IMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS GESTACIONAL NO BINÔMIO MATERNO-FETAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7025760


Autores:
Carlos Daniel dos Santos Ferreira1
https://orcid.org/0000-0003-0799-4311
Fernanda Carolina Dutra de Oliveira2
https://orcid.org/0000-0002-8984-3252
Thaissy Fernanda de Oliveira3
https://orcid.org/0000-0003-1541-7928


RESUMO

Trata-se de um estudo sobre as principais complicações causadas pela Diabetes Mellitus Gestacional, que é caracterizada pela deficiência da ação da insulina no corpo em período gestacional. O artigo trás uma revisão integrativa onde é realizado uma análise de resultados tendo como material de pesquisa artigos científicos publicados nos últimos 6 anos, retirados da base de dados da Scielo. Na pesquisa realizada, foi enfatizado as peculiaridades da diabetes gestacional e as implicações no binômio materno-fetal. Foi analisado que fetos de gestantes acometidas com a diabetes, tem um risco maior de desenvolver malformações, além problemas no sistema cardíaco e anomalias no sistemas nervoso. As gestantes que  tem a condição preexistente e mantém um controle nutricional além de fazer o acompanhamento do controle glicêmico e da pressão arterial reduzem os riscos de complicações futuras para o bebê, outros fatores como o aleitamento materno e atividades para o desenvolvimento da criança e acompanhamento nutricional do bebê também reduzem os riscos de complicações futuras.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus; Diabetes Gestacional; Complicações do Diabetes.

INTRODUÇÃO

Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) inclui um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por intolerância a carboidratos resultando hiperglicemia ou índice glicêmico variável no período gestacional, impossibilitando diagnóstico prévio antes do período gestacional. A sua fisiopatologia é visível no aumento hormonal principalmente os que atuam no processo contra regulação da insulina (CHIERFARI, 2017).

Segundo da Federação Internacional de Diabéticos em 2021 cerca de 537 milhões de adultos haviam sido diagnosticados com Diabetes Mellitus (DM), de acordo com o mesmo estudo aproximadamente no ano de 2021, 6,7 milhões de pessoas morreram decorrente a doença. No Brasil aproximadamente 214 mil pessoas entre 20 a 79 anos foram acometidas pela doença (BRASIL 2021).

Atualmente no brasil estima-se 16,8 milhões de adultos receberam diagnóstico de Diabetes Mellitus (DM), cerca de 7% da população do país. Segundo a Sociedade Brasileira De Diabéticos, aproximadamente 16% dos nascidos vivos hoje no país foram gerados por gestantes com DMG e 8% das gestantes já haviam diagnostico de Diabetes antes da gestação. (ZAJDENVERG L, DUALIB P, Et al 2022).

Os elevados níveis de hiperglicemia durante o período gestacional são indesejáveis para mãe e para o feto. Sabendo que posteriormente ao Diagnostico de DMG, a mesma situação clinica seguira até o termino da gestação, necessitando um controle rigoroso com a alimentação afim de evitar complicações como prematuridade, macrossomia fetal, pré-eclâmpsia, eclampsia, distocia de ombros durante o parto, dificuldade respiratória e até mesmo a morte fetal. (PERIVOLARIS 2019). Notável que gestantes que seguem rigorosamente os cuidados dos índices glicêmicos reduz os riscos das complicações citadas a cima.

A realização desse trabalho tem como objetivo compreender de forma aprofundada as principais complicações materno-fetais ocasionada pelos índices altos de hiperglicemia durante o período gestacional.

OBJETIVOS

Objetivos Geral

Identificar as principais complicações materno-fetais, relacionada pela Diabetes Gestacional.

Objetivos Específicos

Compreender as principais complicações que a Diabetes gestacional acarreta, explicar a importância das consultas e acompanhamento durante o período gestacional.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a de revisão integrativa, que tem como finalidade reunir resultados obtidos em pesquisas sobre o tema, ganha o nome de integrativa porque fornece informações mais amplas sobre o tema, fazendo com que se molde um corpo de conhecimento. Assim, é possível elaborar a revisão integrativa com diferentes fins, podendo ser direcionada para análise de teorias, métodos e definições. Após a escolha do tema, foram definidos os critérios para busca dos estudos  e os definido o período de coleta de dados de maio a junho de 2022, após a coleta, foi feita a leitura e a categorização do material selecionado, por fim foi realizado a interpretação dos resultados e a síntese do conhecimento adquirido através da análise das obras.

