DOENÇAS RESPIRATÓRIAS AGUDAS GRAVES DURANTE A PANDEMIA DA COVID19 E O NÚMERO DE SEPULTAMENTOS DIÁRIOS

Autora:
Júlia Maria Ferreira de Sena1
Orientadora:
Marilaine Martins2

1Graduanda do Curso de Bacharel em Biomedicina (UNINORTE)
²Especialista em Medicina Tropical e Parasitologia (U.G.);
Mestre em Medicina Veterinária (UFRRJ); Doutora em Biotecnologia (UFAM)


RESUMO

Doenças respiratórias agudas é a maior causa reconhecida principalmente causas de morbidade e mortalidade em todas as idades, Além disso a COVID19 é uma infecção respiratória causada pela SARS-CoV-2, de grave transmissibilidade e distribuição global. As doenças respiratórias principalemte a COVID19, foram a causa mais importante de óbitos em crianças e idosos. O estudo realiazado teve como objetivo avaliar o aumento de casos de óbitos por doenças respiratórias notificadas pelas unidades de saúde. Foram informados 7.813 número de casos por doenças respiratóras no Estado do Amazonas no período estudado. O acompanhamento das notificações pelas doenças respiratórias agudas tem a finalidade de mostra a magnitude em termos númericos, é de suma importância o monitoramento e notificação correta por doenças respiratórias e dos fatores de risco para saúde humana nas regiões de endêmicas.

Palavras-chave: mortalidade, sepultamentos, doenças respiratórias agudas, Amazonas, Brasil.

ABSTRACT

Acute respiratory diseases are the largest recognized cause, mainly causes of morbidity and mortality at all ages. Furthermore, COVID19 is a respiratory infection caused by SARS-CoV-2, with severe transmissibility and global distribution. Respiratory diseases, mainly COVID19, were the most important cause of death in children and the elderly. The study carried out aimed to evaluate the increase in cases of deaths from respiratory diseases notified by health units. A total of 7,813 cases of respiratory diseases were reported in the State of Amazonas during the study period. Monitoring notifications for acute respiratory diseases is intended to show the magnitude in numerical terms, monitoring and correct reporting for respiratory diseases and risk factors for human health in endemic regions is of paramount importance.

Keyword: mortality, burials, acute respiratory diseases, Amazonas, Brazil

INTRODUÇÃO

A insuficiência respiratória aguda (IRespA) é uma situação clínica complexa que pode resultar de múltiplas doenças de vários órgãos, que podem coexistir, e que define pela presença de um conjunto de sinais e sintomas clínicos e por alterações fisiológicas que traduzem a incapacidade de o sistema respiratório garantira a remoção adequada do dióxido de carbono produzido no organismo ou a oxigenação adequada do sangue arterial. Podendo resultar da obstrução das vias aéreas, da perda de função da bomba ventilatória neuromuscular ou de disfunção do pulmão e caracteriza-se por um agravamento progressivo no tempo que pode ser mais ou menos rápido (MARTINS, 2019).

A IRespA é uma situação clínica frequente e um desafio para os médicos que a lidam e pode ter consequências devastadoras para os doentes que sofrem (DANTAS et al,2019). Os doentes internados por IRespA têm probabilidade elevada de morte durante o internamento (STEFAN et al, 2001, MATKOV et al, 2012) e o risco de morte aumenta se atrasarem o seu reconhecimento e o seu tratamento adequado (MATKOV et al, 2012).

O novo coronavírus, COVID-19 (SARS-Cov-2) tem afetado economicamente, socialmente e clinicamente diversas áreas do planeta após atingir o status de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, com mais de 10.185.374 de casos confirmados até a data de 01 de julho de 2020. O curso clínico dos pacientes ainda está sendo caracterizado e diversos estudos têm descrito a patogênese e progressão de doenças em diferentes populações. Com uma mortalidade que pode variar entre 0.7 a 61% (MARTINS, 2019; DANTAS et al, 2019), ainda não existe terapias farmacológicas de eficácia comprovada.

Até o momento, mais de 341.988 estudos de pesquisa em todos os 50 estados e em 215 países, sendo 2.042 ensaios clínicos em pacientes com COVID-19 estão resgistrado na plataforma ClinicalTrials (https://clinicaltrials.gov/), incluindo agentes antivirais, cloroquina e hidroxicloroquina, corticoesteróides, anticorpos, transfusão de plasma convalescent, anticoagulantes e vacinas sem dados robustos sobre eficácia até o momento (ZHU,et al, 2020).

A infecção causa uma ampla gama de sintomas principalmente autolimitada, enquanto a mortalidade é maior em idosos com doenças crônicas (MARTINS, 2019; MATKOVICK, et al, 2012; BELLANI et al, 2016). A insuficiência respiratória é comum em pacientes críticos, muitas vezes exigindo ventilação mecânica invasiva (BELLANI et al, 2016).

