REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6679553
Autores:
Ludmila Silva de Paiva Alves1
Ana Patrícia Silva Visgueira2
Marina Alves Nogueira3
Maria Luzineide Alves4
Ediane Mizelle5
Lélia Lilianna Borges de Sousa Macedo6
Ruth Raquel Soares de Farias7
RESUMO
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento, em que há um número expressivo de adultos acometidos e que sofrem com suas consequentes interferências negativas. O presente artigo tem por objetivo fazer um levantamento bibliográfico a respeito da qualidade de vida do adulto com TDAH. Os procedimentos metodológicos são de natureza qualitativa integrativa, com foco na pesquisa bibliográfica e documental. Pesquisa realizada no período de março a junho, através das bases de dados Lilacs, Scielo e Medline. Os estudos aqui analisados apontam para as repercussões que o TDAH causa na vida adulta como a interferência no relacionamento interpessoal, seja no âmbito familiar, conjugal ou no trabalho. A qualidade de vida do adulto com TDAH pode ser prejudicada a depender do nível de limitações na sua atividade diária. A medicamentação alinhada com a psicoterapia são intervenções que podem ser utilizadas afim de melhorar o seu quadro clínico. Ressalta-se a relevância de mais estudos na área devido a escassez de publicações atuais sobre.
Palavras-chave: Impulsividade. Neurodesenvolvimento. Impactos na saúde. Comportamento.
ABSTRACT
Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) is a neurodevelopmental disorder, in which there is a significant number of adults affected and who suffer from its consequent negative interferences. This article aims to make a bibliographic survey about the quality of life of adults with ADHD. The methodological procedures are of an integrative qualitative nature, focusing on bibliographic and documentary research. Research carried out from March to June, through the Lilacs, Scielo and Medline databases. Research carried out from March to June, through the Lilacs, Scielo and Medline databases. The studies analyzed here point to the repercussions that ADHD causes in adult life, such as interference in interpersonal relationships, whether in the family, marital or work environment. The quality of life of adults with ADHD can be impaired depending on the level of limitations in their daily activities. Medication aligned with psychotherapy are interventions that can be used to improve your clinical condition. The relevance of further studies in the area is highlighted due to the scarcity of current publications on.
Keywords: Impulsivity. Neurodevelopment. Health impacts. Behavior.
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado pela presença de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade presentes, mais frequentes e graves do que aqueles tipicamente observados em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al., 2013).
De acordo com Araújo et al. (2013) a forma adulta do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) – anteriormente chamado de “tipo residual” – foi oficialmente reconhecida pela Associação Americana de Psiquiatria em 1980 na terceira edição do DSM, onde foi introduzida como uma condição clínica presente na vida adulta, embora até a quarta edição ainda fosse classificada como transtorno na infância (SPITZER; MD; WILLIAMS, 1980).
O crescente interesse pelo transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em adultos é demonstrado pelo significativo aumento de publicações a esse respeito nos últimos anos. Estudos demonstraram que o distúrbio persiste na vida adulta em um grande número de indivíduos, causando comprometimento significativo (FARAONE et al., 2000; WILENS et al., 2002).
O diagnóstico do TDAH em adultos é um tema complexo em que vários autores divergem sobre sua prevalência desde a infância. Alguns autores indicam que, nos adultos, os sintomas de hiperatividade tendem a diminuir, sendo mais constantes os sintomas de desatenção. Em adultos, a dificuldade em manter a concentração pode causar situações conflituosas e constrangedoras, sobretudo nos relacionamentos amoroso-afetivos e no ambiente de trabalho (GOMES; CONFORT, 2017).
Para Pinto et al. (2016), o sofrimento vai além das relações interpessoais destes indivíduos, pois com o passar dos anos, caso não se busque ou se reconheça esta condição neurobiológica; o resultado seria a formação de um indivíduo acometido de sérias comorbidades psicopatológicas que interferem de forma direta na vida e qualidade desta; sendo esta última consideração o grande problema.
Segundo Matos e Coutinho (2007), igualmente como ocorre com as crianças, em alguns estudos, o diagnóstico em adultos é baseado na persistência de seis ou mais sintomas de alguma das três dimensões, a desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade. Além disso, considera-se a persistência sintomática como critério de diagnóstico, ou seja, a prevalência de sintomas de cada dimensão do TDAH juntamente com significativo comprometimento funcional relacionado ao transtorno.
