HIPERPLASIA ANGIOLINFÓIDE COM EOSINOFILIA: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7118040


Autoras:
Luiza Oliveira Reichelt
Lorena Aisa Oshikiri Athayde Fernandes
Emanuella Rosyane Duarte Cerqueira
Mayara de Jesus Semblano Bittencourt


RESUMO

A hiperplasia angiolinfóide com eosinofilia é um tumor vascular benigno raro que acomete principalmente cabeça e região cervical. Relata-se caso de paciente do sexo feminino de 45 anos, com história de surgimento de nódulos amolecidos na região parietal do couro cabeludo há 10 anos com crescimento progressivo e sem sintomas associados. O histopatológico revelou proliferação dérmica de vasos sanguíneos irregulares com endotélio tumefeito tipo ‘hobneil “associado a infiltrado inflamatório misto com abundantes eosinófilos.A etiopatogênese ainda é desconhecida, podendo estar ligada a fenômeno reativo cicatricial pós trauma ou participação do herpes vírus 8. O tratamento pode ser feito com excisão cirúrgica, corticoterapia intralesional, laser ou nitrogênio líquido. Menor recidiva foi demonstrada com a excisão cirúrgica. A paciente apresenta uma forma rara de tumor vascular que deve ser considerada nos diagnósticos diferenciais de lesões nodulares.

Palavras-chave: Hiperplasia angiolinfóde. HALE. Proliferação tipo hobnail.

ABSTRACT

The angiolymphoid hyperplasia with eosinophilia is a rare benign vascular tumor which usually forms on the head and cervical region. In this study, the case of a 45-year-old female patient will be presented, with history of having soft nodules on the parietal area of the scalp for 10 years with progressive growth and no associated symptoms. The histopathological examination showed a dermal proliferation of irregular blood vessels with endothelial inflammation type ‘hobneil’ associated to infiltrated inflammatory mixed with eosinophils. The etiopathogenesis remains unknown, although it could be reacting to a post trauma scarring phenomenon or herpes virus 8 participation. The treatment could be done by surgical excision, intralesional corticosteroid therapy, laser or liquid nitrogen. Less relapse has been observed with surgical excision. The patient has a rare form of vascular tumor that must be taken into consideration on the differential diagnosis of nodule lesions.

Keywords: Angiolymphoid hyperplasia. HALE. Hobnail cell type proliferation.

INTRODUÇÃO

O termo hiperplasia angiolinfóide com eosinofilia (HALE) foi proposto por Wells e Whimster em 1969. Mais tarde, em 1983, Enzinger e Weiss adotaram o termo hemangioma epitelióide (HE) para essa lesão. Atualmente, a comunidade científica considera tais denominações sinônimos para uma mesma entidade.¹ A HALE é uma neoplasia vascular benigna cuja etiologia ainda é debatida. Afeta principalmente a face e região periauricular e cervical com o surgimento de pápulas e nódulos.³ Raramente, as lesões podem surgir no tronco, extremidades e genitália. Casos extracutâneos também foram reportados como na mucosa oral. Existem conflitos na literatura se há prevalência de gêneros. Pode ser assintomática, apresentar prurido, dor ou sangramento espontâneo.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 42 anos, referiu surgimento de nódulos amolecidos em couro cabeludo há 10 anos. (Fig. 1). Apresentavam crescimento lento ao longo deste período com episódios de sangramento. Negava prurido e dor. Referia episódio de trauma local antes do surgimento das lesões. Ao exame dermatológico, verificou se a presença de nódulos eritematosos de consistência amolecida,  de vários tamanhos, alguns confluentes, no couro cabeludo na região temporal esquerda. A investigação laboratorial não revelou alterações no hemograma, funções renal e hepática. A biópsia de pele revelou epiderme com retificação de cones interpapilares e acantose marginal. A derme apresentava  uma proliferação de vasos com endotélio tumefeito tipo “hobnail” e de paredes espessadas, associado a um infiltrado inflamatório denso, de arquitetura nodular, perivascular e perianexial, composto por linfócitos, plasmócitos, histiócitos e abundantes eosinófilos, desta forma, firmou-se o diagnóstico de hiperplasia angiolinfóide com eosinofilia.(Fig. 2) A paciente foi encaminhada para realização de exérese cirúrgica.

DISCUSSÃO

A etiologia da HALE ainda não foi esclarecida, mas foi proposto que sua patogênese inclui processo neoplásico, reação de hipersensibilidade, reação vascular inflamatória ou reação tecidual a trauma prévio. Também é relatado que elevados níveis séricos de estrogênio (como ocorre na gravidez ou no uso de contraceptivos orais) podem promover o crescimento dessas lesões.¹ Os principais diagnósticos diferenciais, do ponto de vista clínico, são: tumores de glândulas salivares ,hemangioma, sarcoma de Kaposi, linfoma, picada de insetos e granuloma piogênico. ¹ O principal diagnóstico diferencial da HALE é a doença de Kimura – ambas são consideradas dermatoses eosinofílicas e apresentam semelhanças morfológicas. No entanto, a doença de Kimura é marcada por eosinofilia sérica e hiperimunoglobulinemia, além de envolvimento linfonodal¹. O diagnóstico além de clínica e histopatologia compatível pode usar a análise imunohistoquímica  que revela positividade para CD31, CD34 e fator VIII ¹. O tratamento de eleição é a excisão cirúrgica, apesar de recidivas serem freqüentes. Outras modalidades terapêuticas têm sido propostas, entre elas: criocirurgia com nitrogênio líquido, laserterapia, radioterapia local, ácido retinóico aromático, vinblastina em paciente com extenso envolvimento cutâneo e mucoso, acitretina e corticoterapia local e/ou intralesional, especialmente em casos recidivantes. Remissão espontânea pode ocorrer.²

CONCLUSÃO

A hiperplasia angiolinfóide com eosinofilia é uma patologia rara de etiologia a ser esclarecida, com proliferação endotelial específica no histopatológico que contribui de forma indispensável para o diagnóstico e diferenciação da doença de Kimura. Deve ser considerada nos diagnósticos diferenciais de lesões nodulares de forma a estabelecer o melhor tratamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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