OS BENEFÍCIOS DA MOBILIZAÇÃO PRECOCE EM CRIANÇAS INTERNADAS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA (RIL)

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Autores:
Isaac Figueira de Aquino1
Amanda Cynara Araújo de Albuquerque1
Orientador:
Denilson da Silva Veras2

1Discente finalista do curso de Fisioterapia no Centro Universitário-FAMETRO
2Fisioterapeuta, Mestre, docente do curso de Fisioterapia no Centro Universitário-FAMETRO


RESUMO

Introdução: A mobilização precoce na primeira infância é uma medida necessária para reduzir a perda de função durante a hospitalização. Embora comum entre adultos, mobilizar crianças envolve diferentes estratégias. Objetivo: Descrever os benefícios da mobilização precoce em pacientes pediátricos internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura (RIL), descritivo e explicativo realizado por meio de busca nas bases de dados SciELO, PubMed e PEDro, relacionando os estudos que se enquadraram nos critérios de elegibilidade no período de 2011 a 2021. Resultados: As pesquisas demonstraram que as crianças mobilizadas tinham em média 1 mês a 18 anos e as atividades foram jogos de realidade virtual, ciclo ergômetro, deambulação e demais exercícios com foco na redução da imobilidade. Resultando em ganhos para membros superiores e inferiores, redução do período de ventilação mecânica e menor permanência na UTI. Conclusão: Embora desafiador, é importante implementá-lo, pois sua prática tem se mostrado factível, segura e eficaz para o prognóstico de crianças. Isso só será possível com métodos individualizados e intervenções que atraiam o interesse da mesma. A elaboração e utilização de protocolos se tornam cada vez mais necessária para que seja possível intervir de forma efetiva durante os exercícios.

Palavras-chave:Mobilização Precoce; Unidade de Terapia Intensiva; Fisioterapia

ABSTRACT

Introduction: Early mobilization in early childhood is a necessary measure to reduce loss of function during hospitalization. Although common among adults, mobilizing children involves different strate- gies. Objective: To describe the benefits of early mobilization in pediatric patients admitted to the Inten- sive Care Unit (ICU). Methodology: This is an integrative literature review (RIL), descriptive and ex- planatory study carried out through a search in the SciELO, PubMed and PEDro databases, listing the studies that met the eligibility criteria in the period from 2011 to 2021. Results: Research showed that mobilized children had an average of 1 month to 18 years and the activities were virtual reality games, cycle ergometer, walking and other exercises focused on reducing immobility. Resulting in gains for upper and lower limbs, reduced period of mechanical ventilation and shorter stay in the ICU. Conclusion:Although challenging, it is important to implement it, as its practice has proven to be feasible, safe and effective for the prognosis of children. This will only be possible with individualized methods and interventions that attract her interest. The elaboration and use of protocols becomes more and more necessary so that it is possible to intervene effectively during the exercises.

Keywords:Early Mobilization; Intensive care unit; Physiotherapy

INTRODUÇÃO

Segundo Tsuboi etal., (2017), as práticas de reabilitação para crianças gravemente enfermas na unidade de terapia intensiva pediátrica (UTIP) não estão bem caracterizadas. Tradicionalmente, os cuida- dos da UTIP têm se concentrado no manejo dos processos de ressuscitação e doenças críticas. Portanto, crianças gravemente enfermas são frequentemente sedadas e permanecem na cama por longos períodos.

Segundo Choong etal., (2014), notou-se que o ato de mobilizar ainda é realizado de forma tardia, apenas 9,5% dos pacientes são ati- vos precocemente. No total, apenas metade das crianças gravemente do- entes internadas na unidade de terapia intensiva são reabilitadas. E, quando executado, o foco é apenas na função respiratória das crianças e é limitado a pacientes de risco e se- dados. As crianças mais velhas têm maior probabilidade de serem mobilizadas devido ao seu maior desenvolvimento cognitivo.

Choong et al., (2014) relata que a hospitalização de longo prazo e leitos limitados também podem causar problemas negativos para as crianças, tais como: fraqueza, distúrbios emocionais, comportamentais, cognitivos e funcionais, afetando tanto sua qualidade de vida como a de seus cuidadores. É importante ressaltar que a proporção de crianças com doenças crônicas e deficiências admitidas em unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIPs) vem aumentando, perpassando por longos períodos de internação, Além de aumentar os custos hospitalares, também tem um impacto importante na sua recuperação.

Pollack etal., (2014), durante a internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a criança pode desenvolver novas doenças funcionais relacionadas à própria internação. e a algumas terapias utilizadas. Em contraste, a taxa de mortalidade caiu significativamente na última década. Ainda que tenham acometido em maior número os bebês, atingem todas as demais idades.