Diante o exposto, considerando os desafios dos indivíduos atípicos que possuem o Transtorno de Déficit de atenção com Hiperatividade na vida adulta, é que este artigo vem trazer reflexões e informações necessárias para ajudar no desenvolvimento e enfrentamento do problema, para que estes indivíduos, ou pessoas de sua convivência, acreditem que há soluções comprovadas de enfrentamento e mudança de vida, para as pessoas que buscaram o tratamento e a partir dele, lograram resultados extraordinários em vários campos de suas vidas; seja nas relações interpessoais, seja no controle dos impulsos, raiva, controle de pensamentos exagerados, desatenção, dentre outros comportamentos modificados através do uso de medicação e terapia associadas.
Sendo assim, o presente artigo tem por objetivo fazer um levantamento bibliográfico a respeito da qualidade de vida do adulto com TDAH, bem como trazer informações acerca de como as terapêuticas associadas podem tornar a vida deles mais adaptativas.
2. METODOLOGIA
Foi realizado uma revisão integrativa da literatura composta pelos seguintes passos: (1) elaboração da pergunta de pesquisa; (2) busca na literatura; (3) seleção dos artigos; (4) extração dos dados; (5) avaliação da qualidade metodológica; (6) síntese dos dados; (7) avaliação da qualidade das evidências; e (8) redação e publicação dos resultados. Para formulação da pergunta de pesquisa utilizou-se a estratégia PICo que consiste na identificação do P= população participante, I= interesse, Co= contexto.
Dessa forma, o acrômio PICo está representado da seguinte forma: P: Adulto; I: TDAH; Co: Qualidade de vida.
A questão norteadora, pressuposto para a coleta de dados, teve o seguinte argumento: quais as principais evidências científicas sobre a qualidade de vida do adulto com Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade?
Este estudo foi elaborado no período entre os meses de março a junho de 2022, tendo sido realizado a busca sistemática de conteúdos que já foram produzidos e encontrados disponíveis na internet principalmente em revistas on-line, e artigos de periódicos. A busca na literatura foi feita na BVS saúde, onde se selecionou as bases de dados Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo (Brasil Scientific Electronic Library Online); Medline (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica) e google acadêmico. A escolha foi motivada por tais fontes possuírem publicações nacionais e internacionais de impacto, amplitude do espectro de busca e diversidade de periódicos indexados. Utilizando-se a combinação de descritores controlados, aqueles estruturados e organizados para facilitar o acesso à informação cadastrada nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS): “Qualidade de vida” AND “TDAH” AND “Adulto”.
A leitura primária de títulos e resumos foi realizada conjuntamente, sendo então aplicados, critérios adicionais de inclusão e exclusão com vistas a selecionar apenas artigos que potencialmente respondessem ao objetivo da presente revisão.
Os critérios de inclusão foram: artigos dispostos na íntegra, publicados nas bases de dados descritas, publicados dentro do período de abrangência de 2007 a 2022. Foram excluídas da pesquisa teses, dissertações, monografias, resumos simples, além daqueles que após a leitura do resumo divergir do objetivo proposto, além de publicações que se repitam nas bases consultadas.
Ressalta-se que todo o processo de busca, seleção e catalogação preliminar das publicações foram realizadas por dois pesquisadores independentes, em que se identificaram os potenciais estudos primários. Nesse processo, os estudos passaram por três filtros para seleção e avaliação. O primeiro filtro, seleção das publicações relevantes, onde foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão; o segundo: seleção das publicações a partir dos critérios de qualidade; e o terceiro: seleção dos dados relevantes.
A partir da combinação dos descritores foram selecionados 84 estudos. Após aplicação dos filtros de inclusão obtivemos 18 estudos afins. Numa avaliação inicial por meio da leitura dos títulos e dos resumos, verificou-se que 15 artigos que se encaixavam na temática. Após análise criteriosa e rebuscada, desses foram excluídos 5 artigos por não corresponder ao objetivo proposto. Portanto, ao final foi possível selecionar 10 artigos para compor a amostra final desta revisão integrativa da literatura (Fluxograma 1).
FIGURA 1 – PROCESSO DE SELEÇÃO DOS ARTIGOS QUE COMPÕEM ESTE ESTUDO
Após a leitura crítica do material selecionado, realizou-se análise detalhada do material bibliográfico para extração dos elementos essenciais dos estudos, para construção dos resultados e discussão da pesquisa realizando, portanto, a categorização.
