PLANO OPERACIONAL DE RESGATE AEROMÉDICO EM ÁREA REMOTA NA REGIÃO AMAZÔNICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7094926


Autor:
Pablo Cleffs de Magalhães


Nos últimos anos houve um aumento no número de pessoas que frequentam áreas remotas, de difícil acesso, localizadas em montanhas, matas, florestas, rios, cavernas ou afins, seja para descansar, realizar pesquisas acadêmicas, atividades turísticas ou de aventura. Com isso, o número de acidentes nesses locais tem aumentado e, para salvar os feridos ou perdidos, é preciso contar com equipes de busca e salvamento bem treinadas e com conhecimentos específicos, principalmente na Amazônia.

É de extrema importância que o socorrista tenha conhecimento de atendimento pré-hospitalar e primeiros socorros, além de experiência em ambiente natural, sendo absolutamente essencial que os membros das equipes de busca e salvamento em áreas remotas sejam capazes de negociar com os elementos naturais, não para lutar contra a natureza, mas para integrar-se com ela, tendo a resiliência para se adaptar a este contexto.

Há momentos em que o socorrista não estará de plantão e não terá equipamentos de resgate disponíveis, longe de um sistema de emergência. Nessas situações, a ajuda demora a chegar, principalmente em locais remotos que exige o transporte da vítima para uma equipe de emergência ou hospital. Em acidentes em área remota, são comuns entorses, luxações, mordidas de animais e quedas em que a vítima tem dificuldade para caminhar e necessita de assistência. Existe também acidentes relacionados a calamidades públicas, desastres naturais, inundações, deslizamentos de terra e outras que exigem que o socorrista esteja pronto para transportar uma vítima.

A improvisação do equipamento de primeiros socorros assenta numa boa criatividade, aliada ao raciocínio rápido e ao conhecimento da técnica ou dos seus princípios, adaptando-a às diferentes situações com que o socorrista se depara. Pode-se fazer a improvisação de uma maca com galhos de árvores fortes, canos, portas, tábuas largas, cobertores, jaquetas, camisas, lençóis, lonas, tiras de pano, sacos de tecido, cordas, barbantes e cipós.

É absolutamente essencial que os membros das equipes de busca e salvamento em áreas remotas possam negociar com os elementos naturais. Não lutando contra a natureza, mas integrando-se a ela, tendo resiliência para se adaptar a esse contexto. O conhecimento de APH (atendimento pré-hospitalar), ou mesmo de primeiros socorros mais básicos, será de pouca utilidade se os membros da equipe não tiverem experiência no ambiente natural.

Nas maiores referências de serviços aeromédicos do mundo, o serviço aéreo é prestado por aeronaves exclusivas e pré-configuradas para emergências médicas, pilotadas por equipes de saúde e equipadas com equipamentos médicos e medicamentos aprovados necessários para operar uma unidade de terapia intensiva aerotransportada (UTI). O serviço de resgate aéreo e transporte deve evoluir para que haja uma especialização legítima, com aeronaves pré-configuradas, equipes treinadas e equipamentos exclusivos para atendimento pré-hospitalar.

Segundo Lopes (2017), a potencial utilização de helicópteros em operações de emergência é caracterizada principalmente pela sua rapidez e versatilidade, está alicerçada em vários princípios que norteiam as operações de resgate em área remota. Uma vez localizado o objetivo de busca, a missão de resgate é acionada e os meios são enviados para resgatar as vítimas. O helicóptero é a aeronave mais indicada para este tipo de missão devido à sua versatilidade e características de voo.

O transporte aeromédico consiste no resgate ou evacuação de pacientes graves, por meio de helicópteros ou aviões, em locais que as ambulâncias tradicionais não conseguem alcançar com facilidade ou rapidez (transporte primário), ou mesmo em situações em que o paciente necessite de transporte intermodal mais adequado por via aérea (transporte secundário).

É considerado um meio de transporte seguro e, apesar de alguns inconvenientes, é bastante rápido, o que proporciona assistência quase imediata aos feridos/pacientes e pode salvar muitas vidas. Por detrás deste tipo de transporte, existe uma equipa competente e atenta, que cumpre determinados requisitos, e equipamentos e materiais especializados, que permitem que todo o transporte decorra sem incidentes.

O tratamento e estabilização inicial do paciente é feito no local, seguido de preparação e transporte para uma unidade de saúde ou hospital, previamente contactado pelo médico de bordo para estar devidamente preparado para dar continuidade ao tratamento.

Um bom plano operaciinal de resgate em áreas remota, de fato, é a utilização de helicópteros, visto que a mesma possui: Atendimento pré-hospitalar (APS); Transporte Inter-hospitalar; Transporte de meios materiais ou equipes médicas; Transporte de órgãos para transplante; Evacuação de vítimas e reconhecimento aéreo do local dos acidentes graves; Apoio às equipes de busca e salvamento.

A atenção pré-hospitalar (APS) possui características únicas em relação à assistência à saúde como um todo. O ambiente em que ocorre é muitas vezes hostil. Não há controle sobre variáveis ​​que possam interferir em um serviço. Chuva, calor, frio, falta de iluminação, risco de um novo desastre, são fatores que impedem o socorrista de buscar sempre um atendimento rápido e objetivo.

O profissional que está predisposto a trabalhar com esse tipo de adversidade deve, portanto, estar muito bem treinado para tomar as decisões adequadas e conduzir o quanto antes. O atendimento pré-hospitalar pode significar a diferença entre a vida e a morte, entre sequelas temporárias, graves ou permanentes, ou entre uma vida produtiva e uma vida privada de bem-estar (PHTLS, 2017).

