OS EFEITOS DA TERAPIA DO ESPELHO NA MELHORA DA FUNÇÃO MOTORA DO MEMBRO SUPERIOR HEMIPARÉTICOS PÓS AVC

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JOSÉ


Autores:
Gabriela Barbieri Da Silva Torres1
Arthur Coutinho Pacheco2
Anna Carolina Medeiros Cabral Melo3
Danielle Vieira De Assis Dos Santos3
Douglas Da Silva Fonseca3
Lorena Teixeira Silva3
Pablo Castro Rosa3
Rachel Dutra Maia Ferreira Kersbaumer3
Sintia Cristiane De Lima Souza Da Hora3
Sheila Falcão Zapff3
Veryslanny Lays Da Silva Oliveira3
Thiago Bezerra Pereira1

Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São José1.
Fisioterapeuta, cursando atualização em Fisioterapia Traumato-ortopédica do
Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São José2.
Acadêmico do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São José3.


RESUMO

A terapia do espelho (T.E) trabalha na recuperação motora e funcional de pacientes acometidos com o Acidente Vascular Encefálico (AVE), na qual, é utilizada uma caixa com espelho e o paciente realiza movimentos com o membro superior não acometido na tentativa de realizar os mesmos de forma ativa com o membro afetado, sincronizando-os como o reflexo visto através do espelho. O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da aplicação da TE na melhora da função motora do membro superior hemiparético pós-AVE.

Palavras chaves: Terapia do espelho, hemiparesia, AVC, membro superior.

ABSTRACT

Mirror therapy works on the motor and functional recovery of patients with stroke, in which a mirror box is used and the patient performs movements with the unaffected upper limb in an attempt to perform the exercises. them actively with the affected limb, synchronizing them as the reflection seen through the mirror. The present study aimed to evaluate the effects of the application of this technique on the improvement of the motor function of the hemiparetic upper limb after stroke.

Key words: Mirror therapy, hemiparesis, Stroke, upper limb.

INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Acidente Vascular Encefálico (AVE), corresponde a uma falha aguda do sistema neurológico, de origem vascular, devido à falta de irrigação sanguínea em áreas focais do cérebro. O acidente vascular encefálico pode ser classificado em duas categorias, sendo elas em: isquêmico, cerca de 87% dos acidentes, quando há a interrupção do fluxo sanguíneo prejudicando o fornecimento de nutrientes, e hemorrágico, em aproximadamente 13%, em que ocorre o rompimento dos vasos sanguíneos no encéfalo ou no espaço subaracnóideo. (HINKLE; et al, 2017). O termo acidente vascular cerebral é uma termologia empregada no meio médico, porém merece algumas críticas no que se define como “acidente”, pois não é o que melhor refere-se ao acometimento da doença, uma vez que a mesma poderia ser prevenida, desse modo não sendo obrigatoriamente acidental. Já o acidente vascular encefálico, foi introduzido como forma de ampliar o conceito, visto que o mesmo não acomete somente a parte cerebral, manifestando-se também em outras estruturas encefálicas. (GAGLIARDI, R. 2010).

A incidência do AVE é alta e 90% dos acometidos que sobrevivem desenvolvem algum tipo de deficiência, como os prejuízos das funções motoras, sensitivas, equilíbrio e marcha, além déficits cognitivos e na fala. Esses prejuízos afetam a vida pessoal e social do paciente, podendo gerar outras doenças como a depressão. As formas de tratamento podem ser desde intervenções cirúrgicas à tratamento clínico de rotina e posteriormente o tratamento de reabilitação, com o objetivo de restabelecer as funções perdidas e reduzir as sequelas adquiridas. Caso o paciente não venha a realizar os tratamentos fisioterapêuticos, o/os membros poderão estabilizar-se, assim futuramente agravando o caso de uma hemiparesia ou uma hemiplegia, estando relacionadas à/às áreas afetadas do cérebro. (SILVA; et al, 2014). Após o acidente vascular encefálico, o hemicorpo afetado apresenta um estado de flacidez sem movimentos voluntários, significando que o tónus muscular é muito baixo para realizar movimento, sendo incapaz de manter o membro em qualquer posição. Durante os primeiros dezoito meses, a espasticidade desenvolve-se gradativamente, devido as atividades e esforços realizados pelo paciente. Esta produz características típicas, como posturas anormais e movimentos estereotipados. O controle postural é a base de realização dos movimentos voluntários do corpo. Porém nos indivíduos acometidos por AVE, as reações posturais automáticas não são realizadas pelo hemicorpo afetado, que impede a realização de atividades como: postura, movimento, rolar, sentar, mante-se de pé, andar e as atividades diárias. (SILVA; et al, 2014).