Em consecutivo à análise dos estudos, os mesmos foram agrupados em um quadro contendo os autores, modalidade de estudo, abordagem metodológica e o tema dos artigos, e uma tabela com o ano, periódico de publicação e a frequência dos estudos por ano/periódico.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
Nessa pesquisa foram analisados 10 artigos, representados na tabela 01 de acordo com seu ano de publicação, o periódico e a abordagem utilizadas.
TABELA 01: DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS CIENTÍFICOS SEGUNDO AS VARIÁVEIS: O ANO DE PUBLICAÇÃO, PERIÓDICOS, MODALIDADES (N=10). TERESINA-PI, 2022.
| VARIÁVEIS | Nº | % |
| Ano de Publicação 2007 2010 2011 2012 2014 2017 2018 2020 | 2 1 2 1 1 1 1 1 | 20 10 20 10 10 10 10 10 |
| Periódicos Rev Psiq Clín Summa Psicológica J. Bras. Psiquiatr Rev. Ciênc. Méd. Biol Paidéia Rev. Psicopedagogia Psicologia em Estudo PLoS ONE | 1 1 3 1 1 1 1 1 | 10 10 30 10 10 10 10 10 |
| Modalidade Pesquisa Qualitativa Pesquisa Quantitativa Quali-Quantitativo Revisão Bibliográfica | 1 5 1 3 | 10 50 10 30 |
| TOTAL | 10 | 100 |
Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão relacionados aos 10 artigos observou-se que a linha temporal de publicações a respeito do tema variou bastante com destaque ao ano de 2007 e 2011, o que demonstra que esse é um assunto bastante difícil de publicações atuais sobre. Na busca pelas informações e consulta em periódicos, observou-se que houve uma maior publicação no Jornal Brasileiro de Psiquiatria o que correspondeu a 30% dos artigos aqui analisados. Em relação à modalidade do estudo, observamos que 50% referem-se à pesquisa quantitativa, demonstrando que foi o método mais utilizado devido à busca por entender o fenômeno através de dados numéricos por meio de escalas para validar hipóteses.
A partir do estudo dos artigos estabeleceram-se variáveis relevantes para observação das publicações científicas relacionadas à pesquisa, conforme descrito no Quadro 1.
QUADRO 1: DISTRIBUIÇÃO DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS, SEGUNDO AUTOR, ANO, OBJETIVO E METODOLOGIA E CONCLUSÃO DO ESTUDO. TERESINA, 2022.
| AUTOR/ANO | OBJETIVO DO ESTUDO | METODOLOGIA | CONCLUSÃO |
| Caliman; Rodrigues, 2014 | Analisar os efeitos da Política Estadual de Assistência Farmacêutica referente ao TDAH na produção de subjetividade dos sujeitos que solicitam o metilfenidato | Estudo de abordagem quali-quantitativo | Ao mesmo tempo, tanto a Ritalina quanto o TDAH parecem funcionar como tecnologias subjetivas que, em sua relação com os sujeitos diagnosticados, transformam suas vidas em graus diversos, indicando a necessidade de acompanhamento dos seus efeitos. |
| Castro; Lima, 2018 | Revisar impactos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na idade adulta | Revisão narrativa de literatura | Adultos com TDAH possuem impactos negativos e significativos em diferentes aspectos de seu desenvolvimento e que podem ser mediados pelos déficits nas funções executivas |
| Cerqueira; Sena, 2020 | Descrever características e escores da QV de dados da linha de base de uma amostra clínica de indivíduos adulto com TDAH | Estudo quantitativo com aplicação de escalas | Os resultados obtidos com o AAQoL demonstraram que os sujeitos da amostra caracterizaram o perfil do adulto portador de TDAH, onde diversas esferas da vida são comprometidas, em especial os “Relacionamentos” |
| Cherbuin et al. 2012 | Investigar os sintomas de TDAH e o comprometimento relacionado em adultos de meia-idade | Estudo quantitativo com aplicação de escalas | Nossos resultados sugerem que os sintomas de TDAH continuam associados a problemas de saúde e comprometimento funcional na meia-idade e, portanto, provavelmente são uma fonte importante e não reconhecida de morbidade tardia com custos sociais e econômicos associados. |
| Dias et al. 2007 | Abordar as principais dificuldades do diagnóstico em adultos na prática clínica, tendo como focos primordiais o ponto de corte dos sintomas, a idade de início e avaliação do comprometimento | Estudo descritivo de revisão integrativa | A avaliação de comprometimento funcional significativo deve investigar diversos ambientes da vida do indivíduo (incluindo relacionamento conjugal, direção de veículos, administração de financeira etc.). |