Sarmento (2016) corrobora que a partir do momento em que o estado do paciente está estável, o uso da mobilização tornou-se uma prática segura, Depois de avaliar o tipo de exercício a ser realizado. Pessoas que dependem de ventilação mecânica têm maior probabilidade de perder força muscular em decorrência da imobilidade. Cerca de 25 a 60% podem evoluir com problemas físicos futuros. Como estratégia, é necessário que o fisioterapeuta trace os objetivos da atividade com base nas características de cada paciente, levando em consideração uma avaliação criteriosa de segurança.

Além da diminuição de fraqueza muscular adquirida, a MP está associada à prevenção e redução da polineuropatia e miopatia do paciente crítico, à redução de trombose, a melhora da qualidade de vida, e à diminuição do tempo de ventilação mecânica. Assim, a MP favorece o desmame ventilatório precoce, a redução no período de hospitalização e de mortalidade, tanto na população adulta quanto infantil. A utilização da MP em crianças parece ser segura, eficaz e viável, constando como uma das metas de cuidados diários da UTIP.

Dantas et al., (2012), mostrou que a mobilização precoce possui maior vantagem na força muscular periférica quando comparada a fisioterapia convencional. Quanto maior o tempo em repouso, maior é a alteração da homeostase do paciente, gerando resistência à insulina e disfunção vascular. É de se notar uma perda maior de força muscular respiratória do que periférica, já que a ação anti-inflamatória advinda da ativação dos músculos atribui melhora em prognósticos graves.

A mobilização se torna indispensável ao ponto de vista cognitivo-funcional para retorno da rotina de forma mais breve. Desse modo, o atual objetivo desse estudo é descrever os benefícios da mobilização precoce para pacientes pediátricos internados na Unidade de Terapia Intensiva.

METODOLOGIA

Foi utilizado o método de Revisão In (RIL), do tipo descritiva e exploratória, onde investiga objetivo do estudo através das produções científicas disponíveis. Os dados obtidos foram coletados no período de fevereiro a outubro de 2021, através de pesquisas nas seguintes bibliotecas virtuais: Scientific Electronic Library On line – SciELO, Pubmed, Publicações de Artigos Médicos Physiotherapy Evidence database – PEDro. Descritores “Unidades de terapia in- tensiva’’; “reabilitação’’; “pediatria’’; “Mobilização precoce”; “Exercício”, publicados nos anos de 2011 a 2021 em idiomas português, inglês e espanhol. No que tange os critérios de elegibilidade: artigos publicados nos últimos 10 anos; mobilização realizada em crianças a partir de 1 mês a 18 anos sob terapia intensiva; Em estado grave ou estável, Critérios de inelegibilidade: Estudos realizados em adultos, fisioterapia respiratória e artigos que não estavam de acordo com os descritores. Após análise criteriosa dos títulos e resumos, foi possível selecionar aqueles que se enquadravam no tema proposto para contemplar a discussão.

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RESULTADOS e DISCUSSÃO

Segundo Wieczorek etal., (2016) no seu estudo com objetivo de determinar a segurança e a viabilidade do PICU Up na mobilização precoce em uma UTIP onde a amostra do estudo incluiu 200 crianças de 1 dia a 17 anos, chegaram a conclusão que a implementação do PICU Up levou a um aumento nas consultas de terapia ocupacional e consultas de fisioterapia, além de mediano número de mobilizações por paciente por dia 3 da UTIP aumentou de 3 a 6 (p <0,001). Outro estudo realizado por Tsuboi et al (2017) com crianças abaixo de 16 anos onde o objetivo foi avaliar o impacto da mobilização precoce (ME) após transplante hepático pediátrico em unidade de terapia in- tensiva pediátrica, chegaram a conclusão que após a implementação do projeto EM, houve um aumento significativo na proporção de pacientes que receberam fisioterapia na UTIP, os pacientes alcançaram maior nível de mobilidade funcional em menos tempo, além disso, houve um maior número médio de fisioterapia por paciente elegível.

Quanto à realização dos exercícios de mobilização através de aparelhos, Choong etal. (2015), Além da bicicleta ergométrica como auxiliar, os videogames também foram utilizados para exercícios de mobilização, para que os membros inferiores obtivessem maiores benefícios, concordando com Abdulsatar etal., (2013), que realizou exercícios de mobilização por meio de videogames com a intenção de promover mais atividades para os membros superiores e entretenimento infantil por meio dos jogos disponíveis. Choong etal. (2015), não encontrou relato significativo de que o uso de videogames aumenta significativamente os benefícios dos membros superiores. Já em membros inferiores, a atividade com ciclo ergômetro se mostrou eficaz até mesmo em crianças graves e não colaborativas. Em contrapartida Abdulsatar et al., (2013), Apresenta benefícios dos membros superiores por meio de jogos de realidade virtual (RV) quando comparados a períodos do dia sem atividade, levando em consideração a colaboração da criança, nível de sedação e o interesse em jogar vídeo game.