Devido à ausência de uma terapia eficaz para SARS-Cov-2, os cuidados de suporte continuam sendo o tratamento convencional. Muitas intervenções anedóicas foram propostas, e dados limitados revisados por pares disponíveis em terapias adjuvantes não mostram benefícios na combinação lopinavir-ritonavir (CAO, et al, 2020), enquanto a cloroquina foi associada a um maior risco de mortalidade quando administrada em doses mais altas em pacientes críticos (BORBA, et al, 2020). O remdesivir, quando usado por compaixão, parecia melhorar o status de suporte de oxigênio em 68% dos pacientes (GREIN, et al, 2020) mas dados mais robustos de ensaio clínicos randomizados ainda estão pendentes.

As doenças respiratórias agudas aprestamaram grande parte dos problemas de saúde pública no Estado do Amazonas. As alterações climáticas têm grande influência na saúde principalmente em pessoas com alguma doença do trato respiratório superior. O inverno amazônico período chuvoso, entre novembro a julho, é de maior incidência de doenças respiratórias no Estado do Amazonas. Portanto, o estudo teve com objetivo avaliar o crescimento de óbitos por doenças respiratórias e estratificar por regiões, sexo e faixa etária.

METODOLOGIA

O estudo foi do tipo longitudinal, retrospetivo e prospectivo a ser realizado com dados não-nominais sobre mortalidade, sepultamentos por qualquer causa e epidemiologia de das Doenças Respiratórias Agudas em todas as capitais brasileiras e nos municípios de Itacoatiara, Manacapuru, Parintins e Manaus, no Estado do Amazonas, no período de 01 de janeiro de 2020 a 31 de agosto de 2021 , dados não comparativos.

  1. Obtenção de dados de óbito e sepultamentos

Dados terciários (não-nominais) foram obtidos na plataforma online Portal da Transparência do Registro Civil (https://transparencia.registrocivil.org.br/registral-covid). Segundo o portal, as estatísticas apresentadas se baseiam nas Declarações de Óbito (DO) registradas nos Cartórios do País relacionadas à IRespA, sendo apresentada apenas uma causa para cada óbito. Nas enviadas pelos Cartórios ao Portal da Transparência, como IRespA COVID-19 declarada na DO como causa suspeita ou confirmada, procurou-se também avaliar outras causas relacionadas à doença por coronavírus, como:Síndrome respiratória aguda grave (SRAG), Pneumonia, Insuficiência respiratória, Septicemia (sepse/choque séptico), Indeterminadas (causas mortes ligadas a doenças respiratórias, mas não conclusivas), demais óbitos (todos os outros tipos de óbitos que não estão listados acima) .

A atualização do Portal da Transparência pelos registro de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais. A família tem até 24h após o falecimento para registrar o óbito em Cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito, e depois até oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza esta plataforma.

A base de dados não-nominal de sepultamentos em todos os cemitérios públicos e privados de Manaus será obtida através da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) – Prefeitura de Manaus. Serão coletados dados sobre causa da morte, data da morte, local de morte.

  1. Obtenção de dados sobre as doenças respiratórias Aguda

Dados não nominais sobre casos das doenças respiratórias aguda dos municípios serão obtidos por meio de boletins epidemiológicos da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – FVS/AM disponíveis em: http://www.saude.am.gov.br/painel/corona/.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de janeiro de 2020 a agosto de 2021 foram notificados no Brasil 21.351.972 casos confirmados e 1.229.324 no Estado do Amazonas por SARS-Cov-2. Nos municípios de Manacapuru foram notificados 18.209 casos, Itacoatiara 32.729 casos, Parintins 45.513 casos e em Manaus 655.697 casos. O total das causas das doenças respiratórias que acometeram alguns municípios do Estado do Amazonas foram apresentados na tabela 1, sendo a COVID-19 a causadora do maior número de casos nesses municípios.

Tabela 1 – Síndromes respiratórias apresentadas pelos moradores dos municípios e capital do Estado do Amazonas durante o período de março de 2020 a agosto de 2021 (nº=752.148).

Causa de Infecção Manaus Manacapuru Itacoatiara Parintins TOTAL
Nº | % Nº | % Nº | % Nº | % Nº | %
IRespA945 | 4%53 | 8,8%23 | 4%34 | 4,6%1.055 | 4%
Pneumonia2.971 | 12%50 | 8%41 |7%46 | 6,3%3.108 | 11%
Septicemia2.322 | 9,3%65 | 10%34 | 5,6%55 | 7,5%2.476 | 9,2%
SRAG1.403 | 5,6%12 | 2%22 | 3,6%63 | 8,6%1.500 | 5,6%
COVID6.928 | 28%244 | 38%199 | 33%28 | 35,4%7.629 | 28%
Indeterminada175 | 0,7%0 | 0%11 | 2%0 | 0%186 | 0,7%

Os resultados apresentaram um aumento no período de março de 2020 a agosto de 2021 no Estado do Amazonas e seus municípios com 60% da população da capital com IR, pneumonia, SRAG e COVID-19, chamando a atenção para as notificações por doenças respiratórias e COVID-19.

