AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE RETRAÇÕES MUSCULARES DE MEMBROS INFERIORES EM ATLETAS INFANTO-JUVENIS DE FUTSAL

Josué de Jesus Pinho Botelho1
Júlio César da Rocha Alves2
Resumo
Uma das áreas de grande desenvolvimento da Fisioterapia é a desportiva, na qual é de fundamental importância para o fisioterapeuta conhecer as características morfofuncionais dos atletas que possam influenciar o desempenho e predispor a lesões. O Futsal é um esporte de intensas solicitações biomecânicas que ocorrem devido às características dinâmicas do mesmo. O objetivo deste trabalho foi identificar a incidência de retrações musculares em um grupo de atletas e demonstrar a importância da atuação da Fisioterapia em uma equipe de Futsal. Foram avaliados 10 atletas da equipe infanto-juvenil masculina de futsal do Serviço Social da Indústria (SESI) de Belém, na faixa etária de 15 a 19 anos. Os indivíduos foram submetidos a um questionário, à avaliação postural, e testes especiais. A lesão mais freqüente foi a distensão dos músculos da coxa que tem entre os fatores predisponentes a flexibilidade muscular precária, que pode estar relacionada à incidência de positividade nos testes de retração muscular realizados. Isto demonstra a importância da atuação da Fisioterapia numa equipe de Futsal, a fim de identificar possíveis alterações morfofuncionais dos atletas que possam influenciar negativamente o desempenho dos mesmos e utilizar recursos para minimizar tais alterações.
Palavras chave: 1- Retrações musculares 2- Futsal 3- Fisioterapia
1- Aluno do 5º ano do curso de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará-UEPA. E-mail: josuebotelho@ig.com.br
2- Aluno do 5º ano do curso de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará-UEPA e monitor da disciplina Fisioterapia nas Disfunções Osteomioarticulares. E-mail: racesar@ig.com.br
INTRODUÇÃO
Uma das áreas de atuação onde se observa um grande desenvolvimento da Fisioterapia é a área desportiva, na qual é de fundamental importância para o fisioterapeuta conhecer as características morfofuncionais dos atletas que possam influenciar o desempenho e predispor a lesões.
O Futsal é um dos esportes mais praticados no Brasil, possuindo uma grande importância social. Também é um esporte de intensas solicitações biomecânicas que ocorrem devido às características dinâmicas do mesmo, envolvendo movimentos explosivos, dureza do piso e dimensões reduzidas onde é praticado (SANTANA, 2003; VOSER, 2001).
Segundo Viel, (2001), retração, é o estado hipertônico do músculo com encurtamento mensurável do complexo músculo-tendão. Descrevem-se dois estados: retração de origem neurogênica (ativa), freqüentemente associada a uma hiperexcitabilidade do sistema gama; e retração passiva em virtude de uma lesão do tecido colágeno, com imobilidade, às vezes, prolongada (como após uma fratura).
De acordo com Bricot (2001), limitações e contraturas musculares vão provocar a queda do rendimento muscular e esgotamento de glicogênio. No caso de atletas é a propensão às câimbras, distensões e dores musculares, mas também a diminuição da performance esportiva.
O sistema muscular acometido de encurtamento ou insuficiência de flexibilidade aumenta a estimulação dos agonistas via sistema fusomotor gama que aciona o músculo tornando-o mais tenso e os seus antagonistas mais lassos. Em conseqüência, instala-se um sistema hipotônico antagonista e um hipertônico agonistas, surgindo a assimetria (JULE e JANDA, 1987 apud ACHOUR, 1998).
O objetivo deste trabalho foi identificar a incidência de retrações musculares em um grupo de atletas de Futsal e demonstrar a importância da atuação da Fisioterapia em uma equipe de Futsal.
METODOLOGIA
Foram avaliados 10 atletas provenientes da equipe infanto-juvenil masculina de futsal do Serviço Social da Indústria (SESI) de Belém, compreendidos na faixa etária de 15 a 19 anos. Os critérios para inclusão na pesquisa foram o tempo de prática do futsal (mínimo de 6 meses) e o comparecimento regular aos treinos.
Os indivíduos foram submetidos a um questionário, à avaliação postural, e testes especiais no Laboratório de Recursos Terapêuticos Manuais (UEPA), no período de Junho a Outubro de 2003.
O questionário utilizado conteve as seguintes questões:
– identificação: nome, idade, endereço;
– altura e função na equipe;
– tempo de prática do esporte;
– prática de outra modalidade esportiva concomitante;
– ocorrência de lesões osteomioarticulares;
– existência de sintomas álgicos e a região do corpo onde ocorrem;
– prática de alongamento muscular.
Foram realizados os seguintes teste de retração muscular:
• Teste de Thomas para flexores do quadril (CIPRIANO, 1999).
• Elevação da perna estendida 90-90 para ísquiotibiais (GOULD, 1993).
• Elevação da perna estendida 90-90 para ísquiotibiais (GOULD, 1993).
• Dorsoflexão com joelho fletido para solear (PALMER E EPLER, 2000).
• Dorsoflexão com joelho estendido para gastrocnêmio (PALMER E EPLER, 2000).
Os resultados foram analisados através de matemática descritiva em termos de freqüências simples e percentuais.
RESULTADOS
Em relação à ocorrência de lesões osteomioarticulares, 8 (80%) referiram já ter sofrido lesões, dentre as quais, 4 (50%) foram distensões musculares da coxa (3 anteriores e 1 posterior); 2 (25%) foram entorses de tornozelo e 2 (25%) foram contusões..
Quanto à sintomatologia álgica, 7 (70%) dos avaliados referiram sentir dores em alguma região do corpo, dentre as quais, 2 (28,5%) referiram sentir dores no quadril, 2 (28,5%) no joelho, 1 (14,5%) na região cervical e 2 (28,5%) na região lombar.
Em relação à prática de alongamento muscular, 8 (80%) avaliados realizam alongamento apenas antes da atividade física e 2 (20%) realizam no início e ao final da atividade física.
O teste de Thomas, que segundo Cipriano (1999), avalia a retração dos músculos flexores do quadril, apresentou positividade em 8 (80%) dos avaliados, e negatividade em 2 (20%).
O teste de elevação da perna estendida 90-90 que, segundo Gould (1993), avalia a retração dos músculos isquiotibiais, foi positivo em 6 (60%) dos avaliados e negativo em 4 (40%).
O teste de Ely que, segundo Cipriano (1999), avalia a retração do músculo reto da coxa, apresentou-se positivo em 7 (70%) dos avaliados e negativo em 3 (30%).
No teste de dorsoflexão com os joelhos fletido que, segundo Palmer e Epler (2000), avalia a retração do músculo sóleo, apresentou-se positivo em 8 (80%) dos avaliados e negativo em 2 (20%).
No teste de dorsoflexão com joelho estendido para avaliação da retração do músculo gastrocnêmio (PALMER E EPLER, 2000), verificou-se positividade em 3 (30%) avaliados e negatividade em 7 (70%).