DESENVOLVIMENTO

A Diabetes Mellitus é uma doença que se dá pela insuficiência na produção ou absorção da insulina, hormônio que é secretado pelo pâncreas, ela é responsável por fazer a ruptura das moléculas de glicose transformando-a em energia que será distribuída ao corpo. O diabetes faz com que os níveis de açúcar presentes no sangue aumentem, com esses níveis elevados os riscos de complicações em nossos órgãos vitais aumentam, podendo levar à morte em casos mais complicados da doença.

De acordo com a Associação Brasileira de Diabetes, mais de 13 milhões de pessoas no Brasil têm atualmente diabetes, representando 6,9% da população nacional. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021)

Grande parte dos casos da doença é dividido em duas categorias, em uma delas, tipo 1, existe o defeito ou a destruição das células beta pelo sistema imunológico, as células betas são fundamentais na secreção da insulina, a outra categoria, tipo 2, a causa é uma combinação de resistência à ação da insulina e uma inadequada resposta compensatória secretora de insulina. Nesta última categoria, um grau de hiperglicemia suficiente para causar alterações patológicas e funcionais em vários tecidos-alvo, mas sem sintomas clínicos, pode estar presente por um longo período de tempo antes que o diabetes seja detectado. (GRASSI, 2022).

O DMS é definido por qualquer grau de intolerância à glicose com início ou descobrimento durante a gravidez. Embora a maioria dos casos se resolva com o parto, a definição se aplica se a condição persiste ou não após a gravidez e não exclui a possibilidade de que a intolerância à glicose não reconhecida possa ter sido anterior ou iniciada com a gravidez. Essa definição facilitou uma estratégia uniforme para detecção e classificação de DMG, mas suas limitações foram reconhecidas por muitos anos. (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE DIABETES, 2013).

As gestações complicadas por diabetes estão associadas a riscos significativamente maiores para a mãe e a criança (GRAY, 2018).

Fetos de mães com diabetes preexistente têm risco aumentado para malformações, especialmente cardiopatias congênitas e anomalias do sistema nervoso. Isso tem sido associado ao controle metabólico deficiente durante o período de organogênese que ocorre no primeiro trimestre da gravidez e acredita-se que seja devido aos efeitos negativos do ambiente hiperglicêmico no feto em desenvolvimento (STOGIANNI, 2019). Além das más formações congênitas, a pré-eclâmpsia é uma das principais patologias da gravidez e é um importante problema de saúde para as mulheres e seus descendentes em todo o mundo (IACOBELLI,2017). Esta doença é caracterizada por hipertensão que se desenvolve na gravidez associada a proteinúria de início recente ou outras disfunções de órgãos-alvo, de acordo com alguns estudos, a pré-eclâmpsia complica entre 2 e 5% de todas as gestações (SHEN, 2017). Esta doença parece aumentar o risco de alguns resultados adversos importantes na gravidez, aumentando a morbidade e mortalidade não apenas em mulheres grávidas, mas também em seus filhos (IACOBELLI,2017).

Outro fator que pode ser decisivo para as complicações de uma gestante com DM é a obesidade, com o índice de massa do corpo elevado, aumentou a probabilidade de hipoglicemia neonatal entre bebês de mães com diabetes gestacional (COLLINS, 2017). Em uma revisão sistemática de 2017, foi mostrado que 47% das mulheres apresentaram ganho de peso acima das recomendações do IOM de 2009, e que seus recém-nascidos apresentaram maior risco de nascerem grandes para a idade gestacional, com macrossomia e por uma cesariana. (GOLDSTEIN,2017)

Os desfechos gerados pelo ganho de peso gestacional mostram que o pré-natal não está sendo eficaz no que diz respeito à conscientização e recomendações sobre o controle nutricional adequado, esse fato também pode explicar o elevado número de indivíduos com sobrepeso e obesidade na população incluída. Os efeitos das alterações a longo prazo na massa corporal do recém-nascido de mães com sobrepeso/obesidade ainda não estão bem estabelecidos, porém indicam que a adiposidade do recém-nascido pode estar associada a um maior risco de síndrome metabólica em idades mais avançadas. (NEHAB,2020)

Outro aspecto associado a diabetes mellitus gestacional, é o aparecimento da macrossomia, os estados de hiperglicemia estão linearmente associados ao aumento do peso do recém-nascido (SANTANGELI,2015).