Devido as sequelas acometidas pelo AVE, é importante traçar uma meta de tratamento fisioterapêutico. Além dos recursos realizados pela fisioterapia tradicional, há novas técnicas que podem ser abordadas com intuito de proporcionar uma neurorreabilitação mais rápida e eficaz. A Terapia Espelho é a técnica que encontra-se neste contexto, que vêm trabalhando sobre a recuperação motora e funcional do membro superior parético. Este método de tratamento consiste na observação dos movimentos efetuados pelo membro superior não acometido e na tentativa de realizar os mesmos de forma ativa com o membro afetado, sincronizando-os como o reflexo visto através do espelho. Para realizar a TE é utilizada uma caixa com espelho acoplado no plano sagital do paciente, com o membro não afetado na frente do espelho, com o objetivo de seu reflexo ser observado através do mesmo, e o membro afetado posicionado do lado não reflexivo, para que não seja visto. A eficácia do tratamento é dada através da ativação de uma rede neuronal, identificados como neurônios espelho, que são ativados através da visualização e/ou dos movimentos executados, que estão relacionados a aprendizagem, estimulando a neuroplasticidade. (MEDEIROS, et al, 2014).

A disfunção motora é um dos principais acometimento da doença AVE, apresentando hemiparesia ou hemiplegia do lado oposto da lesão cerebral. Hemiparesia tem como característica a fraqueza muscular que ocorre através da diminuição ou perda de recrutamento das unidades motoras e/ou alterações fisiológicas na musculatura hemipatécica. A primeira manifestação após o AVE é a apresentação de flacidez, evoluindo geralmente para espasticidade, acarretando no padrão postural hemiparético crônico. (GOUVÊA; et al, 2015). Diante disto, o presente estudo objetivou avaliar os efeitos da aplicação da terapia do espelho na melhora da função motora do membro superior hemiparético pós-AVE.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão de literatura sobre a temática em questão, com busca de artigos científicos disponibilizados nas bases eletrônicas Google acadêmico, SciELO, Bireme e PubMed, nos idiomas inglês e português. As seguintes descritivas foram utilizadas para pesquisa: “terapia do espelho”; “mirror therapy”; “acidente vascular cerebral”; “fisioterapia pós-AVE”.

Para seleção dos artigos, foram tomados como critério de inclusão: estudos de casos clínicos, estudos randomizados controlados e estudos randomizados cegos, relacionados à terapia do espelho, à sua eficácia no tratamento de pós-AVE e a associação da mesma com a cinesioterapia, que incluíssem participantes de ambos os gêneros, com a intervenção focada na recuperação motora e funcional do membro acometido sem distinção de lado da lesão; textos escritos em português e inglês e publicados no período de dez anos, ou seja, de 2009 a 2019. Os critérios de exclusão adotados foram: estudos sobre a abordagem da terapia do espelho em participantes com outras patologias que não fossem AVE; artigos em que apenas o resumo estivesse disponível; revisões sistemáticas e estudos publicados em fontes indisponíveis eletronicamente, como artigos, livros, monografias, dissertações e teses.

RESULTADOS

Quadro 1.