| Dutra et al. 2017 | Avaliar a atenção de adultos com sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), quando submetidos a técnicas de estimulação cerebral não invasiva (ECNI) excitatória. | Estudo quantitativo com aplicação de testes | Os achados ratificam a compreensão que a ECNI excitatória pode contribuir para melhora cognitiva em adultos com TDAH |
| Matos et al. 2011 | Discutir a utilidade de um questionário especialmente desenvolvido para medir a qualidade de vida do TDAH em adultos | Estudo quantitativo, através da aplicação de escala Adult ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL) | O Adult ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL) foi desenvolvido com base em relatos da literatura sobre a carga do TDAH e seus resultados, bem como em relatórios de especialistas, a fim de quantificar os níveis de qualidade de vida. |
| Mesquita et al. 2010 | Comparar o desempenho neuropsicológico de adultos portadores de TDAH segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV) | Análise retrospectiva de banco de dados de serviço privado especializado em avaliação neuropsicológica | Adultos portadores de TDAH podem se diferenciar de controles clínicos encaminhados com queixas de desatenção pelo desempenho deficitário em tarefas que endereçam memória operacional auditivo-verbal. |
| Rangel Junior et al. 2011 | Investigar as percepções de adolescentes e jovens adultos com diagnóstico de TDAH acerca do papel da escola em seu desenvolvimento psicossocial, principalmente quanto aos aspectos identitários | Estudo de abordagem qualitativa, através de entrevistas | Os relatos denunciam a precariedade da escola no trato com esses alunos e na busca de alternativas que desenvolvam suas potencialidades, facilitando sua adaptação ao ambiente escolar |
| Schimitz et al. 2007 | Revisar a literatura científica sobre o TDAH, com foco específico em dados sobre remissão dos sintomas na adolescência e preditores de persistência do transtorno até a vida adulta | Revisão integrativa | São apresentados dados de prevalência na adolescência e idade adulta, fatores relacionados à variabilidade de resultados entre os estudos e potenciais fatores de risco da persistência da infância à idade adulta |
3.1 Impactos na Qualidade de Vida
Estudos de Schmitz et al. (2007), levantam a questão dos fatores predisponentes a persistência do TDAH na fase adulta São eles: a gravidade do TDAH na infância; o tratamento do TDAH na infância; comorbidades psiquiátricas na infância e/ou adolescência; a questão sociodemográfica; adversidades na infância.
Conforme Castro e Lima (2018), apontam que como agravante, a maior parte dos adultos com TDAH tem pelo menos um transtorno associado como comorbidade, que podem ser o transtorno desafiador opositor (TOD), transtorno de conduta (TC), transtorno de personalidade antissocial (TPAS) e transtornos de aprendizagem que envolve atrasos em leitura, ortografia, matemática, escrita, dentre outras, transtorno de humor bipolar, transtorno de personalidade antissocial, transtorno de abuso de substâncias psicoativas e transtorno de tiques.
A sintomatologia no adulto tem tendencias a piorar em situações que demandam atenção, concentração ou que sejam desinteressantes para o indivíduo. Esses pacientes apresentam importantes limitações em suas atividades diárias para conseguir um funcionamento normal (DIAS et al. 2007).
Durante a fase adulta surge a necessidade de um enfrentamento mais assíduo, pois nesta fase é quando há demandas que dependem de mais autonomia e tomadas de decisões. Estudos indicam que o grau de comprometimento destes indivíduos na área da vida pessoal com TDAH, estão mais associados a mudanças de emprego, menor nível socioeconômico, problemas com a justiça, mais divórcios e dificuldades emocionais (SCHMITZ et al. 2017).
Na fase adulta é perceptível uma prevalência dos sintomas de desatenção que causam um comprometimento funcional significativamente maior do que os sintomas de hiperatividade (CHERBUIN et al. 2012). A repercussão negativa do TDAH pode comprometer a autoestima e assim manifestar sentimento de insegurança ou incompetência em relação às atividades desempenhadas, criando o chamado “círculo vicioso do fracasso” (RANGEL JÚNIOR et al. 2011).