A macrossomia ocorreu em maior proporção em lactentes de mães jovens, com ensino médio ou superior, com uma ou sem gestações anteriores e com baixa proporção de diabetes gestacional. As variáveis maternas associadas à macrossomia do recém-nascido são idade > 35 anos, baixa escolaridade, maior número de filhos, poucos controles pré-natais e diabetes pré-gestacional ou que se desenvolve durante a gravidez (CATALANO,2017)

Um estudo recente indica que o excesso de peso pré-gestacional e o ganho de peso excessivo têm um efeito marcante no aparecimento da macrossomia, que é independente de outras variáveis. (AGUDELO-ESPITIA, 2019)

Outras complicações neonatais associadas ao DMG são hiperbilirrubinemia, hipocalcemia, retardo do crescimento intrauterino, policitemia e síndrome do desconforto respiratório (NOLD J, 2004).

Estudos mostram que indivíduos expostos ao diabetes materno (tipo 1, 2 ou DMG) in utero têm um risco aumentado de obesidade e intolerância à glicose na infância e no envelhecimento precoce (PETITT,1985). O exercício durante a gravidez tem o benefício de reduzir a glicose no sangue (PRUTSKY,2013), reduzir o ganho excessivo de peso materno e diminuir a incidência de macrossomia fetal (DHULKOTIA,2009). Portanto, deve ser recomendado para todas as gestantes com diabetes, na ausência de contraindicações.

Pacientes que realizavam exercícios antes da gravidez podem continuar ativas. Nos casos de diabetes gestacional, recomenda-se a realização de 15 a 30 minutos de atividade diária, em cicloergômetro, ou caminhada a 50% da capacidade aeróbica da paciente. A monitorização da atividade fetal e, idealmente, da glicemia capilar deve ser realizada antes e após a atividade. (PRUTSKY,2013)

Aproximadamente 50-80% das mulheres com DMG alcançam controle glicêmico satisfatório com dieta e exercícios. Para outros, a insulina é a terapia de escolha, pois não atravessa a placenta e tem segurança conhecida. O controle adequado foi obtido com dose média de 0,5 a 1,0 UI/kg/dia, mas a dose e o esquema terapêutico inicial devem ser individualizados e posteriormente ajustados de acordo com os resultados da monitorização da glicemia capilar. Pacientes com apenas elevação da glicemia pós-prandial podem ser adequadamente tratados com insulina regular ou ultra-rápida antes das refeições. Se a glicemia de jejum e a glicemia pós-prandial estiverem elevadas, um regime de insulina multidose, em regime de bolus basal, é a melhor opção de tratamento (NEGRATO, 2010).

Pacientes com diabetes tipo 2 que usam hipoglicemiantes orais devem ser aconselhadas a interromper esses medicamentos e iniciar o tratamento com insulina quando planejam engravidar, pois não há evidências de segurança do uso de hipoglicemiantes no primeiro trimestre (NEGRATO 2012). Pacientes com diabetes pré-gestacional que já fazem uso de insulina, em geral, precisam reduzir sua dose de insulina em 10 a 20% no primeiro trimestre, devido ao aumento da incidência de hipoglicemia nesse período. Após a 18ª semana, é frequente a necessidade de aumento progressivo da dose de insulina e, ao final da gestação, a dose diária de insulina utilizada é, em média, o dobro da dose pré-gestacional (OLIVEIRA, 2004).

As insulinas ultra rápidas lispro e aspart são seguras na gravidez e têm a vantagem de proporcionar mais flexibilidade de estilo de vida e melhor controle glicêmico pós-prandial do que a insulina regular, mesmo na ausência de custos mais elevados (BLUMER, 2013). A insulina glulisina ultrarrápida não foi comprovada como segura na gravidez e não deve ser usada nessas pacientes.