Autor/IdiomaMetodologiaInstrumentosResultados
Pereira et al., 2013 PortuguêsPaciente, sexo feminino, com 65 anos, tempo de AVC isquêmico com 84 meses. TE e protocolo de Shaping (Jogo de dominó, jogo resta um, feijões, bolas de gude, folhas sulfite, massa de modelar, pratos, garfo, faca, colher, caixas de vários tamanhos e mini blocos de madeira). Realizaram 15 sessões, 3 vezes por semana com duração de 1 hora. A pesquisa foi dividida em 3 etapas: na primeira etapa (1 dia) foi realizada a avaliação para coleta dos dados clínicos da paciente. Aplicou-se o MEEM através de uma entrevista para seleção da amostra e, posteriormente os testes de FMFM e MAL; na segunda etapa, foi realizada a intervenção com a Terapia Espelho (15 sessões, três vezes por semana) seguindo o protocolo Shaping e a terceira etapa (1 dia) reavaliação com as escalas de FMFM e MAL.Teste Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Teste de Avaliação da Função Motora Fugl Meyer (FMFM) (dimensão para membros superiores) e Escala Motor Activity Log (MAL)Ocorreu diferença estatística para escala de MAL para quantidade e qualidade do movimento (p=0,00), não teve diferença estatística para escala FMFM (p=0,06) e ocorreu melhora no tempo de realização de tarefas funcionais.
Medeiros et al. 2014 Português6 pacientes, ambos os sexos, com idade superior a 18 anos, tempo de AVE mais de 6 meses. Submetidos a cinesioterapia e T.E. no qual foram divididos em dois grupos: GAF e GPM. Foram realizadas quinze sessões, três vezes por semana por cinquenta minutos.Avaliação antes do tratamento: MEEM, EEB, FM, MAS, MIF. Avaliações pós-tratamento: FM, MIF, MAS.Obtiveram melhora funcional com a aplicação da T.E, independente da execução de atividades funcionais e padrões motores de movimento.
Silva, 2015. Português27 pacientes, na fase crônica do AVE, com idade superior a 18 anos. Cinesioterapia e T.E. Dois grupos: Grupo da T.E com Padrões Motores (PM) e o Grupo de T.E com atividades específicas (AE). Realizadas quinze sessões de terapia de espelho, três vezes na semana com duração total de cinquenta minutos.Três avaliações. Pré-tratamento: Ficha de avaliação sócio demográfica e as escalas: MEEM, EEB, FM e MIF. Pós-tratamento e follow-up (três meses após o término da terapia): FM e MIF.Ambos os participantes apresentaram um considerável aumento na pontuação da escala. A T.E proporcionou uma melhora na motricidade em ambos os participantes.
Lima et al., 2015 PortuguêsDois indivíduos, a primeira participante, do sexo feminino, 41 anos, com diagnóstico de AVC do tipo isquêmico. O segundo participante, sexo masculino, 36 anos, com diagnóstico de AVC do tipo hemorrágico. Foram submetidos à aplicação do Mini Exame do Estado Mental e pela escala Fugl-Meyer. As sessões de tratamento com a terapia do espelho com duração total de 10 sessões, com uma frequência de duas vezes por semana. Inicialmente eram realizados alongamentos passivos e logo após mobilização passiva das principais articulações. Em seguida os pacientes realizaram um protocolo de atividades na frente do espelho que consistiu em cinco tarefas: desvirar peças de dominó, transportar feijões para o copo utilizando o movimento de pinça, empilhar pequenos blocos de madeira, passar bolas de gude por obstáculos e colocar bolas em um cesto. Realiza duas séries de três minutos para cada movimento, com um intervalo de um minuto de descanso entre as séries.Mini Mental e Escala de Fugl-Meyer. Após as dez sessões com a Terapia Espelho, os pacientes foram reavaliados por meio desta escala. E um protocolo de atividades realizadas na frente do espelho, baseado em Figueiredo.Ambos os participantes apresentaram um considerável aumento na pontuação da escala, o que refletiu em um ganho de 13,8% para o sujeito 1 e de 25,8% para o sujeito 2. Neste estudo, a Terapia Espelho proporcionou os seguintes efeitos: diminuição do tempo para realização da atividade proposta no item VIII, aumento da motricidade fina na realização das atividades de punho e mão, na motricidade grossa na realização dos movimentos de ombro e melhora considerável na sensibilidade e dor.
Melo et al., 2015 Português3 participantes, de ambos os sexos, com idade entre 45 e 75 anos. . Inicialmente, foram colhidos dados de identificação, anamnese e exame físico. Essa avaliação foi realizada por dois avaliadores e a reavaliação foi feita pelos mesmos. O protocolo adotado para a intervenção teve duração de quatro semanas, sendo três sessões semanais. Foram realizados três séries de oito repetições nas três primeiras sessões de intervenção para cada movimento. Entre a quarta e a sexta sessão, foram realizadas três séries de dez repetições aplicadas. Da sétima à décima sessão, três séries de 12 repetições, e por fim, quatro séries de oito repetições aplicadas na décima primeira e décima segunda sessões de intervenção. O protocolo consistiu de movimentos com a mão não-parética, tendo seus movimentos refletidos através de um espelho. Antes do início e ao término de cada atendimento, os sinais vitais foram aferidos. Ao final de cada sessão, foi realizado alongamento passivo da cadeia muscular anterior do membro superior parético e mobilização intra-articular em cotovelo, punho e dedos. Cada sessão teve duração de 40 minutos.Mini-Exame do Estado Mental (MEEM); Escala Modificada de Ashworth; Escala de Fugl-Meyer e Medida de Independência Funcional (MIF).O P1 apresentava espasticidade leve nos flexores de cotovelo D, que se manteve após a TE, porém houve aumento da espasticidade dos flexores dos dedos, foram observados melhora da função motora para os movimentos de punho e mão e do nível de independência funcional na MIF. O P2 apresentava espasticidade moderada nos flexores de cotovelo, punho, mão e dedos E. Esse grau de espasticidade obteve melhora em todos os grupos musculares e quanto a função motora e independência funcional não foram observadas melhoras significativas. O P3 apresentava espasticidade moderada em flexores de cotovelo, punho, mão e dedos E. Observou-se diminuição da espasticidade de flexores de dedos e punho. Houve melhora modesta da função motora e na independência funcional e o paciente apresentou melhora nos escores da MIF. O uso da TE produziu alterações quanto ao grau de espasticidade, melhorando os movimentos passivos das articulações acometidas.