Tabela 1: Distribuição de freqüência dos indivíduos quanto aos Testes de retração muscular – 2003.

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DISCUSSÃO
A lesão mais freqüente foi a distensão dos músculos da coxa que, segundo Andrews (2000), tem como fatores predisponentes o desequilíbrio muscular e a flexibilidade muscular precária, a qual pode estar relacionada com a grande incidência de positividade nos testes de retração muscular realizados
A flexibilidade muscular precária pode ser conseqüente ao programa de alongamento muscular inadequado realizado pelos avaliados. As falhas encontradas durante os treinos neste programa foram posturas inadequadas, tempo insuficiente de manutenção do alongamento, técnica errônea que, segundo Achour (1998), contribuem para a não obtenção satisfatória dos objetivos.
Também merece destaque a grande relevância de sintomatologia álgica referida pelos atletas. Segundo Kisner (1998) as manifestações álgicas podem ser decorrentes de sobrecarga mecânica em estruturas sensíveis à dor como os ligamentos, cápsulas articulares e nervos. A dor também pode decorrer da fadiga muscular de antagonistas a músculos retraídos que precisam trabalhar em sobrecarga para manter o controle postural.
Segundo Almeida e Silva (2001), entre as exigências motoras específicas da prática do Futsal, tem-se a resistência muscular localizada que é a capacidade de utilizar determinado grupo muscular com eficácia no maior tempo possível, e a força muscular explosiva que é a capacidade de desenvolver o máximo de força em um grupo muscular num determinado movimento. Estas exigências são verificadas, principalmente, nos membros inferiores. Desta forma, a existência de grupos musculares retraídos, prejudicando a relação comprimento/tensão, pode prejudicar estas exigências.
CONCLUSÃO
Por ser o Futsal uma modalidade esportiva de intensas solicitações biomecânicas, a existência de retrações de grupos musculares pode ser influenciada pelo treinamento intenso não acompanhado de supervisão fisioterapêutica.
Por outro lado, a presença de alterações musculares pode interferir negativamente no desempenho do atleta, seja por manifestações álgicas que podem originar, seja pela queda do rendimento muscular ou pelo aumento no risco de lesões.
Isto demonstra a necessidade e importância da atuação da Fisioterapia numa equipe de Futsal, a fim de identificar possíveis alterações morfofuncionais dos atletas que possam influenciar negativamente o desempenho dos mesmos e utilizar recursos para minimizar tais alterações.
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