Sendo assim, segundo Mattos et al. (2011), um dos instrumentos que pode ser utilizado para mensurar o impacto na qualidade de vida dos indivíduos com TDAH é o Adult ADHD Quality of Life Questionnaire (AAQoL). Esse questionário é uma ferramenta sistematizada sobre a repercussão do TDAH nos desfechos clínicos, de modo a avaliar quantitativamente a qualidade de vida de portadores adultos. O instrumento é subdividido em quatro subescalas: produtividade, saúde psicológica, perspectivas de vida e relacionamentos.
3.2 Intervenções em casos de TDAH em adultos
Os autores Rangel Júnior et al. (2011), consideram imprescindíveis a produção e a difusão de um saber mais completo acerca do TDAH na fase adulta, objetivando-se contribuir para a ampliação das concepções e visando à construção de práticas mais críticas por parte dos profissionais que atuam no campo clínico e educativo. Há a perspectiva de que uma intervenção adequada diminui o impacto negativo dos sintomas de TDAH na saúde e na qualidade de vida de adultos (CHERBUIN et al. 2012).
Em estudo semelhante, Cerqueira e Sena (2020) demonstraram que o tratamento associado, medicação e terapia, apresentou resultados bem significativos de melhora no desenvolvimento de habilidades mais adaptativas em todas as dimensões da vida dos pacientes. Pode-se observar regulação emocional, eficácia interpessoal e tolerância ao estresse, além de maior controle da impulsividade/hiperatividade e atenção.
O tratamento do TDAH através da Terapia Cognitivo-comportamental (TCC), é constituído por quatro etapas: avaliação das comorbidades, psicoeducação, psicoterapia e intervenções no ambiente. Tendo informações sobre o transtorno, possibilitará o reconhecimento pelo paciente, dos sintomas, além de identificar os prejuízos causados por eles e traçar um planejamento de convívio com o transtorno (MESQUITA et al. 2010).
Os mesmos autores supracitados ainda afirmam que mesmo sendo importante para o tratamento, os medicamentos não oferecem as estratégias e habilidades necessárias para enfrentar as dificuldades relacionadas ao TDAH, como baixo rendimento, desemprego, subemprego, problemas econômicos e dificuldade nos relacionamentos.
As informações difundidas sobre o medicamento em literatura científica e outros meios procuram destacar sua eficácia e seus efeitos esperados e colaterais no organismo. O uso do metilfenidato é amplamente discutido e também polemizado, ora indicado como o medicamento mais eficaz no tratamento do TDAH, ora descrito criticamente como a “droga da obediência” (CALIMAN; RODRIGUES, 2014).
O estudo sobre drogas específicas no tratamento do TDAH, sua dosagem se faz necessário para assim evitar efeitos adversos como insônia, ansiedade e irritabilidade que interferem ainda mais na qualidade de vida dos adultos com TDAH (CERQUEIRA; SENA, 2020).
Dutra et al. (2017) em seus estudos experimentais, apresentam uma terapia auxiliar na remissão dos sintomas do TDAH através da estimulação cerebral do córtex pré-frontal. Os achados do presente estudo ratificam a compreensão que a estimulação cerebral não invasiva excitatória pode contribuir para melhora cognitiva em adultos acometidos por sintomas do déficit de atenção e hiperatividade, entretanto, são estudos experimentais que necessitam de maior investigação afim de confirmar os resultados obtidos.
4. CONCLUSÃO
Os estudos enfatizam que o diagnóstico precoce e intervenções adequadas podem minimizar os impactos causados pelo TDAH na fase adulta.
Na vida adulta, o diagnóstico de TDAH costuma ser mais raro, mas é reconhecido cientificamente. Em geral, o adulto com TDAH vivencia relações conflituosas, problemas na vida acadêmica ou profissional, além de estarem mais sujeitos a comportamentos de risco, dificuldades financeiras e mais instabilidade nos empregos.
A discussão sobre TDAH em adultos é de grande importância para a psicologia, pois o diagnóstico pode causar grandes impactos na vida social, profissional e pessoal do sujeito. Um debate assíduo sobre o tema, rever mitos e descrença sobre o transtorno na fase adulta, atenuando incertezas e ansiedades acerca de um transtorno de aspecto comportamental tão marcante. Desse modo, o profissional da psicologia deve ter conhecimento acerca do transtorno, sua identificação e tratamento, sendo capaz de contribuir para o tratamento em equipes multidisciplinares.