Branco, 2016. Português12 pacientes, divididos em dois grupos: Grupo Controle e Grupo Experimental, submetidos a um programa de reabilitação com terapia ocupacional e aplicação do programa com TE. Realizado 3 dias por semana, 1h/sessão, durante 4 semanas. Dentro do tempo estipulado, 30 minutos eram reservados para a TE, para o GE.Escala para avaliação do grau de satisfação; SULCS; Índice de Barthel (Pré e pós-programa de reabilitação).A TE demonstrou efeito positivo na evolução da capacidade do MS par ético, porém não verificou um efeito positivo na evolução aferida pelo Indíce de Barthel enquanto instrumento de avaliação da incapacidade global.
Lee et al., 2016 Inglês27 pacientes, ambos os sexos, com 56 anos em média e AVC hemiplégico, divididos em dois grupos: Grupo experimental (GE) e o Grupo controle (GC). Os ensaios foram realizados por dois fisioterapeutas, um medindo a força muscular com a dosimetria da mão e o tônus muscular utilizando a escala modificada de Ashworth. E o outro para avaliar o equilíbrio utilizando a escala de Berg. O GE foi submetido à estimulação elétrica neuromuscular combinada com a cinesioterapia e o GC, apenas a cinesioterapia. O estudo foi realizad o 5 vezes por semana, durante 4 semanas.
Escala modificada de Asworth (MAS); Escala de equilíbrio de Berg (BBS); o teste (TUG) e o 6-mWalk teste (TC6).Após a intervenção em comparação com os valores da linha de base foram significativos com melhoria na força muscular e MAS, BBS, TUG e valores TC6 no grupo experimental, além disso, após a intervenção houve diferença significativa entre os dois grupos na força muscular e BBS. A MT combinado com EENM pode melhorar de forma eficaz a força do músculo e o equilíbrio em hemiplegia AVC, no entanto, são necessários mais estudos para demonstrar reorganização cerebral após MT combinado com EENM.
Silveira et al., 2017 Português8 pacientes em fase crônica entre 18 a 70 anos. O protocolo de intervenção com a TE utilizado constou de doze sessões de cerca de 40 a 60 minutos cada, com frequência de três vezes por semana durante 4 semanas. Adotaram os seguintes exercícios: extensão dos dedos e de punho, movimento de pinça e supinação do antebraço. Além desses movimentos, foram realizadas duas tarefas funcionais: agarrar e levantar um copo de acrílico e empilhar verticalmente cinco blocos (legos). A intensidade dos exercícios obedeceu à seguinte ordem: da primeira a terceira sessões, 3 séries de 8 repetições, e 1 série de 8 repetições para cada tarefa funcional; da quarta a sexta sessões, 3 séries de 16 repetições, e 2 séries de 16 repetições para as tarefas funcionais; da sétima a nona sessões, 3 séries de 24 repetições para todos os exercícios; da décima a décima segunda sessões, 3 séries de 24 repetições, e 3 séries de 32 repetições para as tarefas funcionais. Um intervalo de 1 minuto entre as séries foi adotado.Ficha de Avaliação Clínica; Escala Modificada de Ashworth (EMA); Escala de Fugl-Meyer (EFM).Na comparação entre os resultados pré e pós-intervenção, foi observada melhora significativa da função motora avaliada pela EFM. Apesar da aparente melhora na função motora em vários subescores, apenas os domínios de movimentação passiva, movimento com e sem sinergia e controle de punho apresentaram resultados estatisticamente significativos.
Fong et al., 2019 Inglês
101 pacientes, ambos os sexos, na fase crônica do AVE, divido em dois grupos: MT (cinesioterapia com o espelho) e BAT (cinesioterapia sem a utilização do espelho). Foram realizadas doze sessões (duas vezes por semana durante seis semanas) com duração de 30 minutos. O estudo foi divido em duas partes, parte 1 o ensaio controlado randomizado, simples-cego, com 101 participantes e a parte 2 envolveu a medição de EEG, com 20 participantes dentre os 101 (11 do grupo MT e 9 do grupo BAT), no qual apresentou duas condições para a realização da mesma. A captura foi realizada quando o braço afetado estava em repouso e ao realizar movimento.
Avaliação de Fugl-Meyer, Action Research Arm Test e o Teste de Função lobo Motor. Captura da eletroencefalografia (EEG).Na parte 1 ambos os grupos melhoraram significativamente após a realização da terapia, exceto para o subtotal bruto da Action Research Arm Test.
Na parte 2 houve um efeito significativo dos grupos em ambas as áreas motoras: contralateral e ipsilateral, particularmente a área motora contralateral (C3). Os resultados da dessincronização relacionadas com o evento (ERD) em ambos os hemisférios refletiu que o problema da aprendizagem motora após o AVC pode ser explicado pela redução da capacidade de observação da ação, ocasionando uma preparação mais pobre em execução do movimento.