A partir desses dados estratificados do portal de transparência – registro civil, (https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid) foram notificados o número de óbitos por sexo e faixa etária no período de março de 2020 a agosto de 2021 o sexo feminino teve 4,072 óbitos por doenças respiratórias ocasionadas pela COVID-19, e o sexo masculino 5,520 óbitos notificados pelas doenças respiratórias e COVID-19. O Estado do Amazonas durante o período avaliado apresentou o total de 13,781 óbitos confirmados por doenças respiratória e COVID-19. Manaus teve IR (4%) 945, pneumonia (12%) 2.971, SRAG (5,6%) 1.403, COVID-19 (28%) 6.928, septicemia (9,3%) 2,322 e indeterminada (0,7) 175 e nos municípios de Manacapuru (66%) 424, Itacoatiara (55%) 330 e Parintins (62%) 456.

Com a falta de unidades de tratamento intensivo nos municípios eram encaminhados os pacientes mais agravados para a cidade Manaus, onde foram computadas nesse período de tempo 300 óbitos por 24 horas na capital do Estado do Amazonas em um único dia.

O COVID-19 tem afetado economicamente, socialmente e clinicamente diversas áreas do planeta após atingir o status de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, com mais de 20.752.281 de casos confirmados até a data de 30 de agosto de 2021. O curso clínico dos pacientes ainda está sendo caracterizado e diversos estudos têm descrito a patogênese e progressão de doenças em diferentes populações. Com uma mortalidade que pode variar entre 0.7 a 61% (MARTINS, 2019; DANTAS et al, 2019).

Levando em considerações os dados recentes da taxa de óbitos no estado há algumas causas de óbitos desencadeadas pela IRespA como a Síndrome Respiratória Aguda (SRAG), que está relacionada a infecções respiratórias, essas infecções podem ser provocadas por diversos agentes etiológicos entre os mais comuns vírus e bactérias. Tratando- se de vírus podemos destacar o vírus Influenza (H1N1) que em 2009 ocasionou uma pandemia global e no estado do Amazonas, durante o inverno amazônico conhecido como período chuvoso, favorece os vírus sazonais, aumentado a sua prevalência e o número de pessoas acometidas, transmitidas de uma pessoa para outra esta Síndrome respiratória causou no período de março a junho de 2020 um total de: 647 óbitos, em todo o estado do Amazonas.

A pneumonia acometeu no Amazonas um total de óbitos de 1.059 no período de março a junho de 2020 (FVS, 2020). A Pneumonia pode ser ocasionada por bactérias ou vírus, é uma doença não transmissível que tem como causa uma infecção pulmonar, acomete os alvéolos pulmonares desencadeando a infecção e também está relacionada ao COVID-19. Pode atingir qualquer público, no entanto há uma propensão maior em crianças até cinco anos de idade de idosos com faixa etária de 60 anos, as crianças por não terem maturação da imunidade em seu organismo e os idosos por está em fase de perda da imunidade (XU & YANG, 2020).

A septicemia trata-se de uma resposta imunólogica do organismo e pode ser considerada uma doença grave, geralamente causada por baterias, desencadeando uma inflamaçaõ, tornando-se infecciosa. Há uma incidência da sepse em pessoas hospitalizadas uma vez, que o risco de uma infecção hospitalar é maior, principalmente em pacientes que ficam na UTI. E em meio a essa pandemia, causada pelo COVID-19 o número de casos relacionados a esta doença aumentou gradativamente na capital.

CONCLUSÃO

O estudo realizado veio a calhar no cenário atual que nos encontramos, O Estado do Amazonas tem um clima do qual favorece os vírus sazonais, trazendo a tonas, casos de infecções por pneumonia e COVID 19 entre outras doenças do trato respiratório superior acometendo crianças, jovens, adulto e idosos sem diferenciação das faixas etárias e sexo. Ao longo do estudo foi observado uma deficiência de estudos na região com base nas doenças respiratórias e uma falta de notificação compulsória nos municípios do Estado do Amazonas, fazendo com que essas doenças passassem despercebidas pelos habitantes das cidades.

Conclui-se que o Estado do Amazonas e seus municípios vêm apresentando altas proporções de óbitos por doenças respiratórias, desta forma, é de suma importância o monitoramento e notificação correta por doenças respiratórias e dos fatores de risco para saúde humana. Deve-se considerar que a população estudada se refere à parcela dos residentes na capital Manaus e os municípios adjacentes.

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