vida. No Brasil, estudos relacionados à capacidade física do paciente em hemodiálise são ainda escassos, mas, precebe-se que em razão da Doença Renal Crônica debilitar o organismo, com alterações bioquímicas e fisiológicas e, também, provocar alterações físicas associadas ao tratamento hemodialítico e a desnutrição energético – proteíca, estas constituem fatores limitantes das atividades diárias e rotineiras. Nos E.U.A, Europa e países do oriente médio com Israel o objetivo é aumentar a sobrevida do paciente em tratamento hemodialítico, mas, também almejar a reabilitação, que é realizada com um programa de exercícios que visa aumentar a capacidade aeróbica, a flexibilidade, a coordenação-equilíbrio e a força muscular (KOUIDI, 1998 et al., 1998; DELIGIANNIS, 2004; MARTINS & CESARINO, 2004). O objetivo deste artigo é apresentar ao profissional fisioterapeuta alguns recursos da reabilitação desta população bem como ampliar sua área de atuação.
Reabilitação física do paciente submetido à hemodiálise crônica.
Os programas de exercícios físicos direcionados ao paciente que é submetido à hemodiálise já são realizados há quase duas décadas em vários países com objetivo de melhorar a fadiga muscular, sintomas de neuropatia e miopatia periférica, performance respiratória, depressão, ansiedade e bem estar geral (KOUIDI, 2002).
Estudos citados por KOUIDI (2002) mostraram melhoras sutis no estado nutricional geral após programa de exercícios de resitência, uma tendência na melhora no controle do diabetes e quando a terapia com eritropoietina em pacientes anêmicos foi associada com programa de exercícios houve melhora na capacidade de realizar exercícios e alguns aspectos da qualidade de vida nestes pacientes. É provável que os benefícios dos exercícios sobre a função muscular ocorrem por meio da correção das anormalidades metabólicas musculares associados a melhora do fluxo sanguíneo muscular esquelético (KOUIDI, 2002).
Os programas de exercícios para os pacientes submetidos à diálise podem ser realizados sob supervisão no momento do procedimento ou um programa de treinamento para ser praticado em casa sem supervisão. O programa de exercícios realizado nos dias de hemodiálise é preferível pelo fato do paciente já se deslocarem até o local de realização da terapia pelos menos três vezes por semana e também por não necessitar de um tempo extra, visto que estes pacientes podem realizar os exercícios nas primeiras duas horas do procedimento sem precisar de altas taxas de filtração (DAUL et al., 2004).
Segundo DAUL et al. (2004) os exercícios durante à hemodiálise, ainda, aumenta a remoção de soluto e a eficiência do procedimento pelo aumento da perfusão dos músculos esqueléticos. Observa-se também o aumento do Kt/V de 1 a 1.15 demonstrando a reprodutibilidade de tratamento.
Ainda, de acordo com DAUL et al. (2004) os programas de exercícios durante à hemodiálise consiste de treinamento de resitência de baixa intensidade com bicicleta ergométrica, exercícos para aumentar massa muscular, exercícios para flexibilidade e coordenção e técnicas de relaxamento. Os componentes do programa são individualizados e incluem modo apropriado, duração, intensidade, frequência e progressão do exercício (KOUIDI, 2002).
O treinamento com exercícios resistidos ganhou popularidade devido a maioria das atividades envolverem trabalho muscular corporal de braços e pernas. Os exercícios resistidos podem ser considerados um suplementação da parte aeróbica e ser reallizado antes ou em dias separados. Este tipo de treinamento tem efeito benéfico sobre o prejuízo muscular minimizando a redução de massa muscular e melhorando força e endurance (KOUIDI, 2002).
O treinamento de resistência nos pacientes submetidos à hemodiálise é efetivo contra o catabolismo de uma dieta baixa em proteínas e pacientes em pré-diálise por meio da melhora da massa e força muscular, uso de proteínas e estado nutriconal (KOUIDI, 2002).
Uma outra possibilidade para o atendimento ao paciente renal crônico submetido à hemodiálise que apresenta perda de massa muscular e possui alterações do sistema respiratório é a cinesioterapia respiratória que pode incluir exercícios de resitência, flexibilidade e exercícios respiratórios. Os exercícios respiratórios foram decritos primeiramente em 1915 por Cortlandt Macmahon para tratamento de doenças pulmonares. Estes exercícios respiratórios foram utilizados no tratamento de alterações encontradas na pleura, nos pulmões e no diafragma de soldados feridos em combate. O sucesso do tratamento foi surpreendente e levou a criação de departamentos de Fisioterapia nas unidades de cirúrgia torácica em todo reino unido e, posteriormente, nas unidades médicas gerais (SILVA & TEIXEIRA, 2003). O objetivo da intervenção fisioterapêutica é auxiliar na prevenção e no controle de algumas doenças respiratórias, abreviar o tempo de internação hospitalar e readaptar o paciente para sua vida social (SCANLAN et al., 2000; SILVA & TEIXEIRA., 2003).
A cinesioterapia respiartória tem como príncípio melhorar as condições do aparelho respiratório e ao mesmo tempo elevar o estado geral e, atuando por fatores psicoterápicos no tono neurovegetativo, regula hábitos de higiene respiratória de imprescindível importância, iste é, inspiração nasal sem esforço e expiração oral contínua com leve pressão. Atua também na disciplina, no autodomínio, na coordenação motora respiratória e na coscientização dos movimentos ventilatórios, trazendo um equilíbrio neuromuscular e psicológico de grande significado que reflete-se no melhor desempenho das atividades de vida diária (CARVALHO, 2001).
Algumas situações favorecem a adoção de um padrão respiratório caracterizado por pequenos volumes pulmonares, pelo comprometimento da musculatura ventilatória e pelo uso de medicamentos (SILVA & TEIXEIRA, 2003). No paciente submetido à hemodiálise estas situações podem ocorrer devido ao sedentarismo, redução de tecido muscular com aumento da proteólise e diminuição de síntese protéica que atinge os músculos ventilatórios e o próprio procedimento que proporciona a oxidação de grandes quantidades de aminoácidos, carboidratos e lipídeos, além da desnutrição energético-protéica ( IKIZLER et al., 2002; RAJ et al., 2004). A realização de um programa de exercícios respiratórios nestes pacientes tem como objetivo obter o máximo de desempenho muscular e postural, obter relaxamento muscular, favorecer o controle respiratório e melhorar a função pulmonar.
Os exercícios respiratórios são incorporados no programa geral de reabilitação pulmonar de pacientes com distúrbios pulmonares agudos e crônicos (KISNER & COLBY, 1998), mas, não significa que estejam somente direcionados para pacientes com alterações no sistema respiratório de origem localizada. Eles podem também serem utilizados em pacientes renais crônicos que são submetidos à hemodiálise e que apresentam redução de força muscular respiratória, volumes e capacidades pulmonares.
Conclusões
A realização de um programa de reabilitação nos pacientes submetidos à hemodiálise almeja o máximo de desempenho muscular e postural, obter relaxamento muscular, favorecer o controle respiratório, melhorar a função pulmonar, aumentar tolerância ao exercício e aspectos relacionados a melhora da qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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