DISCUSSÃO

Nos artigos analisados neste trabalho, seis deles realizaram o estudo com pacientes na fase crônica, Pereira et al. (2013), Medeiros et al. (2014), Silva, (2015), Lima et al. (2015), Silveira et al. (2017) e Fong et al. (2019), um na fase subaguda, Lee et al. (2016) e um não mencionou em qual fase o paciente se encontrava, Branco(2016).

Com relação as condutas, Medeiros et al. (2014) e Lima et al. (2015) realizaram alongamentos e mobilizações articulares antes de iniciar a terapia do espelho. Apesar de todos os autores utilizarem o método da TE convencional, que consiste em realizar movimentos padrões com o membro superior afetado (flexão, extensão, abdução, adução) na frente do espelho, cinco estudos adicionaram outros movimentos (movimento de pinça e supinação do antebraço), contudo, mesmo diante de abordagens distintas foi possível constatar efeito positivo da terapia, que foi a melhora funcional, sensitiva e o tempo de execução do movimento, em ambos os estudos realizados pelos autores supracitados. Pereira et al. (2013), Medeiros et al. (2014); Lima et al. (2015) e Silveira et al. (2017) adicionaram ao seu protocolo tarefas funcionais e motricidade fina (agarrar e levantar copo de acrílico, empilhar blocos, desvirar peças de dominó, passar bolas de gude por obstáculos e colocar bolas em um cesto, entre outras). Dentre esses autores, apenas Pereira et al. (2013) seguiu um protocolo o de Shaping, no qual o indivíduo executa uma série de atividades funcionais estimulando desde os movimentos finos até os movimentos grosseiros.

A terapia do espelho ocasiona benefícios para os indivíduos pós-AVE, os artigos apresentados nessa revisão avaliaram pacientes tanto na fase crônica quanto na fase subaguda, ocorreu uma prevalência de abordagens em pacientes que se encontravam na fase crônica da patologia, no entanto, ambos apresentaram efeitos semelhantes quanto à sua eficácia na recuperação da funcionalidade. Pereira et al. (2013) afirmaram que as terapias envolvendo a utilização de exercícios no espelho voltado para as atividades funcionais são mais eficazes nos ganhos motores, pois tornam mais fácil sua assimilação dos que os movimentos em padrão simples, reforçando e explicando os conceitos da aprendizagem motora, devido a área cortical não executar o reconhecimento muscular, mas sim padrões de movimento, dessa forma os movimentos funcionais, sendo mais complexos, estimulam a aprendizagem via córtex. Em contrapartida, Branco (2016) não comprovou efeito positivo em relação a independência funcional, sendo evidênciado na utilização do Índice de Barthel, pois o mesmo abordou a realização de padrões de movimentos normais.

Dois autores, Medeiros et al. (2014) e Lima et al. (2015), incluíram em sua conduta alongamentos e mobilizações articulares realizados de forma passiva ao início do tratamento, entretanto, Medeiros et al. (2014) não especificou quais grupamentos musculares alongados e quais as articulações foram mobilizadas, diferente de Lima et al. (2015), destarte torna-se impossível uma comparação efetiva entre os protocolos de atendimentos, contudo, mesmo diante de abordagens distintas foi possível constatar benefícios referente a mobilização passiva, sendo explicado pela associação dos exercícios com a terapia em ambos os estudos realizados pelos autores supracitados.