A literatura científica sobre a incidência de TDAH em adultos ainda é escassa. Sendo assim, um maior número de publicações atuais sobre seriam fundamentais para um melhor entendimento e consequente utilização de abordagens terapêuticas mais efetivas nesses casos.
É de suma importância que as informações e atualizações concisas e baseadas em evidência sejam divulgadas não apenas no ambiente médico/acadêmico, mas no meio leigo, para que os pacientes possam ser respeitados e receber tratamento adequado tanto na infância, quanto adolescência e na vida adulta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre RS: Artmed. 2014.
ARAUJO, R. R. et al. Orientação voluntária e automática da atenção e indicadores de desatenção e hiperatividade em adultos. Avaliação Psicológica, v. 8, n. 3, p. 325- 336, 2013.
CALIMAN, L. V., RODRIGUES P. H. P. A experiência do uso de metilfenidato em adultos diagnosticados com TDAH. Psicologia em Estudo, v. 19, n. 1, p. 125-134, 2014.
CASTRO, C. X. L.; LIMA, R. F. Consequências do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na idade adulta. Revista Psicopedagogia, v. 35, n. 106, p. 61- 72, 2018.
CERQUEIRA, G.L.; SENA, E. P. Qualidade de vida em adultos com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. Rev. Ciênc. Méd. Biol., Salvador, v. 19, n. 4, p. 577-586, 2020.
CHERBUIN, N. D. et al. Um estudo de base populacional de sintomas de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e comprometimento associado em adultos de meia-idade. PLoS ONE. v. 7, n. 2, p. e31500, 2012.
DIAS, G. et al. Diagnosticando o TDAH em adultos na prática clínica. J. Brasileiro Psiquiatria, v. 56, n. 1, p. 9-13, 2007.
DUTRA, T. et al. Estimulação cerebral não invasiva excitatória sobre a atenção de adultos com sintomas do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Summa Psicológica UST, v. 14, n. 2, p. 72 – 83, 2017.
FARAONE, S. V. et al. Diagnosing adult attention deficit hyperactivity disorder: Are la
GOMES, M. J. M.; CONFORT, M. F. Implicações no Relacionamento Interpessoal. Rev. Episteme Transversalis, Volta Redonda – RJ, v. 8, n.2, p.119-132, jul./dez.2017.
MATTOS, P. et al. Validação semântica da versão em língua portuguesa do Questionário de Qualidade de Vida em Adultos (AAQoL) que apresentam transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Revista Psiquiatria Clínica, v. 38, n. 3, p. 87-90, 2011.
MATTOS, P.; COUTINHO G. Qualidade de vida e TDAH. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 56, n. 1, p. 50-52, 2007.
MESQUITA, C. et al. Perfil neuropsicológico de adultos com queixas de desatenção: diferenças entre portadores de TDAH e controles clínicos. Rev Psiquiatria Clínica, v. 37, n. 5, p. 212-5, 2010.
PINTO, R. N. M. et al. Autismo infantil: impacto do diagnóstico e repercussões nas relações familiares. Rev. Gaúcha Enferm. (Online) v. 37, n. 3, p. 11-24, 2016
RANGEL JÚNIOR, E. B. et al. Escola e desenvolvimento psicossocial segundo percepções de jovens com TDAH. Paidéia, v. 21, n. 50, p. 373-382, set.-dez. 2011.
SCHMITZ, M., et al. TDAH: Remissão na adolescência e preditores de persistência em adultos. Jornal Brasileira Psiquiatria, v. 56, n.1, p. 25-29, 2007.
SPITZER, R. L.; MD, K. K.; WILLIAMS, J. B. W. Validation and Utility of a Self-report Version of PRIME-MD The PHQ Primary Care Study. JAMA, v. 282, n. 18, November, 1980.
WILENS, T. E. et al. Attention deficity hyperactivity disorder across the lifespan. An Rev Med, v. 53, p. 113-31, 2002.
1Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7333-7059
E-mail: ludpaivaalves19@gmail.com
2Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0564-0229
E-mail: anavisgueira18@gmail.com
3Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0842-5225
E-mail: nogueiramarina57@gmail.com
4Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2182-4055
E-mail: luzineidemaria41@gmail.com
5Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7608-9994
E-mail: edianemizelle@outlook.com
6Faculdade de Ensino Superior do Piauí.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1108-6324
E-mail: leliafisio@hotmail.com.br
7Faculdade de Ensino Superior do Piauí – Faespi,
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0988-0900
E-mail: ruthraquellsf@gmail.com