No que se refere ao tipo de intervenção Herbsman et al., (2020), Em sua pesquisa, ele introduziu atividades que não usam aparelho, como simplesmente ficar em pé ou sentar- se ao lado do leito, corroborando com Abdulsatar et al., (2013) que relaciona exercícios de mobilização por meio de exercícios físicos sem o uso de equipamentos, com ou sem auxílio de fisioterapeuta, realizada uma vez ao dia. Wieczoreck et al., (2016), Além de comprovar o aumento do número de crianças mobilizadas, também comprovaram que a prática de exercícios no leito aumentou significativamente em 28% em relação ao que haviam feito antes.. Dando ênfase ao ato de deambular, há duas formas de realizá-la com ou sem o andador rolante. Os benefícios adquiridos com a utilização do andador são descritos por Tsuboi etal., (2019), observou que os pacientes mobilizados no pós-operatório retornaram a capa- cidade de deambular mais rapidamente quando comparados ao grupo pré-mobilização. O mesmo ganho foi discutido por Wieczorek etal., (2016), relatando que depois da mobilização os pacientes deambulavam até no máximo, ao 3°dia. Andelic etal., (2012), alegou que quando o paciente recebeu atividades precoces, o tempo de internação foi reduzido em 17 dias. Concordando com Arteaga etal., (2018), onde houve diminuição de 11 para 5,5 dias na UTI.

Entretanto, alguns autores não relataram o tipo de exercício uti- lizado, como Arteaga etal., (2018) Implementou um programa personalizado adaptado às necessidades dos pacientes, reduzindo assim o tempo de permanência na UTIp e dias em ventilação mecânica. Como também relata Herbsman et al., (2020), que atribui resultados positivos em relação a diminuição do tempo de internação em hospital e em UTIp através da mobilização em 18 horas após admissão.

Tsuboi et al., (2019), demostrou que os pacientes ficaram interna- dos em média 55 dias antes da mobilização, e esse número foi reduzido para 40 após a mobilização. Já para Herbsman etal., (2020), pacientes sem ventilação mecânica (VM), tiveram redução 3,8 para 2,4 dias, porém, aqueles em VM, obtiveram um aumento sutil de 12,1 para 12,5 dias no seu período de internação em UTI.

AUTOR TIPO DE ESTUDO RESULTADOS
ABDULSATAR et al., (2013)Ensaio clínico prospectivo com crianças de 3 a 18 anos internados > 48 horas, utili- zando videogame wii por 10 min 2 vezes ao dia por duas vezes na semana.Maior atividade de membros superiores durante o exercício com Vídeo Game.
CHOONG, et al. (2015)Corte prospectivo realizado com crianças de 3 a 17 anos, internados por mais >24 horas e hemodinamica- mente estáveis.Maior atividade dos mem- bros inferiores com o uso do cicloergômetro.
TSUBOI et al., (2019)Estudo retrospectivo com pa- cientes de 2 a 18 anos pós transplante de fígado que deambulavam antes da cirur- giaDeambulação precoce com o andador rolante após o transplante e menor tempo de internação
WIECZOREK et al., (2016)Estudo prospectivo em crian- ças < 17 anos admitidas por tempo > 3 dias na UTIp. Es- tudo observacionalApós a implementação, 27% das crianças deambularam ao 3 dia
HERBSMAN et al., (2020)Estudo observacional Pré e Pós para identificar pacien- tes apartir de 1 ano e 6 me- ses de vida aptos à mobiliza- ção, barreiras e benefícios encontradosAumento no número de mo- bilizações e diminuição do tempo de internação para os que não estavam em VM.
ARTEAGAet al., (2018)Estudo observacional pré e pós realizado com pacientes < 18 anos com tempo de internação < 3 dias, por meio do protocolo ABCDEF.Menor tempo de permanên- cia em UTI e menos dias em VM.
ANDELIC et al., (2012Coorte prospectivo com paci- entes >15 anos com TCE nível 1. Grupo A: reabilitação precoce Grupo: B reabilitação tardiaUm melhor resultado funcio- nal global no grupo A e me- nor tempo de permanência na UTIp

CONCLUSÃO

Tão desafiador quanto à mobilização precoce para pacientes pediátricos, é importante fazê-lo para obter mais benefícios e evitar mais perda de função, pois ao longo do processo de pesquisa, sua prática mostrou-se viável, segura e eficaz para o prognóstico infantil. Isso só será possível, desde que os métodos sejam individualizados com foco nas necessidades de cada criança, levando em consideração intervenções que atraiam o interesse desta. Pontos como esse são essenciais para obter resultados positivos por meio da mobilização e do atendimento personalizado aos pacientes. e fornecer uma assistência de qualidade durante esse processo. Este tema visa ampliar o conhecimento de fisioterapeutas, equipes multidisciplinares e academia. A elaboração e utilização de protocolos se torna cada vez mais necessária para que seja possível intervir de forma efetiva durante os exercícios. Posteriormente, trará benefícios, disseminará informação e produzirá novos delineamentos de estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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