Um plano operacional de resgate de vítimas em áreas remotas utilizando um helicóptero deve ser feito verificando se a vítima está ciente. Se a vítima estiver agitada, deve ser sedada e imobilizada, principalmente em helicópteros, pois o piloto e o painel de controle estão próximos; As vítimas de trauma devem ser adequadamente contidas; O paciente deve ter pelo menos um acesso venoso de grande calibre, visto que procedimentos invasivos devem ser realizados antes do embarque, de forma a evitar hemorragias, fluidos, fisiológicos e secreções.

A emergência médica, cujo uso é previsível para a situação, deve estar pronta para ser administrada. Os equipamentos de ventilação mecânica, sucção e oxigenação devem estar localizados em locais acessíveis. É melhor ter um aspirador de pó portátil em caso de falha do equipamento. Além do mais, é de suma importância antes do transporte seguir para o hospital, monitorar a vítima com um monitor cardíaco, oxímetro de pulso e monitor de pressão arterial não invasivo. Todos os cuidados prestados devem ser avaliados e a evolução do paciente registrada, além de proporcionar conforto e apoio psicológico ao paciente.

Nesse contexto, a triagem de pacientes durante eventos multivítimas torna-se, portanto, mais complicada. Além disso, a maioria dos profissionais que atuam no APH são nadadores-salvadores básicos, sem cursos de graduação, mas com formação técnica específica para a região. Por todos estes motivos, é de extrema importância dotar este profissional de uma ferramenta que otimize a utilização da triagem de forma objetiva e que permita a classificação das vítimas de forma simples, rápida e sistemática, não permitindo digressões no cenário.

Os protocolos de triagem visam fornecer primeiros socorros com a capacidade de sistematizar e categorizar as vítimas usando vários parâmetros fisiológicos para avaliar a condição do paciente. Essa abordagem sistemática da triagem é essencial para profissionais médicos que trabalham em incidentes com várias vítimas, onde o número de vítimas excede em muito os recursos médicos disponíveis (BERGERON, 2019).

Quando se trata de cuidar sozinho de um indivíduo traumatizado, é fundamental fazer o melhor por ele, inclusive utilizando todos os recursos disponíveis para tratá-lo da melhor forma. Na gestão de múltiplas vítimas, o princípio fundamental da resposta médica é fazer o melhor para o maior número de pacientes, pois é necessário estabelecer prioridades para uma gestão adequada (ATLS, 2018).

Um plano operacional de resgate utilizando um helicóptero deve abordar a vítima, com o objetivo de classificar os indivíduos antes de prosseguir com o atendimento. O método mais utilizado nesse caso é o START (Simple Triage and Rapid Treatment), que é o algoritmo mais utilizado no mundo para a triagem primária de incidentes com múltiplas vítimas, sendo um método simples, rápido e sistemático que se baseia na capacidade de andar, na avaliação da respiração, da circulação e do nível de consciência. Com perguntas simples e objetivas, é possível classificar as vítimas de um desastre e, consequentemente, em uma escala de prioridade de atendimento.

Atualmente no Brasil e em várias partes do mundo, utilizam o método START é utilizado para priorizar o atendimento neste tipo de evento. Para que esse tipo de evento seja um sucesso, é importante realizar treinamentos, padronizar as ações específicas para esse tipo de emergência e realizar simulações. Além disso, é necessário aumentar o quadro de pessoal, adquirir equipamentos específicos e aumentar a política de gestão de crises, evitando interferências externas que agravam ainda mais o problema.

O método START deve ser realizado no menor tempo possível, não ultrapassando um minuto. São permitidas pequenas manobras como abertura manual da via aérea e controle de sangramento externo. A sistematização permite uma classificação simples e rápida, sem margem para dúvidas. O método usa a avaliação das mudanças para identificar a ordem do que mata mais rápido. Uma violação do trato respiratório mata mais rápido que um problema respiratório, que mata mais rápido que um problema circulatório, que mata mais rápido que um problema neurológico.

Após a primeira triagem, é realizada uma triagem médica para reclassificação das vítimas, o que pode modificar as prioridades de atendimento estabelecidas neste primeiro “filtro”. Essa triagem pode ser baseada no contexto do evento (mecanismo que levou a esse trauma), bem como no conhecimento do profissional médico mais experiente no local, que pode utilizar o atendimento ao trauma padronizado em protocolos internacionalmente conhecidos. Mesmo assim, deve-se decidir quais pacientes com a mesma classificação de gravidade devem ser tratados primeiro ou depois.

Além do mais, a classificação é a filtragem de exaustão. Após triagem e atendimento, e dependendo da disponibilidade de helicópteros, tempo de deslocamento e disponibilidade nas unidades hospitalares de referência, os pacientes são classificados de acordo com as prioridades de evacuação. A partir desses parâmetros, as vítimas são divididas em quatro prioridades de atendimento, representadas pelas cores vermelha, amarela, verde e preta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATLS. Advanced Trauma Life Support Program for Doctors. Chicago: American College of Surgeons, 2018.

BERGERON, J. Aspectos históricos e organizacionais da remoção aeromédica. Chicago: American College of Surgeons, 2019.

LOPES, Edmilson. A relevância da segurança de voo nas operações aéreas emergenciais de bombeiro militar. 2017. 95 fl. Monografia (Curso de Especialização Latu Sensu em Gestão de Serviços de Bombeiro), Universidade do Sul de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.

PHTLS. Pre-Hospitalar Trauma Life Support. 2017. Disponível em: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/curso/curso.phtls/?gclid=EAIaIQobChMIoreQ7oCV-gIVoBvUAR1wAgLhEAAYASAAEgLLfPD_BwE. Acesso em: 13 set. 2022.