Os resultados da eficácia da TE são evidenciados principalmente na melhora dos escores das escalas de avaliação, Silveira et al. (2017) afirmam que a ferramenta de avaliação da função motora mais utilizada é a Escala de Fugl-Meyer (EFM), pois avalia os movimentos realizados pelas articulações, sensibilidade, motricidade reflexa, sinergia do movimento e coordenação do membro superior (MS), sendo o método mais disposto pelos autores.

Mediante a variação de tempo por sessão entre os autores e os resultados obtidos, o mesmo não demostrou ser um fator relevante que possa ter levado algum estudo a ter obtidos melhores resultados, mas sim seus métodos de comprovação e atividades desempenhadas pelo paciente, com maior relevância para os exercícios de atividade funcionais e para o segmento distal do membro superior. O tempo de tratamento variou por sessão, entre 30 minutos e 1 hora, entretanto os estudos de Lima et al. (2015) e Lee et al. (2016) , não informaram o tempo de atendimento. Em média, a quantidade de sessões foi de três vezes por semana, exceto para as pesquisas de Lima et al. (2015), Lee et al. (2016) e Fong et al. (2019), que foi de duas vezes na semana. A duração total variou entre quatro a cinco semanas.

A T.E. proporciona resultados mais efetivos no seguimento distal, em comparação ao, proximal, devido a ilusão provocada pelo espelho refletindo com melhor projeção no seguimento distal, não permitindo a visualização de todos os movimentos realizados, pelo paciente, do membro superior. Lee et al. (2016) e Fong et al. (2019) incluíram a estimulação elétrica neuromuscular em suas condutas na qual, Fong et al. (2019) utilizou 20 pacientes, do total de selecionados no estudo, que foram submetidos a eletroencefalografia, a fim de obter a captura de áreas motoras C3 (contralateral) e C4 (ipsilateral), antes e depois da T.E para constatar os estímulos provado pela terapia nas áreas lesionadas do cérebro para corrobora com as melhoras obtidas na pesquisa. Ao realizar a ativação das áreas citadas, comprovou efeito significativo das mesmas (C3 e C4), contudo, a que teve um efeito de maior relevância foi à área contralateral (C3). Podendo dessa forma verificar a viabilidade da T.E na recuperação de pacientes pós-AVE em fase crônica, promovendo o aumento de entrada de informações somatossensoriais, induzindo a prática repetitiva e potencializando a atividade cortical.

A eletroestimulação pode se correlacionar a T.E, por meio dos eletrodos que são posicionados sobre o músculo, onde serão produzidos impulsos elétricos, resultando na ativação dos nervos periféricos, acarretando no trabalho da unidade motora. A contração muscular poderá ser iniciada de duas formas, direta e indiretamente. Quando de forma direta, ocorre pela despolarização dos neurônios motores, já quando indiretamente, se da pela despolarização de fibras nervosas aferentes sensoriais, fazendo assim com que haja um potencial de ação que causa contração muscular. Lee et al. (2016) foi o único autor a utilizar a terapia do espelho em membros inferiores, na qual atingiu efeitos satisfatórios além de acréscimos de benefícios, tais como, melhora da força muscular e equilíbrio. Correlacionou o ganho por facilitar a reorganização cortical, onde os padrões sinergéticos do movimento foram mudados para movimentos seletivos e com padrões.

CONCLUSÃO

Observa-se que a Terapia do Espelho nos artigos analisados neste trabalho, foi associada à outras terapias, tais como: cinesioterapia e/ou FES.

Os resultados alcançados apresentam melhora significativa nas atividades funcionais, padrões de movimentos, tempo de realização de atividades, melhora da motricidade, melhora da sensibilidade/dor, diminuição da espasticidade e melhora do equilíbrio.

Concluímos que a TE é uma terapia viável, que mostra resultados positivos para os pacientes, na maioria dos artigos foi observado que a fisioterapia convencional tem resultados semelhantes com a Terapia do Espelho, mas, ainda assim a TE obteve resultados mais satisfatórios.

Devemos ressaltar que esta revisão apresentou algumas limitações como a variação da qualidade metodológica dos estudos incluídos, restrição a plataforma e um baixo número de artigos relacionados diretamente ao objetivo, assim como artigos experimentais.

Faz-se necessário mais pesquisas futuras, utilizando um maior número de pacientes envolvidos no estudo para obter

REFERÊNCIAS

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