Recomenda-se que gestantes com diabetes com alto risco de hipoglicemia usem insulina detemir, um análogo de insulina de ação prolongada, cuja segurança na gravidez está bem estabelecida (BLUMER, 2013) Estudos com insulina glargina durante a gravidez não mostraram efeitos adversos, mas apresentaram limitações que comprometeu a interpretação dos resultados, sendo ainda necessário a realização de estudos prospectivos e controlados para que a segurança deste análogo possa ser verdadeiramente estabelecida.

Pacientes que, antes de engravidar, apresentavam bom controle glicêmico com uso de terapia de infusão contínua de insulina subcutânea devem continuar o tratamento durante a gravidez. Por outro lado, não é recomendado iniciar o uso da bomba de insulina durante a gravidez, exceto em pacientes que não obtiveram sucesso terapêutico com outros esquemas de insulina, pois há risco de piora do controle glicêmico, cetoacidose e hipoglicemia, durante o início da terapia de infusão contínua (MATHIESEN, 2012).

CONCLUSÃO

Por fim, podemos constatar que um melhor foco no controle nutricional adequado, além do controle glicêmico e da pressão arterial durante o pré-natal, pode modificar a composição corporal do recém-nascido, resultando em menores riscos futuros de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. Mais estudos são necessários para esclarecer os efeitos a longo prazo do excesso de adiposidade neonatal. Outros fatores como aleitamento materno, alimentação complementar, microbioma, exposição a xenobióticos, atividades que promovam o desenvolvimento adequado da criança, entre outros, podem influenciar nesse desfecho. (NEHAB, 2020)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIERFARI, Ema; ARCIDIACANO, Bernard; FOTI, Damon; BRUNETTI, Alberto. Diabetes mellitus gestacional: uma visão atualizada. J EndocrinolInvest, [S. l.], pág. 1-11, 8 mar. 2017

PERIVOLARIS, Ekaterini; CAVALCANTE, Samara Kelly; SILVA, Maria Nathália; SILVA TEIXERA, João Pedro; SILVA, Vitória; MATIAS, Érika. Complicações na gravidez e diabetes mellitus na gestação: dados de morbidade e mortalidade no Brasil. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.], pág. 1-8, 24 atrás. 2021.

Zajdenverg L, Façanha C, Dualib P, Golbert A, Moisés E, Calderon I, Mattar R, Francisco R, Negrato C, Bertoluci M. Rastreamento e diagnóstico da hiperglicemia na gestação. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022).

GRASSI, Bruno et al .Clinical features and management of 205 adults with type 1 diabetes mellitus. Rev. méd. Chile,  Santiago,  v. 147, n. 4, p. 451-457,  Apr.  2019 .

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL). Diabetes: Diabetes Mellitus. Ministério da Saúde: Ministério da Saúde, 30 dez. 2021.

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE DIABETES. Diagnóstico e Classificação do Diabetes Mellitus. Diabetes Care, Associação Americana de Diabetes, p. 67-74, 1 jan. 2013.

GRAY SG, Sweeting AN, McGuire TM, Cohen N, Ross GP, Little PJ. Ambiente em mudança da hiperglicemia na gravidez: diabetes gestacional e diabetes mellitus na gravidez. J Diabetes. 2018;10(8):633–40.

STOGIANNI, A., Lendahls, L., Landin-Olsson, M. et ai. Resultados obstétricos e perinatais em gestações complicadas por diabetes e gestações de controle, em Kronoberg, Suécia. BMC Gravidez Parto 19, 159 (2019).

IACOBELLI S, Bonsante F, ROBILLARD R. Comparison of risk factors and perinatal outcomes in early onset and late onset preeclampsia: A cohort based study in Reunion Island, Journal of Reproductive Immunology, Volume 123 (2017):12-16

SHEN M, Smith GN, Rodger M, White RR, Walker MC, Wen SW (2017) Comparisonofriskfactorsandoutcomesofgestationalhypertensionandpre-eclampsia.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Tratamento do Diabetes Mellitus Gestacional no Brasil. 2019.


1Curso de Enfermagem do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu.
2Curso de Enfermagem do Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu.
3Mestrado em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Foz do Iguaçu.